terça-feira, 30 de abril de 2013

memórias literárias - 74 - TÍTULOS VAZIOS


74 - TÍTULOS VAZIOS


Recebi há pouco uma carta, convidando-me para um congresso em certa igreja. No bojo do convite estava escrito: “Você não deve e não pode perder o evento, porque não serão simples pastores a ministrar a Palavra e a oração, mas bispos, profetas e três apóstolos!”


Pensei comigo: já vi esse filme antes. Quer dizer, ver eu não vi. Eu li.

Conta-nos a bíblia, em Lucas 22.24-27, que os apóstolos estavam discutindo e polemizando no dia em que Jesus celebrava com eles a Ceia. Era um momento de extrema solenidade e grandioso significado. E em quê estavam ocupados? Em saber quem era o líder, quem era o maior. Jesus afirmou-lhes categoricamente: “Entre vós não será assim, antes o maior entre vós seja como o menor, e quem governa como quem serve”. (v. 26).

Em outra ocasião, quando o Senhor fazia o célebre sermão contra os fariseus, declarou em alto e bom som: “Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi; porque um só é o vosso Mestre, e todos vós sois irmãos. E a ninguém sobre a terra chameis vosso pai; porque um só é o vosso Pai, aquele que está nos céus. Nem queirais ser chamados guias; porque um só é o vosso Guia, que é o Cristo.” Isto está em Mateus 23.8-10.

Ou a minha bíblia está desatualizada (há tantas bíblias ao gosto do freguês hoje em dia, não é mesmo?) ou então a igreja evangélica brasileira entrou por uma estrada altamente perigosa. Jesus disse: “Mas o maior dentre vós há de ser vosso servo. Qualquer, pois, que a si mesmo se exaltar, será humilhado; e qualquer que a si mesmo se humilhar, será exaltado”. (idem, 11 e 12)

É que hoje vivemos a realidade defeituosa da “qualidade total”, dos projetos megalomaníacos de ostentação de números e poder em várias de nossas igrejas. É a sedução dos números e a sedução dos poderes.

Para demonstrar o poder de Deus apresentam um relatório do número de pessoas que as freqüentam. E, para deixar mais oficial ainda, hierarquizam os ministérios, nomeando pastores simples, pequenos líderes de igrejas insignificantes, até os grandes apóstolos, detentores de maior poder e maior unção. Meu Deus, a que ponto estamos chegando! Por tantos anos lutamos contra a igreja institucional, a igreja-hierarquia, o romanismo, e agora estamos fazendo pior ainda, porque, não raras vezes, os chamados “apóstolos” não possuem qualidades espirituais, intelectuais ou morais nem para serem obreiros! É tão fácil virar apóstolo hoje em dia!

Só fico pensando: o que virá, depois de apóstolo? Sim, porque haverá uma hierarquia, isso está no ser humano. Será superapóstolo? Será querubim? Ou então será o semideus? Meu Deus...

Eu sou um pastor. E o que me faz maior ou melhor que meus irmãos? Nada! Eu sou igual a eles, só recebi do Senhor uma incumbência, uma responsabilidade, e sou duas vezes responsável: responderei pelo que vivo e também pelo que ensino. Mas sou um irmão, e só isso! Respeito o bispado das denominações historicamente episcopais. Mas atualmente a questão não é essa. O que transforma um pastor num bispo, nos novos cultos evangélicos, tem mais a ver com abrangência, carisma e coleta, do que com administração. “Arrecadam mais, ajuntam mais gente”. E onde está escrito que deveriam ser apóstolos quando alcançassem esses alvos?

Hoje, ser pastor parece não ser mais suficiente. Missionário então, só os remanescentes. Agora a moda é apóstolo, mesmo que não tenham sido testemunhas oculares do ministério de Jesus. Aliás, foi tão difícil achar um substituto para os doze, votaram em Matias, quando talvez Paulo devesse figurar entre eles, e agora temos verdadeiras fábricas de apóstolos.

E o que eles têm de diferente? Dizem que são mais ungidos, que manipulam as forças espirituais com maior autoridade, etc. Claro: o pretexto é a abrangência do significado da palavra: missionário, fundador de trabalhos, pioneiro, etc. Ou então as novas profecias que vão aparecendo, recomendando a ressurreição e restauração do "ministério apostolar". E assim vamos caminhando, apostolando a igreja evangélica.

Que Deus nos ajude a voltar às páginas da bíblia! Vamos parar de encaixar pessoas no versículo que cita “apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres” e vamos começar a ter a humildade de dizer: “sou só um servo do Senhor, e nada mais”. Paremos de ofuscar a beleza de Cristo com a feiura da vaidade humana! Paremos de nos autopromover, sob o pretexto da espiritualidade, e vamos fazer valer o nosso título de cristãos!

Ministros: sejamos só irmãos, só pastores, isso já basta. Que Cristo cresça, e que nós diminuamos! Seja Deus engrandecido, e que o Espírito Santo nos ajude! Amém.

Wagner Antonio de Araújo, irmão em Cristo, chamado para servir como pastor no rebanho de Deus.
Igreja Batista Boas Novas de Osasco, SP
bnovas@uol.com.br

segunda-feira, 29 de abril de 2013

memórias literárias - 73 - PALAVRAS MEDICINAIS


73 - PALAVRAS MEDICINAIS
Certa feita o Senhor Jesus Cristo falou: “pelas tuas palavras serás condenado, e pelas tuas palavras serás justificado” (Mt 12.37). Tal juízo é sobremodo maravilhoso, porque não tem apenas um sentido escatológico, para o fim dos tempos, mas possui também um caráter presente, atual, dia após dia.

Nós somos o que falamos. Em Provérbios 23.7 nós encontramos a afirmação: “Aquilo que ele pensa, assim ele é”. Nós encarnamos as idéias que temos de nós mesmos e do nosso futuro. “Faça-se conforme a sua fé”, frase costumeira do Salvador (Mt 9.29), é real e atual, devendo ser usada hoje, já!

Portanto, temos que tomar conta de nossa boca (e de nossos pensamentos também, porque não é apenas o que dizemos com os lábios, mas o que dizemos em pensamento também). O Salmista diz: “coloca um vigia nos meus lábios” (Salmos 141.3).

Se nós pensarmos em coisas boas, elas terão solo fértil para acontecer, o que não significa que deixaremos de passar por provações e lutas. O apóstolo Paulo diz, em Fp 4.8: “Ocupem o pensamento de vocês com coisas boas, louváveis, elegantes, virtuosas, puras e justas.” Mente sã, corpo são. Mente bem ocupada, dia a dia bem vivido.

Há palavras medicinais que podem operar maravilhas em nossos corações! Precisamos aprender a usá-las e aplicá-las. Afinal, a tendência da carne, pecaminosa, sofrendo a influência do maligno, é para a depressão, para a derrota, para o fracasso, para a tristeza, para o desânimo. Jesus afirmou que veio nos trazer vida, e vida com abundância (Jo 10.10).

Eu, particularmente, se deixado ao léu da minha mente, dos meus traumas (e quem não os tem?) e do meu coração, tenho a tendência de entrar em tristeza e depressão. Como combato e venço tais situações? Com palavras medicinais. A seguir, algumas que me ajudam e me fazem “mais que vencedor por aquele que me amou”, conf. Rm 8.37:

Pensamento: “EU PERDI”. Remédio: “Eu sempre sou conduzido em triunfo porque estou no centro da vontade de Deus. Logo, não perdi, eu ganhei!” (cf. II Co 2.14; 12..10).

Pensamento: “FUI ENGANADO”. Remédio: “Todas as coisas contribuem para o meu bem, Deus permitiu essa tristeza para que eu amadurecesse, e nada poderá me abalar, porque sou como o Monte de Sião" (cf. Rm 8.28; 5.4 e Salmo 125.1).

Pensamento: “VOU DESISTIR”. Remédio: “Jesus disse que aquele que perseverar até o fim será salvo, logo, também salvarei esse projeto com perseverança; em nome de Cristo eu salto muralhas, conquisto exércitos e tenho uma mesa preparada na presença dos meus adversários. Eu já venci!” (Cf. Mt 24.13; Salmo 18.29; Mt 23.12; Sl 23.5)

Pensamento: “FUI INJUSTIÇADO”. Remédio: “O Senhor é quem pleiteia a minha causa, eu estou do lado do bem e da justiça; não há causa perdida para aquele que confia no Senhor; se alguém me lesou de um lado, eu receberei do Senhor muitas vezes mais por outras fontes”. (Sl 43.1; I Pe 3.13; Pv 11.18)

Pensamento: “TENHO MEDO”. Remédio: “O medo é uma forma maquiada de orar; assim, se eu temer, estarei desejando o que temo. Portanto, nada temerei, pois Jesus mandou eu não ter medo. Não estou sozinho, Cristo está comigo, e pela fé eu já contemplo a vitória, sabendo que a vontade de Deus prevalecerá. O meu amor é perfeito e já lançou fora todo o medo.”  (Mt 17.7; Mc 11.24; I Jô 4.18).

Bem, estas são as palavras medicinais que eu uso. Há muitas outras. Mas eu lhe sugiro que escreva as suas. Baseie tudo na Palavra de Deus, pois é ela que é viva e eficaz, e seja alguém cheio de vida e sucesso!

