A EPÍSTOLA
DE PAULO
AOS EFÉSIOS
Por Wagner Antonio de
Araújo,
Pastor da
Igreja Batista Boas Novas do
Rodoanel em Carapicuíba,
São Paulo, Brasil
INTRODUÇÃO
Pregar sobre a
Epístola de Paulo aos Efésios é um desafio a qualquer pregador, ainda que o
nosso intento não seja expor a carta dentro dos critérios da exposição bíblica,
mas pregar textualmente algumas seleções da carta.
O primeiro
desafio diz respeito ao que não abordar, diante do vasto conteúdo de informações
encontradas nos livros, bíblias de estudos, comentários, dicionários e
informações arqueológicas. Discernir o que se quer destacar do que se deixará
para estudos particulares é uma decisão difícil.
O segundo
desafio é o de ser fiel ao conteúdo bíblico e não turbar-lhe a pureza. Um
pregador que não é fiel ao texto expõe inverdades bíblicas e causa mais estragos
do que benefícios aos seus ouvintes. Um texto bíblico deve ser compreendido à
luz de leis hermenêuticas claras, honestas, que não causem conflito com outros
livros da bíblia e com os contextos diversos em que foram escritos (público-alvo
primeiro, cultura e sociedade da época, motivos que levaram à escrita, autoria,
local, data etc).
A bênção,
contudo, reside em ajudar ao partícipe dos cultos na melhor compreensão da
relevante mensagem desta epístola, que enaltece Cristo como Senhor de todo o
universo e esclarece de forma contundente a posição do crente em relação a Deus:
predestinado, remido, comissionado, seguro. Temas assaz relevantes, difíceis,
porém muito práticos e edificantes, se analisados em oração ao Senhor, em santa
piedade e no desejo sincero de obedecer a Deus.
Assim, nesta
introdução, abordaremos cinco questões, que apresentamos
agora.
I –
AUTORIA
Muitas
discussões são feitas pelos doutores bíblicos, pelos teólogos, pelos críticos,
pelos mestres em teologia. Tais discussões afloraram em fins do século 19 e
princípios do século 20.
A grande questão era: quem escreveu a
carta?
Durante toda a
história das igrejas cristãs não houve questionamento da autoria. Paulo,
apóstolo de Jesus Cristo, era o seu autor. Erasmo, que compilou o Novo
Testamento grego quase à época de Martinho Lutero, achou um vocabulário
diferente na carta se comparado a outras epístolas paulinas, excetuando-se
Colossenses. Isto foi o estopim para uma enxurrada de críticos da autoria
questionarem se Paulo realmente havia escrito a
carta.
Os conservadores
consideraram que Paulo era o seu autor. Consideraram que a carta fora escrita
logo após o apóstolo ter escrito Colossenses, razão pela qual ambas possuem
muitos pontos em comum. Mas os liberais apontaram todo tipo de autoria. Alguns
diziam que Paulo deixou que um amanuense a escrevesse. Outros que Filemon a
compôs. Outros disseram que um discípulo de Paulo, muitos anos depois, preparou
a carta como uma introdução à literatura paulina, uma apresentação dos
principais temas das outras cartas.
A verdade é uma
só: Paulo foi o escritor desta carta, incontestavelmente.
II –
DESTINATÁRIO
Lemos no início
da Epístola que ela foi enviada aos santos que viviam em Éfeso. Contudo, estes
destinatários não aparecem em muitas cópias de manuscritos mais antigos. Além
disto a carta fora endereçada para uma igreja muito querida para Paulo. Lá ele
ajudou a fundar o trabalho de Deus, ao lado de Áquila e Priscila. Lá ele lutou
com feras, perseguido. E lá também viveu por 3 anos, lecionando numa escola. Sua
influência na cidade fora tanta, que os comerciantes de oratórios de prata da
deusa Diana (Ártemis) tentaram matá-lo. E, para surpresa dos leitores, a carta
não faz quase nenhuma citação pessoal, como é comum em outras epístolas, dando a
impressão de que não fora realmente endereçada a tão amada igreja que Paulo
conhecera.
Os críticos logo
vieram em combate de Éfeso como destinatária. Disseram que ela, na verdade, era
a carta “aos laodicenses”, mencionada em Colossenses, carta perdida. E que um
copista no segundo século incluiu “em Éfeso” para homenagear a cidade. Por isso
muitas cópias antigas não possuíam destinatários a não ser “aos santos e fiéis
em Cristo Jesus”. Quem estaria certo?
A melhor solução
foi proposta por conservadores. A carta originalmente foi escrita aos efésios.
Contudo, copiada diversas vezes para ser distribuída e lida em outros locais,
teve cópias sem endereçamento. Por esta razão existem manuscritos com e sem o
destinatário Éfeso. Paulo enviou a carta a Éfeso, mas ela serviu de encíclica
(circular) entre as igrejas próximas, algumas conhecidas, outras
desconhecidas.
