sábado, 6 de junho de 2015

memórias literárias - 197 - TORNEIRAS SECAS

Crônicas de Verão
02 - Segunda-feira, 01 de fevereiro de 2004
 
 
TORNEIRAS SECAS
197

Outro dia eu me peguei admirando a torneira da cozinha. Lembrei-me da semana em que ficamos sem água em São Paulo: caixas d’água vazias, banheiros inutilizados, banhos por tomar, um transtorno! Lembro-me que, ao passar em frente da torneira, eu pensava: “nunca desejei tanto que uma torneira funcionasse! Funciona, torneira! Funciona!” Mas ela não funcionava. Somente alguns dias mais tarde a SABESP regularizou o abastecimento.
 

Às vezes nos assemelhamos às torneiras secas, em nossa vida cristã: por mais que os registros estejam abertos, não há uma gota de água, não há satisfação interior, não há o menor sentimento da presença de Deus em nós. Parece que estamos num deserto, num lugar árido. É como se o céu fosse de bronze e as nossas orações não passassem da cabeça. Estamos secos, estamos com sede.
 

As torneiras só vertem água porque estão ligadas ao cano da distribuidora. Caso contrário, poderíamos viver desejando e nunca veríamos a água chegar. Lembro-me de Lawrence da Arábia, que, numa de suas viagens para a Europa, levou amigos árabes  do deserto para um hotel. Após sair e retornar ao apartamento, encontrou-os arrancando a torneira do banheiro. Ao questioná-los sobre o que faziam, disseram: “Nós queremos levá-la para o deserto, assim teremos água abundante sempre!” Claro que ele teve que explicar-lhes que não era simples assim. Sem canos, sem água.

Mas também é preciso que haja água para ser vertida! Podemos ter o melhor encanamento do mundo: canos de primeira qualidade, dobras, cotovelos e peças de conexão as mais caras e famosas. Mas se não houver água para suprir a canalização, de que adiantará tudo isso?

Vivemos como uma torneira seca: queremos a presença de Deus, queremos ver maravilhas e milagres, desejamos ser ricamente usados, mas nada acontece, parece que estamos vazios, sozinhos, insípidos,  mortos, fracassados. Aquela comunhão de outrora deu lugar a um vazio tão grande e tão intenso!

É preciso fazer a água escoar. É preciso que a distribuidora celestial abra as comportas, os registros, os canos, e faça novamente circular os “rios de águas vivas”, as “fontes de água viva” dentro de nós.  Lembro-me bem que a SABESP só liberou a água quando tudo estava em ordem, quando realmente o reservatório atingiu o nível adequado. Às vezes a água quase chegava, mas não enchia as caixas: o nível era baixo. Também conosco muitas vezes acontece de querermos e de não conseguir uma comunhão plena com o Senhor, porque o nosso nível de comunhão está baixo, está relegado aos segundo plano!

Para que a nossa torneira seca receba novamente a água da comunhão é preciso “voltar ao primeiro amor” (Apocalipse 2.4), reconhecendo que o Senhor já teve muito mais de nós do que tem agora. É preciso sondar o coração “e ver se há algum caminho mau” (Salmo 139.23), pois Deus não permite que a iniqüidade se misture com a santidade (Isaías 1.13). É preciso crer que Deus “é galardoador dos que o buscam” (Hb 11.6) e buscá-lo com fé, que é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não “vêm” (idem, 11.1).

Hoje a torneira seca é só uma página árida nas minhas memórias. A água verte abundantemente por elas e nas caixas. Que assim seja também em nossa vida com Deus: que a graça do Senhor esteja derramada abundantemente sobre nós. Que estejamos na plenitude da comunhão, consolados e consolando, felizes e fazendo felizes os demais, que Jesus em nós seja uma realidade constante!

Torneiras vivas, irmãos!
 
Pr. Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas de Osasco, SP
 
texto escrito em 01/10/2003

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