segunda-feira, 9 de abril de 2018

memórias literárias - 644 - FOTOS ANTIGAS

FOTOS
ANTIGAS
 

no banner 3 fotos:
papai e mamãe a passear quando namoravam;
eu, meu pai e avós paternos;
eu e meu irmão com a prima Dirce.
 
644
 
No tempo de meus pais as fotos eram raras. Quase ninguém possuia máquinas fotográficas. As poucas fotos que tiraram foram feitas em estúdio, celebrando raríssimos momentos. Algumas em visitas a cidades onde haviam os "lambe-lambe", fotógrafos rudimentares que ganhavam a vida na frente das igrejas ou de parques públicos. Tiravam a foto e depois de horas a entregavam revelada. Outras celebravam uma formatura, um casamento e, quiçá, registravam um velório...
 
No meu tempo de criança fotografar tornou-se algo mais comum. Papai comprou uma câmera japonesa e tenho duas dezenas de fotos do tempo em que meu irmão e eu éramos crianças. Quando comecei a trabalhar adquiri uma "instamatic 11" da Kodak, uma câmera muito ruim, mas que era barata. E guardo com carinho as fotos de meu tempo de jovem. O tempo passou, novas câmeras surgiram, até que o "smartphone" foi inventado e a fotografia banalizou-se.
 
Hoje as fotos raramente vão para o papel. As que  tenho em casa são velhas; as atuais estão no computador. São toneladas, milhares delas. Quando preciso fazer algum apanhado tenho dificuldade para escolher, tal a fartura e a multiplicidade de motivos. E, infelizmente, o adágio se firma: "barriga cheia, goiaba tem bicho": são tantas as fotos, que nem atraem e nem marcam. Viraram coisas triviais e comuns. Elas não carregam um esforço, uma celebração; elas não trazem consigo a força de um momento e a celebração de um instante, com raras exceções. As fotos antigas tinham que ser estudadas, tiradas com parcimônia, pois os filmes só davam 12, 24 ou 36 oportunidades. A revelação era cara. Hoje, em um minuto, podemos fotografar centenas de vezes. São tantas que nem damos valor à maioria delas.
 
Lembro-me de uma vez estar sem o celular. Havia uma paisagem tão bela, tão deslumbrante e eu não podia registrá-la. Um conhecido meu estava ali e eu, sem graça, pedi-lhe um favor. "Posso fazer uma foto disto?" Ele disse que sim. Eu, com desconforto, procurei um ângulo bom e fotografei. Não tirei uma dezena; tirei uma fotografia, para não aborrecer o conhecido. Pedi que me enviasse por whatsapp. Estou aguardando até hoje...
 
A Bíblia nos ensina a sermos gratos, não meramente conscientes. A mera consciência nos faz agir assim: "Um novo dia? É normal! Há um a cada 24 horas!". Achamos normal porque temos saúde, temos meia idade, temos uma falsa aparência de fartura de tempo. Veja, contudo, a vida de alguém em estado terminal de enfermidade, ou que esteja no fim de sua longa vida: cada dia é celebrado como uma dádiva sem tamanho, algo mais do que especial, há uma felicidade intensa (lembremo-nos dos dias em que alguém querido sobrevivia numa UTI de hospital...). O indivíduo sabe que não possui tempo abundante; sabe que o corpo não suportará a integridade da consciência; então celebra um dia de cada vez, tornando-o especial, maravilhoso, um desafio alcançado!
 
Este é o dia que fez o Senhor; regozijemo-nos, e alegremo-nos nele. (Sl 118:24). Se alguém cuja morte fosse acontecer dentro de pouco tempo, atentasse para a riqueza deste último dia, não o veria como algo banal, mas como a sua última página, o seu último capítulo, e procuraria aproveitá-lo de forma boa, útil e duradoura!
 
O pão nosso de cada dia nos dá hoje; (Mt 6:11). Jesus nos ensinou a orar pelo pão de hoje, pois é o pão que comeremos agora; o pão de amanhã dependerá de estarmos aqui ou não. Assim, cada pão é precioso e deve ser sobejamente agradecido. E, havendo dito isto, tomando o pão, deu graças a Deus na presença de todos; e, partindo-o, começou a comer. (At 27:35). Aí está o Apóstolo Paulo a fazer uma refeição, sendo grato por pão tão precioso em hora tão difícil!
 
Para que, no tempo que vos resta na carne, não vivais mais segundo as concupiscências dos homens, mas segundo a vontade de Deus. (1Pe 4:2). O Apóstolo Pedro diz que devemos focar a nossa atenção nas coisas que glorificam a Deus e não nas que satisfazem a carne. Diz ele que isto é prioridade, pois NÃO SABEMOS O TEMPO QUE NOS RESTA. Só sabemos que este é o tempo que nos foi dado. Não é um fundo de recursos que não se esgota; é uma ampulheta cuja areia cai continuamente e que só o Senhor sabe quando se esgotará.
 
Mesmo possuindo milhares de fotos armazenadas em computador, apenas algumas têm marcado a minha vida. Elas são especiais. Posso perder toda a mídia guardada, mas estas fotos eu as copiei e imprimirei, pois foram especiais. Que as nossas vidas também, no temor do Senhor, vivam cada dia não como a fartura de fotos banais, mas como a preciosidade das fotos antigas, celebradas e guardadas com carinho!
 
Uma boa foto antiga HOJE, para você!
 
Wagner Antonio de Araújo

09/04/2018

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