Eu Pequei...
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"Pequei. Orem por mim.
Pastor José".
Imediatamente a igreja
entrou em polvorosa. Esta mensagem foi transmitida no facebook, nos e-mails, no
SMS dos celulares da membresia e no whatzap de muita
gente.
Maria ligou para
Joana:
"Querida, o que será
que aconteceu? Que escândalo! Quem diria, hein? O Pr. José, tão
santo!"
"Carlos", falou Pedro,
"tudo bem? Você viu a última do reverendo? Ele pecou! Sem vergonha! E desfilava
como um santarrão com a esposa no corredor da igreja, né? Agora quero ver! A
justiça não falha!"
"E aí, Broder? Tudo
naice? Meu, viu que o pastor pisou no tomate? Sério, meu! Não sei bem o que é,
mas não perco o culto de domingo. Quero saber!"
"Irmão Justino?", dizia
o diácono Anastácio, "precisamos deixar o Corpo Diaconal de sobreaviso, talvez
tenhamos que assumir com muita tristeza a direção da igreja; não podemos manter
um pastor em pecado".
E assim foi o sábado
todo. Ninguém ousava ligar para a casa do pastor. Afinal, o que poderiam ouvir
da parte dele? Teria sido um adultério? Como estaria a esposa? Ou será que
roubara a igreja? Ele sempre reclamava de falta de recursos. Poderia ser alguma
outra coisa pior, como homossexualismo, drogas, e ninguém queria dar cordas à
conversa.
No sábado às 22 horas
já havia 2 comunidades no facebook: "O PECADO DO PASTOR" e outra, "NÃO JULGUEM O
PECADO ALHEIO", dos que queriam defender o direito do pastor
pecar.
Chegou, enfim, o
domingo. Igreja cheia, vozerio nos corredores. Famílias sussurravam umas às
outras. Lá na frente o pastor sentado, em oração. Enfim, tomou a
palavra.
"Amada igreja, creio
que todos querem uma explicação sobre o meu torpedo e mensagem postada ontem
para vocês. Dizia eu: PEQUEI. OREM POR MIM. E isto é
fato.
E aqui quero dizer a
todos: não tenho pecado sozinho, tenho cúmplices aqui em nossa
igreja!".
"Ohhh...", foi um
vozerio geral e a prosa irrompeu no meio da assembléia. Uns olhavam para os
outros, perguntando-se: "será ela? será ele? foi
adultério?"
O pastor a tudo olhava,
perplexo, mas sabia bem onde queria chegar. Por fim, após o espanto,
falou:
"Sim, eu pequei. Pequei
gravemente contra o Senhor. E os meus cúmplices pecaram
comigo.
Pequei quando deixei de
falar de Jesus aos vizinhos de nossa igreja. Deus nos plantou neste bairro e nós
só servimos para atrapalhar o estacionamento nas garagens ou perturbar a
vizinhança com o ruído de nossas músicas e de nossas conversas. Pequei quando
silenciei sobre a mensagem de salvação. E não pequei sozinho, porque todos aqui
fazem parte deste Corpo de Cristo, desta igreja. Deixar de anunciar o evangelho
é pecado. "Se eu disser ao ímpio: Ó ímpio, certamente morrerás; e tu não
falares, para dissuadir ao ímpio do seu caminho, morrerá esse ímpio na sua
iniqüidade, porém o seu sangue eu o requererei da tua mão." (Ez
33:8)
Pequei quando deixei de
me apiedar dos sofredores deste bairro. Há tantos nos leitos em dor e doenças,
há tantos enlutados e entristecidos; há tantos pais precisando de ajuda para
suportar as tristezas com filhos perdidos em drogas e crimes, e eu nada fiz para
ajudá-los, para estender a minha mão para eles. Quantas viúvas há que passam
necessidades, desassistidas pelos filhos ou parentes e nós, com tanto pão à
mesa, pouco fizemos para dirimir tal sofrimento? "A religião pura e imaculada
para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas
tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo" (Tg
1:27)
Pequei quando deixei de
orar pelos irmãos, pelas crianças, pelas famílias e pelos habitantes deste
bairro. E não pequei sozinho, porque sei que os irmãos oram muito menos do que
eu. Orei mais por mim, mais por minha família, mais por receber de Deus as
dádivas que desejei, do que por vocês, meus irmãos em Cristo, que tanto precisam
de minhas intercessões; orei pouco pelos vizinhos da igreja e nem sei o nome das
pessoas que por aqui residem, nas ruas acima. "E quanto a mim, longe de mim que
eu peque contra o SENHOR, deixando de orar por vós; antes vos ensinarei o
caminho bom e direito." (1Sm 12:23)
Pequei quando imaginei
coisas ruins a respeito de vocês, tanto quanto sei que vocês pecaram de ontem
para hoje, imaginando mil coisas sobre a minha confissão de pecado pelo
facebook, pelos e-mails, torpedos ou qualquer mídia. Muitos pensaram que eu
havia adulterado, me desvirtuado moralmente, roubado, feito qualquer coisa que
fosse digna de exclusão. Muitos já me crucificaram sem piedade ou dó. Porisso eu
digo que vocês também pecaram, pois quando a nossa mente imagina o mal do nosso
próximo ou o prejulga sem piedade isso se chama juízo temerário e pode impedir
as nossas orações e nos levar à mais dramática condenação! "Não julgueis, para
que não sejais julgados." (Mt 7:1);"E disse-lhes: Atendei ao que ides ouvir. Com
a medida com que medirdes vos medirão a vós, e ser-vos-á ainda acrescentada a
vós que ouvis." (Mc 4:24)
Mas não quero pecar
mais. Eu quero agradar ao meu Senhor como crente, como pastor e como irmão em
Cristo. E convido a cada um a fazer o mesmo aqui, diante de Deus, publicamente.
"
Enquanto a esposa do
pastor tocava o hino TAL QUAL ESTOU, o pastor ajoelhou-se lá na frente. Aos
poucos, envergonhados, aproximaram-se os diáconos da igreja. Também os pais de
família, os jovens, as senhoras. Por fim, toda a igreja estava ali, ajoelhada, e
muitas orações emocionadas foram feitas ao Senhor com verdadeira
devoção.
Aqueles irmãos, após o
culto, postaram em seus facebooks e torpedos: "CONSERTEI-ME DIANTE DO SENHOR" e
testemunharam tão grande acontecimento em suas vidas e na vida de sua igreja.
Foi inesquecível.
Aliás, gostaria de
confessar: "eu pequei".
Que tal confessar
também?
Wagner Antonio de Araújo
04/09/2014
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