12 - OS
AMIGOS
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Carlos André
fora um executivo de grande sucesso numa empresa de comunicações. Seu nome era
sinônimo de audiência, credibilidade, excelência. As suas linhas telefônicas
tocavam o tempo todo. A sua caixa de e-mails era lotada. Com o surgimento dos
celulares android, também era farta a comunicação por aplicativos. Poderia se
dizer que era um homem muito bem situado.
A empresa
onde trabalhava enfrentou a turbulência do mercado financeiro e das grandes
concorrências. Ao cortarem gastos, cortaram-no também do quadro de funcionários.
Carlos André perdeu o emprego. Com o emprego também acabou a sua popularidade. O
telefone emudeceu; a caixa de e-mails esvaziou-se. Os aplicativos deixaram de
acusar a presença dos amigos de sempre. Foi então que me procurou. Encontrei-o
numa loja de conveniências de um posto de gasolina. Conversamos e oramos. Ele
não estava em má situação; pelo contrário, como era organizado nos gastos,
apenas aguardava que uma outra empresa o chamasse, o que poderia demorar diante
da crise. Mas estava perplexo com o desaparecimento dos
amigos.
- Pastor, é
impressionante o silêncio dos colegas e amigos! Até ontem eu era popular,
recebia mensagens, era convidado para encontros e reuniões. Eles simplesmente
sumiram!
- Carlos
André, eu conheço bem esse comportamento. As pessoas são amigas de sua posição,
de sua influência, de seu cargo. Olhe para os políticos. Você se lembra de algum
que deixou o cargo? Acredito que não. Ele foi esquecido. E os jogadores de
futebol? Basta deixarem um time importante, terem os salários diminuídos, que
são logos deixados de lado pelos comentaristas e pela mídia especializada. Você,
como comunicador, sabe que os que faziam programas de tv e saíram, não são mais
lembrados. Apenas quando alguém resolve fazer um quadro do "por onde anda
fulano" é que deles se lembram, e para tratá-lo como um pobre coitado, não é
mesmo?
- Mas não
devia ser assim, pastor! Eu nunca tratei ninguém pela posição que tinha, pelo
valor da conta corrente ou pela influência! Por isso sinto falta destes amigos!
Não é justo que me desconsiderem assim!
- Caro irmão,
as pessoas são assim mesmo. O filho pródigo tinha amigos enquanto o dinheiro era
abundante. Ao fim dos recursos sumiram os amigos. Ao voltar para casa teve
festança. Lembra-se de Davi, quando teve o trono usurpado pelo filho Absalão?
Imediatamente foi trocado pelos amigos, não todos. Mas recuperou o o poder e os
amigos reapareceram. O mundo é assim: "rei morto, rei posto", não importa quem
seja.
- Mas isso é
errado, pastor!
- Claro que
é, meu irmão! Muito errado. É um insulto silente! Mas precisamos conviver com
isso. Lembra-se do Senhor Jesus Cristo, ovacionado pelo público no chamado
Domingo de Ramos? Foi preso na sexta-feira chamada Da Paixão e até os seus
apóstolos o abandonaram! E o que foi que Ele fez com eles?
- Bem, eu
acho que perdoou-os, estou certo?
- Sim, meu
irmão. Ele os perdoou, ainda que não tenha ficado feliz com aquilo. E sabe o que
mais? Ele tinha o suficiente com o Seu Pai; por isso não dependia do suprimento
dos supostos discípulos. Nós, infelizmente, passamos a depender dos outros para
sentir felicidade. Quando os amigos minguam, parece-nos que o mundo acaba. Mas
não é assim. Lembre-se do que Jesus disse: Eis que chega
a hora, e já se aproxima, em que vós sereis dispersos cada um para sua parte, e
me deixareis só; mas não estou só, porque o Pai está comigo. (Jo
16:32)
- Valeu, pastor! O Pai está
comigo também, e isto me basta! Pode ter certeza de que o senhor será o primeiro
a saber sobre a minha recolocação, ok? Continue a orar por
mim!
Despedimo-nos. Saí
convencido de que ele compreendera o que lhe falei. De fato a sua recolocação
não demorou muito. E, no dia seguinte ao novo contrato, ele me
ligou:
- Pastor, fui recolocado!
Estarei na diretoria de outra emissora de comunicação!
- Meus parabéns, Carlos
André!
- E tem mais, pastor!
Aquela nossa conversa foi didática! Assim que eu comuniquei o meu reingresso, a
minha caixa de e-mails lotou com mensagens dos amigos que haviam desaparecido!
Eles vieram me saudar. Mas, cá pra nós, acho que vieram saudar o
cargo!
Eu ri e
disse:
- Aproveite o regresso, meu
irmão. E não se estribe mais na fragilidade de amigos sujeitos às suas próprias
limitações; estribe-se no Senhor Jesus, que nunca nos decepciona e jamais nos
abandona!
- Pode deixar, pastor!
Estou vacinado! Fico feliz com os amigos, mas sei que o verdadeiro valor está no
Senhor Jesus! E também naqueles amigos que não sumiram enquanto estive
desempregado! Tem uns poucos que merecem mais de mim. Obrigado, pastor, pela
atenção!
(ficcional)
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Leitor caríssimo, não
confie em sua popularidade, em sua fama, em seu dinheiro ou em sua saúde. Não
confie em suas enormes redes sociais. Tudo isso passa e, quando passar, as
pessoas lhe esquecerão também. Para não frustrar-se e não construir a casa de
sua vida sobre a areia movediça dos interesses, confie em Jesus Cristo, Senhor e
Salvador, que não nos valoriza pelo que temos (nada temos diante dEle!), mas por
quem somos (Seus escolhidos, amados e salvos por seu precioso sangue!). Trate os
amigos com amor, com ternura, mas também com absoluta consciência de que "O homem de muitos amigos deve mostrar-se amigável, mas há um
amigo mais chegado do que um irmão". (Pv 18:24) Selecione alguns especiais, aqueles que ficam quando todos os
outros vão embora. E invista nestes relacionamentos. Aos demais, seja bom e dê
de si e a si, mas sabendo que "Enganoso é o
coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?" (Jr
17:9)
Agradeço a Deus pelos
verdadeiros amigos que tenho, que estão comigo em todos os momentos. E agradeço
por aqueles que não estão o tempo todo. Que eu seja uma bênção para todos. Por
Jesus, o meu melhor, maior e único COMPLETO AMIGO, o único que seguirá ao meu
lado onde ninguém mais seguirá, para o além! Amém!
Wagner Antonio de
Araújo
10/07/2018
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