quarta-feira, 22 de abril de 2015

memórias literárias - 169 - FIGUEIRAS SEM FRUTOS

FIGUEIRAS SEM FRUTOS
169
Tempos difíceis, tempo de figueiras sem frutos!
 
Estive na sorveteria para repor o meu estoque de picolés (sorvetes de palito/gelados em Portugal). "Tem de uva?", "não". "E de Limão?", "não. E assim foram as perguntas. Dos 50 sabores anunciados, com muito custo consegui 10. E veio a pergunta: "Por que anunciar uma porção de coisas que não se têm?"
 
Clientes voltaram frustrados da sorveteria. É o mesmo que sentem os que vão ao açougue buscar carne e nada encontram, ou na farmácia e não acham os seus remédios.
 
Empresas boas devem preparar-se para a demanda, providenciando oferta adequada para os momentos de procura. Do contrário não serão mais procuradas. Afinal, queremos o serviço de quem de fato nos supra do objeto de nossa necessidade.
 
Pensei em nós, cristãos. Pensei naquilo que temos a ofertar para o mundo: o evangelho da salvação em Cristo. Pensei no papel que nós, cristãos, devemos exercer no meio de uma sociedade em demanda: o papel de "embaixadores de Cristo", "luz do mundo", "sal da terra", "carregador das cargas uns dos outros", "bons samaritanos". Pensei em tudo aquilo que fomos enviados e comissionados por Cristo: ir por todo o mundo, anunciando o evangelho, batizando os convertidos, fazendo discípulos, consolando, fortalecendo, salvando.
 
Porém, onde está o cristão supridor? EM FALTA. Os cristãos andam calados, sem nada de útil para repartir. Reproduzem em si o vazio de uma sociedade tecnológica e sem alma.
 
"Ore por mim?"; "Não tenho orado nem por mim, amigo!"
 
"Tem uma mensagem para mim?"; "Não tenho não, mas ligue a INTERNET ou a TV que tem gente falando lá"
 
"Posso compartilhar uma luta contigo?"; "Olha, não tenho tempo, minhas lutas estão difíceis também; procure outra pessoa".
 
"O que você acha disto? O que a Bíblia ensina?"; Ah, vá me desculpar, mas não tenho vontade ou conhecimento sobre isso, não tenho o que dizer".
 
"Por que você é crente?"; "Sou crente porque quero, não perturbe".
 
 Alguns sequer conhecem o PLANO DA SALVAÇÃO para compartilhar.
 
Não têm uma palavra de consolo ao entristecido. Não possuem nenhum preparo bíblico para ajudar os inexperientes a saber a vontade de Deus. Estão tão ocupados, tão cheios de problemas, tão metidos com política, futebol, facebook, comidas, roupas, academias, preparos profissionais intermináveis, trabalhos, namoros, que deixaram o seu estoque do essencial a zero! O fruto do Espírito está em falta. Também o exercício dos dons e a graça da bondade. O serviço ao Mestre já ficou para o ano que vem. Oração? Só quando mandam ou quando "rezam" para comer ou dormir. Vidas secas, vidas vazias, vidas sem a Graça!
 
Isso nos lembra a figueira infrutífera onde Jesus foi buscar fruto. Ele estava com fome e quis um figo. O que achou? Folhas. Folhas eram DESCULPAS da figueira, assim como "ESTAMOS OCUPADOS DEMAIS" são as nossas desculpas para um estoque esgotado das coisas de Deus em nós. Parece que até nos incomoda quando alguém nos pede um conselho, ou uma palavra, ou uma orientação, ou nos traz um problema, uma consulta bíblica. Não temos nem tempo, nem vontade, nem conteúdo.
 
Sinal dos tempos. Tornou-se banal nivelar tudo por baixo. Professores na TV ou na escola que não sabem falar corretamente; matemáticos que não sabem fazer contas; engenheiros que não sabem construir ou calcular; técnicos que não sabem consertar; médicos que não sabem tratar; advogados que não conhecem leis e CRENTES QUE NÃO TÊM ESTOQUE DAS COISAS DE DEUS NO CORAÇÃO.
 
O que fazer? Voltar à Palavra:
 
a) Esconder no coração a Palavra, a Bíblia Sagrada, guardando-a na alma.
b) Meditar nela dia e noite, tendo o cuidado de cumpri-la.
c) Rogar a Deus amor pelos perdidos, munindo-se dos conhecimentos básicos do plano da salvação do Senhor.
d) Manter linha direta com o Céu, orando em todo o tempo, gastando também diariamente um tempo especial em comunhão com o Senhor.
e) Estar pronto para servir, para compartilhar, para levar a mensagem do evangelho.
 
Eu gostaria de encontrar na minha sorveteria tudo o que procurava. Também gostaria que o Senhor produzisse em mim todo o estoque de virtudes, dons, frutos e conhecimento bíblico, para que aqueles que cruzassem o meu caminho tivessem as suas necessidades espirituais supridas. Afinal, é para isso que fomos salvos: para sermos semeadores da boa semente, missionários nos lugares onde Deus nos colocou e arautos do Evangelho.
 
Que Deus nos ajude a sermos crentes supridos e supridores.
 

Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas do Rodoanel em Carapicuiba, São Paulo, Brasil
OPBCB 001 - Ordem dos Pastores Batistas Clássicos do Brasil

Igreja Batista Boas Novas do Rodoanel
Rua Urano, 99 - Novo Horizonte
06341-480 - Carapicuíba - SP
São Paulo - Brasil
Cultos aos domingos às 9:30 e 18:30 hs.
Escola Bíblica Dominical às 10:30 hs.
Quartas-feiras às 20 horas
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terça-feira, 21 de abril de 2015

memórias literárias - 168 - RAZÃO OU EMOÇÃO?

RAZÃO
 OU
 EMOÇÃO?
168
Nestes jogos de futebol da copa do mundo, percebemos a grande diferença entre Brasil e os outros países: há excesso de emoção entre nós (e emoção de menos entre estrangeiros). Basta verificarmos como fica o país nos dias de jogo.

Quando a nossa seleção é vitoriosa em uma competição, o país para, comemora, decreta feriado, festeja, enfim, coloca toda a sua alegria para fora. Quando perde, as pessoas demonstram enorme dor, tristeza, ficam chorosas, brigam, algumas chegam às raias do suicídio.

“Somos latinos”, dizem alguns, querendo justificar nossa impetuosidade. Somos uma nação que se emociona em demasia, sem controle, sem raciocínio. Na verdade esse descontrole existe em toda a humanidade, mas hoje eu estou falando da nossa pátria.

Tal realidade pode ser vista em toda a sociedade. Entre os adolescentes, a criminalidade caminha velozmente, principalmente entre a chamada classe A. Também é altíssimo o número de moças solteiras, meninas ainda, que engravidam despreparadamente, sem a mínima condição de cumprir bem a missão materna ou ser esposa. Quando um artista de renome morre, a imprensa promove um verdadeiro show, embalada pela comoção descabida de toda a sociedade, fazendo-nos lembrar o período barroco, onde a morte era venerada. Quando as campanhas políticas atingem a época de eleições, as pessoas votam naqueles que mais lágrimas tiraram de seus olhos.

Deus nos criou com perfeição, fazendo-nos à Sua imagem e semelhança.      O pecado  e a desobediência, entretanto, turbaram e danificaram essa imagem, provocando esse desequilíbrio em nós, o que tanto nos prejudica. Há lugar para a emoção nas relações humanas, no íntimo de cada um de nós. Mas é necessário haver também harmonia, auto-controle e sabedoria.

O mundo evangélico vive a mesma realidade. Há igrejas que vivem puramente da emoção humana. Seus apelos são para os sentimentos, para a exploração da dor, para suprir a sensação de bem-estar ou a satisfação das necessidades. Ao invés de pregarem Jesus Cristo, redentor, salvador e remidor, pregam uma mensagem de delírio, de êxtase, de descontrole. Conseguem lotar grandes auditórios, contagiar a massa humana com seus gritos de ordem e levar o inconsciente coletivo ao mais alto grau de indução jamais visto. A igreja católica, incapaz de vencer tamanha avalanche de emoção, decidiu combater com as mesmas armas, criando padres similares, que animam o auditório, que exploram as emoções, que fazem rir, chorar, desmaiar. A mensagem de Jesus Cristo tem ficado esquecida...

A Bíblia diz que o ser humano carece de domínio próprio, mas que, ao entregar-se a Cristo, recebe dele a possibilidade de controlar as emoções, e deve fazê-lo. Em Gálatas 5.22, uma das partes do chamado “fruto do Espírito” é o “domínio próprio”, isto é, os autênticos cristãos possuem o controle de suas emoções e sentimentos.

Gritar, berrar, sentir tonturas, cair, não são sintomas de fé, mas de desequilíbrio. Deus não entra na vida de uma pessoa para torná-la desequilibrada, mas sim salva e educada. Excessos nunca são uma demonstração de sabedoria, mas de desajuste. Quando nós procuramos uma igreja evangélica, queremos um lugar aprazível, onde possamos ouvir uma mensagem e entendê-la, onde tenhamos liberdade de levar algum visitante sem escandalizá-lo por barulho, onde compartilharemos do amor de Deus, onde poderemos equilibradamente chorar de alegria, sorrir de felicidade, suplicar pelas necessidades e aprender sobre como viver melhor a vida cristã.

O Rei Salomão disse algo há quase 3000 anos atrás, que muito ajuda a entender a necessidade de controlar as emoções: “Achaste mel? Come apenas o que te basta, para que não te fartes dele e venhas a vomitá-lo” (Provérbios 25.16).

Querido leitor: entregue sua vida ao Senhor Jesus, e peça-lhe para ajudá-lo a controlar as suas emoções. Com certeza a sua alegria será muito mais duradoura, e as tristezas muito mais suportáveis. Deus lhe abençoe. Amém.
Pastor Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas, Osasco, SP

(artigo publicado em jornal da cidade, em 1998)

segunda-feira, 13 de abril de 2015

memórias literárias - 167 - FALTAR À IGREJA




 
MENSAGENS EM PRAIA GRANDE SP
07
 
September  7  2006
 
FALTAR
À IGREJA
167


Não deixemos
 de congregar-nos,
como é costume
 de alguns,
antes admoestemo-nos
uns aos outros; tanto mais,
quanto vedes que se vai
aproximando aquele dia.
(Hb 10:25) 
Costumamos encontrar bons motivos para justificar a nossa ausência nos cultos. Muitos sequer vão a um deles, pois a maioria das igrejas celebram dois cultos aos domingos. "Ir duas vezes cansa!"

