sábado, 18 de abril de 2020

memórias literárias - 871 - EX-MINISTRO

EX-MINISTRO
 
 
871
 
Ontem ocupava os noticiários das mídias nacionais e internacionais. A sua opinião e as suas decisões eram fundamentais para o país. Ouviam-no, avaliavam o que dizia, seguiam as suas diretrizes, criticavam-no, elogiavam-no; enfim, estava no centro das atenções. De repente foi substituído. E hoje ele é página virada para os jornais e noticiários. Na semana seguinte haverá quem pergunte quem foi essa pessoa. Este mundo é muito injusto. Hoje nós somos os habitantes de nossos lares. Amanhã seremos retratos em cima da estante. E depois nem isso...
 
Mas o fato é que nós nos focamos de tal forma no hoje e no terreno, que nos esquecemos do eterno e celestial. Lançamos todas as nossas fichas no atual e no assunto do dia e nos esquecemos do eterno e do atemporal. Quem se lembra do ministro da saúde de seis anos atrás? E do deputado com maior número de votos em 1920? Ninguém. Quanta gente sofre infarto, derrame cerebral, convulsão emocional e problemas sérios por causa de preocupações e imaginações momentâneas, esquecendo-se de que tudo passa, tudo sempre passará?
 
Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra; (Cl 3:2)
 
E nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus; (Ef 2:6)
 
Ao ler, em minha biblioteca, textos cristãos escritos durante a gripe espanhola no início do século 20, ou artigos evangélicos preparados durante as duas grandes guerras ou mesmo sermões durante a intervenção militar da década de sessenta, percebo que os que se mantinham com os olhares em Cristo, que pensavam no Céu, que valorizavam o eterno e não focavam o coração no temporal conseguiam traduzir a vontade de Deus e gerar esperança e viver com o coração além da crise.
 
Mais uma vez evoco a lembrança de Sebastião Emerich, o meu mestre da Palavra de Deus na Igreja Batista em Sumarezinho, São Paulo, Brasil, quando eu tinha apenas 14 anos. Em uma de minhas últimas visitas àquele nonagenário servo de Deus, há alguns anos atrás, vi em seu rosto o brilho de um anjo. Ele tinha costume de ler seis ou oito vezes a Bíblia em um ano. Perguntei-lhe:
 
- Irmão, o senhor ainda lê seis ou oito vezes a Bíblia durante um ano?
 
Ele respondeu-me:
 
- Não, Wagner. Tenho lido uma vez.
 
Eu então observei:
 
- Uma vez ao ano, irmão Sebastião?
 
E ele, com um sorriso, respondeu-me:
 
- Não, uma vez ao mês...
 
Quantos de nós gastamos horas diante dos celulares, dos noticiários, acompanhando até o espirro dos ministros que passam, as opiniões que mudam, os debates que não cessam, as crises que não dão trégua, as ameaças que se renovam, a desesperança que voa para longe, e não olhamos para o Alto, para Cristo, para as páginas da revelação divina do Senhor! Sebastião passou pela segunda guerra, pela intervenção militar e por todas as crises econômicas contemporâneas. Mas ele estava tão distante daqui, tão longe de tudo isso, que o seu rosto brilhava o brilho dos anjos!
 
Quem olha para Cristo vive acima das circunstâncias e já se encontra em glória interior.
 
Oh, Senhor, que eu também seja assim.
 
Espero que o meu leitor também busque o mesmo.
 

Wagner Antonio de Araújo

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