ESTOU
TÃO
OCUPADO...
REFLEXÃO
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- Olá,
irmão! Estou ligando para saber como está. Há tanto tempo não temos
contato!
- Pois é,
irmão. Ando muito ocupado, muitas coisas pra fazer, corro o tempo todo, são
tantas coisas. Eu até pensei em te ligar, falei até para a minha esposa. Nós até
combinamos de visitar-te, mas que bom que ligou
primeiro...
Isso é tão comum! As
pessoas hoje enviam toneladas de whatsapp infrutíferos, impróprios,
desinteressantes e absolutamente sem valor (figurinhas, vídeos de bobagens,
frases feitas, cenas de auto-ajuda ou de pregações fatiadas e fora de contexto,
correntes de "ajudem ao menino que mora no Jequitinhonha" etc). Elas pensam que
todo mundo está numa janelinha, atento a cada clique que dão na rede social, no
facebook ou na mídia disponível. Elas mesmas, entretanto, não estão. Enviei um
"fulano, como você está?" Aguardo há três meses alguma resposta. E ele continua
enchendo o meu whatsapp...
Outro dia o meu amado irmão
José Guedes, locutor que fez vinhetas na Rádio Naftalina Web, a quem eu enviava
as minhas mensagens diariamente, mandou-me uma foto. Ele estava pálido, numa
maca. Liguei-lhe imediatamente. Falou-me que aguardava uma cirurgia. Liguei-lhe
várias vezes na semana. Ele continuava a esperar. Então no sábado deixei de
ligar. No início da semana perguntei-lhe como estava. Fui atendido por sua
esposa, que mandou-me um áudio. "Infelizmente ele faleceu..." Fiquei desolado.
Como pude deixar de ligar-lhe naquele sábado? Agora, ao enviar alguma coisa,
vejo o seu número e penso: "Para ele só no céu, no porvir.
Saudades".
E disse
eu aos nobres, aos magistrados e ao restante do povo: Grande e extensa é a obra,
e nós estamos apartados do muro, longe uns dos outros. (Ne
4:19)
Tão perto estamos com os
aplicativos, tão distantes dos corações! O final do ano está chegando. Que tal
nos perguntarmos: para quantos "contatos" nós realmente ligamos? Por quem
realmente oramos? Por quais nomes realmente estivemos interessados em saber
notícias? Muitas vezes nós queremos muitos contatos não porque nos interessamos
por eles, mas para que eles vejam aquilo que nós postamos! Queremos muitos
cliques em nossos vídeos para que eles nos façam subir de patamar no IBOPE de
mídia. Uma multidão de gente, mas sem ninguém em especial. Que
vergonha!
As igrejas andam assim
também. Cresce a cada dia o número de mega-igrejas, comunidades com mais de duas
mil pessoas, que, na maioria dos casos, não se conhecem, não têm interesse por
ninguém, querem se beneficiar da fama do pregador e da igreja, além das
condições oferecidas (área infantil, de música, de som, de estacionamento, de ar
condicionado). Estas, para tentar driblar a frieza provocada por multidões,
viram-se do avesso, criando os "pequenos grupos". E a fórmula fica assim:
trabalhamos por um crescimento acima do que podemos suportar, para que, ao
estourar o limite, fatiemos em pequenos grupos e finjamos que nos importamos com
todos. Quem é pequeno quer crescer, e quem cresceu não aguenta o custo humano.
Formar novas igrejas de bairro? Nem pensar! Precisamos crescer 15% este
ano!
Quanta saudade das igrejas
de bairro, que serviam de forma restrita! No tempo em que poucos tinham carro e
que a condução não era fácil, as famílias procuravam a igreja de sua denominação
no bairro, e, caso não houvesse, cediam as dependências da casa para o início de
um ponto de pregação. Ali as pessoas cresciam, conviviam, formavam os corais, as
uniões de mocidade, os grupos de evangelização. Ali elas se casavam, criavam os
filhos, formavam outra geração. Hoje, com a facilidade da condução e a mídia
avassaladora das mega-igrejas, os filhos e netos são ceifados das igrejas de
bairro. As grandes igrejas funcionam como um sugador: fazem publicidade maciça,
oferecem doces e sorvetes (congressos, retiros, luais, bailes, encontros,
namoros). Os filhos e netos, liberais, deixam as suas igrejas locais e vão ser
mais um grão de areia na multidão das gigantes. Eles tocavam em suas igrejas;
agora nem na escala são colocados. Eles lecionavam; hoje não o fazem, a não ser
em algum encontro caseiro casual. Eles serviam no som, no serviço, na
evangelização; hoje têm que pagar taxas para ter uma vaga de suplente em algum
departamento da igreja grande. A igreja do bairro? Ficou para
trás.
E a vida que vivem? Vida
solitária. Solidão na multidão. Um gemido sofrido por muitos que, pela manhã,
procuram um whatsapp, um e-mail ou uma frase no facebook que seja PESSOAL, não
um bom-dia coletivo ou algo falado em grupos de convívio de quinhentas
pessoas. Esperança frustrada, caro leitor: estamos a cada dia mais separados uns
dos outros, apesar de entupidos de coisas enviadas ou que nos
enviaram.
Sem essa de "estou
ocupado". Não está não!
É como ir ao culto da
semana. Não sendo por causa de escola, as famílias ficam enfornadas em casa,
assistindo ao lixo televisivo ou às porcarias da internet. A desculpa é sempre a
mesma: "Estava muito ocupado, cheguei tarde, tinha tarefas.." Mas basta alguém
da casa receber um diagóstico de câncer, basta uma notícia ruim que chega de
longe, uma ameaça de despejo da casa ou a sombra de um divórcio no casamento; o
tempo para ir à igreja aparece bem rapidamente. Aparece todo mundo da família,
até em dias em que não há culto! Quer dizer, a ambição leva à igreja. Queremos
bênçãos. Não queremos reparti-las. Que mundo triste este!
Importemo-nos com as
pessoas. Transformemos contatos em amizades, nomes em realidades. Vamos dizer
com franqueza: podemos ser mais amigos, mais presentes, mais interessados, mais
ativos, ter mais iniciativas. Dai, e ser-vos-á dado; boa
medida, recalcada, sacudida e transbordando, vos deitarão no vosso regaço;
porque com a mesma medida com que medirdes também vos medirão de novo. (Lc
6:38)
Acho que vou parar por
aqui. Lembrei-me de um irmão com quem não falo há muito tempo. Quem sabe o
encontrarei em casa.
Tchau.
Wagner Antonio de
Araújo
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