JOSÉ E
SUA BUSCA
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José era um homem triste.
Carregava em seu coração um imenso vazio. Ele queria preenchê-lo. Ouviu dizer
que o evangelho de Cristo tinha a solução para o seu problema e que deveria ir
ouvi-lo e aprendê-lo. Assim, procurou a avenida das igrejas e foi procurar um
local para saciar a sua fome interior.
Achou uma igreja. Entrou.
Para surpresa sua, em lugar dos bancos para sentar, encontrou um vazio e no
centro um tatame: era um ringue, onde dois lutadores de MMA se batiam, se
sangravam, se agrediam. Um juiz tentava apartar os golpes mais tensos. Os
presentes dividiam-se entre os que torciam por um e os que torciam pelo outro.
José, com grande frustração, pensou: "Aqui não encontrarei o evangelho." E
saiu.
Andou mais um pouco e achou
outra igreja. Entrou e, novamente, frustrou-se. Também não havia bancos; apenas
aparelhos de ginástica, gente a fazer musculação, máquinas de pesos diversos,
bicicletas ergométricas e treinadores com camisetas regata e toalhas ao redor
do pescoço. Muitas senhoras, moças, rapazes e idosos se exercitavam. Jose falou
baixinho: "Por que colocaram na placa IGREJA? Poderiam escrever ACADEMIA e seria
mais apropriado!" E saiu cabisbaixo daquele local.
Achou outro. Entrou.
Encontrou bastante gente, mas, ao invés de estarem sentadas, encontrou-as de pé,
ao redor de bancos com madeiras por cima, improvisando balcões. Era um bazar da
pechincha. Muita roupa de doação, muitos brinquedos usados, muitos pares de
sapato quase novos. Vários membros a vender objetos, vários compradores
regateavam o preço. Era uma feira. José gemeu no coração e disse: "Quando vou
encontrar o evangelho do qual me falaram?" E saiu de novo.
Entrou em outra igreja.
Desta vez havia gente sentada e um homem a pregar no microfone. Estava de
bermuda, camiseta e tenis de marca. Ele falava bem. Mas, ao ouvi-lo, José
indagou-se: "isso é o evangelho?" O homem falava de problemas conjugais; contava
piadas sobre vida sexual. Ele levava o povo às gargalhadas. Ensinava truques
para enganar a esposa. Falava de como divertir-se com as crianças. José,
entristecido, retirou-se mais uma vez. Não era isso que a sua alma
procurava.
Achou uma bem grande, muita
gente. Pensou: "Agora vou ouvir sobre o tal evangelho!". E três pastores, bem
vestidos, sacodiam o corpo e berravam no microfone. As pessoas caíam,
estrebuchavam, rodopiavam. A reunião parecia um encontro de loucos. Gente
chorando, outros gritando. José saiu correndo. Ele falava: "Quero uma igreja,
não um manicômio!"
Viu uma outra. A porta
estava aberta. Entrou. O salão estava dividido em quatro partes. Em uma as
crianças modelavam massinha e argila; no outro canto adolescentes pintavam com
guache. Nas outras duas metades havia atividades para adultos: os homens tinham
uma palestra sobre pescaria e as mulheres um curso de encontrar a melhor
maquiagem para o dia a dia. José chorou de raiva. "Que desgraça é essa, que não
encontro alguém que me fale do evangelho?"
A avenida estava por acabar
e havia um salãozinho pequeno. Entrou. O povo estava discutindo em que partido
votariam nas próximas eleições. Houve até uma briga entre pessoas de opiniões
divergentes, apartada pelo pastor da igreja. José não ficou
ali.
Saiu do salão e seguiu o
seu caminho, frustrado e infeliz, com o vazio da alma maior ainda. Pois, se no
começo da avenida ele pensou que alguém lhe pregaria o evangelho do qual ouvira
falar ser bom, agora tinha certeza de que não encontraria mais nenhuma igreja
que lhe fornecesse essa informação.
José não voltou mais
naquela avenida. Não sabemos por onde anda.
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E irão
errantes de um mar até outro mar, e do norte até ao oriente; correrão por toda a
parte, buscando a palavra do Senhor, mas não a acharão. (Am
8:12)
Wagner Antonio de
Araújo
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