Wagner Antonio de Araújo,
Igreja Batista Boas Novas de Osasco, SP
bnovas@uol.com.br

memórias literárias - 72 - TUDO É ESPETÁCULO


29/04/2013
72 - TUDO É ESPETÁCULO
Tudo é espetáculo.
Um assalto é show: as câmeras filmam, mostram as agressões, o sangue, gravam os tiros, o horror, a fuga e nós, consumidores de mídia, assistimos a tudo não mais com ares de indignação, mas de expectadores.
Um culto é filmado. O primeiro propósito era registrar a prédica e a música. Porém hoje tudo mudou. Um grande auditório torna-se multifacetado: câmeras de diversas posições flagram as lágrimas do povo, as mudanças de posição nos instrumentos de corda, as caras e bocas dos que oram, cantam, tocam ou dirigem, os flagrantes de espiritualidade, os discursos, as propagandas. O culto tornou-se um show.Alguns assistem para adquirir conhecimento; outros, pela crítica; ainda outros para satisfazer a consciência pelo culto perdido em sua própria igreja.
O carro na estrada filma a viagem. É um vídeo contínuo, com direito aos sons de dentro, do rádio, da voz, do celular, do painel, dos buracos por onde passa. Filma as infrações, filma as discussões, filma as colisões. Editados, tornam-se campeões de audiência para um público ávido por acidentes, de preferência fatais, um mais violento que o outro. Tornam-se astros de "vídeos incríveis" ou cenas cômicas de "videocassetadas".
O amor virou mídia. Câmeras indiscretas filmam a privacidade do leito conjugal, gravando filmes impróprios para quaisquer terceiras pessoas. Contudo, para que filmar isto? Certamente para que algum flagrante possa escapar da vigilância do "prudente casal" e tornar-se alvo de desejos incontidos ou elementos para detetives e processos judiciais de divórcio. Não há limites para o público e o privado; aliás, nada mais é privado, pois até os banheiros possuem câmeras e algumas no próprio sanitário...
As pessoas viraram perfis nas redes sociais. Quem não tem facebook não existe; quem não tem twitter não diz nada. Quem não se cadastra com e-mail e celular não faz parte do mundo. Ainda depois de morto alguém continua sendo alguém se existir alguma página, blog, identidade em rede social ou twitter em seu nome. Os consulentes estão pouco ligando se são as pessoas verdadeiras a falar; tudo o que vale é o "avatar", o ícone, o símbolo, o sucesso gerado pela audiência.
Que mundo é este? Um mundo ridículo, de uma geração má e perversa, que vive um estado de imbecilidade de hiena e de maldade ontológica, buscando o horror a qualquer preço. Os grandes formadores de opinião (Hollywood) ensinam e propõem cenários de violência, onde o sofrimento e a morte geram sites de audiência que ganham fortunas com as vítimas, e então, depois da pedagogia da desgraça aparecem em vídeos de campanhas contra a tortura e os maus tratos. Que mundo é este, que filma tudo e a tudo transforma em espetáculo?
É um mundo de horror, sem beleza nem ternura, sem o subentendido ou o imaginário. É um mundo explícito de manifestação de todo o mal residente no coração e na mente humana, de um ser corrompido pelo pecado. A mídia imediata de comunicação (telefone, celular, internet, satélite, TV etc) tornaram imediatas as manifestações e os compartilhamentos. Como nós damos o que temos, então o resultado é esse: um mundo de terror visual, auditivo, sentimental.
Acabou o tempo da poesia, do descrever em versos o que o coração sentia. Ah, belos tempos, onde olhares trocados diziam coisas e os rostos em rubor denunciavam a compreensão! Atos de amor, pronunciamentos elegantes, desejo de conhecer o longínquo, a sensação da descoberta de novas terras, culturas, pessoas, países, tudo isso ficou no passado. Antes havia conhecimento limitado para inteligências aguçadas. Hoje há excesso de conhecimento para mentes raquíticas, preguiçosas e adestradas para o mal.
Onde tudo isso acabará? Falta ainda algum limite de privacidade a ser rompido? Terá algo que ainda cause vergonha a alguém? Se os homens não acordarem para o mal propagado estarão condenados a se destruírem. Mas, o que digo eu? Isto é tudo o que o homem conseguirá: destruir-se a si próprio, queimando dentistas trabalhadoras, degolando o pescoço de moças, explodindo panelas de pressão nas maratonas ou espirrando gás venenoso sobre populações inteiras.
Talvez seja a chegada do tempo do fim. O juízo divino virá e pode ser que a montagem do cenário esteja quase completa: um mundo jazendo no maligno.
Contudo, ainda há um lugar sem câmera, sem microfone, sem filmagem, sem acesso às redes sociais: é o coração contrito a buscar a Deus no recôndito do seu quarto (que pode ser na montanha, na praia, no mato, na cidade, na multidão ou no deserto). É o "entra no teu quarto e fica à sós com o teu Deus". É o lugar da oração. Sim, neste ainda há privacidade. Deus e eu, e mais ninguém. Mas tem sido um local tão pouco frequentado! E, conquanto impopular, ainda é o melhor lugar do mundo!
Com licença, que estou indo pra lá.
Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas do Rodoanel em Carapicuíba, São Paulo, Brasil

segunda-feira, 22 de abril de 2013

memórias literárias - 70 - OBRIGADO, SENHOR, PELO "NÃO"!


70 - OBRIGADO, SENHOR, PELO "NÃO"!
23/04/2013
Senhor, eu venho Te agradecer. Não vim pedir nada, apenas louvar-Te pelo NÃO à minha oração!
Obrigado, Senhor, por não me dares o que eu pedia. Oh, Pai, como eu era imaturo! Eu tanto queria, tanto desejava, tanto buscava, mas não avaliava o quanto aquilo iria me prejudicar! Sim, Pai, pois com a maturidade de hoje pude perceber que um SIM naquela altura seria a minha perdição, o meu fracasso, a minha derrota estrondosa. Mas Tu disseste "NÃO" e hoje eu Te louvo por isso!
Obrigado, Senhor, por não teres me curado! Sim, Pai, pois a minha cura seria uma doença para o meu próprio orgulho! Não imaginava que estarias comigo na dor e na enfermidade, pensava que eras apenas o Deus da cura! Ledo engano! Pude aprender que o Teu poder se aperfeiçoa na minha fraqueza, e pude perceber que enquanto estava fraco Tu eras a minha força! Ah, Deus bendito, muito obrigado por me dares o equilíbrio entre o ímpeto de poder fazer de tudo e as limitações inerentes à minha própria fragilidade! O teu "NÃO" proporcionou-me humildade, cuidado, dependência e absoluta necessidade de Te buscar dia e noite!
Graças Te dou, Pai amado, por não me permitires casar com quem eu desejava no passado! Sim, Senhor, pois as paixões humanas são tão mesquinhas e egoístas, que não percebemos a necessidade de buscar a Tua vontade, a Tua orientação bíblica e a Tua aprovação! Quando apaixonados vivemos cegos, pensando enxergar melhor do que Tu! Oh, Senhor, obrigado por não atentares nas copiosas lágrimas que derramei, nos soluços e prantos incontidos noite após noite, quando as quimeras desmoronaram como um castelo de areia! O Teu "NÃO" foi o Teu ato de amor pela minha vida, protegendo-me de um futuro solitário, destruído e infeliz, ainda que eu pensasse o contrário. Foi o Teu "NÃO" que me trouxe a felicidade extrema nos dias de hoje, quando Tu me concedeste aquela que me faria feliz e com quem eu Te serviria. Oh, Deus, graças pelo "NÃO" das melancolias passadas!
Obrigado, Senhor, por não me suprires dos recursos da forma normal, usual, rotineira. Obrigado por me manteres tantas vezes com os recursos parcos e inconstantes, pelas horas de incerteza e pela carteira vazia! Foi no pão só para o dia que eu aprendi a louvar-Te pela bênção de hoje e confiar que Tu me supririas no amanhã! Obrigado pelo "NÃO" para o pagamento pelas fontes certas; isso me deu a graça de ver o Teu suprimento pelos "corvos de Elias" que não tardaram a trazer-me carne e pão, além da água fresca do ribeiro junto aos meus pés! Se Tu não permitisses que eu passasse por isso não saberia como é bom confiar em Ti e não teria testemunho suficiente para pregar aos meus irmãos! Graças Te dou pelo "NÃO" temporário!
Também dou graças pelo "NÃO" doído e definitivo quanto à cura de minha mãe. Tu a levaste, ainda que Daniel e eu clamássemos diuturnamente por sua recuperação e preservação! Ah, Senhor, quantos argumentos nós Te demos! Dissemos que mamãe ainda viveria para Ti, que Te daria o seu melhor, que poderia cuidar dos netinhos que viesse a ter e que nós precisávamos dela. O Teu "NÃO" foi contundente, foi fatal para as nossas emoções. Mas percebemos que com a partida de mamãe na hora certa não houve uma única página rasurada ou mal escrita em sua vida de crente, pois desde a sua conversão essa mulher foi exemplar, consagrada e deixou um rastro de luz pelo caminho. Tivesses respondido com um "SIM" e talvez ela tivesse caído nas tentações de Ezequias, o rei, que, após receber um bônus de 15 anos, colocou a perder parte de seu grande testemunho de homem bom, temente e piedoso. Obrigado, Senhor, pelo "NÃO".
Os Teus "NÃOs" são bênção para mim. Prefiro os Teus "NÃOS" amorosos, sábios e soberanos, do que os "SIMs" irracionais, temporários e egoístas. Por isso Te amo, Senhor, pois és sapientíssimo, gracioso e diriges a minha vida com harmonia e com segurança. Perdoa a minha imaturidade passada, quando reclamei do "NÃO" em tantas oportunidades e ajuda-me a fazer das experiências passadas um chão pavimentado para os  "NÃOs" amorosos que ainda receberei. Comprometo-me a reclamar muito menos e a agradecer muito mais!
Em nome de Jesus.
Amém.
Wagner Antonio de Araújo

memórias literárias - 69 - AMIGOS


69 - AMIGOS


Na hora da necessidade é que conhecemos os verdadeiros amigos. E é interessante: a geografia da amizade é diferente da quotidiana: os amigos que achávamos que estariam perto quando deles precisássemos, ficaram distantes, mui longes. E aqueles que, muitas vezes, moravam tão longe, tão distantes, foram os que mais perto estiveram! Daniel e eu experimentamos isso na pele, quando internamos nossa saudosa e querida mamãe no hospital, e quando a enterramos. Quantas ligações e e-mails de gente distante, e de gente próxima também. Mas, quão surpreendente nos foi detectar a ausência de alguns que garantíamos não faltarem nessa hora!

