sexta-feira, 26 de junho de 2015

memórias literárias - 221 - ONDE ESTÃO OS PROFETAS?


ONDE ESTÃO
OS PROFETAS?
221

A voz de David Wilkerson calou-se. Era ele um profeta do Senhor para os dias modernos, em que os Estados Unidos da América afasta-se do Senhor completamente. Ele denunciava, imprecava, rogava juízo divino, clamava por arrependimento, chorava, profetizava. Conquanto pentecostal (e eu sou avesso ao movimento por convicção), era alguém acima de qualquer conceito sectário dentro da autêntica fé cristã: ele proclamava o "assim diz o Senhor". Conhecido internacionalmente, circulava nos meios políticos, artísticos e midiáticos, sempre como um homem de respeito e de profunda integridade. Fundador do maior movimento de resgate dos drogados no mundo (DESAFIO JOVEM), vivia pela fé, não se enriquecia financeiramente da fé e viveu cada um dos seus dias como um profeta (proclamador, denunciador, arauto de Deus), doesse a quem doesse.
 
E agora, quem profetizará? Os Estados Unidos aprovaram o casamento gay para toda a América. Onde estão os profetas? Não estão. Estão ocupados demais com suas megaigrejas, com seus sistemas de arrecadação de fundos e de concorrência com outros ministérios. Estão muito ocupados com a venda de produtos, revistas, sinais de tv a cabo e outras coisas. Os candidatos ao governo americano impõem uma agenda contra o cristianismo, claramente hostil à cruz e ao Senhor. E os profetas? Eles não ligam, desde que tenham verbas e autorizações para continuarem com seus impérios e sua performance de pajés da grande aldeia americana.
 
E no Brasil? Conquanto tenhamos uma manifestação na Câmara dos Deputados há dias atrás contra as manifestações dos militantes GLBTS, e conquanto tenhamos um ou outro falso profeta gritando contra essa ou aquela propaganda (pastores muito populares com telhados de vidro, que enquanto clamam contra a militância fazem suas mazelas e seus pecados diante das câmeras), não observamos nada mais, apenas um ensurdecedor silêncio. Onde estão as ordens de pastores, as convenções, as associações cristãs, as missões, os grandes ministérios deste país? Estão cuidando de suas próprias casas, tentando sobreviver ou crescer, fazendo vistas grossas ao progresso da sodomia, à legalização do aborto, à destruição das famílias pela recepção de programas moralmente podres e espiritualmente malignos. Não há mais vozes proféticas. Não há mais quem clame contra o pecado. Não há mais quem se incomode com o mal. A regra hoje é "tolerância na diversidade". Maldita tolerância contra o pecado!
 
Ah, Senhor, manda-nos profetas! Levanta homens que não temam outra coisa senão o Senhor e que tenham coragem de alçar suas vozes pelos púlpitos, pelos lares, pela internet, pelos vídeos, pela TV, pelo rádio, pelo jornal, pelas ordens de pastores, pelos ministérios  e por todos os meios, denunciando o pecado, imprecando os governantes malignos, conclamando o arrependimento nacional, implorando ao povo que volte o seu olhar para Deus, para Cristo, para o Céu! Ah, Senhor, estamos num vazio cristão neste mundo e neste país! Levanta os Teus profetas!
 
Wagner Antonio de Araújo, um mísero grão de areia num oceano de gente, mas alguém que insiste em não se calar, face ao pecado desta Nação.

26/06/2015

memórias literárias - 220 - TEMPLO DE QUEM?

 

 
 
TEMPLO DE QUEM?
220
 

 
Corre pelo mundo neopentecostal um conceito judaizante do regresso aos locais sagrados do Antigo Testamento. Segundo eles, tais locais são providos de poderes especiais, sejam eles por causa da memória bíblica acumulada, ou de antigas visitações pessoais divinas naqueles locais geográficos ou mesmo por causa de suas construções, sagradas pelo Criador.
 
Não bastasse isso, agora o mundo neopentecostal pos-se a fazer réplicas de locais bíblicos e edificações do antigo testamento. O chamado "templo de Salomão", cujos restos não existem mais, foi reconstruído fora de Jerusalém e não por judeus, mas por neopentecostais na cidade de São Paulo, no Brasil. Sua versão é moderna, pois não conta com o principal do templo: o altar de sacrifícios. Não há bacias, espevitadeiras, não há locais onde o gado seja armazenado, onde os sacerdotes possam executar as imolações. Tudo é adaptado ao ritual neopentecostal, simbólico, talvez maçônico, e absolutamente mercantilista.
 
Existem locais sagrados para a manifestação de Deus?
 
Jesus afirmou que não. Gostaria de crer que neopentecostais possuissem o mesmo Senhor que os cristãos, mas não creio. O próprio Senhor Jesus Cristo afirmou: "pelos seus frutos os conhecereis", e os frutos dos neopentecostais são podres, falsos, venenosos e absolutamente anticristãos.
 
Vejamos o diálogo entre o Senhor Jesus e a mulher samaritana. Ele encontra-se no texto de João 4.21-24. Jesus deixou a Judéia e dirigiu-se à Galileia, tendo que passar por Samaria. Ali habitavam hebreus híbridos, misturados com as nações onde perambularam. Os judeus os detestavam, chamando-os de vira-latas. O Senhor, à beira de um poço, pede a uma mulher um pouco de água. Ela surpreende-se, perguntando-lhe como lhe dirigia a palavra, uma vez que era mulher e era samaritana, e ele judeu. Cristo explica-lhe que se ela soubesse quem era ele, pediria pela água viva, com a qual ela jamais teria sede. Estabeleceu-se ali um diálogo muito curioso, muito elucidativo, que farão bem os leitores em gastar alguns minutos na sua leitura.
 
Num determinado momento da prosa, a mulher diz ao Senhor que há controvérsias sobre em qual monte se deveria adorar a Deus, se ali onde estavam ou em Jerusalém, conforme queriam os judeus. Cristo então é enfático em afirmar: "nem aqui e nem ali, pois vocês sequer sabem a quem adoram". Com essa fala o Senhor Jesus dessacraliza o Monte Horebe, o Monte Moriá, o Monte Sinai, o monte Ebar,  e afirma que quem procurava locais sagrados para a adoração era ignorante da autêntica adoração.
 
Ele completa, dizendo à mulher que tipo de adoração o Pai, Deus, procurava: "aqueles que o adoram em espírito e em verdade". Sim, independente do local onde estivessem. E completa: "Deus é Espírito, e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade". Cristo diz que a adoração ao Pai era muito diferente de procurá-lo em locais sagrados, em montanhas, em rios, em vales e em templos. Aliás, nem no templo de Jerusalém, pela própria fala de Jesus. De nada adiantaria estar no templo e ter o coração fora da presença de Deus.
 
O próprio Salomão, cujo templo NÃO ERA DELE, mas de Deus (logo, não havia TEMPLO DE SALOMÃO, afirmou: Mas, na verdade, habitaria Deus na terra? Eis que os céus, e até o céu dos céus, não te poderiam conter, quanto menos esta casa que eu tenho edificado. (1Rs 8:27) Reconhecia, assim, que aquela edificação não era habitação divina, apenas um centro da manifestação divina para um povo que aguardava o próprio Deus vindo em carne, o autêntico TABERNÁCULO DE DEUS COM OS HOMENS, Jesus Cristo.
 
Ao morrer na cruz do Calvário como Cordeiro de Deus e único sacrifício eficaz pelos pecados da humanidade, Cristo provocou um fenômeno monumental no templo de Jerusalém (que já não era o construído por Salomão, que fora destruído, mas o de Esdras e Neemias, reconstruído após a libertação dos judeus cativos em Babilônia e reformado por Herodes o Grande em 46 anos, antes de Cristo): o véu grosso que separava a sala chamada SANTO DOS SANTOS foi rasgado de cima abaixo, pelo próprio Deus, mostrando que agora o acesso ao Pai estava livre pelo novo e vivo caminho, pelo sangue de Jesus, eterno sumo-sacerdote! O maior símbolo da presença de Deus num espaço físico estava terminado, o véu rasgara-se, não havia mais local secreto ou separado.
 
Daí em diante o TEMPLO, antes materializado numa construção que sediava o altar do sacrifício em Jerusalém, transfere-se para O CRENTE e para A IGREJA DO SENHOR, fazendo do corpo de cada cristão uma habitação do próprio Espírito Santo, que veio para morar na alma do convertido, uma verdadeira dádiva, uma primícia, um sinal da salvação que recebemos gratuitamente pela fé.
 
Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? (1Co 3:16)
 
E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. (2Co 6:16)
 
E agora os neopentecostais, tendo à frente uma de suas seitas heréticas chamada IURD, cria um parque religioso chamado TEMPLO DE SALOMÃO, afirmando que ali é o "templo de Deus" e que Deus habita ali? É muito salutar esse apodrecimento cada dia maior do neopentecostalismo, uma vez que a própria IURD, no tempo de seus primórdios, cantava através de seu ex-bispo Renato Suhett, o seguinte:
 
EU PENSEI TE ENCONTRAR EM TEMPLOS
EU PENSEI TE ENCONTRAR EM LIVROS
QUE NADA!
TE ENCONTREI NO CORAÇÃO
 
Agora, anos depois, a mesma IURD apresenta aos incautos, aos que querem fazer negócio com Deus e buscam as bênçãos a qualquer custo, o suposto "templo de Salomão". A obra que fizeram não é o "templo de Salomão". Salomão não tinha templo. Também não é réplica do templo que Salomão construiu, porque não havia um salão para 10 mil pessoas, mas altares, candelabros, locais para amarrar o gado e para sacrifício de animais, pois TEMPLO era para sacrifícios. A IURD transformou os sacrifícios em DINHEIRO que o povo irá colocar no altar. Seria bom, já que querem retomar a Antiga Aliança, que perguntassem a Edir Macedo, seu líder, se ele deseja ser também o Cordeiro de Deus, sendo imolado em algum altar interno de sua construção. Certamente que não, pois daí ele vindicaria que Jesus foi o sacrifício. Se ele não quer substituir a Cristo, por que reconstruiu o que Deus já derrubou?
 
Quando Salomão ergueu o templo de Deus e o consagrou, o Senhor disse: Porém, se vós e vossos filhos de qualquer maneira vos apartardes de mim, e não guardardes os meus mandamentos, e os meus estatutos, que vos tenho proposto, mas fordes, e servirdes a outros deuses, e vos prostrardes perante eles,Então destruirei a Israel da terra que lhes dei; e a esta casa, que santifiquei a meu nome, lançarei longe da minha presença; e Israel será por provérbio e motejo, entre todos os povos. (1Rs 9:6-7). Israel abandonou ao Senhor, foi levado cativo para Babilônia e o templo foi destruído. Quando retornaram e reergueram-no no tempo de Esdras e Neemias, com a reforma de Herodes por 46 anos e antes de Cristo, ouviram de Jesus o seguinte:  Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derrubada. (Mt 24:2). De fato o templo foi derrubado em 70 dC, pelo General Tito, de Roma. Agora Edir Macedo supostamente o reconstrói, e no Brasil! Que reconstrução é essa? Deus destrói 2 vezes e agora Edir o edifica uma réplica incompleta fora de Jerusalém? O Apóstolo Paulo afirmou, inspirado pelo Espírito Santo: Porque, se torno a edificar aquilo que destruí, constituo-me a mim mesmo transgressor. (Gl 2:18)
 
Mas é o império do dinheiro. Já dizia o Apóstolo Pedro: Mas disse-lhe Pedro: O teu dinheiro seja contigo para perdição, pois cuidaste que o dom de Deus se alcança por dinheiro. (At 8:20)
 
Cristãos leitores, digam NÃO à mentira neopentecostal.
 
Wagner Antonio de Araújo

memórias literárias - 219 - O BANCO DE TRÁS


 

 

 
O BANCO
DE TRÁS
219
 
 
Você já reparou que, na igreja, os bancos preferidos são os de trás? O povo vai chegando, vai povoando, vai tomando conta da bancada traseira. Os bancos da frente ficam vazios, ou com o povo costumeiro. E a ladainha é sempre a mesma: o dirigente toma a palavra, e faz a convocação: "convidamos os irmãos que estão mais atrás, que assumam os lugares mais à frente, por favor". Uns poucos vão. Outros, continuam em seus lugares. "Daqui ninguém me tira. Quero ver!", é o que parece que alguns pensam.
 
E por que esse gosto, esse prazer pelos bancos de trás?
 
Bom, penso eu que há várias razões.
 
Há aqueles que estão loucos para ir embora. Já chegam pensando em sair! Até rádio de pilha, em dias de jogo, trazem! Claro, com fone de ouvido. O duro é quando seus times fazem um gol. Me lembro num culto, um espertalhão desses ouviu no rádio o seu time fazer gol. Não agüentou a alegria, e ia gritar "GOOOLLLL!!!". Mas, no meio do grito, lembrou-se de que estava na igreja. Então não teve dúvidas: adaptou o seu grito e saiu: "GOOLLLOORIAAAA!!!!" Que vergonha... Sim, e quanto mais atrás, mais fácil pra sair. Incomoda menos gente, está mais perto da porta, não entala na hora da saída, com aquele mundarel de gente cumprimentando o pastor ou os irmãos. Tem gente que está só de corpo presente, quando muito!
 
Também tem "a turma do fundão". É. Lembra-se daquela galera do fundo da classe, lá na escola, que ficava arremedando o professor, fazendo piadinha de tudo que via, ou namorando, jogando aviãozinho de papel e passando recadinho? Essa galera está também em muitos fundões do templo. É a moçada que parece ter coceira, não para quieta, e o fundão é menos visível aos olhos do chato do pastor. Até que alguém dá uma risada mais alta, e um diácono chega pra por fim à festa...
 
Há aqueles que estão procurando respeitar o preceito bíblico, de tomar os últimos lugares. Jesus ensinou a não nos sentarmos nos primeiros bancos, conforme Lucas 14.8. Bem, quando somos visitantes, tudo bem, pois bem pode ser que estejam nos esperando, e logo virão nos buscar. Ou que tenham assentos reservados para outros, e, se os tomarmos, passaremos vergonha, deixando-os. Mas quando somos prata da casa, e esperamos que sempre alguém venha nos dizer "oh, irmão, sentadinho aí atrás? Venha mais pra frente!", ah, isso é ser mimado demais. Na verdade, somos dengosos, e sentar-se atrás é uma maneira de fazer o povo ficar com dó da gente, nos tratar com cuidado. Tadinho dele, tão sozinho, né, bebê?
 
Também tem o time dos "do contra". Quanto mais se pede para vir à frente, mais eles vão para trás. É incrível! Acho que, num ambiente assim, é melhor inverter o lado do púlpito de surpresa, e celebrar o culto de trás pra frente, porque será a única forma de ter esses fujões nos bancos da frente! (eu já fiz isso. E alguns adolescentes disseram: "xi, cara, sujou, o pastor pegou pesado. Deu zica...")
 
Mas há um grupo que não deve ser ignorado. É o daqueles que estão buscando um pouco de privacidade na sua adoração a Deus. O ambiente está tão cheio de vozerios, de conversas, ensaios, bateção de bateria, objetos sendo carregados, famílias encontrando-se nos corredores, que não há muito espaço para alguém sentar-se, orar, refletir. Então, buscam aqueles assentos lá no canto, na ponta, bem afastados, para poder ficar bem sozinhos. Isto é, sozinhos com Deus. É triste, mas muitos templos não fazem por merecer o título. Seriam anfiteatros, sala de reuniões, mercado de produtos evangélicos, ponto de encontro de amigos, menos sala de oração. Como nos faz falta um ambiente de oração e reflexão! Então as pessoas buscam as pontas, um lugarzinho sossegado. Até que chega alguém e pede para ir mais para frente...
 
Hoje eu fui pregar fora. Imaginem onde me sentei?  No banco de trás...
 
 
Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas de Osasco, SP
Good News Partnership Missions, Brasil

tag by Sandr@, Brasília, DF 

quarta-feira, 24 de junho de 2015

memórias literárias - 218 - PRINCIPAL

PRINCIPAL
2007
218

Subindo a rua onde nossa igreja mantém-se até que consiga um terreno (oh, Senhor, atende a oração do teu povo!), vi um significativo aumento no número de igrejas, as mais diversas. Algumas bem instaladas; outras, nem tanto. Umas grandes; outras, pequenas. Umas, barulhentas; outras, quietinhas. Algumas com ética, mantendo uma certa distância da outra, para evitar “concorrência”. Outras, mais ousadas, estabelecem-se de parede colada na outra, e ainda colocam placas na porta, onde está escrito:”Aqui Deus cura mais rápido”, “Não cobramos oferta, só dízimo”, “Não olhes para a direita...”, que é onde estava a outra igreja. É uma invasão!