A origem da
igreja de Éfeso está em Atos 18.18. O apóstolo Paulo deixa ali o casal Áquila e
Priscila e despede-se. Há uma congregação iniciante. Um pregador eloqüente
chegou, Apolo. O casal de missionários chama-o e apresenta-lhe de forma mais
correta o evangelho, pois ele só conhecia o batismo de João. Pouco tempo depois
Paulo regressa à cidade. Encontra discípulos de João, uma dúzia. Pergunta-lhes
se já receberam o Espírito Santo. Eles dizem nem saber que existia. Paulo os
redoutrina e rebatiza-os em nome do Senhor Jesus. Gasta três meses a anunciar
Jesus Cristo na sinagoga, sem grandes resultados. Deixa de ir lá, separa os
discípulos e investe dois anos inteiros na Escola de Tirano, discipulando e
evangelizando. Toda a cidade ouviu de Cristo.
Os resultados
foram tão grandes, que Demétrio, um ourives, faz um levante geral contra Paulo,
pois os lucros dos nichos de prata, oratórios para a deusa Diana (Ártemis)
estavam correndo perigo. No fim do tumulto Paulo deixa a cidade. E fica ali uma
abençoada igreja do Senhor, que se reunia nas casas. É para essa igreja que a
carta é escrita. Também foi para essa igreja que Cristo endereçou uma das cartas
de Apocalipse.
Éfeso era uma
grande cidade, tendo cerca de 250 mil habitantes (há quem calcule em 500 mil).
Era portuária, estava à beira do Mar Egeu. Hoje ela é uma ruína há três
quilômetros de Selçuk, na província de Esmirna, na Turquia (houve assoreamento,
daí a atual distância da água).
Era a capital da
província da Ásia, residência do governador da província. Era uma das cinco
principais cidades do império romano: Roma, Antioquia, Alexandria e Corinto eram
as outras. Possuía 3 ginásios e um teatro para 25 mil pessoas. Tinha banhos
públicos (piscinas) e um comércio promissor, zona portuária onde gente do mundo
inteiro passava. Possuía o TEMPLO DE ÁRTEMIS OU DIANA, uma das sete maravilhas
do mundo. Era uma deusa grega (Ártemis), conhecida por Diana pelos romanos. O
templo levou 2 séculos para ser construído. Possuía 127 colunas de
20
metros cada, piso e paredes de mármore. O culto era feito
por orgias, promiscuidade cúltica. As sacerdotisas se vendiam diante da imagem
aos “adoradores”.
III – DATA E LOCAL DE
ESCRITA
Paulo a escreveu
da prisão. Faz parte das chamadas “epístolas da prisão”, que são Efésios,
Filipenses, Colossenses e Filemon. Paulo escreveu Efésios em seguida a
Colossenses. Ele estava preso em Roma, numa casa alugada, prisão domiciliar,
enquanto aguardava o andamento de seu processo. Ele pedira para ser julgado por
César, equivalente hoje à mais alta instância judiciária. Por dois anos ali
viveu. Em 64 Roma foi incendiada por Nero. Então ele a escreveu entre
59-63. A
data mais aceita é em 62 d.C.
Ao escrevê-la,
entregou-a para que Tíquico a encaminhasse pessoalmente. Muito provavelmente
Tíquico entregou a carta aos efésios e também foi a Colossos entregar a carta
aos Colossenses, como também a que Paulo endereçou a
Filemon.
IV – TEMA E DIVISÕES DA
CARTA
Há muitos temas
e sub-temas propostos pelos estudiosos. Cada um tem a sua relevância. Nós
aceitaremos o seguinte tema: A IGREJA, CORPO DE CRISTO. Esta idéia é
esplendidamente desenvolvida ao longo de seus seis capítulos, subdivididos em
duas partes:
1 – O QUE OS
CRENTES SÃO EM CRISTO – capítulos 1 a 3; 2 – O QUE OS CRENTES DEVEM FAZER
POR ESTAREM EM CRISTO – capítulos 4 a 6.
Há uma
interessante divisão proposta por alguns estudiosos, resumidas em três palavras
essenciais: ASSENTADOS – ANDANDO E FIRMES. Estamos assentados em Cristo,
andando em Cristo e firmes em Cristo. O texto nos indica todas as bênçãos
advindas desta posição no Senhor. Mostra que fomos feitos uma terceira raça pelo
Senhor, nem judeus e nem gentios, mas salvos, unidos no mesmo corpo, que é a
Igreja, em Cristo, que é o cabeça da mesma.
Que o Espírito
Santo nos conduza nestas próximas meditações.
Biblioteca de Celso
Posição de Éfeso no mapa
Éfeso à direita e o mar à esquerda - Ruínas
Ruínas do templo de Diana Ruínas do teatro
O
templo originalmente - Cópia da imagem de
Diana
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