segunda-feira, 4 de setembro de 2017

memórias literárias - 520 - QUEM FALA DEMAIS ...

QUEM FALA
DEMAIS...
 

 
520
 
Na atual crise internacional enfrentada pelo mundo contemporâneo, temos dois falastrões sem precedentes na história recente da civilização.
 
O primeiro é Trump, presidente dos Estados Unidos. Alguém eleito como esperança de conservadores, que se dizia adepto do cristianismo protestante, age intempestivamente, sem respeitar protocolos e usando o sistema de twitter para reverberar tudo aquilo que sente, geralmente fala demais, por canais errados e causa polêmica, perplexidade e sonido incerto. Ele diz, depois volta atrás, volta a dizer e posteriormente renega tudo. O resultado é um só: caos.
 
O segundo é Kim Jong-un, o ditador da Coréia do Norte. Um homem sem escrúpulos, que não teme nada e nem ninguém, emitindo opiniões ácidas sobre tudo e ameaçando a sobrevivência de todo o planeta com os seus jogos de guerra. Filho de ditador, criado entre a elite britânica, conhece os dois mundos e jamais deixou de ser adolescente. Ele fala através de seus porta-vozes e simula muitas coisas, contradizendo-se quase sempre. Mata sem piedade e só se preocupa com a sua própria ditadura. O resultado: o caos.
 
Isto é apenas um exemplo do que o mundo se tornou com a internet e com a mediocridade. Desde que as redes sociais surgiram o mundo tornou-se, por um lado, mais democrático na transmissão de opiniões e informações, mas, por outro lado  um desastre na proliferação do que não presta. Pessoas gastam o tempo criando canais de vídeos, twitter, facebook e outras mídias, falando sobre tudo, quase sempre sem base, sem conhecimento, sem gramática, sem segurança, sem qualidade, sem verdade.
 
Quando inventaram o whatsapp ofereceram a oportunidade de aproximar as pessoas com um chat 24 horas, sem a necessidade de novos e-mails ou novos telefonemas. Seria como se todos estivessem conectados sempre. Mas, como sói acontecer, o sistema tornou-se exibição de egos e um poço de bobagens, de mediocridade, de falta do que fazer. Há tantas gravuras, tantas frases, tantos vídeos enviados e reenviados, tantas correntes, tantas frases ridículas de auto-ajuda, que chega a dar asco e vontade de desligar-se de todos os aplicativos de comunicação. Eu confesso que, se não fosse a comunicação necessária e a emissão de coisas ministeriais, seria a melhor decisão.
 
No meio evangélico a situação é terrível. Pastores perderam a compostura, postam de tudo e de qualquer jeito, sem indumentária, sem linguagem qualificada, sem nenhuma preparação, sem qualquer base. Dias atrás colocaram um missionário em risco de vida, tendo em vista que aquele havia compartilhado um áudio particular falando de um problema e pedindo oração em particular. O áudio caiu nas mãos de uma seita evangélica mineira e toneladas de réplicas foram enviadas. O missionário confidenciou-me que a mensagem causou-lhe muito maior transtorno e perigo do que a própria questão que enfrentava. E assim caminhamos. Tudo se transforma em evento. Há alguém sofrendo? Criam uma campanha daquele sofrimento. Alguém resolve orar pelo país? Criam uma campanha, um site e inscrições para orar. Vai jejuar? Poderá cadastrar-se no jejum de 40 dias, de uma semana, de Daniel, de carnes gordas ou de doces e guloseimas. Morreu alguém? Vamos transformar o velório numa realização vultosa e celebrar!
 
O mundo anda de boca aberta demais. As pessoas falam sem pensar, falam besteiras, falam sem saber, falam sem conhecimento de causa. Os textos são grosseiros, são feitos às pressas, sem compromisso com valores, com doutrina, com formato, com estilo, são verdadeiros rascunhos mal escritos. E nesta condição estão pastores, professores, políticos, empresários, jornalistas, músicos, comunicadores, atores, teólogos, enfim, o mundo todo.
 
Numa época bélica como a nossa, quando os países aguardam alguém xingar mais alto para apertar o botão da bomba de hidrogênio, que falta nos faz uma liderança qualificada entre as nações! Estadistas, célebres oradores, estrategistas comedidos e prudentes, sábios e intelectuais renomados, gente com preparação, conhecimento, raciocínio e dignidade! O que temos hoje são moleques, são malucos, são irresponsáveis ricaços e ladrões, gente sem preparo e sem moral, sem decência, sem respeito para com o povo e com os leitores, a buscar a fama máxima, o sucesso a qualquer preço. E, quando abrem a boca, destilam todo o seu vácuo de bom senso.
 
Onde tudo isso vai parar? Abandonaram as enciclopédias nos sebos e museus, sorvendo todo o sub-conhecimento de sites nada confiáveis. Abortaram o ensino sedimentado ao longo dos séculos e inventaram metodologias esdrúxulas, uma mixagem de nada com coisa alguma. E chamam isso de conhecimento! Leiam textos de gente chamada de bacharel, mestre, doutor, pós-doutor e contemplem a insensatez de uma geração que não sabe de nada, não gera nada, não edifica nada! São estes ladrilhos de gesso, grudados com goma de mascar, que pavimentarão as nações dos próximos anos. E gente tão vazia e sem noção será facilmente dominada pelo anticristo, que prepara a passos largos o palco de sua exibição fatal.
 
É bom nos lembrarmos do que a Bíblia diz quanto a boca aberta:
 
O homem mau, o homem iníquo tem a boca pervertida. (Pv 6:12)
 
A boca do justo é fonte de vida, mas a violência cobre a boca dos perversos. (Pv 10:11)
 
Pela bênção dos homens de bem a cidade se exalta, mas pela boca dos perversos é derrubada. (Pv 11:11)
 
O que guarda a sua boca conserva a sua alma, mas o que abre muito os seus lábios se destrói. (Pv 13:3)
 
A língua dos sábios adorna a sabedoria, mas a boca dos tolos derrama a estultícia. (Pv 15:2)
 
O coração do justo medita no que há de responder, mas a boca dos ímpios jorra coisas más. (Pv 15:28)
 
A boca do tolo é a sua própria destruição, e os seus lábios um laço para a sua alma. (Pv 18:7)
 
O que guarda a sua boca e a sua língua guarda a sua alma das angústias. (Pv 21:23)
 
Nas palavras da boca do sábio há favor, porém os lábios do tolo o devoram. (Ec 10:12)
 
 
Ainda sou do tempo em palavras benditas eram remédio para a alma. Continuarei a viver nessa alternativa.
 
Wagner Antonio de Araújo
04/09/2017

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