SOMOS COMO A
NEBLINA...
210
São Paulo,
Brasil, 10 de fevereiro de 2012
Mais uma vez a
fragilidade da minha saúde expressou-se no peito, dizendo-me: "põe em ordem a
tua casa..." ( 2 Rs 20.1)
Como os amigos
sabem, tenho problemas cardíacos profundos, mantenho seu ritmo, pressão
arterial, evito o inchaço no tórax com medicação (um dos remédios parou de ser
fabricado, tenho consumido o que sobrou no meu estoque particular, Mexitil 200
mg).
Mas isso tudo
não mantém alguém vivo. No momento em que o Senhor disser: "é certo que
morrerás", eu irei. E como bendigo ao Senhor pelo perdão de meus pecados e pelo
sacrifício que Jesus Cristo fez na cruz do Calvário em meu lugar! Em Cristo Deus
me aceitou como um filho adotivo seu, lavou-me dos pecados e deu-me a vida
eterna. Aleluia!
Enquanto
dormia, pela madrugada, tive uma arritmia bárbara. Saltei literalmente da cama,
assustando a minha esposa. Ela ficou perplexa, assustada. Eu, ofegante, sem ar,
com uma dor intensa e contínua no peito. Seria infarto? Chamaria o resgate? O
SAMU?
Como conheço de
longa data os desequilíbrios do meu coração, corri para o andar de baixo, para
tomar dose dupla de minha medicação, uma vez que sem ela certamente eu
desmaiaria. Além do que a dor era intensa, como se eu tivesse levado um grande
chute no peito. As pontas das mãos e pés adormeceram e eu já enxergava tudo
amarelo.
Lembrei-me de
um e-mail que recebi por estes dias de um pastor muito conhecido, que extraiu um
rim e está se tratando numa casa de campo. Falou-me dos bem-te-vis e da
importância que estava dando a coisas que até então estavam relegadas a um plano
de menor importância. Dizia-me que queria dedicar-se às coisas que eram
verdadeiramente importantes, priorizar o que realmente valeria à pena no resto
do tempo que Deus lhe desse.
Tomei o meu
remédio. Elaine, branca como a neve, mais uma vez desceu, colocou a mão em meu
peito e ficou em oração, branda e contínua, amorosa e resigndamente, até sentir
alguma melhora. O meu peito quase ameaçava arrebentar. Mas aos poucos, com a
dose cavalar de propranolol e mexitil, analgésico e água, as coisas foram
tomando novamente o seu rumo, restando apenas a dor e o mal
estar.
Subi e fiquei
na varanda, a tomar um pouco de ar, nesta quente madrugada de verão. Uma brisa
mais fresca veio visitar-me. E a presença de Deus não me
faltou.
Vivo no bonus
desde outubro de 1982, quando os médicos mandaram minha mãe encomendar um
caixão. Ela não o fez e eu esqueci de morrer. Ela se foi e eu fiquei. O médico
também se foi e eu ainda estou aqui. Havia um propósito do Senhor. E eu bendigo
a Deus por estar envolvido em um plano dEle, em uma senda que Ele mesmo colocou
em meu caminho.
Mas sou mortal
e talvez o meu prazo de validade esteja se expirando. Não tenho medo algum.
Tenho gratidão! E tenho alegria. É claro que sentiria muito pelos meus entes que
ficariam, principalmente a esposa amada, meu irmão e família, minha irmã
adotiva, minha igreja. Mas certamente eles também seriam gratos pelo tempo que
tivemos juntos.
Só que esse
relógio (Kairós) não está nas minhas mãos. Só o Kronós. E neste eu ainda estou
vivo. Eu melhorei. Adormeci. A dor passou. Acordei pela manhã sem dor e sem
arritmia, sem falta de ar. O Senhor poupou-me novamente. Ele quis e fez
assim.
Só quero viver
o resto a dizer: "Fala, Senhor, porque o Teu servo ouve". E quero realmente
ouvir Sua voz: por onde andar? O que escrever? Onde te servir? O que dizer? O
que sentir? A quem testemunhar? O que estudar? E não quero apenas ouvir a voz;
quero COMPREENDER a voz, pois muitas vezes Deus nos fala, mas nós estamos como
que a ouvir só trovões, não discernimos a Sua doce e melodiosa voz. E a voz do
Senhor é poderosa, ela "quebra os cedros do Líbano".
Um dia
ofereci-me ao serviço do Senhor. Quero gastar-me até o final. Não penso nunca em
aposentar-me, talvez porque os anos ainda não pesaram nas costas, como em
veteranos obreiros da Seara. Mas gostaria de morrer em serviço, pregando,
escrevendo, orando, evangelizando, servindo.
Das três coisas
que dizem realizar um homem, já fiz duas: escrevi um livro e plantei uma árvore.
Ainda não tive um filho. Quem sabe o Senhor me abençoa neste afã e eu ainda tomo
em meus braços um infante do Senhor vindo de meus lombos? (pós scriptum: hoje,
2015, minha esposa espera a nossa filha. Aleluia!)
Bendigo a Deus
pelos artigos que escrevi, pelos livros publicados só na internet (Crônicas,
Páginas Soltas, Rota 44, Flor-de-Maio, Antes de Entardecer, Falando Francamente,
Praia Grande, etc). Bendigo ao Senhor pelas igrejas que servi (Sumarezinho, Vila
Mirante, Vila Souza, Boas Novas do Jardim Brasil, Bela Vista Osasco, Boas Novas
Osasco/Carapicuiba, Vargem Grande, Sinai de SP). Bendigo ao Senhor pelas
associações e convenções onde participei (CBB/CBESP/ABAFER/ABANOC/ABANORC/OESTE
CAPITAL, OPBCB). Bendigo a Deus porque nenhuma capacidade eu teria se do Alto
não fosse permitido, e unicamente para a glória e o louvor
dEle.
Prosseguirei
enquanto der. Até o fim. E o fim será só o começo.
E Deus limpará de seus
olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor;
porque já as primeiras coisas são passadas. (Ap 21:4)
São Paulo,
Brasil, 10 de fevereiro de 2012
Wagner Antonio de
Araújo
Igreja Batista Boas Novas do Rodoanel
em Carapicuíba, São Paulo, Brasil
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