“Não pude ir porque estava cansado”, “meu filho estava com febre”, “estive trabalhando”, “recebi visitas”, “fui visitar um parente”, “tinha que terminar um trabalho escolar”, “estava indisposto”, “estava chateado com a igreja”, “não gosto do pregador que iria ocupar o púlpito”, “cultuei a Deus em casa”, “sou mais crente do que quem está lá a esquentar os bancos”, “ninguém repara que eu existo”, “não sou valorizado”, etc.
 

Algumas coisas justificam uma ausência. Mas a verdade é que a maioria delas são meras desculpas. E, cada vez que nos ausentamos dos cultos na igreja, sentimos maior facilidade em faltar uma próxima vez. Diz-se que a cada domingo faltado a igreja está um quarteirão mais distante. O primeiro é difícil de faltar. Os outros vão se tornando mais fáceis. Quando despertamos, já estamos fora da comunhão e somos estranhos na igreja local.
 
Deus não quer e não deseja crentes em carreira solo, a viver na dependência de si próprios, a justificar que as igrejas ultimamente não são boas ou dignas. As igrejas nunca foram perfeitas. Enquanto houver seres humanos nelas, a imperfeição sempre existirá, exceto quando elas tornarem-se Igreja Triunfante, formada pelo número completo de crentes, transformados pela ressurreição e arrebatamento.

Fomos chamados para suportar-nos uns aos outros em amor.

Não somos conhecedores de tudo. Assim, nos edificamos uns aos outros naquilo que ouvimos e naquilo que ensinamos. Por isso é importante participar.

Jesus disse que o amor seria o distintivo de seus seguidores. Não há como realmente amar alguém sem conviver, e a igreja oferece a oportunidade de convivência uns com os outros.

Também temos os dons do Espírito Santo, e, juntos, nos completamos. Separados, somos incompletos e não temos a oportunidade de colocar os dons em ação e em prática. Precisamos servir ao Senhor e servir-nos mutuamente em amor.

Jesus nunca propôs aos apóstolos que vivessem sós, mas que fizessem discípulos. Devemos ser exemplo aos mais novos e também aprender com os mais velhos. A igreja nos dá a oportunidade de aprender e ensinar.

Também encontramos a família perdida. Deus nos faz viver em família, dando aos órfãos pais postiços, aos pais filhos por consideração, aos solitários um grupo constante e amoroso de amigos. A igreja é uma bênção!

Deixar de estar ao culto uma vez ou outra, por motivo de força maior, é aceitável. Viver buscando esses motivos e fazendo deles justificativa para não participar da igreja, é pecado, e Deus não se agrada disso. Não deixemos de congregar-nos.
 
 

Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas de Osasco SP
bnovas@uol.com.br www.uniaonet.com/bnovas.

sábado, 11 de abril de 2015

memórias literárias - 166 - UM PASTOR PARA VILA ALTA



 
 
Um Pastor Para
Vila Alta
166
 
Durante 49 anos a Igreja Evangélica da Vila Alta foi pastoreada pelo veterano Pr. José da Silva. Homem simples, cordato, auto-didata, excelente pregador, correto moral e financeiramente, trouxe estabilidade e credibilidade àquele ministério. O tempo passou, ele envelheceu e Deus o levou. A igreja não estava preparada para essa situação. Sofreram muito, choraram, pediram o consolo divino. Com o tempo a ferida foi sumindo.
 
Decidiram em assembléia nomear uma comissão para convidar um novo pastor. Chamaram os membros mais influentes e representativos das diversas organizações. Eles precisavam de um pastor e então decidiram confiar à comissão o estudo da questão.
 
Logo na primeira reunião decidiram seguir as técnicas de mercado. Criaram um perfil para o profissional desejado. Desenharam o novo pastor da seguinte forma:
 
1) Tinha que ter entre 30 e 50 anos;
2) Tinha que ser bacharel em teologia com alguma especialização;
3) Tinha que ter experiência anterior comprovada e carta de recomendação;
4) Tnha que ter exercido alguma função denominacional relevante;
5) Tinha que ter esposa e filhos integrados no trabalho;
6) Tinha que ter um projeto de crescimento.
 
Aprovaram o projeto e indicaram nomes. Logo apareceram os candidatos. A cada domingo um deles desfilava pela "passarela da igreja", mostrando os seus dotes, talentos, históricos, biografias e planos. No período da tarde a comissão os entrevistava e obtinham questionários completos.
 
Um problema surgiu nessas entrevistas: salário. O antigo pastor recebia um modesto salário. Com muita dificuldade conseguiu pagar o seu INSS e adquirir uma casinha para morar. Mas agora os candidatos apresentavam um orçamento muito diferente: exigiam salários bem altos, 4 vezes mais do que o antigo pastor. O mais modesto exigia 18 salários mínimos, casa, água, luz, telefone, carro da igreja, combustível, convênio médico, seguro de vida, 14o. salário e uma suposta "verba de gratificação". Segundo ele, a cada 10% de aumento na receita da igreja, deveriam pagar-lhe 20% de representação, pois seria o responsável pelo avanço orçamentário.
 