O rádio também tem sido invadido. Freqüência Modulada, quando eu era menino, era a faixa do povo rico,  onde poucas rádios tocavam músicas instrumentais, bonitas, e só uns poucos aparelhos possuíam a faixa. Hoje, FM tornou-se praticamente a única faixa disponível no geral (ainda que exista a AM). Nas noites paulistanas ou osasquenses, é vergonhoso o que ouvimos na FM: dezenas e dezenas de igrejas, evangelistas, pastores e profetas, cada um vendendo o seu peixe da forma mais analfabeta possível, e, na maioria dos casos, em emissoras clandestinas, contra a lei, dando um mal testemunho terrível. Dias atrás uma dessas emissoras quase derrubou um avião em Guarulhos, pois impediu importante comunicação entre a torre e a aeronave. Não raras vezes, crentes conhecidos meus, da cidade, foram presos. Não satisfeitos, reabriram seus estabelecimentos e estão por aí...

Fiquei pasmo quando ouvi um profeta moderno: ele tem um laptop, onde há o software REVELAÇÕES 1.0, e, através de um número que o ouvinte fornece, adiciona-se o número do telefone, divide-se pela data e o número da ligação, e então é escolhida uma revelação, tipo caixinha de promessas. Pensei: “Espírito Santo agora foi rebaixado à periquito de realejo ou búzio da sorte moderna! E dá-lhe sincretismo!”

Se eu, crente, evangélico, já não suporto mais a invasão religiosa;  se eu, crente que sou, reparo no excesso de igrejas numa rua só, o que dizer de um não-crente, de um católico, espírita, ateu, que generaliza todas as igrejas e só percebe que a quantia “passou da conta”? Eu acredito que a grande questão, para quem não estiver furioso, e estiver do lado de fora, será: "como saber qual dessas igrejas é genuína?"

Pela placa, pela denominação da dita igreja,  não dá mais. Dias atrás entrei em uma igreja batista. Seu pastor estava promovendo a “tarde dos empresários”, e à noite teria a “corrente dos caçadores do amor à dois”. Lamentei. Ainda sou do tempo que a placa significava alguma coisa. Bem, vivemos num mundo híbrido, e não é de se estranhar que a confusão reine. Em grande parte dos casos, com boas exceções, só pelo nome da igreja não teremos garantia em encontrar igrejas autênticas.

Creio que a solução é simples: além da prédica, a PRÁTICA!. Jesus, ao final do sermão do monte, em Mateus 7, declara: quem ouve e cumpre, é sensato e prudente, e é o tipo certo de cristão (veja em Mateus 7. 24-27).  Jesus, ao olhar para a avenida onde a Boas Novas está, não procurará a mais bonita, ou a maior, ou a mais barulhenta, ou a menor, mais quieta, mais feia. Ele busca igrejas que não vivam só de “ouvir” a Palavra. Ele busca igrejas que “cumpram” a palavra. Há grupos que se encantam por ficar 10, 20, 30 horas em “louvor” ininterrupto, outras de ter quarenta cultos semanais. De nada adiantará cantar, gritar, orar, se não for seguido do fundamento de um cristianismo autêntico: agir! Não fomos salvos para ouvir; fomos salvos para servir, para viver, para cumprir. Se a Boas Novas não for cumpridora da Palavra, não se enquadrará no tipo autêntico de Igreja de Cristo!

E cumprir a Palavra é tão simples!! O saudoso Darcy Gonçalves cantava uma canção, falando da “casa no interior”. Dizia ele que ainda se lembrava do lar onde conheceu a bíblia e o seu primeiro amor. Dizia que ainda era capaz de se lembrar dos salmos que sua mãe lhe ensinara, bem como dos versículos decorados quando pequeno. Quantas famílias cristãs não lêem a bíblia, não oram juntas, não cantam juntas? Não há vergonha em assistir programas indecentes, mas dá tanta vergonha abrir uma bíblia ou fazer uma oração junto com a família, não é mesmo?

Não é preciso ser teólogo para se agradar a Deus. Basta ser decidido e praticante. Muitas vezes um conhecedor básico da Palavra é melhor cristão que um teólogo renomado ou um conceituado religioso. Lembro-me da irmã Isabel. Ah, que falta me faz essa irmã! No auge dos seus 87 anos, ela me chamava à sua casa, orava por mim, aconselhava-me e orientava-me. E ela nunca fizera um ginásio. Sua sabedoria simples de mãe, esposa, avó e cristã era: “ande com Jesus, e faça o que ele disse pra fazer”. Tão simples! Mas ela tinha algo que a qualificava: INTEGRIDADE. A integridade dela gerou em mim a credibilidade que eu precisava. Quantos de nós, por falta de integridade, não temos credibilidade?

Nossa vida é uma casa, construída ao longo dos anos. Ela permanecerá para sempre, se o seu fundamento for “praticar” o cristianismo, semeando o evangelho, fazendo o bem, louvando a Deus e mantendo limpa a nossa mente.
 
Quero ser assim. Desejo que a Boas Novas seja assim. Desejo que o meu leitor, minha leitora, e sua querida igreja, também o sejam.
 
Deus nos abençoe.
 
Amém.
 
 
Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas de Osasco SP


QUERO AGRADECER CORDIALMENTE À QUERIDA ANGELAZINHA VIEIRA,
DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO, QUERIDA ASSEMBLEIANA DO CORAÇÃO,
PELA LINDA TAG QUE FEZ, PARA ABENÇOAR MEU TRABALHO E
"DESENFEIAR" AS MENSAGENS (A TAG QUE EU ESTAVA USANDO
FORA OBRA MINHA MESMO, E ESTAVA FEIA DEMAIS...)
BRIGADÃO, ÂNGELA!

terça-feira, 23 de junho de 2015

memórias literárias - 217 - LEVANTAREI



 


04/05/2007
LEVANTAREI
217


Dia belíssimo vivi. Rever Minas Gerais é sempre um aroma de saudade e um colírio de lembranças.
 
Em minha infância, vivi parte de cada ano em nossa casa da roça, na Meia Légua, lugarejo do município de Cambuí. Trago no peito as marcas dessa infância: meu cavalinho de pau, meus carrinhos de plástico, o escorregador do morrinho, a cachoeira, o eco entre as montanhas, o meu primeiro beijo e a primeira namorada, as missas que ajudava (era católico e coroinha), o frio gelado e úmido do mês de julho, o motorrádio do meu pai, tocando às nove da noite o "Linha Sertaneja Classe A".

Fui hoje à tarde para lá, com o Pr. Alfred, mostrar-lhe minhas origens. Passei por todo o estradão, desci até o povoado, atravessei o mata-burros, parei junto à corredeira do riozinho, contemplei o verde mineiro daquelas terras tão queridas.

Na subida, uma comprovação.
 
Há tempos atrás, quando compraram as terras de meu avô João Paulino de Araújo,  destruíram o bambuzal que ladeava a estrada, talvez 500 metros de vegetação fechada. Era dali que pegávamos a lenha de fogo rápido para o fogão à lenha; não apenas nós, mas minhas tias, primas e vizinhos. O bambuzal servia de refúgio para pássaros, refresco em dias de calor intenso, abrigo contra chuva, beleza na paisagem, etc.
 
Quem comprou não viu beleza ou utilidade nele. Apenas quis desfazer-se desse estorvo do caminho, para encher a terra de vacas e bezerros. Então destruiu tudo, pedaço por pedaço, arrancou raízes, decepou brotos, destruiu qualquer lembrança de bambus naquele lugar. Depois vendeu os bezerros, matou as vacas e foi embora.
 
Entretanto, a força da vida é maior que o poder destrutivo da morte; alguns restos de raízes arrebentaram na terra anos depois, e esse renovo invadiu uma pequena fresta da estrada. Agora, talvez dois anos passados, o bambuzal está grande, cheio, viçoso, bonito, e cobre metade do espaço original. É o milagre da vida! Quem não viu nele qualquer serventia, agora tira o chapéu e o chama de "professor de perseverança"!

