Crônicas de Verão
05 - Quinta-feira, 19 de fevereiro de 2004
VISITANTES ESQUECIDOS
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Wagner
Antonio de Araújo 04/10/2003
Certa vez fui pregar em uma igreja da capital paulista. Cheguei
um pouco mais cedo, às 18:30 horas. O culto iria começar às 19. Como de vez em
quando acontece (...), a celebração iniciou-se um pouquinho atrasada, às 20
horas. Foram 90 minutos de banco, 90 minutos inesquecíveis e
desconfortáveis.
Ao chegar, sentei-me num dos bancos de trás.
As pessoas foram chegando e buscando seus próprios assentos. Notava-se que se
conheciam, pois saudavam-se, perguntavam das crianças, do trabalho, da comida,
do regime. Bem, talvez não tivessem me observado direito. Eu olhava para seus
rostos, conversavam bem próximos, mas não me notavam. Pensei: “será que o meu regime alimentar está dando tão certo assim? Será
que já estou invisível?”
O templo foi se enchendo e a garotada começou
a entrar. Sabe como é, adolescentes, jovens, é chegar e correr pra plataforma,
mexer na bateria, na guitarra, ligar microfone, etc. Quando um e outro se
encontram, é aquele “papo cabeça”: “e aí, mano? Belê?” E a tradicional resposta: “Só...” Bem, corriam pelo corredor do meio, bem onde eu me
encontrava, mas não me cumprimentavam.
O relógio marcava 19:40 hs, o templo estava
repleto. O meu banco ainda estava vazio. Foi quando chegaram algumas pessoas um
tanto mal educadas, que entraram para sentar-se nos demais lugares, pisando no
meu pé e sem usar a chave “com licença”. Como sou
discretíssimo, após entrarem de forma tão delicada, disse bem alto: “toda!!!”. Claro, pediram desculpas (não tinham
escapatória...)
O culto começou. Eu participei, mas estava com vontade de ir
embora. Cantamos, oramos, ouvimos louvores especiais, e então a direção do
trabalho me convidou para ir à frente. Alguns arregalaram o olho: “nossa, o pastor estava aqui e nem fizemos caso!” Bem, eu
preguei. E sabem sobre o que? “Não sejais como os
hipócritas, saudando só os seus irmãos”. Não diria que tenha sido uma
mensagem sob encomenda. Não foi. Mas que havia saído fresquinha do forno,
naquela hora, ah, isso eu não nego...
Isso vale para cada um de nós, crentes em Cristo
Jesus. Como estão as nossas igrejas? Como estão as nossas congregações? Como
estão os nossos cultos e atividades públicas?
Há igrejas péssimas, como essa onde eu preguei. O
visitante sente-se mal, parece um estorvo, não faz parte da panelinha, às vezes
não tem o perfil social da membresia, ou não é bonito ao ponto de despertar
interesses. Logo, é lançado no esquecimento. Entra mudo, sai calado. Para
compensar, fazem encenações de comunhão, onde alguém diz:
“vire para o seu irmão, beije ele, abrace-o, diga-lhe: eu amo você,
etc.”. Confesso que sinto dificuldades em encontrar legitimidade nisso.
Os visitantes dessas igrejas também.
Há igrejas boas: o visitante é saudado por
meia dúzia de pessoas, alguém lhe apresenta a família, às vezes o pastor o
cumprimenta também, alguns sorriem para ele, um introdutor o ajuda a encontrar
um bom assento, etc. Algumas até o cadastram, para receber correspondências
natalinas. Essas igrejas são boas, há muitas assim, graças a
Deus.
Contudo, há igrejas ótimas. O visitante simplesmente não se
sente visita; ele se sente acolhido, amado, estimado, desejado. Além de ser
também cadastrado por introdutores, os membros fazem festa, sem deixá-lo sem
graça. Se for homem, os homens vêm cumprimentá-lo, bater um papo. Se jovem, a
garotada já o enturma e entrosa. No culto, saudações afetuosas são-lhe
dirigidas, palavras de afeto. Ao final, é convidado a participar da
confraternização. Também recebe convites para outras atividades,
etc.
Muitas pessoas já se converteram por causa da
acolhida que receberam da igreja. Muitos não se sentem amados ou queridos em
canto algum, mas quando estão na igreja, sentem o afeto que lhes falta. Na
igreja os órfãos ganham pais, solitários ganham amigos e assim se forma a
família de Deus.
A minha pergunta é: como você classificaria a
sua igreja? Como péssima? Boa? Ótima? Qual a sua parcela de responsabilidade
nisso? O que você pode fazer para mudar, se necessário
for?
Lembremo-nos do que nos diz a bíblia: “Sede
hospitaleiros, porque alguns, sem o saber, hospedaram
anjos”. (Hebreus 13.2)
Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas de Osasco,
SP
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