18 - A
MINHA
PRIVACIDADE
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O mundo criou
uma armadilha, uma arapuca. Inventaram a tecnologia de comunicação digital,
transformando o privado em público. Facilitaram e induziram o mundo todo a
compartilhar as suas privacidades em sites e comunidades que prometiam sigilo
ou, pelo menos, discrição. Quando os empresários geradores de espaço adquiriram
todo o material pessoal dos usuários, ameaçaram divulgar os dados, trazendo
pânico e apreensão. Algumas vezes permitiram vazamento das
informações, provocando o caos para quem viu-se, da noite para o dia, despido
diante do mundo todo. Outras vezes foram roubados, demonstrando não serem, de
fato, possuidores de cadeados adequados. A verdade é: a privacidade de cada um
de nós acabou.
As mídias
estendem-se de continente a continente, multifacetadas e com uma gama infindável
de produtos. Um simples preenchimento de cadastro para aquisição de um bem expõe
inúmeras informações privadas de nossas vidas. Quantos não tiveram o telefone
fixo invadido por ligações que não se completavam, ou de pessoas que nunca
respondiam? Quantos não viram os seus e-mails repletos de propagandas que nunca
solicitaram? Os perfis de redes sociais são invadidos por pedidos de amizade de
gente que sequer existe, sem fotografia ou com fotos únicas e sem nada
publicado. O mundo tornou-se um grande "BIG BROTHER", com um monitor a olhar-nos
e a dizer-nos: "Eu sei quem você é e vou dizer para todo
mundo".
Os nossos
filhos nascem neste mundo exposto. Os pais, no afã de vê-los quietos, deixam o
telefone celular com eles. Logo que são alfabetizados inscrevem-se em grupelhos
de colegas de escola, criam alguns perfis infantis e, sem que se perceba,
inserem-nos de forma irreversível neste mundo tenebroso. Crianças há que
partilham pornografia e violência. Pais inconsequentes publicam coisas de sua
prole e nem percebem que o inimigo literalmente está à porta. Há alguns meses
uma reportagem mostrou com que facilidade os bandidos descobrem quem são as
crianças, os seus pais, onde elas estudam, a que horas chegam, em que clube se
divertem e quem são os seus amiguinhos. Nós, no uso de telefones smartphones,
celulares, telemóveis, somos surpreendidos quando recebemos mensagens do tipo:
"você está em tal lugar; o que está achando?", "Pela quarta vez você passou por
esta rua. O que veio fazer?", "A pessoa a quem você visitou está lhe
procurando"...
Sair das
redes e abandonar a tecnologia não é a solução. Afinal, são ferramentas úteis e,
quiçá indispensáveis neste mundo moderno. A solução está no ensino
bíblico: Seja a vossa moderação conhecida de todos os
homens; PERTO ESTÁ O SENHOR" (Filipenses 4.5). Duas verdades
confortadoras: 1) Os homens devem ter acesso RESTRITO à nossa privacidade; 2) É
DEUS quem deve ter acesso IRRESTRITO a nós. Que maravilhosas afirmações! O
autor de Provérbios, ao falar sobre a privacidade do amor no casamento diz: Sejam para ti só, e não para os estranhos contigo. (Pv
5:17). Uma foto simples da família, dos filhos, um momento público
nosso é lindo para divulgar; mas algo íntimo e que só interessa ao casal ou à
família (um bem, um documento, um momento privado) não deve ser compartilhado.
Sobre comentar de tudo e de todos assim diz a Escritura:
Portanto, meus amados irmãos, todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para
falar, tardio para se irar. (Tg 1:19). Quem fala demais acaba por
expor-se e comprometer-se. A boca do tolo é a sua
própria destruição, e os seus lábios um laço para a sua alma. (Pv
18:7). Quantos políticos e quanta gente pública é demitida
sumariamente por ter publicado coisas das quais hoje se arrepende, ou, mais
comum ainda, afirmações politicamente incorretas aos olhos do mundo
contemporâneo! Por fim, quem repassa coisas que ACHA verdadeiras e que não dizem
respeito a si próprio, mas o faz sob o pretexto de patriotismo, de ativismo etc,
age como o mexeriqueiro e o mentiroso: Não andarás como
mexeriqueiro entre o teu povo; não te porás contra o sangue do teu próximo. Eu
sou o SENHOR. (Lv 19:16)
O segredo
para a paz virtual é nos abrirmos com Deus e nos limitarmos para com o público.
Não precisamos de curtidas, nem de inúmeras visualizações, nem necessitamos de
tantos aplicativos para nos sentirmos socialmente adaptados. Troquemos tudo isso
por uma vida quieta e sossegada, guiada pela parcimônia e pela privacidade de
nossas particularidades. Mário Prata, articulista contemporâneo, diz que
transformamos um prato de macarrão em um produto digital: enquanto ele esfria no
prato, transformamo-lo num selfie e aguardamos a opinião dos outros, perdendo a
chance de desfrutá-lo naquela hora. Sede de exposição.
Eu sou um
homem público. Já transformei viagens privadas e momentos pessoais em
partilhamento amoroso com o público. Cedo descobri que estava errado: expus
demais. Tornei-me alvo de agressões, de inveja, de desdém. O que foi festa em
privado tornou-se tortura em público. Hoje só partilho o que diz respeito ao
ministério e o que testifica do poder de Deus em nossa família. O quê, como, o
que fiz, o que disse ou o que pensei é da minha conta e da conta de Deus, não da
conta dos outros. Entendi a importância de ter uma rede não pública, com um
único destinatário, que vale muito mais do que a totalidade dos contatos de uma
vida: A REDE COM DEUS! Para não pareceres aos homens que
jejuas, mas a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te
recompensará publicamente. (Mt 6:18). Quanto a mensagem do
evangelho, esta é pública e procuro torná-la o mais divulgada possível, usando
toda e qualquer ferramenta tecnológica, atendendo ao ensino do Mestre: O que vos digo em trevas dizei-o em luz; e o que escutais ao
ouvido pregai-o sobre os telhados. (Mt 10:27). Mas a minha fé e
intimidade pessoal, é minha e de Deus: Tens tu fé?
Tem-na em ti mesmo diante de Deus. (Rm 14:22)
Que o inimigo
não nos chantageie com a invasão de nossa privacidade. Saiamos desta arapuca.
Wagner
Antonio de Araújo
23/07/2018
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