Isso trouxe à minha mente a triste realidade de nossas vidas, quando as interpéries, os amores não compreendidos, os fracassos financeiros, as doenças degenerativas e a depressão corrosiva, destroem a nossa vida e toda esperança de amor, alegria, felicidade, prosperidade. Julgam-nos como os mais desprezíveis, gente sem valor, de sentimentos irrelevantes. Sentimo-nos como se fôssemos seres de segunda categoria, pois nada dá certo para nós, parece que a nossa estrela nasceu no pé, pois na testa só a frase  “infeliz”. Quanto mais queremos melhorar, progredir, vencer, tanto mais os inimigos vêm sobre nós, arrancando nossas raízes, decepando nossas esperanças, levando nossos amores nas enxurradas dos choros incontidos. Somos um bambuzal desenterrado, salgado e cimentado.

Contudo, amados leitores, maior é o que está em nós, do que aquele que está no mundo. "Filhinhos, sois de Deus, e já os tendes vencido; porque maior é o que está em vós do que o que está no mundo." (1Jo 4:4)
 
Se é forte a força da morte, mais forte é o poder de Deus, e a força do amor tem virtudes e poderes que transcendem a própria razão. Mesmo morto, é possível ressuscitar! "Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá;" (Jo 11:25)

Se as águas derrubaram seus castelos de areia, não desanime: Deus trará materiais mais duradouros para você edificar novos projetos! "Porque sete vezes cairá o justo, e se levantará;" (Pv 24:16)

Se o tempo e o esforço destruíram sua saúde, não perca a esperança: muito pode a oração de um justo em seus efeitos, e poderosa é a força da esperança! Ademais, se nosso tabernáculo terrestre se desfizer, temos morada no Céu, indestrutível! Aleluia! "Confessai as vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis. A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos." (Tg 5:16); "Porque sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus." (2Co 5:1)

Se a vida lhe privou de oportunidades, não ignore esta, enquanto lê esta crônica: não foi à toa que você encontrou este texto! Você começará de novo, e do jeito certo! Quem disse que não dá?? É custoso, é difícil, mas não é impossível! Levante-se! Anime-se! Agarre-se ao filete de vida que sobrou! "Espera no Senhor, anima-te, e ele fortalecerá o teu coração; espera, pois, no Senhor" (Sl 27:14); "Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nele, e ele tudo fará." (Sl 37:5)

Se o amor lhe fechou a porta e a solidão tornou-se companheira, lembre-se: nada acontece por acaso, e Deus tem um plano em sua vida! Só Deus sabe quais os bons planos tem para sua vida amanhã! Convém crer, agradecer e se empenhar em fazer Sua vontade! "Porque eu bem sei os pensamentos que tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar o fim que esperais". (Jr 29:11)

Se o pecado ceifou sua esperança de vida eterna, e uma trágica expectativa de inferno povoa seus mais secretos sonhos, turbando o sono e perturbando o coração, acredite: ainda há perdão para você, no coração de Deus! Confesse, abandone o erro, confie em Cristo, e ressurja das trevas! "Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus pensamentos, e se converta ao Senhor, que se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar." (Is 55:7)

Mais uma vez o bambuzal me trouxe esperança. E creio que trará para o meu leitor também. Afinal, mesmo destruído, ele venceu. Mesmo desenterrado, sobrou um pedacinho de vida. E esse pedacinho reinou. Deixe que o pedaço bom de você, que ainda existe, tome conta do seu hoje e do seu amanhã. "Porque há esperança para a árvore que, se for cortada, ainda se renovará, e não cessarão os seus renovos." (Jo 14:7)

Que assim seja.

Amém.
2007
 

Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas de Osasco SP

memórias literárias - 216 - ANTES DE RECLAMAR


 


 
02/05/2007

ANTES DE RECLAMAR
216

Eu gosto de reclamar. Você não gosta? Ah, qual de nós, por melhor que seja, não sente cócegas na língua para reclamar de alguma coisa, ao menos uma vez ao dia? “A comida está quente”, “o ônibus estava lotado”, “o salário não deu”, “seu beijo não foi caliente”, “o tempo está mudado”, etc.

Se eu deixar meu ser interior à dianteira da minha razão e do controle do Espírito Santo em mim, passo o dia a reclamar de tudo. Reclamar de mim, dos outros, do mundo, da vida, da eternidade, das roupas, e até dos sonhos.

Contudo, tenho feito isto, e talvez ajude a você também.

Antes de reclamar do tempero, da temperatura, da quantidade, do aroma da comida,

Lembro-me que há aqueles que não têm escolha, a única opção é passar fome ou comer o que ainda resta.. Também me lembro dos cristãos, presos nos cubículos fétidos das prisões, que ganham uma fatia de pão por semana e um copo com água por dia. Então digo: “obrigado, Senhor!”

Antes de reclamar das lágrimas que verti por uma mulher, por um amor perdido, uma paixão do passado, um sonho desfeito, uma mãe que morreu,

Lembro-me daqueles que nunca amaram, que nunca tiveram uma mãe ou um pai, que foram renegados e relegados ao desprezo e ao abandono, que vivem ou viveram sozinhos num mundo inóspito e desprezível. Então digo: “obrigado, Senhor!”

Antes de reclamar da saúde, da dor nas costas, da hérnia de disco, do nervo ciático, do problema do coração ou da pressão,

Lembro-me daqueles que adoecem num povoado ribeirinho, sem acesso aos médicos, daqueles que não têm outros cuidados senão o de plantas e o das orações, daqueles que padecem de males tão simples, mas sem socorro nenhum, daqueles que sofrem nos hospitais, nos estágios terminais de um câncer, aleijados, sem órgãos básicos à sobrevivência, e digo: “Obrigado, Senhor!”

Antes de reclamar do país, do governo, do partido, do sistema, dos ladrões engravatados, dos religiosos mentirosos, da estrutura falida da administração,

Lembro-me daqueles que vivem sob governos terroristas, na mira de uma metralhadora, cujas mulheres não podem ser livres, e os jovens não podem rezar por outra cartilha; lembro-me dos que são obrigados a servir o exército e morrer sem confiar naquela causa, lembro-me dos que não têm liberdade de ouvir o evangelho nem de portar uma bíblia, dos que não podem expor publicamente a sua fé, e digo então: “Obrigado, Senhor!”

Antes de reclamar do pouco dinheiro, do salário insuficiente ou não pago como deveria, antes de reclamar da conta corrente quase esgotada e da carteira vazia,

Lembro-me dos que trabalham o mês inteiro para cortar cana, e recebem menos do que tinham antes, que não conseguem mais fazer uma bóia quente, porém, só fria; lembro-me dos que juntam o ano inteiro para comprar um par de sapatos ou um sabonete de cheiro, lembro-me dos que dariam tudo para ao menos terem uma cama quente no inverno e um refrigerante gelado no verão, e não têm. Então eu digo: “Obrigado, Senhor!”

Mas, quando faço isso, sinto no peito uma dor, a dor de quem não merece o que tem, e peço ao Pai: “Senhor, ajuda-me, neste dia que me dás, a repartir a minha comida com alguém que atravessa a dor da fome, a dar meu ombro a alguém que chora por um amor perdido ou um ente que se foi, a curar a doença ou amenizar a dor física de um moribundo, a usar da liberdade de meu país para divulgar a todos as boas-novas do Evangelho libertador, de Jesus Cristo, ajuda-me a realizar o sonho de alguém que é mais pobre do que eu, sem esperar por recompensas ou pagamentos. Afinal, se tenho alguma coisa, devo tudo a Ti."
 
Então vivo muito mais feliz, muito mais contente, e, conquanto não possa transformar todo o mundo do jeito que gostaria, posso fazer diferença na minha vida, vivendo sob ações de graça, e posso interferir na penúria de alguém, cujo caminho cruzar-se com o meu, e mostrar-lhe o quanto é bom repartir e agradecer.
 
Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco. (1Ts 5:18) 


Que assim seja.
Amém.
 
Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas de Osasco SP
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segunda-feira, 22 de junho de 2015

memórias literárias - 215 - ERA UMA VEZ ...



 
 
06 - Sexta-feira, 20 de fevereiro de 2004
 
 
 
Crônicas de Verão
 

 
 
Era uma vez...
215
Wagner Antonio de Araújo 06/10/2003


Havia um país muito grande, com 200 milhões de habitantes, cheio de violência, insegurança, fome, desestrutura familiar, analfabetismo e tudo o que não prestava. Havia também uma malha televisiva invejável: a televisão cobria o país de ponta a ponta, a ponto de ser o órgão de comunicação mais eficiente e rápido. Campanhas e mais campanhas contra a violência, contra a gravidez na adolescência, campanhas sobre ética na política, etc. Mas não havia resultado algum, além de deixar o povo cada vez mais indignado.