Feitas as devidas consultas, a igreja o aprovou. Marcaram uma festa monumental. Chamaram a imprensa gospel, os vereadores do bairro, os comerciantes, as igrejas evangélicas, a fina nata daquela região. No púlpito uma surpresa: um carro zero quilômetro para que ele visitasse o povo. Que alegria!
 
Foram 6 meses de lua-de-mel. Os crentes brigavam para levar o pastor para almoçar ou jantar em casa. Sua esposa mostrava seus dotes musicais e seus filhos integraram-se na banda jovem. Aos poucos, porém, a festa perdeu o brilho e um grande mal estar apareceu. No início, quando tudo era festa, o povo não percebeu, mas depois da alegria começou-se a perceber uma mudança radical em tudo:
 
1) Não havia mais necessidade de cumprimentar os membros à porta; o pastor simplesmente dizia boa noite e saía para o seu gabinete, trancando-se com 3 ou 4 irmãos, geralmente os mais abastados ou com a liderança. O gabinete pastoral, anteriormente ao lado do templo, agora estava no 3o. andar, bem afastado, longe do povo.
 
2) Substituiu o hinário da igreja por cânticos contemporâneos; agora as músicas eram não apenas alegres, mas de agitação física: trenzinho no auditório, pular até suar, danças com coreografias e letras inadequadas biblicamente.
 
3) Fez reformas no templo, jogando fora tudo o que poderia lembrar o pastor falecido: forro de madeira de lei, bancada clássica, púlpito, piano, mesa de Ceia do Senhor e quadros comemorativos; além disso proibiu o povo de compará-lo ao seu antecessor, dizendo que viviam um novo tempo, uma nova aliança.
 
Em um ano e meio a igreja esvaziou-se. Os cultos eram mortos e fracassados, a mocidade dispersou-se e muitos tornaram-se fornicários; a direção da igreja foi esfacelada e o pastor tornou-se isolado em seu gabinete. Não tardou muito tempo e recebeu o convite de uma igreja bem maior que lhe oferecia salário melhor e abandonou sua grei. Não quis sequer um culto de despedida.
 
Lá estava novamente a Igreja Evangélica em Vila Alta no vale da vacância pastoral.
 
Nova assembléia e nova comissão. Precisavam escolher um novo pastor. Decidiram votar em outras pessoas. Logo no início dos trabalhos da comissão optaram por convidar pastores amigos, conhecidos, familiares e que fossem "mais baratos", não exigiriam que tivesse tantos títulos, pois os mesmos, na realidade, só atrapalharam.
 
Novo desfile, novas disputas, novas divisões na igreja. O amigo da família mais influente estava ganhando, mas havia o amigo dos fundadores, o amigo dos jovens, o amigo dos adolescentes e o amigo dos músicos. Para escolher qual amigo iria pastoreá-los, houve 6 votações e pelo menos 15 saídas de gente descontente com o processo. Por fim, o amigo dos ricos ganhou.
 
Nova festa, novo carro presenteado (o anterior levou o carro consigo), mas agora o carro era mais simples. Novo período de lua-de-mel. Alguns retornaram à igreja, outros não.
 
Não tardou surgirem novos problemas. O pastor, trazido pelo grupo abastado, recebia ordens de seus eleitores, tornou-se manipulado. Tinha que pregar determinados assuntos e deixar outros. Para as funções e cargos ele teria que apoiar os familiares do grupo. As atividades da igreja teriam que seguir a vontade do grupo. Os outros membros, cientes da manipulação, entraram em confronto. Em duas assembléias da igreja houve caso de agressão física. Por fim, em um ano de ministério, o pastor se foi, sem o apoio do grupo e sem resolver os problemas.
 
A igreja estava esfacelada. O grupo abastado dispersou-se em outras grandes igrejas. Os demais estavam desiludidos. Um remanescente permaneceu. E tinham que seguir com o trabalho. O problema pastoral teria que ter solução. Logo resolveram enfrentá-lo. Nomearam uma nova comissão. Mas essa era diferente. Deus iluminou o vice-presidente numa fala inesquecível. No meio da assembléia ele falou com a unção do Senhor:
 
"Irmãos, nomeamos primeiramente um grupo técnico e o que tivemos foi um pastor técnico; nomeamos uma comissão de amigos e o que tivemos foi um pastor sujeito aos grupos; esquecemo-nos de que a igreja é de Deus e quem tem que escolher o pastor é Deus. Não temos que colocar a nossa vontade, mas pedir a vontade de Deus. Eu não sei bem como fazer isso, mas acho que os mais indicados para participar dessa comissão devem ser os crentes fiéis, consagrados, de sólido testemunho e que notoriamente andam com Deus, independentemente de serem ricos, cultos ou influentes politicamente; e nós sabemos perfeitamente quem são os que andam com Deus aqui na igreja! O Senhor lhes dará sabedoria para nos conduzirem na escolha de um novo pastor". A palavra foi bem recebida e transformada em proposta com apoio, de votação favorável unânime.
 
Escolheram o irmão José, crente fiel e pobre, que servia a Deus desde que a igreja era uma congregação. Escolheram o Irmão Amaro, dono do comércio de materiais de construção, e, conquanto fosse considerado abastado, era o mais liberal em ofertar e chorava quando a igreja falava em missões. Escolheram a Irmã Maria, mulher que não faltava aos cultos de oração. Também o Pedrinho, novo convertido e que não deixava de distribuir folhetos pelo bairro e testemunhar de sua fé. Além destes escolheram mais 4 irmãos, de vários níveis culturais e sociais, mas que notadamente levavam Deus a sério.
 
