quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

memórias literárias - 767 - DEUS FALHOU?

 

DEUS FALHOU?
 
 
767
 
"Jesus é nosso amigo,nunca vai se afastar. Ele nos livra do perigo e ao nosso lado sempre está." Cantamos isso e muito mais para as nossas crianças. Como conciliar tal afirmação com a tragédia de Brumadinho e com todas as tragédias humanas que enfrentamos? Sobre Brumadinho temos certeza de que diversos cristãos que confiavam na proteção divina estão hoje soterrados na lama. Senhoras fiéis, jovens devotos, crianças que aprendiam sobre a Palavra de Deus, não foram poupadas pela lama fétida da empresa sanguinária. O que aconteceu? Teria Deus falhado? Jesus não funcionou? Costumo ler muitos pedidos de oração. Quando a pessoa melhora ou a causa é conquistada, leio: "Deus é fiel, Ele nunca falha". Mas quando isso não acontece, saímos com a deixa "Era o melhor". Afinal, Ele é fiel para aqueles a quem socorre e infiel aos que larga ao léo? Ou quando não somos atendidos dizemos que era a vontade dEle só para nos vermos livres do fardo da decepção?
 
A música gospel e os púlpitos estão repletos dessas afirmações. E, infelizmente, por falta de conhecimento bíblico, muitos de nós propagamos esse tipo de fé. Uma fé triunfalista, num Deus que cura, que socorre, que faz milagres, que transforma e que nunca falha (isto é, que faz alguma coisa acontecer). Nós nos omitimos quanto aos pedidos que não são atendidos ou às tragédias nas quais não fomos personagens. Afinal, a pimenta nos olhos dos outros não arde nos nossos. Tenho certeza de que há crentes em Brumadinho que estão desconfortáveis com a sua fé, pois terão que conviver com a ausência de pessoas a quem amavam e que confiavam em Deus; e, ainda assim, não foram poupadas. Como explicar a fé ou justificá-la para si próprios ou para os filhos?
 
Nos dias de Jesus muitos diziam que uma tragédia era castigo sobre pessoas más. Cristo afirmou categoricamente: "pensam que tais pessoas eram mais pecadoras? Não, de forma alguma; eu afirmo a vocês que irão perecer do mesmo modo se não se arrependerem de seus erros".  Isto é a condensação do texto de Lucas 13.1-5. Jesus afirmou que as tragédias não são necessariamente condenação sobre pecadores grosseiros; elas podem não ter ligação com o pecado. No mundo tereis aflições". (Jo 16:33)
 
Os primeiros cristãos não pensavam como as igrejas de hoje. Eles pagaram um preço alto demais para os padrões de hoje: pagavam com a vida! Se nós disséssemos a eles que acreditávamos que Deus iria poupar-nos de todo desemprego, de toda enfermidade ou de tragédias naturais (ou fabricadas, como a de Brumadinho, onde a empresa Vale do Rio Doce deixou uma barragem de rejeitos de minério explodir sobre a cidade e a população), eles diriam: "Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens." (1Co 15:19).
 
Eles sofriam de todo lado: primeiro dos judeus, que achavam o cristianismo uma idolatria. Eram banidos das sinagogas, tinham os seus bens confiscados, eram apedrejados por blasfêmia e impedidos de viver nos lugares de origem. Depois pelos pagãos que, sob o pretexto de ateísmo e de ocultismo (celebração da Ceia do Senhor e do batismo) os acusavam de trazer azar ao império. Além disto recusavam-se a adorar aos deuses e ao imperador. Então eram exilados, crucificados, transformados em diversão pública, tochas humanas, erguidas para iluminar as arenas e os estádios. Pais e mães viam os seus filhos serem devorados aos pedaços pelos leões e por outros animais. Casais eram estraçalhados por gladiadores e por feras. Onde havia espaço para o tipo de fé que propagamos hoje? Não, eles não criam em Jesus como proteção contra catástrofes, doenças ou problemas. Se assim fosse a fé cristã teria sido extinta! Eles criam em Jesus porque queriam ir para o Céu, para o Paraíso, para a Nova Jerusalém! Eles criam em Jesus porque queriam perdão para os pecados e a paz com Deus! Dizem os historiadores que eles cantavam hinos ao Senhor, proclamando a vitória final na ressurreição dos mortos!
 
Então eu creio que se faz necessária uma reavaliação de nossa fé. Deus nos protege? Deus nos cura? Deus está conosco na caminhada? Deus faz milagres? Sim, claro que faz! Eu sou testemunha disto, tendo visto o Seu milagre no meu sistema cardíaco. PORÉM isto não significa que eu serei invencível, que jamais atravessarei problemas, que serei poupado em uma tragédia ou que nunca adoecerei. Até poderá acontecer se Ele tiver um propósito, mas não necessariamente. Enquanto estou no mundo sofro as suas agruras. Foi para me dar a vida eterna que Cristo morreu por mim. Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. De sorte que, ou vivamos ou morramos, somos do Senhor. (Rm 14:8). O Apóstolo Paulo afirmou: Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho. (Fp 1:21). Devemos celebrar a nossa fé trancedental, de um Deus que nos salva deste mundo tenebroso e nos prepara para a vida eterna. Sim, o cristianismo de hoje lançou raízes neste mundo e esqueceu-se do Céu! Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra; (Cl 3:2). Estamos mais ocupados em preparar as pessoas para um triunfo temporal e olvidamos de nossa situação de peregrinos numa terra estranha! Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal. (Jo 17:15). O mal aqui mencionado não é a tragédia ou o problema que enfrentamos na vida, mas a influência e a ação de Satanás. 
 
Foi assim que Jó acreditou no Senhor. Ainda que ele me mate, nele esperarei; contudo os meus caminhos defenderei diante dele. (Jo 13:15). Ao perder tudo Jó não amaldiçoou a Deus, como sua mulher queria (Então sua mulher lhe disse: Ainda reténs a tua sinceridade? Amaldiçoa a Deus, e morre. (Jo 2:9). Há muitos cristãos que abandonam a fé no meio das provações e das dificuldades. Sobre isso Jó também disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o Senhor o deu, e o Senhor o tomou: bendito seja o nome do Senhor. (Jo 1:21). Paulo afirmou: Sei estar abatido, e sei também ter abundância; em toda a maneira, e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome; tanto a ter abundância, como a padecer necessidade. (Fp 4:12). Ele também responde:  Porque eu estou pronto ...  a morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus. (At 21:13). Sim, a fé cristã nos ensina a viver, a lidar com as tragédias e a crer na vida eterna! Ela nos ensina a morrer com segurança!
 
Encerro esta meditação com um trecho do velho hino de August Ludwig Storm, em 1891, hino que compôs para o Exército da Salvação:
 
Graças pelo azul celeste
e por nuvens que há também,
pelas rosas no caminho
e os espinhos que elas têm,
pela escuridão da noite,
pela estrela que brilhou,
pela prece respondida
e a esperança que falhou.
 
Segundo a minha intensa expectação e esperança, de que em nada serei confundido; antes, com toda a confiança, Cristo será, tanto agora como sempre, engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte. (Fp 1:20)
 

Wagner Antonio de Araújo
07/02/2019
membro da Igreja Batista Cidade IV Centenário, São Paulo, Brasil
textos: http://prwagnerantoniodearaujo.blogspot.com/  
pregações:
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