 
Então os donos de mídia (TV, jornais, revistas, sites) resolveram se reunir e fazer um pacto. Eles diziam: “O que estamos construindo com a porcaria que veiculamos? Que mundo deixaremos para a próxima geração? O mal está vindo contra nós mesmos! Vamos mudar a nação? Vamos fazer um pacto?” E fizeram.


Eles combinaram que toda a violência seria banida do entretenimento, e os jornais não explorariam mais a tragédia humana. Combinaram de abolir as propagandas de álcool e fumo, bem como o erotismo das novelas. Além disso, iriam investir positivamente em cultura, informação, educação, turismo, conhecimento nacional, estrutura familiar e pensamentos de ordem e progresso, princípios morais e éticos com valores cristãos. Esse pacto iria durar 10 anos.

 
E as televisões acabaram com os programas de pegadinhas, com a apologia do homossexualismo, com as banheiras de mulheres peladas e com os desfiles de pessoas nuas. Em lugar dos noticiários sanguinários, passaram a cobrir eventos positivos e construtivos, como casas populares inauguradas, orfanatos reformados, esportes e atletismo, campeonatos escolares, feiras e eventos, pesquisas científicas, documentários sobre as belezas do Brasil, etc.

No princípio houve quem achasse muito ruim, em nome da democracia. Mas os donos de tv disseram que democraticamente haviam decidido isso a bem dos filhos do país, e tinham respaldo da constituição. E continuaram a programação.
 


Bem, em três anos o país era outro. Alguns índices mostraram os efeitos da tv decente: 78% de queda nos índices de gravidez prematura, 89% de queda nos índices de violência urbana, 100% de queda no crescimento do número de menores abandonados, paz nas periferias e subúrbios das grandes cidades, e outras coisas. As grandes companhias de cigarro e bebidas foram obrigadas a investir nos mercados de sucos de fruta e alimentos saudáveis, em virtude da queda estarrecedora de consumidores de seus produtos. Igrejas cessaram suas aberrações modernas, como unção de uivo, urinar nas praças ou fazer novenas de prosperidade. Antes, tiveram que se dedicar a ensinar a bíblia para o vasto número de crianças e adolescentes que apareciam nos domingos.

Ao final dos dez anos aquela era uma boa nação. E viveram felizes... até que alguém me acordou do sonho...

 

Claro, tudo isso é utopia. Isso é improvável. Ninguém quer viver debaixo de ditaduras, mesmo que benéficas. Custou-nos muito caro a democracia. Mas eu tenho certeza de que qualquer campanha pela humanização do país é inóqua enquanto não houver um pacto nacional para o desmantelamento do lixo tóxico jogado nos lares todos os dias pelos canais de tv. É altamente improvável que um pacto desses aconteça, pois “o mundo jaz no maligno” (I Jo 5.19). A hipocrisia continuará a imperar: “Programa ‘sou da paz’; assista, à seguir, mais um capítulo de ‘matador profissional’” Enquanto isso continuar, adeus, nação abençoada.

Bem, consertar o mundo eu não posso. Mas posso consertar a minha casa. E, quem sabe, alguém que leia este artigo, seja um formador de opinião e me ajude a propagar este sonho, fazendo-o tornar-se uma realidade...
 
 
Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas de Osasco, SP

sexta-feira, 19 de junho de 2015

memórias literárias - 214 - VISITANTES ESQUECIDOS


 


Crônicas de Verão

 
05 - Quinta-feira, 19 de fevereiro de 2004
 

 
VISITANTES ESQUECIDOS
214
Wagner Antonio de Araújo 04/10/2003



Certa vez fui pregar em uma igreja da capital paulista. Cheguei um pouco mais cedo, às 18:30 horas. O culto iria começar às 19. Como de vez em quando acontece (...), a celebração iniciou-se um pouquinho atrasada, às 20 horas. Foram 90 minutos de banco, 90 minutos inesquecíveis e desconfortáveis.

Ao chegar, sentei-me num dos bancos de trás. As pessoas foram chegando e buscando seus próprios assentos. Notava-se que se conheciam, pois saudavam-se, perguntavam das crianças, do trabalho, da comida, do regime. Bem, talvez não tivessem me observado direito. Eu olhava para seus rostos, conversavam bem próximos, mas não me notavam. Pensei: “será que o meu regime alimentar está dando tão certo assim? Será que já estou invisível?”

O templo foi se enchendo e a garotada começou a entrar. Sabe como é, adolescentes, jovens, é chegar e correr pra plataforma, mexer na bateria, na guitarra, ligar microfone, etc. Quando um e outro se encontram, é aquele “papo cabeça”: “e aí, mano? Belê?” E a tradicional resposta: “Só...” Bem, corriam pelo corredor do meio, bem onde eu me encontrava, mas não me cumprimentavam.

O relógio marcava 19:40 hs, o templo estava repleto. O meu banco ainda estava vazio. Foi quando chegaram algumas pessoas um tanto mal educadas, que entraram para sentar-se nos demais lugares, pisando no meu pé e sem usar a chave “com licença”. Como sou discretíssimo, após entrarem de forma tão delicada, disse bem alto: “toda!!!”. Claro, pediram desculpas (não tinham escapatória...)

O culto começou. Eu participei, mas estava com vontade de ir embora. Cantamos, oramos, ouvimos louvores especiais, e então a direção do trabalho me convidou para ir à frente. Alguns arregalaram o olho: “nossa, o pastor estava aqui e nem fizemos caso!” Bem, eu preguei. E sabem sobre o que? “Não sejais como os hipócritas, saudando só os seus irmãos”. Não diria que tenha sido uma mensagem sob encomenda. Não foi. Mas que havia saído fresquinha do forno, naquela hora, ah, isso eu não nego...

Isso vale para cada um de nós, crentes em Cristo Jesus. Como estão as nossas igrejas? Como estão as nossas congregações? Como estão os nossos cultos e atividades públicas?

Há igrejas péssimas, como essa onde eu preguei. O visitante sente-se mal, parece um estorvo, não faz parte da panelinha, às vezes não tem o perfil social da membresia, ou não é bonito ao ponto de despertar interesses. Logo, é lançado no esquecimento. Entra mudo, sai calado. Para compensar, fazem encenações de comunhão, onde alguém diz: “vire para o seu irmão, beije ele, abrace-o, diga-lhe: eu amo você, etc.”. Confesso que sinto dificuldades em encontrar legitimidade nisso. Os visitantes dessas igrejas também.

Há igrejas boas: o visitante é saudado por meia dúzia de pessoas, alguém lhe apresenta a família, às vezes o pastor o cumprimenta também, alguns sorriem para ele, um introdutor o ajuda a encontrar um bom assento, etc. Algumas até o cadastram, para receber correspondências natalinas. Essas igrejas são boas, há muitas assim, graças a Deus.

Contudo, há igrejas ótimas. O visitante simplesmente não se sente visita; ele se sente acolhido, amado, estimado, desejado. Além de ser também cadastrado por introdutores, os membros fazem festa, sem deixá-lo sem graça. Se for homem, os homens vêm cumprimentá-lo, bater um papo. Se jovem, a garotada já o enturma e entrosa. No culto, saudações afetuosas são-lhe dirigidas, palavras de afeto. Ao final, é convidado a participar da confraternização. Também recebe convites para outras atividades, etc.

Muitas pessoas já se converteram por causa da acolhida que receberam da igreja. Muitos não se sentem amados ou queridos em canto algum, mas quando estão na igreja, sentem o afeto que lhes falta. Na igreja os órfãos ganham pais, solitários ganham amigos e assim se forma a família de Deus.

A minha pergunta é: como você classificaria a sua igreja? Como péssima? Boa? Ótima? Qual a sua parcela de responsabilidade nisso? O que você pode fazer para mudar, se necessário for?

Lembremo-nos do que nos diz a bíblia: “Sede hospitaleiros, porque alguns, sem o saber, hospedaram anjos”.  (Hebreus 13.2)

Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas de Osasco, SP


memórias literárias - 213 - A FROTA



 

A FROTA
213
 
- "Cuidado com os postes, Seu Geraldo! Não são de borracha não!"
 