Essa comissão reuniu-se e emitiu um documento, onde se lia:
 
"A Comissão de Sucessão Pastoral, reunida na última sexta-feira, decidiu seguir o seguinte roteiro:
 
1) Não fazer um desfile de pastores, pois os servos de Deus não estarão disputando vagas de emprego ou concorrendo com os próprios colegas de ministério;
 
2) Que o candidato ao ministério seja, entre outras coisas:
a) Um homem de Deus, genuinamente convertido, batizado e integrado em sua igreja;
b) Que seja conhecedor das Escrituras Sagradas, independente dos graus acadêmicos que possua ou que deixe de possuir;
c) Que seja um homem de oração, priorizando mais uma audiência com o Senhor do que uma audiência com uma autoridade qualquer;
d) Que seja alguém de moral ilibada, casado ou solteiro;
e) Que seja cordato, hospitaleiro, tardio para irar-se, pronto para ouvir;
f) Que seja fiel às Escrituras Sagradas e não duvide do Senhor, nem queira inventar novas doutrinas ou conduzir a igreja por planos de crescimento fora dos parâmetros da Bíblia;
g) Que ocupe-se mais com Deus e Sua vontade do que com seu lazer ou carreira pessoal;.
h) Que esteja pronto para sofrer as agruras do ministério sem maldizer da vida e que saiba se portar com dignidade em todo o tempo;
 
Decidimos também que só convidaremos um candidato, e, esgotadas as possibilidades deste, passaremos para outro, e assim sucessivamente."
 
E assim fez a igreja. Não foram procurar mais nas primeiras igrejas ou nas congregações mais ricas das cidades vizinhas. Não foram procurar obreiros nos jornais evangélicos, nas colunas sociais, nos eventos políticos ou com executivos da denominação.  Não foram procurá-los nos parentes dos crentes ou amigos dos líderes. Eles oraram a Deus semana após semana, em vigílias e cultos previamente agendados para esse fim e pediam para que Deus lhes mostrasse de alguma forma o homem certo.
 
Alguns membros da comissão visitaram outras igrejas e conheceram outros pastores. Conheceram vários, mas não se iludiram com as aparências. "Deus não vê como vê o homem", dizia sempre o irmão José, o relator. "Vamos esperar o sinal de Deus". Encontraram um pastor simples, humilde, de meia idade, numa pequena igreja da zona sul. Não era rico, nem um galã que conquistasse auditórios; era apenas um homem comum servindo ao Senhor com dedicação. Souberam que era um homem conservador, que limitava o seu ministério ao ensino simples das Escrituras Sagradas, à comunhão da igreja e ao serviço do próximo. Ouviram-no, sentiram-no com o coração e, após pedirem a orientação de Deus, convidaram-no para pregar. Foi um fim de semana inteiro.
 
Após a visita a igreja foi consultada e o candidato foi aprovado. Não lhe perguntaram quantos diplomas tinha, nem quantos cargos exercera e nem quais eram as suas realizações. Apenas perguntaram a ele, após as questões  de praxe, o que ele faria se a igreja o convidasse. Ele disse: "Perguntaria ao meu Senhor se esta era a vontade dEle. Se fosse, não hesitaria em aceitar; se não fosse não hesitaria em rejeitar; não estou ao meu serviço, mas ao dEle.".
 
Consultada a igreja, resolveram convidá-lo. Ele pediu um prazo para consultar a Deus. No tempo acertado ele respondeu positivamente. A igreja aceitou sua resposta como resposta do Senhor.
 
Na posse, não houve pompa. O pastor quis que fosse um culto para Deus e não para festejar o pastor. Seria a gratidão pelo novo ministério e o clamor pelas bênçãos necessárias. E assim foi. Houve muita alegria, mas uma alegria espiritual, uma festa no coração. Não houve nenhuma superlotação imediata, nem esvaziamento. Houve um lento e contínuo desenvolvimento. O início foi difícil, muitos pecados para tratar, disciplinas a realizar, reconciliações a fazer. A igreja passou a orar muito, a buscar muito a presença do Senhor. E o púlpito tornou-se celeiro do maná do Céu e não mais plataforma de exaltação humana. Os cultos tornaram-se celebrações espirituais e não entretenimento religioso. E ninguém ia ouvir o pastor, mas ouvir Deus através das pregações bíblicas do pastor.
 
Hoje aquela igreja festeja os dez anos deste belíssimo ministério, que, à despeito da humildade, modéstia e limitação do pastor, tem sido tão bom quanto o ministério do primeiro pastor que Deus levou. Hoje se menciona o nome do pastor falecido como uma jóia e um herói da fé e não como um concorrente ou uma sombra para o atual ministro. Hoje aquela igreja está feliz, estável e cheia de vida.
 
Onde Cristo é honrado os homens se tornam servos e o povo celebra a Deus. Sem estrelas, sem celebridades, sem interesses familiares ou motivos fúteis e mundanos. A igreja passa a ser POR CRISTO, COM CRISTO E EM CRISTO, a verdadeira Noiva do Cordeiro de Deus.
 
Wagner Antonio de Araújo
(isto é uma ficção... ou quase ...)
15/08/2014

sexta-feira, 10 de abril de 2015

memórias literárias - 165 - CANTAREI, AINDA QUE...


