segunda-feira, 27 de abril de 2020

memórias literárias - 876 - FOLHA DE PAPEL

FOLHA
DE PAPEL

 
 
876
 
Estava a limpar as gavetas de minha escrivaninha. Estas gavetas costumam estar desarrumadas, pois tudo o que fica sobre a mesa vai para lá, dando-nos a impressão de que deixamos o ambiente limpo. De quando em quando é preciso organizar.
 
Em uma delas encontrei muitos papéis velhos, notas de compras, propagandas recebidas, início de artigos e sermões que nunca foram terminados, recados, papéis sem importância nenhuma. Mas havia lá uma folha em branco de sulfite, bem amassada, de pouca utilidade e por quem ninguém, em sã consciência, daria qualquer vintém para adquiri-la. Eu ia jogá-la fora depois de picá-la em pedaços. Mas, antes disso, pensei:
 
"Uma folha velha de papel, sem valor e sem nenhum atrativo. E se fosse colocada na mão do Apóstolo Paulo, ou dos evangelistas, ou de algum dos profetas bíblicos? E se fosse colocada na mão dos grandes gênios da literatura brasileira? Nas mãos de Machado de Assis, de Maria José Dupret, de Olavo Bilac, de Rui Barbosa? Ou servisse de base para pregadores como Spurgeon, Moody, Welsey, do passado, ou de Timofei Diacov, David Gomes, Josué Nunes de Lima, William Carey Taylor, Rubens Lopes, do presente? Já pensou se esta folha fosse o único lugar onde se pudesse registrar um pedido de socorro? Ou a única anotação da senha de um cofre? Ou o lugar onde se registrasse a fórmula de um remédio contra a covid 19? Ou o código que descobrisse uma língua morta? O valor deste papel iria às alturas!"
 
Eu concluí que o valor de algo não está em sua beleza, em seus elementos químicos, em seu preço elevado ou em sua complexidade, mas no propósito que cumpre e no conteúdo que carrega. Esta folha não terá qualquer valor se não for usada devidamente e para uma missão que lhe valha a existência. Faz-se necessário dar-lhe um destino, uma meta, uma missão.
 
Há bilhões de seres humanos a viverem sobre a Terra. Gente de toda espécie, de todo tamanho, de toda procedência, com múltiplas aparências, com diferentes cores, linguagens variadas e obras distintas (ou nenhuma). O que torna alguém especial diante da multidão, diante da abundância e do número quase incontável de pessoas? A sua alma, o seu espírito, o conteúdo de seu ser interior. Ele é tão precioso e importante que levou Deus, o Pai, a enviar Jesus Cristo, o Filho, para escrever uma nova história na página de cada uma dessas pessoas que se colocam como folhas diante de Sua mão de escritor. Jesus Cristo, com Sua morte na cruz, derramou sangue precioso, puro, limpo, que tem poder para alvejar a página de cada um de nós e, depois disto, escrever em seu corpo uma nova história, um novo poema, algo que lhe torne incomensuravelmente valioso. Sim, cada um de nós, folhas velhas e amareladas de papel comum, nos tornamos manuscritos de Deus a exibir para todos a mensagem que o Senhor nos trouxe.
 
Vós sois a nossa carta, escrita em nossos corações, conhecida e lida por todos os homens. (2Co 3:2)
 
Espero escrever nesta folha velha que encontrei um poema. E que os meus filhos guardem com carinho. Espero que o Senhor escreva em minha vida e na dos meus leitores, a cada dia, a mensagem de Seu amor e graça.
 
Obrigado, Senhor, por nos tornar valiosos. Não por nós, mas pela Tua escrita em nós.
 
Amém.
 

Wagner Antonio de Araújo

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