Ter amigos é algo fundamental. Não precisamos ter muitos. Tenhamos poucos, mas cuidemos bem deles. Um dia alguém me disse: "Eu não tenho nenhum amigo". Eu respondi-lhe: "A recíproca é verdadeira: ninguém o tem como amigo também". Às vezes virar a mesa nos confronta com o problema: queremos que os outros sejam algo para nós. Queremos ter amigos, mas não queremos SER amigos. É bom que se saiba que SER é melhor do que TER, porque o primeiro é intrínseco ao ser, faz parte de nossa composição interior; mas o segundo pode ser apenas ilusão.

Alguns tem amigos porque são ricos, são bonitos, são famosos. Está aí a experiência do Filho Pródigo para não nos deixar na mão. Enquanto tinha dinheiro e pagava tudo para seus companheiros, não faltava comida, companhia, elogios, mulheres, carinho, romance, etc. Quando tudo isso acabou, os amigos foram embora. Certamente ele TINHA amigos, mas NÃO ERA amigo.

Ser amigo é estar presente, mesmo ausente. Não preciso que meus amigos me afoguem, vivendo em minha casa, alugando o meu telefone ou exigindo a exclusividade do meu tempo e apreço. Quem faz isso costuma afastar as pessoas de si. "Não ponhas muito os pés na casa do teu próximo; para que se não enfade de ti, e passe a te odiar." (Pv 25:17). O amigo está presente no coração, no exemplo que dá, nas orações que faz, na verdade que vive.

Ser amigo é ser capaz de doar-se em prol do outro. E aqui eu posso citar alguém que deixou um rastro de testemunho incalculável: a minha mãe. Ela não podia sair de casa, suas pernas não ajudavam. Outrora socorrera inúmeras pessoas doentes, sendo acompanhante em hospitais, cuidando dos enfermos em casa, fazendo a feira para quem não podia, etc. Agora, presa à casa, não podia fazer nada pelos amigos. Então descobriu um jeito: ligar para eles. Ela sabia que algumas pessoas precisavam acordar cedo. Então fazia o "serviço maternal de despertador matinal". Ligava para as pessoas (o pastor, as minhas tias, primas, membros da igreja), e as despertava com um gostoso e afetuoso bom dia, e algumas palavras de ânimo e força. Daniel e eu éramos acordados por ela. À noite, quando ia repousar, ligava para algumas pessoas, cantando uma antiga canção da TV TUPI, dos cobertores Parahyba, quando as criancinhas iam para a cama, e fazia uma oração, dando um beijo telefonal de boa noite. Essas pessoas precisavam; não pediam, mas mamãe dava. Para ela, o que Cristo ensinou era mais importante: dar, ao invés de receber. Essa era a minha mãe! Não é à toa que precisaram de dois veículos para conduzir as homenagens florais em seu enterro! Ser amigo é isso! Dar despretenciosamente, dar com amor, dar com dedicação.

Ser amigo é não omitir a verdade. É dizer a coisa certa, NA HORA CERTA, e do jeito certo. O amigo sabe falar as coisas. O amigo sabe dizer tudo com altruísmo, com misericórdia, com compaixão. O amigo não ilude, dizendo ao outro que está tudo bem, quando na verdade não está. Amizade exige verdade, sinceridade, honestidade. Qualquer coisa aquém disso, não é amizade; é hipocrisia. Mas tudo tem sua hora e seu jeito. O amigo sabe respeitar o tempo do outro, o momento certo para o outro. Não se constrói amizade sobre a mentira. E sobre isso eu posso testemunhar com propriedade. Tive um namoro, no passado, cuja moça não apreciava as pessoas que me eram importantes. Jovem e imaturo, decidi afastar-me dos amigos, em apreço a ela. O Dr. Roberto Cardozo, meu amigo, escreveu-me uma carta, de 12 folhas, registrando tudo o que já havíamos construído em nossa amizade, lamentando o afastamento, e dizendo que, no futuro, se eu me arrependesse, que as portas estariam abertas. Dito e feito! Perdi a namorada. Só aí acordei. E o meu amigo estava lá, pronto a perdoar-me, a dar-me a oportunidade de recomeçar. Amizade é isso!

Por fim, amizade é interesse espiritual. Se você é crente, então a alma, o espirito do seu amigo são coisas importantes. Você deve importar-se com a salvação dele. Há pessoas que, para preservar a amizade, nunca testemunham ou compartilham o plano da salvação. Isso é errado. Conheço muitas pessoas desesperadas, que não se perdoam por terem vivido anos e anos ao lado de um amigo, e nunca terem testemunhado de Cristo! Não convém que seja assim. Antes, devemos buscar a sabedoria e a oportunidade para compartilharmos a fé. O nosso testemunho conta muito! Se a nossa vida não bater com a nossa prédica, ou com a nossa religião, então pregar ou compartilhar valerá pouco. Mas, se formos cumpridores da Palavra, e não meramente ouvintes e observadores, teremos grande poder de persuasão.

Vamos cultivar amigos?

São Paulo, 04 de janeiro de 2006

Pastor Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas de Osasco, SP
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sábado, 20 de abril de 2013

memórias literárias - 68 - ABRE A BOCA


68 - ABRE A BOCA


Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito; abre bem a tua boca, e ta encherei. (Sl 81:10)

Essa expressão sempre chamou a minha atenção: “abre bem a tua boca, e ta encherei”.

Lá na roça, não raras vezes, vi os pássaros a alimentarem seus filhotes com alimentos armazenados em seus próprios bicos. Os bichinhos, ainda tenros, não podiam alimentar-se direito, então os pais lhes nutriam. Também criamos em casa periquitos australianos. Houve época de termos 60 aves. Que saudades dessa atividade! Mas me lembro perfeitamente que o macho comia, comia, comia, passava para o bico da fêmea, que passava para o bico dos filhotes. Às vezes a ninhada era composta de dez ou doze aves! Que lindo vê-los a deixar o ninho, filhotes de penas coloridas, já com ares de adultos!

Deus fala ao povo hebreu que os tirara do Egito. E isso traz à memória quarenta anos de peregrinação no deserto! Ninguém comeu areia, muito menos um milhão e meio de pessoas. Também não cultivaram verduras ou criaram gado, ainda que alguns eram ofertados em sacrifício. Não havia tantos animais para tanta gente ao mesmo tempo.

Então nos lembramos do “pão dos anjos”: “O homem comeu o pão dos anjos; ele lhes mandou comida a fartar.” (Sl 78:25). Era o maná, que lhes supria as necessidades muito mais que qualquer “herbalife” dos dias atuais. Eles não morreram de fome. Eles não morreram de sede. Eles morreram de velhice e de rebeldia, mas não de consequências da falta de cuidados básicos.

Deus diz que, se abrirmos a boca, ele a encherá. O que significa isso?

Significa suprimeito. Deus é supridor. Deus é providente. Ele cuida dos seus filhos. O salmista diz que, já sendo velho, nunca vira o justo desamparado ou a mendigar o pão. Recordo-me de um velho pilantra, que esmolava em minha rua. Quando soube que éramos crentes, dizia ser membro de uma igreja, mas que essa vida de pedinte viera a calhar, pois dava para pagar a faculdade da filha e levar boa vida. Ao chamarmos sua atenção, além de xingar-nos, nunca mais voltou. Claro! Ele não era um servo de Deus, mas um pilantra. Um servo de Deus não esmola. Um servo de Deus tem a família cristã, a igreja, que cuida dos que estão desamparados e necessitados. Um servo de Deus tem a oração, recurso maravilhoso de quem confia no Deus que serve.

Meu antigo pastor tinha dez filhos adotivos. Alimentar uma família dessas não é fácil! Um dia não havia comida. Ele então colocou todos ao redor da mesa, pratos e talheres, e deram graças pela fome e pela sabedoria e propósitos de Deus. Naquela mesma hora uma senhora tocara a campainha. Aflita, pediu para que descarregassem do carro dela uma compra de mantimentos para um mês, que Deus havia ordenado ao seu coração para fazer. Detalhe: ela não conhecia o pastor e nem a igreja. Foi embora, e o pastor nunca soube quem era ela.

Como diria um pentecostal amigo meu: “ÊTA DEUS MARAVILHOSO, SÔ!”

Abra a boca! Não, não é um dentista a falar. É Deus. E ele promete enchê-la. Não de doces, mas de alimento. Não de caprichos, mas de suprimento do necessário. Amém.

Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas de Osasco SP
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quarta-feira, 17 de abril de 2013

memórias literárias - 67 - ORA


67 - ORA
Quando não entenderes o porquê de tudo isso,
Quando não compreenderes como foi que a situação chegou a esse ponto,
Quando te desesperares da própria vida em função do sofrimento,
Ora.

Quando teu pai abandonar-te, sem dar-te chance de explicar,
Quando tua mãe não tiver misericórdia, julgando-te sem compaixão,
Quando tua esposa acusar-te injustamente, sem que tu sejas culpado,
Ora.

Quando teu marido não mais amar-te,
Quando teus filhos de tua casa forem embora,
Quando teus amigos, sem saber, julgarem-te sem que sejas culpada,
Ora.

Quando tua luta estiver tão grande,
Quando o desespero envolver teu pranto,
Quando a amargura colorir teu rosto,
Quando a solidão tornar-se teu manto,
Ora.

A oração é o começo, ela é o fim também,
Quando não conseguires cantar porque não sentes,
Ou não conseguires ler, porque não podes,
Nada poderá impedir-te de orar ao teu Pai bendito.