- "Vê se vai pela sombra, Seu Geraldo! Cuidado com as costelas-de-vaca!"
 
- "Só passeando, né, Seu Geraldo?"
 
Era assim todo dia. O Seu Geraldo era o taxista do bairro, conhecidíssimo, muito estimado. Também pudera: 12 anos no volante, já tinha levado muita mulher grávida pro hospital e trazido mãe e filho pra casa. O povo era muito agradecido. Às vezes um fiado, outras um chequinho pré-datado, mas sempre tranqüilo. Ele dizia:
 
- "Deus ajuda a quem cedo madruga. E quem ajuda a quem cedo madruga também recebe ajuda do Senhor". E lá ia o Seu Geraldo pro batente, alegre, sorridente e confiante.
 
Ele era crente. Ele e toda a família. Não era rico, nem classe média. Era um lutador, tentava manter as contas em ordem, o leitinho da molecada e o cabeleireiro da mulher. Devagarinho as coisas andavam. Fiéis na igreja, o dízimo era sagrado. Todo dia 10 lá estava o Seu Geraldo todo faceiro, levando o envelopinho da família:
 
- " 100 meus, 50 da patroa e 25 de cada guri. Marca certinho, Irmão Astolfo ", as costumeiras orientações que passava pro tesoureiro. Nunca falhava. Nos meses de poucas corridas caia um pouquinho, mas na alta temporada o dízimo acabava compensando o tempo dificil.
 
Não perdia um culto de oração. Geralmente ele mais agradecia. Mas, às vezes, dizia ter um sonho: queria ter uma frota!
 
- "Ah, pastor, já pensou? "GERALDO TAXI EXPRESS', que maravilha! Eu ia levar toda a igreja de taxi pro culto! Não, não todo dia, senão eu iria à falência. Mas no domingo os meus carros ficariam de prontidão: "perdeu o ônibus? Chame o Geraldão!" E assim o Seu Geraldo ia levando, sonhando, trabalhando.
 
Num belo dia chegou um telegrama: era para ele apresentar-se no Fórum. O que seria? Ficou preocupado, nem dormiu à noite. Mas, para sua surpresa, era coisa boa: um parente distante deixara uma quantia em dinheiro para os parentes, e ele fora contemplado com uns bons trocados.
 
- "Olha aí, meu velho! Venho orando por você por muito tempo! Já dá pra comprar mais um carro, uma frotinha!"
 
Frota não era, porque em sua cidade, grande e populosa, uma frota era composta de 50 unidades. Mas deu para comprar 6 automóveis 0 quilômetro, registrar e colocar na praça.
 
Que alegria! Com direito a culto de ação de graças e tudo! Contratou motoristas, colocou um para dirigir o seu velho chevrolet e passou a administrar.
 
Todos estavam muito felizes. Todos, exceto a esposa. Ela notara algo diferente no marido: parecia que o esposo perdera um pouco o brilho e a espontaneidade.
 
Não só a esposa notara; o pastor também. Seu Geraldo começou a faltar nos cultos de oração, os seus prediletos. Seu lugar já era marcado no banco número 5 do lado direito; mas, agora, estava vazio, aliás, sempre vazio. Ele comprara um sítio muito bonito, próximo da cidade, e, quando não estava com os amigos, estava cuidando da chácara.
 
- "E então, irmão Geraldo, estou sentindo sua falta! " Dizia o pastor, no domingo.
 
- "Pois é, pastor, está muito corrido pra mim agora, mas logo as coisas engrenam. É como sinal de trânsito: quando parece que não abre nunca, o verdão aparece! Já, já eu volto!" O já-já não chegava nunca.
 
Posteriormente, quando o pastor lhe perguntava isso, a resposta era grosseira:
 
- "Pastor, vê se faz o seu trabalho. Tem gente de sobra pra ouvir o senhor por lá. Eu já sei tudo o que o senhor prega". O pastor sofria.
 
O Seu Geraldo prosperou. Em dois anos ele transformou os 7 taxis numa frota de 50. Como? "Bênção de Deus", dizia ele. Contratara muitos motoristas, colocara o nome de sua empresa bem bonito e graúdo nos seus automóveis: "GERALDO TAXI EXPRESS". Na inauguração fez um "coquetel", mas não chamou a igreja. Nem o pastor.
 
Um dia a igreja precisava ir a um velório. Povo muito humilde, não havia condução pra todo mundo. Dna. Zulmira, sua esposa, falou com ele:
 
- "Geraldo, pede pros carros ajudarem a transportar o pessoal pro velório e cemitério. Lembra que você brincava que queria ajudar?"
 
- "Ah, mulher, larga mão de ser mané! Sou eu burro de carga de alguém? Esse povo que se vire! Não vou carregar o pessoal de graça de jeito nenhum. Que se danem!"
 
- " Mas, bem, você dizia que ..."
 
- "Ora, mulher, quando se é pobre se fala muita besteira. Larga a mão de conversa e vai pro seu velório, que eu tenho encontro marcado com o pessoal lá do bar. Vai logo, não me enche!"
 
- "Mas, bem,  ...."
 
- "Cala a boca, beata! Parece besta! Ah, e quer saber mais? Tô cheio desse negócio de igreja. Só sabem cobrar, viver de pindura em quem tem mais o que fazer! Vai, dá logo o fora se não quiser levar um tapão na orelha"
 
Zulmira estava desconsolada. E não era para menos. Seu marido dera para jogar truco com os amigos, beber "socialmente", ir pro clube no final de semana. Às vezes a obrigava a acompanhá-lo. Tirou os meninos da Escola Bíblica Dominical e matriculou-os em grupos de excursões - algumas vezes iam para as montanhas, outras para a praia, e, ainda outras, para o exterior. "Coisas de classe", dizia ele.
 
Zulmira chorava. O tesoureiro, antes tão acostumado com os 200 reais do Seu Geraldo, agora recebia 50 da mulher, que ela separava "escondido" do marido. De vez em quando o Seu Geraldo vinha ao culto, terno "Hugo Boss", cheirando a "chanel número 5", sapatos importados, BMW na porta. Chegava atrasado, ouvia o sermão e saia sem cumprimentar ninguém. "Tenho compromissos", dizia ele: ia para o encontro dos "prósperos", os ricaços do clube.
 
Zulmira orava. Os meninos, cuja base cristã era firme (a mãe orava e lia a bíblia todos os dias com eles), também oravam. A igreja orava.
 
Certo dia um dos taxis acidentara-se. Sem perceber, Geraldo não atualizara o seguro daquele carro. Assim, para indenizar a família (houve vítimas fatais nos dois automóveis), precisou vender outro carro. Ao mesmo tempo 4 ex-motoristas o processaram, pois atrasara os seus proventos e tirara direitos que eles tinham a receber. Com os juros e multas, acabou por vender outro carro. Mais dois motoristas demitidos, indenizações a pagar, e outro carro seguia para a revenda.
 
Passaram-se 5 meses. A família mudara-se dali. Não freqüentaram mais aquela igreja. Não que Zulmira não protestasse; mas o marido estava transtornado. O pastor nem sequer soube para onde foram. Sumiram. A igreja tinha um prazo de 8 meses para desligar membros ausentes. A igreja orava.
 
Numa quarta-feira, no culto de oração, enquanto o pastor lia o texto responsivo com a congregação, eis que entram na igreja o Seu Geraldo e a família. Foram direto para o empoeirado banco número 5, do lado direito. O pastor sorriu, mas continuou o culto.
 
Parecia que a família estava feliz. A igreja estava perplexa. Mas continuou a celebração. Cantaram os hinos do Cantor Cristão (hinário da igreja), oraram, ouviram uma breve meditação e escutaram uns dois ou três solos.
 
Antes de terminar, o pastor franqueou a palavra a quem quisesse contar uma bênção ou pedir uma oração. O Seu Geraldo emocionou-se no banco, mas sua esposa o abraçou afetuosamente. O pastor pensou que alguém tivesse adoecido. Zulmira pediu a palavra para o Geraldo. O pastor assustou-se, mas, em respeito a Zulmira, concedeu.
 
