NO
ALTO
DA
MONTANHA
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Lembro-me bem disto. Eram
as férias de julho. Eu, como sempre nos anos de infância, estava em Minas
Gerais, na Meia Légua, em Cambuí. Papai tinha casa e terras ali. Eu costumava
caminhar pela estrada até a casa de meu avô, de minhas tias e primos. Às vezes
subia uma das montanhas.
A subida era íngreme. Havia
gado no pasto. Às vezes eu escorregava, mas conseguia novamente subir. Esfolava
os joelhos, os cotovelos, mas, criança que era, queria subir, subir. O sol
estava para se pôr e eu queria contemplar aquela beleza.
Enxergava lá embaixo a
minha casa, já pequenininha. Também visualizava a casa do vovô, dos meus tios. E
dava para ver, pelos cantos da montanha, um pouco das casas da vila, no centro
da Meia Légua. E subia, subia. Agora só os pássaros me faziam companhia. O gado
berrava lá embaixo. Eu via a estrada em suas curvas por um bom pedaço; um
cavaleiro estava subindo para Cambuí, outros dois desciam para a Meia Légua. Lá
adiante, depois de minha tia Sebastiana, uma professora com algumas crianças
caminhavam depois da aula. No curral do vizinho bem distante eu via as vacas a
entrar para a ordenha. E subia, subia.
Lá em cima eu via o
ribeirinho que descia da fonte de água. Que lindo! Água fresca, saída da
montanha, límpida, potável e refrescante. Depois de bebê-la, continuei a subir,
subir. E cheguei à parte mais alta. Minha casa estava pequenininha lá embaixo.
Eu estava talvez a uns 300 metros lá da estrada. Via tudo: via o São Domingos,
caminho do Córrego do Bom Jesus, via a entrada para São Mateus, em Camanducaia,
via as duas capelinhas da entrada para a Roseta, bem ao alto. E
orava.
Sim. Eu não era crente. Eu
não havia ainda me convertido a Cristo. Eu nem sabia de Sua graça, salvação e
transformação. Só conhecia as rezas. Mas ali, no alto da montanha, eu orava. Eu
falava do coração com o meu Criador. Eu dizia a ele: "Senhor, eu vim aqui
conversar conTigo! Como o mundo é lindo! É incrível!"
Há tantos anos que isso
aconteceu! Passei boa parte do entardecer sentadinho na pedra, assistindo o
desfile de nuvens branquinhas, que se encandeceram conforme o entardecer
chegava. O azul deu lugar ao rosa afogueado e, logo mais, a brisa fria da noite
de inverno chegou. Antes que escurecesse, eu desci. Fi-lo antes de papai chegar,
para não levar bronca.
Depois que me converti, nos
momentos de grande dificuldade, de grande reflexão, de grandes decisões, eu me
ajoelho ao chão, imagino-me a subir aquela montanha, que já não é mais de nossa
família há tantos anos, e subo novamente. Vejo as vaquinhas, vejo as galinhas,
chego até a fonte, bebo da água fresquinha, subo mais, mais e mais, até chegar
ao topo. Então, na minha imaginação, prostro-me ao chão, de frente para as
montanhas daquelas Minas Gerais, e oro, dizendo: "Deus querido, há tanto tempo
eu Te busco! Eis-me aqui novamente a falar conTigo, e a pedir-Te graça e
companhia!"
E Deus, que não é fruto de
minha imaginação, manifesta-se em minha realidade.
Ele nunca me faltou. Nos
momentos de solidão Ele foi o meu companheiro. Nos momentos de sofreguidão foi o
meu amigo. Nas horas de decisão foi o meu conselheiro. Nas horas de dificuldades
foi o meu ajudador. Nos momentos de pecado foi o meu confessor e o meu Redentor.
Nos instantes de dúvidas foi a minha luz. E todos os dias Ele é o meu EMANUEL,
Deus comigo, presente, que nunca me deixa só.
Que o meu leitor e amigo
tenha também a sua montanha para subir, mesmo que seja, como eu hoje, no meu
quarto da cidade, longe da roça, infelizmente...
Wagner Antonio de Araújo
20/11/2017
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