PASTOR
SEM
MINISTÉRIO
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José era pastor. Vestia-se
com roupas sociais. Usava linguagem culta. Tinha porte acolhedor. Falava de
Cristo. Mantinha-se em oração. Um dia deixou o pastorado por motivos de
desentendimento local. Não foi convidado para outra igreja. Procurou uma
colocação profissional. E deixou a roupa que usava no guarda-roupa. A linguagem
que usava foi trocada pela fala comum de quem não precisa mais guardar-se por
respeito. O acolhimento que demonstrava acabou; agora foi cuidar da própria
vida. A oração deixou as madrugadas, os momentos específicos e tomou o lugar
daquelas coisas que só de vez em quando fazia. Sua frequência à igreja, tão
consagrada e contínua, passou a ser esporádica, quase nula, idêntica aos crentes
frios a quem tanto exortava. Fui falar com ele. Suas justificativas eram
severas: recebera injustiças, tornara-se perseguido, perdera chances
profissionais na dedicação ao ministério e agora não conseguira nada para o
futuro da família. Agora iria ser feliz.
Que tristeza! Há tantos
Josés ex-pastores atualmente!
João era pastor. Já não
pastoreava mais. A sua última igreja o dispensara, dizendo que ele não tinha
mais condições de conduzir o rebanho. Ele, que vestia-se socialmente, usava
linguagem culta, tinha porte acolhedor, falava de Cristo e mantinha-se em
oração, continuou a fazer as mesmas coisas. Encontrou um serviço que o ajudava a
pagar as contas. Mas no restante do tempo participava ativamente da igreja de
seu bairro. A casa para onde se mudou tornou-se um centro de ajuda espiritual,
pois muitos crentes iam até o seu escritório para orar e conversar. Ele
distribuia folhetos, literaturas e pregava em cultos nos lares. Às vezes o
pastor da igreja o convidava para pregar no púlpito. Ele nada recebia por isso.
Mas era de uma decência magistral! Não havia quem não dissesse que ele era
pastor. Mesmo sem rebanho, João decidira ser pastor para a vida inteira. E
ERA!!!
A diferença entre os dois,
entre José sem ministério e João sem ministério era simples: José pastoreou por
um tempo, mas João foi feito pastor para toda a vida. Um trabalhou na função, o
outro encarnou o ministério. Um pregou, evangelizou, dirigiu, mas não resistiu à
injustiça recebida. O outro não vivia em função do que os outros pensavam ou do
que os outros lhe dessem; ele era pastor porque Deus o vocacionara. E acreditou
que a imposição das mãos do presbitério para a sua consagração independeria de
estar ou não na ativa à frente de uma igreja. Em qualquer lugar João seria
pastor, estivesse ou não à frente de um rebanho. Por outro lado, em qualquer
lugar que José pastoreasse seria um infeliz, pois o seu coração não estava na
vocação pastoral.
Em minha vida eu já vi
muitos bons pastores. Mas vi maus pastores em maior quantidade. Já vi pastores
que se mantiveram pastores depois das igrejas. E já vi outros, muito mais
numerosos, que me surpreenderam com as vidas relapsas que assumiram após o
último pastorado. Enquanto pregavam exigiam que os crentes fossem fiéis. Quando
não pregaram mais tornaram-se infiéis. Sem púlpito deixaram os valores e
consagraram-se como a encarnação dos comportamentos dantes condenados. E isso é
muito triste. Todos são livres para agir como quiserem. Mas a incoerência dói na
alma de quem contempla!
O Pr. Timofei Diacov deixou
o ministério pastoral há muitos anos. O Pr. Zacarias Lima também. O Pr. José
Vieira Rocha também. No entanto, independentemente de estarem ou não à frente de
uma igreja, continuam brilhando por Jesus e totalmente identificados com a fé
que pregaram por décadas. Eles não precisam de um ministério local à frente de
uma igreja para serem pastores. Eles o são por natureza! Ministério para eles
foi uma metamorfose na vida, não uma casca que se desgastou. Onde eles
estiverem, caminhará com eles o ministério que os impregna. São pastores do tipo
João!
Mas há outros tantos que
conheço, sem ministério, que precisaram trabalhar fora, que se desfiguraram.
Perderam o foco da fé. Perderam o referencial de servir a Deus por causa de
Deus; hoje servem a Deus limitadamente ou nem o servem mais. Se eles fossem as
suas próprias ovelhas ontem, inspirariam os seus próprios cuidados, sendo
classificados como crentes carnais. Hoje vivem assim, sem nada de ministério e,
quiça, sem quase nada de cristianismo. Suas páginas no facebook têm de tudo:
política, entretenimento, esportes, viagens, piadas, família. Só não tem
evangelho. Nada. Nem mensagem, nem palavra, nem bíblia, nem hino, nem igreja,
nem compromisso. Nada. Passam despercebidos como crentes; quem dirá como
pastores!
Hoje sou pastor local. Pode
ser que um dia que a minha igreja me desconvide, ou que eu a deixe, e que não
receba convite algum para pastorear. Terminarei o meu ministério? Deixarei de
ser pastor? JAMAIS! Quando o Senhor chamou-me naquele hospital em 1982, onde eu
me preparava para morrer, disse-lhe: "Se o Senhor não me levar agora, deixarei a
carreira de engenheiro agrônomo, que tanto queria, para dedicar o resto de minha
vida à pregação do evangelho". E isto faço. Com a força do Senhor quero fazer
isso até partir.
Pastores que me lêem, sejam
pastores na ativa ou sem igreja: Vocês não dependem dos homens, mas do chamado
que receberam de Deus! A fidelidade aos ensinos bíblicos não deve subordinar-se
à exigência laboral; ela é uma necessidade premente de nossas vidas até a morte,
diante de Deus! Ainda que ninguém lhes veja como pastor, vocês devem trazer à
memória o concílio que os consagrou, o dia da ordenação e, principalmente, o dia
do seu chamado pelo Senhor. Não sejam mundanos, não se condenem hoje com
práticas contra as quais pregaram! Não abandonem a fé! Não sejam negligentes! Por cujo motivo te
lembro que despertes o dom de Deus que existe em ti pela imposição das minhas
mãos. (2Tm 1:6). Não sejam como aqueles que
abandonaram o Apóstolo Paulo: Porque Demas me desamparou, amando o presente século, e
foi para Tessalônica, Crescente para Galácia, Tito para Dalmácia. (2Tm 4:10).
Ninguém me assistiu na minha primeira defesa, antes todos me desampararam. Que
isto lhes não seja imputado. (2Tm 4:16). Que sejamos
dignos da promessa de Cristo: Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida. (Ap
2:10)
Wagner Antonio de
Araújo
15/08/2017
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