 
Cantarei, ainda que ...
165

 
Meia- noite. ambos estavam acorrentados na cadeia. As costas e o corpo ardiam com os vergões e cortes produzidos pelos chicotes e armas utilizados à tarde contra eles. Cela fétida, fria, cheia de ratos. Escura, insalubre. Rodeada de outras, cheias de presos. E por que ali estavam? Porque foram fiéis ao Senhor, pregando o evangelho. Falo de Paulo e Silas em Filipos, presos após o espancamento.

E, perto da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam hinos a Deus e os outros presos os escutavam. (At 16:25)

Não havia o que fazer! Aliás, havia opções: desespero, pavor, revolta, taquicardia, crise de asma, gritaria, choro incontrolável, remorso, tantas coisas! No entanto, eles sabiam que lá estavam por vontade do Senhor e para a glória do Senhor. Assim, impossibilitados de tratar as feridas ou de tomar um analgésico que lhes tirasse o ardume e o latejamento das dores, fizeram a grande opção: orar e cantar a Deus. Não um orar de desespero, de abandono, de clamor incontrolável. Era um orar de comunhão mesmo naquela situação. Tamanha fora a paz no meio da luta que foram capazes de entoar hinos previamente conhecidos e que costumavam cantar nas horas boas que já haviam desfrutado. Não era cantar por prazer ou orar por triunfalismo; cantavam porque o Senhor não deixara de ser o fundamento de suas vidas e oravam para agradecer pelo sofrimento.

Não estamos na prisão. Não temos vergões às costas, nem correntes às pernas, nem ratazanas guinchando ao redor. Não estamos no escuro e nem num frio calabouço. Contudo, por dentro, vivemos situação parecida. Alguns enfrentam duras enfermidades, dores agudas e tratamentos de grande sofrimento. Outros carregam no peito mágoas e rancores intensos, injustiças e abandonos múltiplos. Ainda outros convivem com uma guerra sem trégua, onde nem se vence e nem se acaba de uma vez a batalha. São situações onde não há o que cantar e nem condições psicológicas para se orar; desejamos morrer ou desmaiar, buscando aliviar o sofrimento. Ouso dizer que, com suas configurações especiais, Paulo e Silas sentiam o mesmo. Mas fizeram a melhor opção.

Optaram por louvar a Deus mesmo no meio do sofrimento. Entenderam que a situação era real, era difícil e que, humanamente falando, não havia nada que pudessem fazer. Era injusta, absolutamente injusta, mas a simples revolta não resolveria a crise nem traria paz no coração. Eles criam piamente num Deus Soberano sobre todas as coisas e então decidiram louvá-lo.

Louvar a Deus na enfermidade. Quão difícil, mas quão possível é! Cantar baixinho ou mesmo na mente, ninguém poderá proibi-lo! Os louvores trazem à mente e à alma tempos melhores que vivemos ou momentos gloriosos que virão após o sofrimento. O choro pode durar toda uma noite,  mas a alegria virá pela manhã, ainda que seja no porvir, no além da vida. Então, por que não escolher cantar? Não qualquer cantoria, bobagens de paixões, de alegrias efêmeras, de banalidades. Cantar a graça de Deus, a vida dentre os mortos, as grandezas do Senhor, o porvir, a vida eterna! Cantar a libertação do pecado, a salvação, a presença de Cristo mesmo no cárcere!

Paulo e Silas se sentiram fortes e então juntaram o cântico à oração. Cantavam para o Senhor e completaram os cânticos com as palavras que saíam de almas gratas, almas pacificadas, almas supridas. Podiam estar em trevas, mas tinham luz! Presos, mas estavam livres! Enfermos, mas estavam sadios no seu homem interior! Sem esperanças, mas com um porvir garantido! Injustiçados, mas repletos da justiça divina e do bom testemunho! Eles não tinham as respostas para o infortúnio que os acometera, mas tinham a resposta do que fariam com tudo aquilo: lançariam sobre Deus e bendiriam ao Senhor por tudo o que se sucedia!

O resultado todos conhecemos: um forte terremoto aconteceu, as celas foram abertas e o carcereiro iria se matar, pois naquele tempo respondia com a vida pela fuga de um prisioneiro. Paulo e Silas lhe ministraram o evangelho, ele  se converteu e com isso veio a grande libertação: foram tratados, limparam-lhes as feridas, foram alimentados e seguiram avante na missão que não havia terminado, estava apenas começando! Eles descobriram que a decisão tomada foi a melhor, a mais acertada: CANTAR AO SENHOR E ORAR NO MEIO DA PRISÃO!

Pode bem ser que o meu leitor também esteja preso. A empresa deve e não tem como pagar. As contas de casa não fecham e o prejuízo é notório. O filho está drogado e a filha grávida sem ter se casado. O médico detectou uma grave enfermidade em você ou em alguém a quem tanto ama. A igreja atravessa por um vale escuro, com falta de comunhão, conflito pastoral ou falta de dinheiro. O patrão irá demiti-lo. O teste para o emprego não foi feliz e você foi reprovado no exame da faculdade. Sua mulher diz que não lhe ama mais ou perdeu a amizade de alguém muito estimado. Está literalmente numa cadeia ou confinado a uma cadeira de rodas, a um leito de hospital ou à escuridão da cegueira. São tantas as dores humanas! São tantas as possíveis prisões! Poderá  se revoltar, poderá pensar no que perdeu, no que não tem, na idade que avança, na sua infelicidade. Quase todos seguem esse caminho e colhem absoluto vazio. Ou, se preferir, poderá fazer o que Paulo e Silas fizeram: cantar ao Senhor e orar!