Ele, com fidelidade,
Jamais te abandonou;
Mesmo no desespero do teu andar solitário
Ele ao teu lado continuou.
Mesmo quando desististe de ti próprio, Ele não descartou-te
E foi contigo, passo a passo, a guiar-te, a assistir-te.
"Não entendes isto agora" disse Ele,
"Entenderás depois"

Se por erros cometidos, ora e pede perdão.

Se por mágoas infinitas, ora e abandona-as para sempre.

Se por dúvidas sem nexo, ora e esquece-as.

Se por dívidas sem fim, ora e paga-as.

Se por recursos que não tens, ora e pede-os

Se por trabalho que te falta, ora e procura-o

A oração é o remédio,
ela é também o consolo.
A oração consegue ir
onde a dor, a mágoa e o grito não podem.

Grita bem alto e não serás ouvido;
Ora baixinho e o Senhor te escutará.

E quando menos perceberes
Teu problema terá ido,
Teu coração estará tranqüilo
E tua mente clarear-se-á.

Porque quando tu oras ao teu Pai
Ele toma teu fardo para Si
Retira a dor e o peso dos problemas
E devolve-te o fardo leve e suave,
repleto de flocos de esperança
E sementes de felicidade.

Se nunca experimentaste depender só de Deus,
Aproveita tua dor
Aproveita o desespero
E ora.
==========


Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas de Osasco SP
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memórias literárias - 66 - DE QUE TIPO SOU?


66 - DE QUE TIPO SOU?
Eis aí, no quarto de dormir, um rapaz recém-chegado da escola. Trabalhou duro até às seis, almoçou de marmita, passou quase duas horas em condução. É meia-noite e ele já tomou seu banho e jantou. Na escrivaninha um computador, um modem e a internet ligada. No monitor várias mensagens do Orkut e muitas luzes do MSN, são amigos a chamar-lhe. Ele não titubeia: deixa um recado de que amanhã responderá aos chamados. Desliga o monitor, abre sua bíblia e lê avidamente a carta aos Filipenses. Desde o início do ano ele se propôs a ler a bíblia todas as noites e marcar as coisas que mais calaram em sua alma. Seu novo testamento está todo marcado. Ele lê por 30 minutos. Agora dobra os joelhos junto ao leito. Ele ora. Está com sono. Então se levanta e ora andando. E diz: “Senhor, se eu não caminhar irei dormir, então andando falarei contigo”. E ora. Ora pela mãe, ora pelos irmãos, ora pelo trabalho, faculdade, colegas, igreja, conjunto, reavivamento. Chega a chorar quando apresenta a menina de quem gosta. Então, depois de um bom tempo ele diz amém e vai se deitar. “Em paz me deitarei e dormirei, porque só Tu, Senhor, me fazes repousar seguro”(Salmos 4.8).

Eis aí, na sala, uma dona-de-casa. Mulher sofrida, não tem dinheiro para pagar empregada. O marido labuta na firma e ela o faz em casa. Às vezes faz alguns salgados e lava algumas roupas para fora, mas os cuidados da casa lhe tiram as chances de ganhar mais dinheiro. Ela compensa com economia segura e sábia: consegue fazer render o que tem em mãos. Já lavou, passou, arrumou, escolheu feijões, temperou a carne, assou o frango. Ela já acordou as crianças, banhou-as, vestiu-as, colocou-as na perua que veio buscá-las. Já as recebeu de volta, deu-lhes outro banho, roupas limpas, deu-lhes brinquedos, deu-lhes janta. O esposo chegou cansado, ela o recebeu com amor, deu-lhe sua janta, conversou, arrumou as camas, viu o repórter, ligou para a mãe e a irmã, colocou as crianças para dormir, banhou-se e disse ao marido que não iria assistir ao jogo. Sentou-se na sala com a bíblia à mão. Bíblia surrada, usada, cheia de marcas do tempo, boletins antigos, cartinhas queridas, uma ou outra foto, até dinheiro havia lá. Mas também um óculos guardado no zíper da capa e uma caneta: ela lia a bíblia. Quantos versículos marcados com dizeres: “hoje precisei disto”, “desejo isso para meu marido”, “eu creio nessa promessa” , “reconheço que pequei”, etc. Lá está ela, depois de ter lido seu texto, seu devocional diário e até a lição da Escola Dominical. Junto da revista uma listinha: pedidos de oração. Muitos sinais em cada nome, registrando quantas vezes já orara por cada um. Cansada, no final da oração, cochilou e adormeceu. Seu marido a despertou gentilmente, e ela guardou sua bíblia e deitou-se em paz. “mulher virtuosa, quem a achará? O seu valor muito excede o de finas jóias” (Pv 31:10).

Eis aqui um pastor. Não está na cama. Não está na TV. Também não está no gabinete e nem tomando banho. Ele levantou-se na madrugada, três e meia da manhã, e foi até o quintal. Olhou as torneiras para ver se não vazavam. Foi ao quarto das filhas e verificou se estavam cobertas. Mediu a febre da menorzinha, já tinha passado. E então dirigiu-se à garagem, ao banco do seu carro. Sentou-se, colocou as mãos sobre o rosto e chorou. Sim. Chorou de soluçar. Enquanto chorava, sua mente dizia: “Pai, eu não sou suficiente para pastorear a Tua igreja. Dá-me a mão; dá-me a graça; dá-me o poder do Espírito Santo, para que o povo Te busque de fato e de verdade! Há tanta mentira, Senhor, tanta hipocrisia. Eu também tenho sido hipócrita! Me perdoe, Senhor! Me ajude a dizer não à preguiça de orar; me ajude a desligar a TV, internet e telefone quando em demasia; me ajude a amar o Teu povo e não apenas suportá-lo. Me ajuda a não medir o povo pelo dinheiro que dá, mas pelas pessoas que são: pecadoras como eu, e que precisam de forças Tuas. Renova-me, Senhor! Reaviva de verdade a tua Igreja”. Sua oração vai até às 5, quando então, depois de chorar, clamar, reclamar, lamentar, cochilar, resolve deitar-se mais um pouquinho, para então entrar em mais um dia nessa terra que o Senhor Deus lhe deu. “Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, orar, buscar a minha face e se converter do seu mau caminho, então eu os ouvirei do céu, perdoarei o seu pecado e sararei a sua terra.”(II Crônicas 7.14).

 Você que é jovem, você que é dona-de-casa (ou profissional de carreira), você que é pastor, você que não é isso, mas é um ser humano também lutador e com uma vida a viver,  poderia encaixar-se nessa descrição que imaginamos? Exagero, não? Ninguém é tão espiritual assim! Ledo engano! Ainda há 7 mil joelhos que o Senhor conserva pelo mundo, de gente que faz valer à pena a existência das igrejas e a pregação do evangelho. "Também deixei ficar em Israel sete mil: todos os joelhos que não se dobraram a Baal, e toda a boca que não o beijou." (1Rs 19:18)

Serei eu um deles? Começando por mim, Deus aguarda uma resposta. Será que adoramos ao deus medíocre, de poder questionável e facilmente enganável? Ou será que adoramos ao Deus verdadeiro, que é Santo, é Justo, presente e adorado com racionalidade, espiritualidade e verdade? Pois em Sua palavra Ele diz que não quer ser cultuado por rituais ou locais santos, mas por homens quebrantados, que O reconhecem como Deus e que o honram interiormente, em espírito e em verdade. "Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional." (Rm 12:1); "Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem." (Jo 4:23)

Que tipo de crente eu sou?

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Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas de Osasco SP
bnovas@uol.com.br

memórias literárias - 65 - JESUS - UMA RESSURREIÇÃO SEM IGUAL


65 - JESUS - UMA RESSURREIÇÃO SEM IGUAL

SERMÃO No. 64 –27/03/2005

SÉRIE DE CONFERÊNCIAS DA SEMANA SANTA 2005

SERMÃO 4 – JESUS – UMA RESSURREIÇÃO SEM IGUAL


TEXTO BÍBLICO: I Coríntios 6.14:

“Ora, Deus, que também ressuscitou o Senhor, nos ressuscitará a nós pelo seu poder”


INTRODUÇÃO

Temos meditado, nesta série de conferências, sobre a pessoa bendita de Jesus Cristo, a quem denominamos UM HOMEM SEM IGUAL. E, na medida em que as noites passam, procuramos analisar pormenorizadamente alguns aspectos desta inaudita e augusta pessoa. Descobrimos que ele é um homem sem igual, porque sua vida foi sem igual. Seu exemplo, suas obras, suas palavras, seu nascimento, seu ministério, mensagem, sacrifício, tudo foi especial em Jesus. Também caminhamos e sentimos a sua dor, que foi sem igual. Não restringiu-se à dor física, ainda que esta fosse desumana e cruel. Seu sofrimento foi espiritual, foi moral, foi vicário, isto é, em lugar dos outros, foi representativo, e sentimos tristeza, ao saber que a dor da ingratidão continua real, mas exultamos ao descobrir que há gozo em seu coração, no instante que um pecador inconverso decide-se entregar ao Filho de Deus. Em nosso último encontro, estivemos a contemplar Jesus Cristo, pendendo na cruz, sofrendo amarga dor, e pregando, com suas últimas palavras, o maior sermão de todos os tempos. Ali, Jesus teve, em frases soltas, a maior de todas as oportunidades, para mostrar quem realmente ele era: bondoso, amoroso, dando valor ao próximo, não omitindo os cuidados com sua família, sofrendo sacrificialmente em lugar de todos os homens e completando essa obra, e, por fim, rendendo a sua alma ao Pai.

