A FÉ
QUE
TRANSFORMA
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A vida deste homem foi
diferente desde o início. Tendo vivido junto com a família, recebera de Deus um
anúncio: "Deixa a tua terra e a tua parentela e segue
para o lugar que eu te mostrarei". Ele sequer conhecia esse Deus,
uma vez que a sua família não lhe ensinara. Teve uma vida nômade, difícil,
porém, conseguiu ajuntar uma grande fortuna. Ele tinha tudo o que um homem bem
sucedido poderia ter, exceto o principal para dizer-se plenamente realizado: um
filho.
Por vezes este Deus
desconhecido, que aos poucos revelava-se ao idoso Abrão dizia que o abençoaria,
que lhe daria a posse de toda aquela região. Tal promessa não seria propriamente
para si, pois já era idoso e em breve descansaria com os seus pais. Mas dizia
respeito a uma suposta posteridade, coisa que a cada dia tornava-se mais
difícil.
Sua esposa Sarai era
estéril. Em uma época onde a fertilidade era desejada e tida como bênção divina,
ter uma esposa estéril era muito difícil. Mais difícil ainda era ser mais velho
dez anos e não ter um único filho a quem deixar toda a riqueza, que cumprisse
tudo aquilo que Deus dizia a ele ao longo do tempo.
Encontramo-lo depois de uma
batalha. Seu sobrinho Ló havia sido sequestrado com a família e Abrão enviara
seus homens para libertá-lo. Conseguira um grande feito, fizera a libertação de
muita gente na famosa e antiquíssima guerra dos quatro reis contra cinco. O rei
de Sodoma veio agradecer-lhe e, em seguida surge um rei desconhecido, de nome
Melquisedeque, a quem é atribuído o caráter de "sacerdote do Deus Altíssimo",
num tempo onde não havia sacerdócio levítico e nem a religião deste Deus
propriamente dita. Abrão atribui a este sacerdote grande consideração;
entrega-lhe o dízimo de tudo que tem e recebe dele uma bênção. E a vida
continuou.
Logo a seguir Deus fala
novamente com Abrão, dizendo-lhe que o seu galardão seria muito grande. Abrão
ouve. Porém olha para si e pensa: muito dinheiro, muitos animais, muitos servos,
muito poder e muita idade, que limitaria a utilização disso tudo. E certamente
muita tristeza, pois, quando partisse, teria que deixar o seu patrimônio a um
funcionário, não a um descendente seu. Ele não tinha filhos.
Quantas vezes deve ter
visto os seus servos e funcionários a brincarem com os filhinhos, a tomá-los no
colo, a conversarem com eles, a adormecerem ao lado das crianças. Abrão, dono de
todo o patrimônio e chefe de todos, não tinha a quem acalentar, com quem brincar
e a quem dizer: "és meu filho!". Com o relógio biológico a indicar-lhe a casa
dos oitenta e sua esposa dez anos a menos, porém amortecida pela deficiência
reprodutiva e pela idade, trazíam-lhe um forte e grande
lamento.
"Que me
haverás de dar, Senhor? Não tenho filhos e deixarei tudo para o meu
servo!"
Deus, em Sua infinita
misericórdia e na eleição que fizera deste homem, promete-lhe um filho. Toma-o
pela mão e o conduz até fora da tenda. Faz com que olhe para o céu forrado de
estrelas. Ao contemplá-las (e naqueles dias deveria ser de brilho muito mais
intenso, pois sem a poluição luminosa de nossos dias), Deus lhe afirma:
"Conta as estrelas, se puderes; assim será numerosa a
tua posteridade". Naquele instante, diante daquele quadro exuberante
e da promessa vívida que ouvia, Abrão teve uma reação "rútica". Como
assim?
É um neologismo meu. Abrão
me lembra a minha filha Rute (por isso "rútica"). Todas as noites eu a nino
diante das estrelas na varanda do meu quarto, enquanto minha esposa amamenta o
meu Josué. "Papai, canta Lá Está o Meu Tesouro?" E eu canto. Ela interpõe sua
cantoria à minha. E eu digo: "Rutinha: o Papai do Céu criou um lugar lindo, onde
sua vovó Elzira e seu vovô Antonio moram; é o céu; é lá que está o nosso
tesouro!" . Então ela, extasiada, diz: "Ahhh", sorrindo feliz. Ela não entende
direito, não tem explicação para o que afirmo, mas, como fui eu quem lhe disse e
ela confia em mim, tem certeza de que é verdade; e nessa confiança ela se
convence e descansa, adormecendo.
O velho Abrão fez o mesmo!
Ele teria posteridade, teria filhos! Fora Deus quem prometera; fora o criador
quem lhe apontara o futuro; logo, não haveria espaço para interpor as
dificuldades, a longa trilha de tentativas frustradas para ter um filho, nada
disto. Abrão agiu como a Rute: Deus mostrou as estrelas e prometeu; isto
bastava. Abrão creu com fé infantil e dócil. E Deus considerou esta fé como a
razão para cumprir o que prometera. "Creu Abrão em Deus,
e isto lhe foi imputado para justiça". (Gênesis 15.6).
Fez-me lembrar quando digo
a Rutinha que ela irá passear à noite; mesmo que eu esteja cansado, cumprirei a
minha palavra, pois ela creu em mim. Se eu, pecador convertido, quero que a
minha filha creia em mim, certamente Deus, que prometeu a Abrão uma posteridade,
iria cumprir a promessa. E cumpriu. Aleluia! Em sentido material, basta vermos
Israel, posteridade de Abrão, os árabes, posteridade de Abrão, e tantos semitas
esparramados. Metade do meu sangue veio de Israel e choro quando me lembro que
existo por causa de uma promessa cumprida. Mas Deus também cumpriu-a entre
aqueles que crêem em Jesus, pois Abrão foi o "pai da fé", e Jesus salva pela fé.
Os que são filhos de Abrão são também os que crêem em Jesus, e neste sentido,
todos nós, cristãos, somos descendência de Abrão. Deus cumpriu a Sua
Palavra!
Esta fé mudou o seu nome
para Abraão. Esta fé mudou a sua história: de solitário envelhecido a papai
feliz e patriarca de uma multidão incontável. Um mero habitante de Ur e Harã foi
transformado no homem em cujo seio estão os filhos da fé (seio de Abraão). Fé
"rútica", fé singela, fé que não questiona; fé que crê, confia e
descansa.
Por que não firmar a nossa
fé nas promessas autênticas e verdadeiras do Deus de Abraão? Por que não confiar
em tudo o que Ele nos revelou nas páginas da Bíblia? Por que não crermos no
descendente de Abraão, Jesus Cristo, o "Filho de Davi,
Filho de Abraão"? (Mt 1.1)
Wagner Antonio de
Araújo
22/09/2017
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