Eu não sei se a sua cadeia irá se abrir, se a sua crise irá se modificar. Eu não sei se os resultados rápidos serão idênticos. Podem até ser. Porém, se não forem, eu tenho absoluta certeza de que algo de miraculoso acontecerá de dentro para fora, do coração e mente para o resto do organismo: uma paz bendita, celestial, de uma alma tranquila e confortada, invadirá a sua história e o seu mundo se tornará menos insosso e muito mais apetecível. Enfermo, porém, curado na alma. Em trevas, porém com a luz interior. Sem nada, porém possuindo tudo! A alma se lubrificará de esperança e o coração deixará de sofrer desesperadamente, pois se confiarmos no Senhor apenas nas boas horas ou para esta vida, seremos as mais infelizes de todas as pessoas. Porém, SE CRERMOS NO PORVIR, creremos na vitória, creremos na vida eterna, creremos no Céu! Ainda que esta nossa vida esteja por um fio, teremos da parte de Deus uma história maravilhosa, chamada SALVAÇÃO e GLORIFICAÇÃO. E poderemos, à semelhança de Paulo e Silas, vivenciar essa realidade agora, neste momento.

Que tal orar e cantar? Ore ao Senhor e cante a Sua presença no meio da aflição!

Wagner Antonio de Araújo

dedicado, em especial, ao meu irmão Daniel.
10/04/2015

quinta-feira, 9 de abril de 2015

memórias literárias - 164 - ELA JÁ IRÁ ATENDER-LHE...


 
 
ELA JÁ IRÁ
ATENDER-LHE...
164

 
Era um anúncio bem grande, na segunda página do jornal. Dizia que a multinacional abrira 1 vaga para executivo e que o teste para o cargo seria na sexta-feira às 6 horas da manhã. Centenas de inscrições foram feitas, mas somente dez foram selecionadas.
 
Às seis horas abriram-se as portas do luxuoso andar da diretoria. Os candidatos foram acolhidos pela secretária que os recebia com um sorridente bom dia e calorosos votos de sucesso. Alguns sorriram para ela, outros sentavam-se sem fazer conta da gentileza.
 
Durante uma hora a sala da diretora não se abriu. Os candidatos conversavam entre si, contando sobre suas carreiras, suas experiências, suas peripécias. Havia rapazes e moças, alguns eram mais maduros, mas todos sabiam que somente um ganharia.
 
Às sete horas um telefonema notificou a secretária e esta encaminhou o primeiro para a entrevista. Os  demais, quando viram a diretora saudaram-na efusivamente, com galanteios e sorrisos. Ela havia saído da sala para cumprimentar a todos. Entrou com o candidato e fechou a porta. Um dos homens dirigiu-se à secretária, dizendo:
 
- Minha filha, vai demorar muito? Sou um homem ocupado e preciso ser atendido com urgência.
 
- Senhor, eu vou chamar de acordo com as senhas que distribuí.
 
- Escute aqui, moça, disso eu sei. Não sou burro. Você está me chamando de burro? Será que eu não sei o que é uma senha?
 
- De forma alguma, senhor, estou apenas explicando que ...
 
- Não quero prosa com subalternas. Pensei que poderíamos entrar num entendimento.
 
Sentou-se bravo, enquanto outra moça aproximou-se:
 
- Você pode trazer um lanche para nós?
 
- Senhora, tenho que aguardar a copeira chegar, não posso antecipar, ela virá aqui às sete e meia.
 
- Escute, menina, na empresa onde eu trabalhava a secretária limitava-se a atender bem os visitantes. Eu quero que me traga AGORA alguma coisa para comer ou beber! Será que você não presta nem para isso? Não discuta, obedeça!
 
Vermelha, a secretária ficou em silêncio. Uma outra mulher tirou da bolsa um pacote de pães de queijo e uma garrafa com café, dizendo:
 
- Mulher precavida vale por dez! Tem café e pão de queijo pra nós aqui!
 
Todos sorriram, levantaram-se e foram pegar o seu quinhão. Um jovem disse:
 
- Tem mais um copinho aí? Vamos servir a secretária.
 
- Pare com isso - disse um senhor -, ela é da casa e vai esperar a copeira, isso aqui não é pra alimentar o proletariado!
 
Risos gerais.
 
E assim a manhã passou. O primeiro candidato entrevistado saiu da sala da diretora e todos sorriam. Chamou o próximo, entrou e logo em seguida fechou-se com ele. Por ter passado mais de uma hora foram à mesa da secretária:
 
- Funcionária, vai demorar muito?
 
- Senhor, eu não sei, depende da diretora e do tempo que irá gastar com o próximo candidato!
 
- Escute aqui, secretária - disse outra -  trate de ligar para ela e dizer que nós temos mais o que fazer! Que ela nos atenda logo!
 
- Eu não posso fazer isso, perdoe-me!
 
- Ah, se eu trabalhar aqui, você estará com os dias contados, secretária ineficiente!
 