Entretanto, nos dizeres do Apóstolo Paulo, “E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé.” (1Co 15:14). Sim, porque o ministério de Cristo, teria terminado no pior de todos os fracassos de toda a história. A nossa fé seria a fé em um homem vencido, um mero mártir de mais uma causa humanitária, um pobre ninguém, que fez nome na Palestina. Ou, então, seria mais um líder religioso, a ludibriar os seus adeptos, ou um filósofo a proclamar  bons princípios para a vida, ou, nos dizeres espíritas, uma alma iluminada, que guia os fiéis à luz.

Cristo, entretanto, teve algo que nenhum líder religioso, pôde ter até hoje. Nenhum vulto da história, nenhum personagem do universo, ninguém contou com um fato marcante e decisivo sobre a sua carreira: CRISTO RESSUSCITOU! Aleluia! Ele saiu da seputura, vivo, não em espírito, mas em corpo e alma, o mesmo corpo que sofreu no Calvário, foi o corpo que foi tirado da sepultura, e revestido da incorruptibilidade eternal!

Mas, poderiam alguns dizer, houve outros personagens bíblicos, que também ressuscitaram. Cristo mesmo ressuscitou algumas pessoas. No velho testamento, encontramos um profeta ressuscitando quando o seu corpo encostou nos ossos de outro profeta. Em que a ressurreição de Cristo foi sem igual, e o torna único e todo-suficiente para a nossa fé?


I – SUA RESSURREIÇÃO FOI CORPÓREA

Há uma lenda religiosa, que diz ter Jesus ressuscitado espiritualmente apenas, que o que saiu da sepultura, foi apenas a sua alma, não o seu corpo. E, pasmem os senhores, há crentes sinceros, ignorantes, que acreditam numa tal mentira!

Sim, Cristo ressuscitou, e foi ressuscitado fisicamente! E o seu corpo saiu transformado da sepultura. Nós sabemos que “carne e sangue não herdarão o Reino de Deus”, conforme lemos em I Coríntios 15.50. Sim, carne e sangue representam a humanidade decaída, a velha natureza, a vida que termina, que morre, que vira pó novamente. Essa natureza não terá parte nos Céus, tendo em vista que está sob a maldição do Criador, que puniu Adão e todos os seus descendentes, com a volta ao pó, de onde foi criado.

Entretanto, após a ressurreição de Jesus, Ele, ao aparecer aos seus onze apóstolos, vendo que pensavam ser ele um espírito, um fantasma, uma alma, uma mera aparição, ordenou: “Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e vede, pois um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho.”(Lc 24:39). Sim, carne e sangue não herdarão o Reino de Deus, mas carne e ossos, transformados, incorruptíveis, revestidos de algo tão poderoso, que brecará todas as funções decaídas desse corpo, isto sim, herdará o Reino de Deus!

E Cristo saiu assim, da sepultura! Oh, graça bendita! Oh, poder sem igual! Que é capaz de tomar um corpo morto, inerte, e dar-lhe novamente a vida! Cristo não ficou na sepultura, Cristo saiu, saiu na madrugada, e está vivo pelos séculos dos séculos!

II – SEU CORPO RESSUSCITADO É INCORRUPTIVEL

Cristo, ao sair da sepultura, saiu com um corpo transformado. Observamos Jesus aparecendo em um determinado lugar, e, em seguida, desaparecendo e indo para outro, sem precisar se locomover com as pernas. Vemos Jesus comendo com seus apóstolos, ao menos em três ocasiões (com os discípulos de Emaús, com os apóstolos incrédulos e com João e Pedro, à beira do lago). Ele comeu, e, se não comesse novamente, não teria o menor problema, porque o seu corpo não precisa mais de comida!
Cristo ressuscitou com um corpo glorificado! Sua luz, sua beleza, sua perfeição, sua glória, sua capacidade, tudo em Cristo, em seu novo corpo, é perfeito!

Os que ressuscitaram, ao longo da história bíblica, não tiveram essa ressurreição eterna, mas apenas um prolongamento provisório da vida. Lázaro, por exemplo, depois de sair da sepultura, viveu com suas irmãs Marta e Maria, até morrer novamente. O filho da viúva de Naim, também. A menina, filha de Jairo, apesar de ter ressuscitado, veio a falecer como todas as outras mortais! O rapaz que caiu do segundo andar, enquanto o Apóstolo Paulo pregava, também morreu posteriormente. As pessoas que saíram do cemitério, no instante em que Cristo morreu na cruz, um efeito colateral do enorme poder de sua vida, certamente que voltaram a viver algum tempo, mas que, depois, chegada a hora derradeira, partiram para a eternidade novamente.

Cristo, não. Cristo ressuscitou, não para morrer de novo, não para ir novamente à sepultura, não para voltar a sofrer, não para nascer novamente de uma nova Virgem Maria. Cristo saiu da sepultura, vivo dentre os mortos, para viver para sempre, para ter um corpo que nunca envelhecerá, um corpo que não se machucará, que não ficará doente, que não se tornará pó, porque não faz parte mais da velha criação, do pó da terra, mas possui em sua composição, elementos celestiais, que o tornaram uma nova criação! Apenas ossos e carne guardam a ligação com a humanidade existente, mas, o recheio interior, tudo é novo, é perfeito, é maravilhoso, é glorioso!

III – SUA RESSURREIÇÃO PROVA SEU PODER

Se Cristo não tivesse ressuscitado, a morte continuaria vitoriosa, sendo a soberana sobre toda a humanidade e sobre todos os seres vivos. Se Cristo tivesse permanecido morto, então o seu poder seria limitado e jamais poderia salvar qualquer um que cresse nele. Se não teve poder para livrar-se da morte, como livraria os que nele confiam?

Essa é uma das inúmeras razões, pelas quais nós, crentes bíblicos, não rendemos qualquer veneração a imagens de pessoas que foram boas, religiosas, mas foram mortais, estão sepultadas. Essas pessoas não saíram da sepultura. A morte as venceu. E, se não contarem com um Salvador, estarão perdidas para sempre! Como poderiam fazer algo por nós? Como esses mortais poderiam intervir, mortos como estão? Por isso eles não são intercessores ou mediadores entre Deus e os homens, porque a morte foi mais forte do que eles.

Contudo, Cristo, ao sair da sepultura, vivo dentre os mortos, por conta própria, pelo poder do Espírito Santo, com a ordem do Pai, provou que é mais forte do que a morte, e pode intervir na salvação de todo aquele que crê! O seu poder não é apenas hipotético, ou seja, um poder só de palavras! O seu poder é real, é verídico, é verdadeiro, e a sua ressurreição prova isso! Por isso, nós podemos confiar em seu nome, em sua graça, em sua presença, para sermos salvos, e sermos também, um dia, ressuscitados de entre os mortos! Disse ele: “Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá;” (Jo 11:25) Cristo provou as palavras que disse, tempos atrás, quando pregava a sua mensagem: “Ninguém tira a vida de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai.” (Jo 10:18). Aquele que teve poder e autoridade para tomar sua própria vida, de volta, da sepultura, pode salvar a todo aquele que confiar nele, e obedecer ao seu mandamento, de confessá-lo como salvador, e segui-lo como discípulo! Que Salvador bendito!

IV – A SUA RESSURREIÇÃO PROVA A VITÓRIA

Três dias se passaram, e Cristo esteve morto, por esse tempo. Com dificuldade levantamos os dados referentes a esse período de sua vida, e são eles bastante discutidos pelos teólogos, mas de duas verdades incontestes, nós podemos ter certeza.

Cristo desceu aos mortos, ao inferno. Sim, é o que diz Pedro, em sua carta, (1Pe 4:6):  “Porque por isto foi pregado o evangelho também aos mortos, para que, na verdade, fossem julgados segundo os homens na carne, mas vivessem segundo Deus em espírito;” Sem entrarmos em detalhes sobre essa declaração, talvez numa outra ocasião, podemos imaginar Cristo declarando, aos perdidos, que sua obra fora realizada, que os pecados estavam pagos na cruz, que a fé poderia salvar e que Satanás, o maior adversário, fora vencido para sempre! Sim, Cristo não desceu para ser punido, mas para proclamar, para anunciar a sua vitória! A sua invasão ao lugar dos mortos, e sua saída de lá, prova que só Ele, e ninguém mais, é portador da chave, pois que ninguém pode de lá sair, ao entrar. Mas Cristo, oh, bendito e poderoso Filho de Deus, entrou e saiu! Aleluia!

Também temos absoluta certeza, de que Cristo foi ao Paraíso, e teve um encontro com o ladrão! Ele prometera, nos instantes de agonia, àquele que suplicava que o Salvador dele se lembrasse, quando viesse em seu reino: “E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso.”(Lc 23:43) E Cristo não mentiu! Cristo não ludibriou! Cristo não enganou! Certamente aquele foi um encontro glorioso! Lá no Paraíso (seria o velho Paraíso adâmico, recolhido pelo Pai por causa da dureza do coração humano, um oásis para aqueles que aguardam a ressurreição? Seria outro? Pouco nos importa, porque Paraíso é Paraíso!), eu creio que Cristo olhou aquele ladrão, que, naturalmente maravilhado de estar num lugar tão lindo, tão aprazível, tão real, apesar de ser pós-morte, e foi ao encontro dele, dar-lhe o abraço da amizade, o ósculo paternal ao filho que voltou ao lar paterno! Que cena inesquecível deve ter sido! O que prova, incontestavelmente, que quem dorme, quem morre, é o corpo, mas a parte real, duradoura, inesgotável de nossa humanidade, permanece viva, e em lugar específico, ou no Paraíso, ou no inferno!

E, quando Cristo rompe os grilhões da morte, e sai da sepultura, ele arrebenta com os cadeados inquebráveis do castigo, e declara para o céu e a Terra: “Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória?” (1Co 15:55)

V – SUA RESSURREIÇÃO ATESTA A SUA DIVINDADE

Nenhum mortal, por melhor que fosse, poderia ter feito o que Cristo fez! Elias foi um excelente homem, e foi recolhido pelo Pai através de uma carruagem de fogo. Mas isso ele fez por conta do Pai. Enoque, o sétimo depois de Adão, não foi mais encontrado, porque Deus o tomara para si, não que o tenha ressuscitado, mas o levou vivo para os céus. E, provavelmente, esses dois serão as duas testemunhas, ao pé do muro das lamentações, na Grande Tribulação. Porém, estão preservados, não por conta própria, mas por obra e graça do Espírito Santo.