Lá foram os 4 para a frente:  Geraldo, Zulmira, Bruno e Aloísio. Seu Geraldo pediu a palavra. Abriu a bíblia em Mateus 16.26, onde se lê: "De que aproveita ao homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua vida? ou que dará o homem em troca da sua vida?" A seguir, falou:
 
"Fui membro desta igreja por longos anos e taxista antigo no bairro. Amava a Jesus e também a igreja. Um dia, há cerca de dois anos e meio atrás, ouvi um pastor dizer que, como crente, eu tinha obrigação de ser rico, de usar as credenciais de Filho do Rei. Não foi daqui não, foi um pastor da televisão. Eu fiz um voto e ganhei o que pedi. Ganhei herança, prosperei nos taxis e criei uma frota. Irmãos, (e agora Geraldo chorava), antes eu nunca tivesse pedido isso pra Deus! Se ganhei dinheiro com a frota, perdi a minha fé, perdi a minha família, a minha saúde, os meus amigos e até a minha dignidade. Fumei, bebi, adulterei, pintei o caneco e dancei o samba de uma nota só. De 51 carros, contando com o meu, perdi tudo, exceto o meu velho taxi. Tirei a família da igreja e ganhei a desgraça. De que vale querer ser rico, quando não se sabe ser fiel? Por isso pedi pra Zulmira, essa heroína (agora era ela quem chorava), que pedisse pro Senhor me ajudar, porque eu já não agüentava mais ter que vender carros pra pagar processos na justiça, ex-funcionários, tratamento de bebida, pagar propinas, etc. Eu deixei de dizimar, deixei de vir aos cultos, deixei de ser fiel. Vim aqui pedir ao meu Deus e à minha igreja: P E R D Ã O  !!! PERDÃO, SENHOR! PERDÃO, PASTOR! (todos choravam copiosamente). Eu perdi tudo, mas não perdi o meu Salvador! Ele me deu mais do que eu merecia: me deu a salvação, me deu esposa, filhos, um bom pastor e uma boa igreja! Obrigado, meu Deus! Antes com Cristo sem riquezas materiais do que, tendo tudo, não ter nada! "
 
Foi uma choradeira geral. O pastor abraçou o irmão, osculou a esposa e os meninos, e disse ao povo:
 
"Aprendamos, irmãos, que o verdadeiro Evangelho não é comida nem bebida; Cristo não dá ouro ou bens para gastarmos segundo os nossos prazeres. Ele até permite, quando insistimos demais, mas por nossa própria conta e risco. Está aí o resultado das riquezas temporais: quando postas em primeiro lugar, levam o homem à falência. Lembremo-nos do que nos ensina o Senhor: "Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem consomem, e os ladrões minam e roubam. Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça e a ferrugem consomem, nem os ladrões minam e roubam. Porque, onde estiver o vosso tesouro, alí estará também o vosso coração". Mt 6.19-21. E diz mais: "Buscai primeiro o Reino de Deus e a Sua justiça, e as demais coisas vos serão acrescentadas". (Mt 6.33)
 
Seu Geraldo trouxe, do carro, um panelão de salsichas em molho, preparado com amor por Dna. Zulmira, e dois sacos de pão francês, que pegara na padaria da esquina. Fizeram uma confraternização, um culto de ação de graças. Foi lindo!
 
Dia seguinte. 5 da manhã. Lá vai o Seu Geraldo pela Avenida Brasil, descendo com o seu velho chevrolet, passando em frente à casa dos vizinhos. As frases soavam como música aos seus ouvidos:
 
- "Cuidado com os postes, Seu Geraldo! Não são de borracha não!"
 
- "Vê se vai pela sombra, Seu Geraldo! Cuidado com as costelas-de-vaca!"
 
- "Só passeando, né, Seu Geraldo?"
 
E ele, feliz da vida, foi fazer as corridas do dia, sem esquecer-se de que também estava correndo uma outra corrida, a da consagração rumo à vida eterna com Cristo. Agora sabia que era o homem mais rico do mundo, pois tinha algo que o dinheiro não deu nem nunca dará: felicidade.
 
- "Vai com Deus", dizemos nós também ao Seu Geraldo.
Pastor Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas de Osasco, SP
 
Pós-escrito:
 
Quero testemunhar algo ocorrido há pouco. Este texto foi escrito com muito carinho e amor. Quando terminei, repassei as frases, para tirar um ou outro erro. Quase ao término, o computador travou. Bateu o desespero: e agora? Eu nunca consegui salvar texto algum, depois do travamento. E, infelizmente, não o tinha copiado parcialmente para a pasta de rascunhos. Antes de desligar o equipamento, orei, pedindo ao Senhor que, se o que escrevi fosse abençoar alguém, que fizesse algo por nós. E algo aconteceu: fechei alguns programas abertos automaticamente, mas tudo estava parado. De repente o e-mail "libertou-se", e pude gravá-lo. Mas foi o tempo de gravá-lo e travar tudo de novo. Ei-lo aqui, como mais uma prova da graça do Senhor. Eu bendigo a Deus por essa vitória. Louvado seja Deus! Amém.
 
obrigado também à Sandr@, de Brasília, DF, pela "tag" de assinatura que me presenteou, a da máquina de escrever.
 

Wagner

quinta-feira, 18 de junho de 2015

memórias literárias - 212 - A ARMA SECRETA


Escrevi este texto em 1990. De lá para cá muitas águas rolaram. Mas é impressionante como, de fato, alguma coisa dessa ficção aconteceu e ainda acontece...


A ARMA SECRETA

212

Enormes limusines escoltadas pela guarda nacional chegam à frente do edifício OIKOUMÉNES, trazendo homens da máxima importância no cenário político-cultural do universo. Pessoas extremamente importantes e populares, que apressadamente se valem dos elevadores expressos, para alcançarem o 66o. andar. Na sala de reuniões, uma mesa enorme, com 66 lugares, é pouco a pouco tomada pelos executivos. Microfones, caixas, câmeras, fotógrafos, todos aguardam o início da reunião mais importante do século.

12 horas. Todos assentados. Num dos lados da mesa, um dos senhores presentes, gordo e elegante, pede a palavra:

-”Senhores, bom dia. Nosso presidente, Sr. Apoliom, intimou-nos a tomar certas medidas urgentes, tendo em vista sua próxima manifestação decisiva ao mundo. Os senhores não podem imaginar sua ira e enfurecimento! Avisou-nos que, se não conseguirmos resultados satisfatórios, irá depor todo o ministério...

Um lamento geral se ouviu de todos os 65 presentes. Sim, faltava um componente, justamente o Sr. Apoliom. Seu primeiro ministro, na outra ponta, é quem havia transmitido o duro recado.

-  “Ouviremos agora o supremo comando militar em seu pronunciamento.”

Levantou-se um militar, condecorado até aos dentes, suando frio, e com o rosto em fogo.

- “ Senhores, nós, da brigada dos principados e potestades, não temos obtido sucesso no combate a Jesus Cristo e sua igreja. Não agüentamos mais bramar, bramar, colocar tropeços, cavar buracos, armar ciladas. Os resultados são sempre os mesmos: os crentes caem na primeira investida, mas o Espírito Santo os conduz ao arrependimento, e daí nossas armas não funcionam mais. Já perdemos inúmeros enredados. Satanás está uma fera...

Percebia-se na face de todos um suor frio e preocupante. Estava em jogo a manutenção do poder, e parecia que estava demonstrando naquela altura pouca eficiência.

- “Ouviremos agora o comandante da esquadrilha das regiões celestes”.

Outro general se levantou. Tomando vários papéis às mãos, passou a falar:

- “Senhores, temos sentido as mesmas dificuldades. Nas regiões celestes as coisas já não são as mesmas. Antes conseguíamos dominar a brigada de Miguel, e seus anjos eram facilmente vencidos. Conseguíamos investir contra os crentes, prejudicando suas orações, quebrando suas consagrações, desvirtuando seus jejuns, operando com eficácia contra seus objetivos. Entretanto, desde que o Espírito Santo começou a reavivar a sua igreja, enchendo-a de Sua presença, os crentes passaram a vencer-nos e, com isto, nossos soldados se enfraqueceram ante a presença de Miguel. Perdemos várias esquadrilhas, danificaram nossas armas,  confundiram nossos propósitos, e vemos a glória de Deus tomando nosso espaço...

Começou a chorar desesperadamente. Dois soldados conduziram-no até o pátio, para que tomasse um ar e renovasse as forças. Os outros tremiam com as canetas à mão, como quem não via saída para a crise. Parecia que seus dias no governo estavam contados.