Após meia hora, o outro candidato saiu. E então a diretora foi até a mesa da secretária, sorrindo. Sentou-se na cadeira da funcionária. A secretária foi até a porta do gabinete da diretora e falou:
 
- Senhores, podem se retirar. O processo terminou.
 
- Como? Por que? Não fomos entrevistados ainda!
 
- Nem precisarão - disse a secretária, sorrindo.
 
- Como não? O jornal dizia que todos seríamos avaliados pela diretora! - protestaram quase em uníssono.
 
- E vocês foram! EU SOU A DIRETORA-PRESIDENTE DA EMPRESA, além de proprietária - disse, calmamente. Todos ficaram perplexos.
 
- Troquei de lugar com a minha recepcionista, pois queria saber como eram os senhores fora das minhas vistas. Eu queria conhecer como tratariam os subalternos, como enfrentariam os atrasos, como reagiriam às necessidades dos colegas, como encarariam o relacionamento humano. Os que entraram e conversaram com a falsa diretora já eram meus funcionários. A maneira com que me trataram enquanto fingia ser a secretária definiu quem vocês seriam em minha empresa e eu estou convicta de que nenhum de vocês serve para trabalhar comigo.  Podem retirar-se e passar bem!
 
- Se eu soubesse que a senhora era a presidente...
 
- Se eu desconfiasse que era alguém tão importante ...
 
- Ninguém nos avisou dessa brincadeira, dê-nos nova chance!
 
- Quer um pão de queijo? Ainda tem um...
 
Que retrato vívido da vida cristã! O Senhor Jesus Cristo nos anunciou que faria a mesma coisa, simbólica e espiritualmente. Colocar-se-ia no lugar de outros para avaliar o nosso comportamento. Estaria no lugar daquele que tivesse fome, que tivesse sede, que estivesse nu, que se encontrasse enfermo, que estivesse aprisionado, e avaliaria o nosso comportamento para com as necessidades dos outros. Chegou mesmo a contar a parábola do bom samaritano (título não original numa história que retratava Ele mesmo), onde enaltecia a atitude de amar ao próximo, fosse ele quem fosse, até mesmo um rejeitado!
 
Em sã consciência nenhum de nós teria essa qualificação. Somos todos egoístas, pecadores, buscando o proveito próprio e trabalhando para que nos vejam e celebrem a nossa bondade. As nossas motivações são e sempre serão egoístas, pecaminosas, de fundo interesseiro e sem a autêntica piedade que Deus gostaria que tivéssemos.  Um doente, um pobre, um prisioneiro, um solitário, os pais, os filhos, os amigos, uma pequenina igreja, não receberão de nós uma atenção despretensiosa, pois, no máximo, o faremos para trocar boas obras por bênçãos divinas ou suprir o outro para que no futuro nos supra de alguma forma. Isso vale para todos, pois somos, indistintamente, pecadores. Se fôssemos os candidatos daquela sala, estaríamos desqualificados. Acontece que a sala é a vida e a secretária são os que estão ao nosso redor.
 
É necessário passarmos por uma transformação em Cristo. Trocar o coração de pedra e receber dEle um coração de carne. É preciso mudar o império do coração, tirando o EU que domina segundo as suas necessidades e colocando CRISTO, que nos conduzirá a servi-Lo fielmente, servindo ao próximo, que, como Ele mesmo disse, ocuparia o Seu lugar em sua visão de nossa prática. Assim, ao servir o outro, imbuídos de um novo coração, uma nova mente e um espírito renascido em Cristo, estaremos fazendo para o próprio Deus, sem esperar recompensas, apenas porque fomos capacitados a amar como Jesus nos amou, a doar como Jesus doou, a viver como Jesus viveu. Não serviremos para obter a salvação; serviremos por já termos sido salvos pela graça de Deus. Faremos tudo por intenso amor e gratidão.
 
"Pois, pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, às quais Deus preparou para que andássemos nelas" (Efésios 2.8-10)
 
Não podemos nos qualificar por conta própria; já estamos reprovados. Mas se pedirmos ao Senhor para mudar o nosso coração, entrar em nossa vida e nos transformar em novas criaturas, então conheceremos uma transformação e viveremos como quem serve ao Senhor, fazendo de tudo para agradá-Lo. "Assim que, se alguém está em Cristo, é nova criatura" (2 Co 5.17).
 
AME AO SEU PRÓXIMO
DE TODO O SEU CORAÇÃO
COM TODA FORÇA E RAZÃO
COM TODO O SEU DESEJAR
 
AME AO SEU PRÓXIMO COMO SE FOSSE VOCÊ
COMO SE A DOR QUE ELE SENTE
FOSSE A QUE SENTE VOCÊ
 
AME AO SEU PRÓXIMO COMO SE FOSSE VOCÊ
COMO SE A DOR QUE ELE SENTE
DOESSE MAIS EM VOCÊ
Guilherme Kerr
À propósito, Deus já irá atendê-lo. Pode aguardar um pouco?
 
Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas do Rodoanel em Carapicuíba, São Paulo, Brasil

09/04/2015

memórias literárias - 1477 - CHORA, Ó RAQUEL...

  CHORA, Ó RAQUEL...   1477   Quando o Senhor Jesus Cristo fez-Se homem, nascendo do ventre de Maria, Herodes o Grande desejou matá-Lo...