Cristo não. Ele deu a vida, e ele tornou a tomá-la. Ele entregou-se à morte, e ele mesmo saiu da sepultura. A sua comunhão com o Pai é tão perfeita, a sua submissão filial é tão total, que é o Pai quem o ressuscita, mas é pelo próprio poder de Cristo que isso acontece, porque, como citamos há alguns momentos, Cristo teve poder para doar-se, e teve poder para recuperar a própria vida.

Que mortal pode ressuscitar por conta? Quem desafia a morte e recupera a vida? Quem pode obter a libertação da hora derradeira? Ninguém! Por isso não temos outra alternativa, outra explicação, para clarear o porque do poder de Cristo: Ele é Deus! Aleluia! Cristo é Deus! Cristo é o Senhor! Cristo é o Salvador! Cristo é o próprio EMANUEL, isto é, o DEUS CONOSCO! Ele é o Pai da Eternidade! Ele é a encarnação do próprio Criador! Esse Deus triúno, que tem três distintas pessoas, mas que nunca, hipótese alguma, se interpõem, esse mesmo Deus encarnou a pessoa do Filho bendito! E, de forma inexplicável, Ele é o retrato de Deus! Filipe perguntou: “Jesus, mostra-nos o Pai, e isso nos basta!” E Cristo disse: “Estou há tanto tempo convosco, e ainda não tendes me visto?” Que maravilha! Cristo é Deus!

Por isso Ele recuperou a própria vida, e tem poder para salvar a mim, a você e a toda a humanidade! Cristo pode intervir no destino da sua alma! Cristo pode transformar o seu futuro! Maria jamais. José, jamais. Pedro, jamais, João, jamais. Nenhum devoto ou religioso é apto para intervir, para interceder, para salvar, para ressuscitar. Só Cristo, só Jesus. Só o Filho do Deus vivo!

CONCLUSÃO

O mesmo poder de ressuscitar-se, Cristo usará para fazê-lo ao corpo de quem morreu crendo em seu nome e em sua graça. Ele não decepcionará os que nele confiam! Aqueles que morreram em Cristo, na confiança de sua  palavra e promessa, sairão da sepultura um dia, quando Cristo voltar nas nuvens dos céus! Naquele dia, quando a última trombeta soar, quando Cristo enviar os seus anjos pelos quatro cantos da Terra, aqueles que morreram na fé, sairão vivos das sepulturas. E os que não foram sepultados? Sairão de qualquer lugar. Seja do mar, seja da Terra, seja do ar, seja do abismo, seja do espaço, não importa! Cristo, que é o criador, mantenedor e sustentador da vida, pode até das pedras tornar a trazer alguém!

E os trará com o corpo tão glorificado quanto o dele! Não haverá coxos, nem cegos, nem aleijados, nem queimados, nem envelhecidos, nem acidentados, nem infectados. Todos serão perfeitos, à semelhança do corpo do Salvador!

Amigo, hoje é o dia da sua salvação. Hoje é o dia em que você pode passar por uma ressurreição preliminar. Não a do corpo, mas a da alma. De caído e perdido, você pode levantar-se e ser salvo! A bíblia diz que os nossos pecados fazem separação entre nós e Deus: “Mas as vossas iniqüidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos ouça.” (Is 59:2)

É necessário banhar-se nas águas do arrependimento e da fé em Cristo! Jesus disse: “se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis.” (Lc 13:3)

É necessário crer em Cristo como único e suficiente Salvador: “E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos.” (At 4:12)

É necessário ter coragem e confessar isso publicamente, sem vergonha alguma, pois Cristo não terá vergonha de confessar-nos diante do Pai: “Se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo”. (Romanos 10.9

Não deixe para depois. Amanhã pode ser muito tarde, hoje Cristo te quer libertar. “Hoje, se ouvirdes a sua voz, Não endureçais os vossos corações. (Hb 3:15)

Fazendo isso, você terá, da parte de Cristo, UMA SALVAÇÃO SEM IGUAL.

Que Deus nos abençoe.
Wagner Antonio de Araújo

obs: o áudio desta mensagem está em
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Em nome de Cristo,

Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas de Osasco, SP
bnovas@uol.com.br 

memórias literárias - 64 - SEMEANDO SEM CESSAR


64 - SEMEANDO SEM CESSAR
SEMEANDO SEM CESSAR

Pela manhã semeia a tua semente, e à tarde não retires a tua mão, porque tu não sabes qual prosperará, se esta, se aquela, ou se ambas serão igualmente boas.
(Ec 11:6)

Conta-se que determinada professora, ao deslocar-se de ônibus para sua escola, deparava-se constantemente com uma estrada feia,, sem vida e nem cores. Assim, decidiu aproveitar suas idas e vindas diárias, para desmanchar saquinhos de sementes pela janela. Passava na floricultura, comprava sementes de rosas, copos-de-leite, violetas, margaridas, lírios, e diariamente abria os saquinhos e despejava sementes pela janela. O trajeto era de pouco mais de dez quilômetros. Dentro de seis anos, período no qual ela esparramou sementes, a paisagem mudou por completo: plantas, arbustos, árvores e trepadeiras foram surgindo, florindo e colorindo toda a estrada. Pássaros traziam sementes de árvores, animais pequenos encontravam abrigo por ali, e o local tornou-se a região mais bela daquele lugarejo.

Somos imediatistas; queremos tudo na hora e com resultados satisfatórios. Não temos paciência. Não sabemos esperar, não conseguimos perseverar. “Tempo é dinheiro”, dizemos. Então construímos nossas vidas na artificialidade de resultados: lindos por fora, plásticos por dentro. Detesto flores plásticas a enfeitar igrejas: são belas e mortas, não representam bem o que uma igreja deve ser. Assim é a vida de quem não semeia, mas quer florir a vida: plástica e artificial.

Na vida profissional e estudantil, precisamos semear, e fazê-lo sempre. Temos que estudar. O saber não ocupa espaço. Temos que nos aprimorar, fazer cursos, melhorar nossos conhecimentos, aproveitar as múltiplas oportunidades. Na área profissional, temos que semear e preparar novas oportunidades, novos negócios, novos empreendimentos. Muitas vezes, quando Deus nos fecha as portas de um emprego, e não nos dá uma nova porta, pode ser a melhor oportunidade do mundo para empreendermos nossos próprios negócios. Essa é a porta que Deus estava a nos abrir, e nós não havíamos compreendido!

Mas na vida cristã precisamos e devemos semear a Palavra de Deus. Se alguém não tivesse feito isso conosco, certamente ainda estaríamos perdidos na cegueira da ignorância e do pecado. Foi porque alguém atirou sobre nós a semente do Evangelho, que Deus, em Sua infinita misericórdia, a fez germinar, nascer, crescer e frutificar. A pessoa que semeou não sabia se essa semeadura iria dar em alguma coisa. Ela só semeou. Benditas sejam tais mãos! Agora devemos passar adiante também!

Não precisamos ser pregadores. Entregar uma literatura no supermercado e no pedágio, presentear uma bíblia aos colegas de trabalho, distribuir o número de um telemensagens, fazer uma oração por um aflito, testemunhar com a vida e um comportamento digno, exibir mensagens evangelísticas numa camiseta, convidar pessoas para uma conferência bíblica ou a apresentação de um musical cristão, dar cds de louvores como presente de natal, usar os brindes da firma como meio de enviar a mensagem de Cristo, participar de cultos ao ar livre, distribuir folhetos em seu condomínio ou rua, tudo é válido. Não importa se terá ou não o resultado. Deus sabe. Deus vê. Deus abençoa. Deus está com os semeadores incansáveis da boa colheita.

Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas de Osasco, SP
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bnovas@uol.com.br  

