BURACO
NA
IGREJA
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A igreja precisava
construir. O templo era velho, pequenino e o terreno comportava um salão muito
maior. Em comum acordo os irmãos decidiram angariar recursos para a obra com
ofertas e contribuições generosas, sem afetar os dízimos, com os quais
sustentavam o trabalho da igreja.
Alcides não gostava. Achava
que já contribuia demais. Entregava o dízimo para não ser excluído. Também o
fazia para não ouvir Anastácia buzinar-lhe na orelha. "Marido, você não tem
vergonha? Não aprendeu que somos responsáveis pelo sustento da obra de Deus?"
Ele sabia como a sua esposa lhe incomodava quando deixava de contribuir.
Dizimava como um seguro contra aborrecimentos. Mas ofertar para a construção? De
jeito nenhum.
Uma tarde, após uma
feijoada caprichada, Alcides decidiu dormir na rede amarrada nas mangueiras do
quintal. A tarde estava quente, a sombra convidativa e o sono logo chegou. Com o
sono veio o pesadelo.
Alcides viu-se no dia da
inauguração do templo. Achou estranho, mas subiu as escadas. Reparou que as
paredes externas estavam repletas de buracos imensos e que o restante tinha
acabamento completo. "Que estranho! Como puderam colocar revestimento, pintura,
pedras, numa parede esburacada? Parece um queijo!"
Ele, a esposa e os dois
filhos sentaram-se na bancada próxima de um desses buracos. O culto começara e
um de seus filhos, pequeno, escapou do banco e saiu correndo em sua alegria
infantil. Sem aperceber-se, seguiu para um dos buracos imensos da fachada e caiu
dali, esborrachando-se no chão. Alcides e a mulher gritaram, correram e o culto
parou. Foram todos olhar o corpinho do pequeno. "Meu Deus, por que?"; "Que
pastor louco é esse que inaugura uma obra esburacada! Onde ele estava com a
cabeça?" O pastor apareceu ali e lamentou muito também. Mas Alcides,
enlouquecido e raivoso, agarrou-lhe o pescoço e gritou:
"Pastor, o senhor é louco?
Por que essas paredes esburacadas? Por que não completou a construção?"
O pastor respondeu: "Esses
buracos foram feitos por você, Alcides."
"Como por mim?" .
"Se você fosse solidário
com a obra da forma com que votou na sua implantação, não haveria buracos na
parede. Cada vez que você se recusou a participar, garantiu a permanência de um
buraco. Sinto muito que o seu filho tenha caído por ele".
Nesse ponto Alcides caiu da
rede. Agitara-se tanto nesse pesadelo que a corda da rede desamarrou-se da
mangueira e ele foi ao chão. Suado, dolorido e perturbado, Alcides revoltou-se
com aquelas cenas do sonho. Porém, após o ímpeto da revolta ("ninguém pode
obrigar-me a contribuir"), ponderou sobre a sua responsabilidade com aquilo que
poderia fazer e não fizera. Afinal, ajudara a decidir pela construção, mas não
se julgava responsável por ela. Os defeitos que encontraria poderiam ser usados
para atacar o pastor, mas, na verdade, seriam um retrato da falta de
solidariedade de muitos. E o buraco por onde o seu filho caíra não era da
parede, mas da falta de testemunho que daria ao pequenino, demonstrando a ele
que contribuir não era um privilégio, mas um peso.
No culto da noite Alcides
estava diferente. A construção estava muito atrasada, com poucos recursos. Mas
no momento da contribuição Alcides foi com toda a família levar a sua parte. Não
era uma grande quantia, se considerada a necessidade geral, mas era o seu
melhor, feito com sinceridade e sacrifício. Com ela ajudava a demonstrar aos
filhos a nossa responsabilidade para com a Obra do Senhor, inclusive na provisão
de recursos da casa de oração onde congregavam.
Prezado leitor, como Corpo
de Cristo somos responsáveis pela casa de oração onde servimos ao Senhor, pela
Obra de Deus onde participamos. As nossas ausências não serão cobertas por
ninguém; serão um buraco na construção, senão no aspecto material, certamente no
espiritual, com exemplos tristes de falta de amor e de consagração. Aquilo que
fazemos em silêncio será ouvido em alto e bom som pelos pequeninos que nos
observam.
Levantemo-nos e ergamos a
obra do Senhor! Sejamos partícipes, afetuosos e responsáveis. E não deixaremos
brechas por onde outros venham a cair.
Que Deus nos
abençoe.
Wagner Antonio de
Araújo
13/09/2017
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