- “Senhores, eu também desejo dizer algo - afirmou o ministro das águas mundiais, colocando-se de pé - Como todos sabem, nos mares tínhamos verdadeiras colônias de soldados, principalmente nas águas de Salvador, no Brasil, nos países africanos e na Índia. Mas, devido ao crescimento da atuação do Espírito Santo - e fez um gesto de desespero, como que sentindo forte dor no coração,  -várias colônias foram desmanteladas e transmudadas para o abismo. A máscara feminina que usávamos no Brasil, tem cada vez menos adeptos, pois, quando nossos escravos começam o sacrifício, os crentes ficam orando, distribuindo literatura de ofensiva e pregações-relâmpago, desvirtuando e enfraquecendo nossas águas. Não sei o que fazer. Não sei mesmo...

Forte alvoroço na mesa. Em desespero, cada um acusava o ministério do outro. Uns acusavam o Sr. Adultérius, por fomentar o fim do casamento e tornar inexistente a infidelidade, já que todos eram infiéis. Outros gritavam ao Sr. Engodo, que permitia que a verdade fosse tão divulgada, e de forma tão livre. Outros ainda berravam contra o Dr. Médiuniun, por não inovar suas manifestações espíritas sobre os terreiros, centros e mesas. Enfim, era um pandemônio que se via.

De repente, ouviram uma forte batida na porta. Nem haviam se apercebido que dois homens adentraram à sala, escoltados pela guarda abadônica, exclusiva do Sr. Apolion. Estavam fortemente armados, e com sarcasmo no rosto. Tratava-se do chefe da espionagem secreta e assessor de manobras estratégicas.

- “Silêncio! Ouçamos o que os enviados têm a dizer. Podem falar. - Foi a declaração do primeiro ministro. tomando o microfone, o Chefe da Polícia Secreta deu um interessante relatório:

- “Estive, sob ordem do Sr. Apolion, investigando pelo mundo a atuação dos crentes, para encontrar algum ponto fraco, alguma área desprotegida, alguma junta não protegida pela armadura de Deus. Infelizmente pouco descobri. Conforme pesquisa anterior, principalmente depois que os avivamentos estouraram no universo. Sim, ganhamos algum terreno, quando alguns se enveredaram para o nosso lado, falando nossas línguas, tendo nossas manifestações, fazendo nossa vontade. Ainda há alguns remanescentes disto,  na pessoa de grandes líderes gananciosos por fama e poder. Mas decrescem a cada minuto. Certas igrejas estão surgindo, como as Comunidades, a Comunhão, as Missões independentes que nos estão destruindo. As igrejas tradicionais, a batista, a presbiteriana e a menonita, investem cada dia mais em missões para o mundo, e seus membros estão se santificando profundamente, o que nos tirou de cena de muitos lugares. Não está mais havendo briga como antes, disputas denominacionais, cisões, brigas por poder, divergências doutrinárias. Há um forte desejo de buscar a Deus, ouvir Sua palavra, atender ao seu Espírito, e isto em todo canto. Certos movimentos estão surgindo, agregando jovens em todos os lugares, concentrando tamanho poder, que nossos soldados saem aos gritos, não resistindo à abertura dada a Deus. Parece que os cristãos verdadeiros não estão mais querendo misturar-se com a idolatria,  a necromancia, o carismatismo, o ecumenismo, e isto é mau. Mau mesmo...

- “Mas eu tenho a solução!”- Exclamou o Assessor de Manobras Estratégicas. Entretanto, sem erguer as frontes dos céticos e derrotados ministros.

- “Descobri a única arma contra os crentes, capaz de DETONAR suas próprias igrejas, e ainda torná-las nossas agências de apoio, e isto em poucos meses!

- “Esse cara é louco!”- Exclamou o Sr. Venenus.

- “Vai dormir, seu escarnecedor! “- gritou o Sr. Feitiçus. - Não será você que irá nos ensinar o que fazer o que não conseguimos em séculos de disputas. Estamos é realmente perdidos...”

-  “Isto é o que V.Excelência pensa, Sr. Feitiçus. Antes de vir para cá, tratei de testar a teoria, e consegui, no prazo de 6 meses, mais de quatro mil adeptos numa só cidade!”

Êxtase total. Todos olharam para ele, ansiosos para saber como e aonde.

- “O Espírito Santo está unindo o Seu povo. Muito bem. Estão falando uma linguagem semelhante, cantando cânticos iguais, saudando-se de formas semelhantes, orando praticamente num consenso. Então eu pensei comigo: ora, se isto está acontecendo, por que não tirar vantagem? Lá no Brasil, por exemplo, o Life do Sul está estendendo um lençol de louvores pelo Brasil, cativando crentes de todas as igrejas; as Comunidades crescem numa proporção monstruosa; as missões de louvor e adoração também. Nas igrejas tradicionais há um espírito de unidade e espiritualidade. Ora, por que não pedir ao Dr. Mentirus, que use toda a sua perspicácia e engano, para envolvê-los no maior embuste deste século? Isto fiz. E eis o resultado.

Foi ligado o videocassete embutido, abrindo enorme tela na parede com visão tridimensional. Todos aguardavam o programa. O que seria?  Falar em línguas satânicas, para provocar confusões? Não, já havia sido  tentado e atualmente não estava dando muito resultado. Ecumenismo? Também era coisa do passado, só alcançando metodistas, anglicanos, luteranos e alguns poucos em todas as denominações evangélicas. Então o que seria?

Começa a fita. Um grande salão, repleto de jovens. Uns 5 mil, mais ou menos. Gente de toda espécie. No palco, uma parafernalha gigantesca de som e luz. As pessoas se espremem no espaço disponível. De repente, todos gritam. Começa a programação. O líder diz:

- “Aí, moçada, um som muito louco vai rolar. Vamos entregar o programa ao dono de tudo isto: Jesus...

- “Um momento - diz o primeiro ministro - Isto é uma abominação!”

- “Espere um pouco, Sr. Ministro. Só um pouco.”

A fita continua. Na oração, o líder diz:

- “Derrama tua energia viva, para que te sintam!”

Em seguida, entra o grupo Céu 6, num som bárbaro e eletrizante. A câmara mostra a moçada... delirando! Meninos agarrados maliciosamente aos pares, dançando soul, funk, Rap, rock, lambada, afro, samba, e muito mais.

-”Sr. Assessor, o senhor mudou a fita? Isto é programa nosso!”

- “Ai está a jogada, Sr. Ministro; são eles mesmos que estão fazendo isto!”

Em seguida, ouviram muitos améns, glória a Jesus, gritos de rock, danças e carnalidades à vontade. Então o líder pediu para que todos se assentassem para ouvir um rapaz testemunhar. Segundo ele, Deus é uma energia, muito louco e sensacional. Em sua prédica, ele diz que a igreja é caretice, coisa quadrada, “morocoxó”. Isto seguido de améns de todos os lados. Feito um apelo, as pessoas se submetem à energia.

- “Mas este é o Deus HÁ, Sr. Assessor!”

- “Ai está a nossa estratégia, senhores. Ai estão batistas, pentecostais, comunidades, presbiterianos, luteranos, e toda sorte de missões independentes. Eles não sabem, mas aprendemos sua língua, seus chavões, seus efeitos emocionais, suas palavras de ordem,  seus apelos e estamos usando de tal forma que, quando perceberem, estarão crendo em nós, pensando num Jesus Força, eletricidade, doidão, loucão, sem igreja, sem vida, um idiota perfeito, uma droga espiritual, um grande barato!”

Todos, unanimemente, levantaram-se, aplaudindo e dando gritos de urra ao Assessor. Agora estavam salvos, pois que, contra esta arma, os ingênuos cristãos não estavam imunes. Cairiam como patos na armadilha. Seria só uma questão de tempo. Ademais, as experiências estavam dando certo.

Lá fora os fotógrafos aguardavam a saída. Os elevadores estavam descendo. As portas do edifício se abriram e, para surpresa de todos, em lugar de descerem executivos, saíram 65 missionários, de bíblia em mãos, com glórias nos lábios, como os olhos cheios de entusiasmo, dizendo que precisariam cumprir a vontade de Deus, libertar o louvor, unir os cristãos, converter os jovens, etc. Lá estavam 65 novos movimentos que, dentro de meses, estariam em evidência no mundo inteiro...

Esta é uma ficção, escrita em 1990. Apenas e tão somente uma ficção.

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