segunda-feira, 15 de abril de 2013

memórias literárias - 63 - A MORDIDA DO LEÃO


63 - A MORDIDA DO LEÃO
15/04/2013
Certo homem cambaleava na rua, chorando bem alto e gritando para que todos ouvissem:"Oh, céus, quando é que a ferida sarará? Quando é que a dor desaparecerá?". Um transeunte que com ele cruzara indagou-lhe: "Por que tamanho desespero, senhor?" O sofredor respondeu: "Não está vendo, ó homem? Fui mordido por um leão e a ferida dói intensamente; já faz tantos dias e ela não sara! Não consigo nem andar tamanho o peso dessa dor!" O transeunte lhe replica: "Mas, senhor, também pudera! A ferida não pode curar-se! O senhor esqueceu de tirar o leão de sua perna; está carregando o bicho, arrastando-o consigo!" Assustado, o homem nem percebera que o leão estava morto; tirou os dentes da perna e sentiu o alívio do peso excessivo; colocou bálsamo na ferida e logo estava bem.
Somos como esse moribundo. O leão está sempre a espreita, buscando morder-nos. Trata-se do ofensor. Quantas vezes somos feridos por bocas ácidas, pessoas que não poupam adjetivos para nos desqualificar! Muitas vezes as pessoas nos pagam com o mal o bem que lhes fizemos. A ingratidão é uma constante no universo e geralmente as pessoas que mais ajudamos são as que mais nos magoam e nos tratam com amargura. Acusações falsas, desprezo, insensibilidade, esquecimento, são tantas as circunstâncias! Se fossem apenas pessoas estranhas nem sentiríamos tanto dissabor. Mas geralmente as feridas vêm de pessoas que nos são próximas! O próprio salmista já dizia: Pois não era um inimigo que me afrontava; então eu o teria suportado; nem era o que me odiava que se engrandecia contra mim, porque dele me teria escondido. Mas eras tu, homem meu igual, meu guia e meu íntimo amigo. (Sl 55:12-13). Pessoas de quem esperávamos a gratidão, a amizade, a lembrança, a compreensão, a gentileza.
A ofensa é uma mordida de leão. Dói, sangra, fere, infecciona, aborrece. Jesus sabia que muitas vezes poderíamos enfrentar aborrecimentos e ofensas. Assim, na chamada Oração do Pai Nosso Ele nos ensina a dizer: "Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos os nossos devedores", ou como diz na Vulgata: "Perdoa as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tenha ofendido". O remédio para a ofensa é o PERDÃO. Cristo, ofendido pelos que O crucificavam e zombavam, exclamou: "Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem".  Ele também afirma: E, quando estiverdes orando, perdoai, se tendes alguma coisa contra alguém, para que vosso Pai, que está nos céus, vos perdoe as vossas ofensas. (Mc 11:25). Ofensa não é para guardar ou para cultivar. É para lançar fora. Precisamos perdoar. Paulo Apóstolo afirmou: Suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos uns aos outros, se alguém tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também. (Cl 3:13)
O que acontece quando não perdoamos? O mesmo que ocorreu com o moribundo da fábula inicial: carregamos o ofensor conosco. Sim, o levamos na nossa memória. O fato que nos ofendeu é lembrado e relembrado inúmeras vezes. Pensamos naquilo dia e noite. Sentimo-nos sufocados e ruminamos a mesma sensação, aborrecendo-nos cada vez mais. "Por que ele me fez aquilo?", "Por que não me convidou para ir?", "Por que me tratou com tanta grosseria?", "Por que foi tão ingrato?" E então andamos o dia todo com o leão agarrado em nossa perna, com a ferida aberta da ofensa infeccionada, com os dentes do ofensor cravados em nós. Não saramos! Não temos alegria! Não conseguimos desfrutar de mais nada! A vida pára, o prazer desaparece, a felicidade está sempre distante! E como sair disso?
Tomando consciência de que o perdão traz libertação! A verdade liberta. Foram injustos conosco? Tudo bem, já aconteceu. Eu também sou pecador e já fui injusto com alguém. Então assim como eu quis o perdão e o Senhor me alcançou, também vou perdoar. Aliás, perdoar unilateralmente, sem mesmo que a pessoa me peça.  Perdoar quem se arrepende é mais fácil; perdoar quem não merece é muito mais difícil, mas é a verdadeira expressão de uma alma convertida a Cristo. No momento que nós perdoarmos o "leão" irá cair e a ferida irá sarar. Quando não perdoamos não somos capazes de esquecer.  Perdoar de verdade é agir da seguinte maneira: "Eu te perdôo, e toda vez que eu me lembrar do que me fizeste, também me lembrarei de que perdoei-te". Pronto! Matamos o leão. A ferida irá sarar! Porque não teremos mais a pessoa como nossa devedora. E desfrutaremos da paz de um coração purificado da amargura. Diz a bíblia: Tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus, e de que nenhuma raiz de amargura, brotando, vos perturbe, e por ela muitos se contaminem. (Hb 12:15)
Olhe para a sua perna: está doendo? Veja se não há um leão a morder a sua carne. Há? É alguém que lhe ofendeu já faz tempo? Arranque esse leão! Perdoe! Liberte-se! Deixe a ferida cicatrizar! Não carregue mais um defunto consigo. Vire a página. Abençoe o ofensor e viva um novo capítulo cheio da paz do Senhor. E a paz de Deus, para a qual também fostes chamados em um corpo, domine em vossos corações; e sede agradecidos. (Cl 3:15)
Adeus ao leão e bem-vinda felicidade!
Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas do Rodoanel em Carapicuíba, São Paulo, Brasil

memórias pastorais - 62 - COMEÇAR DE NOVO


62 - COMEÇAR DE NOVO

Não são raras as vezes em que, em pleno meio de semana, nos encontramos tão perdidos em nossos sentimentos e compromissos, que não sabemos por onde começar. O que fazer primeiro? O que pensar primeiro? Qual coisa atrasada deverá vir antes? O que pode ficar para depois? São telefonemas, correspondências, compromissos na agenda, atividades eclesiásticas, cobranças familiares, desejos sentimentais, enfim, sentimo-nos sufocados e absolutamente perdidos, como se estivéssemos embaraçados em um bolo de linhas multicores.

A primeira reação é ficarmos nervosos. Tornamo-nos uma pilha de nervos. As pessoas não podem sequer pensar em falar conosco: estamos tão armados, tão carregados, que agredimos com facilidade. "Bom dia!", dizem os amigos; "Fale logo o que quer, e não me incomode!", é o que respondemos, ou o que gostaríamos de responder. O telefone toca e diz: "E aí, meu amigo, como andam as coisas?"; e nós devolvemos: "Amigo, se você não tem o que fazer, por favor, não venha atrapalhar-me!". As pessoas dizem: "Xi, hoje ele está azedo como um limão, amargo como um giló, ardente como uma pimenta..."

A segunda reação é o desespero. A chefia aguarda a entrega do trabalho, do relatório, da planílha, da apresentação em "power point", do fechamento do caixa. Nós não estamos nem na metade, ou, não raras vezes, nem começamos o trabalho. Então suamos frio, trememos, choramos, nem queremos olhar em nossa mesa ou para os objetos de nosso serviço. Negamos que precisamos fazê-lo. Queremos distância, sonhamos com o final de semana. Mas a realidade está ali, nua e crua: temos coisas a fazer, e não as fizemos.

A terceira reação é a correria. Principalmente em nosso inconsciente coletivo brasileiro: somos especialistas em deixar tudo para a última hora: a entrega do trabalho de escola, os telefonemas, a impressão dos documentos, o ensaio da canção, a compra dos presentes, o pagamento da conta, os recados necessários, os avisos em casa, tudo nós deixamos para a última hora. Então corremos. É tão comum cruzarmos com pessoas desesperadas, correndo feito loucas, nem olhando onde pisam ou por quem passam! "Oh, desculpe, estou numa correria!". Sim, dá para perceber!

A quarta reação é: até quando isso vai ser assim? Até quando viverei freneticamente nesse ritmo alucinante, nessa sensação de vazamento atômico no centro da cidade, ou nesse desespero de sempre estar atrasado com tudo? Será que não haverá um fim? Será que a vida será sempre assim? Será que nunca terei um ritmo diferente, um ritmo de interior, de fazenda, algo que dentro de mim corresponda à tranqüilidade de quem está dentro dos prazos em tudo? Haverá uma maneira diferente de solucionar isso?

Bem, não é fácil, mas é possível. Quando não sabemos nem por onde começar, então só temos um jeito de fazê-lo: é começar pela oração! Sim, começar pela maneira mais incomum em nossa prática diária. Começar orando! Nós deixamos a oração em último lugar, como um apêndice na agenda, como algo que faremos se houver tempo, se não nos atrasarmos em outros compromissos, um ato de autêntica bondade de nossa parte. Não temos a oração como início, mas como um ato-extra, muito importante, mas muito distante. E, geralmente, nos damos mal, porque a inversão de valores destrói toda a obra. Já imaginaram um construtor deixando que os cuidados com a firmeza do concreto e com a estrutura da construção só sejam analisados no final, quando até o acabamento estético tenha sido concluído? Acredito que será tarde demais, porque tudo terá vindo abaixo. Assim também conosco: estamos o tempo todo a administrar crises, quando não precisaríamos delas, ou quando elas não precisariam ser tão difíceis e acentuadas.

"Pela manhã ouvirás a minha voz, ó Senhor; pela manhã apresentarei a ti a minha oração, e vigiarei. "(Sl 5:3)

"Contudo o Senhor mandará a sua misericórdia de dia, e de noite a sua canção estará comigo, uma oração ao Deus da minha vida." (Sl 42:8)

"De tarde e de manhã e ao meio dia orarei; e clamarei, e ele ouvirá a minha voz." (Sl 55:17)

Sim, não importa se é de madrugada, de manhã, de dia, de tarde ou de noite. Se queremos arrumar um começo para a solução de nossa crise, a solução está na oração. Quando tudo está caindo, quando tudo está confuso, quando tudo está incerto, é hora de buscar ao Senhor e achá-lo; clamar pela intervenção divina, e aguardá-la; confiar no Deus a quem amamos, e descansar. Se a crise não chegou ainda, melhor será. Se ela já chegou, ainda é tempo. E se estamos quase perdidos,  ainda há esperança, pois "sete vezes cairá o justo, e se levantará;" (Pv 24:16a).

Então, caros amigos, paremos um minuto, e olhemos ao nosso redor: onde estamos? Como estamos? Em que ponto nos encontramos? Do que é que precisamos? Até onde estamos seguros? Carecemos de auxílio?

Cheguemo-nos, com confiança, ao simbólico altar da oração, no recôndito interior de nossa alma, e busquemos com quebrantamento e confiança ao Deus que acalma tempestades e que dá um rumo certo às embarcações! Se não temos rumo, Ele imprimirá um caminho em nossa mente e coração; se não temos respostas, elas virão tão-logo derramemos sobre o altar as nossas ansiedades e preocupações; se nos faltar a paz, a encontraremos em medida tão grande, que ultrapassará todo entendimento. Mas corramos e recorramos à oração! Orar, falar com Deus, abrir o coração, dizer a Ele que não temos outro bem além dele. "Porque assim diz o Senhor Deus, o Santo de Israel: Voltando e descansando sereis salvos; no sossego e na confiança estaria a vossa força, mas não quisestes." (Is 30:15). Se os antigos hebreus não quiseram, que nós queiramos, e que experimentemos "qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus". (Romanos 12.2)


Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas de Osasco, SP
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quinta-feira, 11 de abril de 2013

memórias literárias - 61 - O TELEFONE TOCOU ...



61 - O TELEFONE TOCOU ...
Amigos:
Este é o meu texto mais conhecido por todos.
Ele está circulando no FACEBOOK de forma intensa.
Foi radiofonizado nos Estados Unidos pelos irmãos
Klebão e Tânia, dos Estados Unidos, podendo ser ouvido em

Alô?

Alô. Luciano?

Sim. Quem é?

Não conhece mais a minha voz?

Não estou conseguindo identificar. Quem está falando?

Nossa, como foi fácil pra você me esquecer... Acho que não tivemos muito significado...

Nathasha?!

Oi...

Que surpresa você me ligar! Pra quem disse que queria me esquecer para sempre ...

Vai ofender? Eu desligo!

Fique à vontade, querida. Quem ligou foi você mesmo...

Não, espere, não vou desligar. Desculpe. É que estou aborrecida, só isso.

Tá. E o que você quer?

Nada. Eu só queria ouvir sua voz.

Só? Então já ouviu. Mais alguma coisa?

Espere, pare de ser grosso. Não, desculpe, não desligue. É que eu estou me sentindo muito sozinha.

Foi você quem quis assim, querida. Sorva do seu próprio veneno. 

Realmente você não muda. Só sabe acusar...

Bom, vou desligar. Tchau...

NÃO, PELO AMOR DE DEUS, não desligue, espere, preciso te dizer algo...

Fala logo, Natasha, tenho que trabalhar.

Eu estava errada. Me perdoe.

ERRADA? Você estava errada? Tem certeza disso? Será que não é um pouco tarde pra dizer isso?

Mas agora eu reconheço...Por favor, amor, me perdoe!

Agora? Depois que você acabou comigo, querida? Até hoje eu pago o mico do papelão que você me fez passar... Convites distribuídos, acampamento alugado, comida encomendada, viagem paga, meu casamento com você, tudo perdido... (Luciano suspira). Sofri, sofri mesmo. Queria matar você! Droga, por que eu tive que amar você? Mas tudo bem. Já faz dois anos... Ah, meu Deus, dois anos...

Luciano, pelo amor de Deus, me perdoe!

Pra que você quer o meu perdão? Você nem ligou pra dizer que já estava com outro cara. Pra que perdão? Vai viajar com ele, vai viver com ele, meu bem... Só me deixe em paz, por favor (Luciano chora baixinho).

Sem se dar conta, Luciano percebe uma pessoa na porta do escritório. Era ela. Natasha estava olhando pra ele. Ela falava do celular. Luciano fica perplexo, alegre e triste - ela está linda, belíssima, muito elegante. Mas seu rosto está abatido, cansado, doente. Na mão tinha uma sacola. Aproximou-se da mesa de Luciano, e, com olhos lacrimejantes, desligou o celular, olhou para ele e disse:

Oi, amor.

Oi, Natasha. Pare de me chamar de amor. Você tá um caco, filha!

Olhos baixos, Natasha começa a tirar da sacola algumas coisas: uma caixa do correio com um CD do Demmis Roussos, que Luciano havia enviado de presente no aniversário, uma boneca de porcelana numa casinha de papel, um celular pré-pago, alguns livros devocionais, uma bíblia de Genebra e um pacote de fotografias. Luciano a observava, perplexo, triste, e via as lágrimas de Natasha molharem a fórmica da sua escrivaninha.

Cada objeto tirado era uma facada no coração sofrido de Luciano. Algumas coisas lhe custaram caro, ele fizera grande esforço para pagá-las. Mas, pensava ele, se era pra ela, valeria à pena o esforço. Quando tudo terminara, ele se arrependera de tanto gasto desperdiçado...

Pensei que você havia jogado as coisas que lhe dei, Natasha...

Eu nunca me esqueci de você, Luciano. Eu errei. Errei muito, me perdoe...

Luciano, jovem advogado, lutador com as interpéries da vida, sabia que Natasha poderia estar mentindo, como tantas outras vezes, quando namoravam e mesmo quando eram noivos. Mas havia um quê de diferente no olhar vermelho de Natasha.

Por que você veio hoje aqui, Natasha? Deu alouca? O que te traz aqui?

Natasha suspirou, chorou, recompôs-se e disse:

Estou com câncer, Luciano...

CÂNCER? Luciano petrificou-se.

Sim, amor, eu vim me despedir. Saí do hospital à força, pra falar com você e pra morrer em casa...

Luciano não esperava por essa. Veio-lhe à memória uma de suas discussões, onde Natasha, na hora do nervoso, dissera: "E daí, Luciano? Que se dane a igreja, que se dane o pastor, que se dane você, e se Deus achar que estou errada, que me castigue..." Nossa, era como se a cena passasse de novo na mente de Luciano.

Como foi, Natasha?

Depois que eu deixei você, amor, fui caindo no abismo, afastei-me do Senhor, fui morar com o André, abandonei a Cristo. Eu estava cega. Mas Deus me amava, Luciano. Se eu não fosse dEle, estaria numa boa agora, bem com o André, bem comigo e pronta pra ir pro Inferno. Mas, por amor, Deus veio corrigir-me. Ele repreende e castiga a quem ama. Ele me ama, Luciano! Estou doente. Mas estou bem, porque estou podendo vir até você pra pedir perdão! Nunca fui feliz, nunca tive paz, saí de casa com 3 meses de vida a dois. O André me batia, me traía, eu fugi.

E ele não foi buscar você de volta?!

O André foi assassinado, Luciano. Tráfico de drogas.

Luciano estava perplexo.

Luciano, estou voltando pro Senhor, estou me preparando pra partir. Mas tenho que receber o seu perdão, amor! Sei que nunca irei compensar o que lhe fiz, mas... por favor... ME PERDOA, AMOR!

Luciano olhou para aquele resto de mulher - outrora tão orgulhosa, ostentando tanta beleza e auto-suficiência, confiando tanto em seu corpo e em sua fulgurante beleza, e agora, bonita ainda, mas notadamente pálida, enferma, cheia de hematomas nos braços, pescoço e pernas, e triste, profundamente triste, a implorar-lhe perdão para morrer em paz!

Cena patética! Ali estava quem Luciano mais amara na vida, quem mais o fizera sofrer, a depender de uma palavra apenas, para morrer em paz!

"Hora da vingança", veio-lhe à mente. Claro, agora seria a hora da revanche! Mas Luciano era um moço crente, de bom coração, e seria incapaz de reter a bênção para aquela a quem tanto amara e que, infelizmente, ainda tanto amava e tanto o fazia sofrer...

Quer que eu perdoe você, Natasha?

SIM, PELO AMOR DE DEUS, Luciano! Nunca mais tomei a Ceia do Senhor, nunca mais louvei ao Senhor com alegria, nunca mais fui membro de igreja, não agüento mais! Aceito as conseqüências, mas, por favor, diga que me perdoa!

Enxugando as lágrimas, refazendo-se, Luciano olhou-a no fundo dos olhos, tomou as suas duas mãos, que estavam frias como as de um defunto, e lhe disse, num terno sorriso misericordioso:

Querida: desde que você foi embora eu já havia lhe perdoado. Mas, se você quer escutar e sentir paz, ouça-me: EU PERDÔO VOCÊ POR TUDO QUE ME FEZ. VOCÊ ESTÁ LIVRE EM NOME DE JESUS!

Natasha tremeu. Gritou "aleluia", sorriu, chorou, e caiu desmaiada.

Logo o assistente de Luciano veio ajudá-lo, e, colocando-a no carro, levaram-na para o hospital. Luciano tinha o telefone de toda a família ainda, ligou e avisou. Em uma hora todos estavam ali na recepção, tristes, aflitos, alguns desesperados. Chegou o pastor. A família implorou-lhe que fosse até a UTI orar com ela. O pastor, que conhecia o Luciano, olhou bem pra ele, pensou, fechou os olhos em oração, e, a seguir, falou:

Quem tem que entrar é o Luciano. Vá lá, Luciano. Eu conheço o diretor da UTI, pedirei autorização.

EU, PASTOR?

Sim, filho. Ela é o seu amor.

FOI, PASTOR..

Não, filho. Deus o uniu a ela novamente, ainda que seja na despedida.

Luciano não sabia o que fazer. A família, desconsolada, chorava, mas a mãe, certa do que tinha que ser feito, empurrou o Luciano até a porta, dizendo: "Vai, filho, corre, antes que seja tarde!"

Ah, aquele corredor que dava para a UTI parecia não ter fim! Cada passo dado era uma lembrança: o primeiro beijo, a primeira maçã-do-amor, o primeiro jantar, o primeiro por-do-sol juntos; o dia em que viajaram num encontro missionário, o dia em que foram juntos à praia e que ele deu de presente a primeira rosa! O jantar de noivado, os telefonemas, tudo. Não sobraram recordações da tragédia, da traição, do desprezo. Na verdade quem ama guarda as más experiências numa sacola furada. E Luciano fez assim.

Vestido com o jaleco, a máscara e o sapato de pano, Luciano entrou. Vários boxes onde pessoas definhavam. Lá estava Natasha, no número 6. Estava no respirador artificial, cuja sanfona funciona como um pulmão e faz um barulho horripilante. Estava linda, mas totalmente ligada a aparelhos, notadamente cansada, em coma, morrendo. Luciano sentiu sua dor. Chorou. Tremeu. Segurou forte a mão de sua amada. Pensou em Cristo, que dera a vida pela noiva, pensou em Oséias, que aceitou a esposa adúltera novamente, pensou em Deus, que tantas e tantas vezes tratou a Jerusalém com compaixão. Quem era ele para não perdoar? Quem era ele para não acolher?

Então orou.

"Senhor, o que posso dizer? Minha garota está morrendo! Ex-garota, claro. Mas mesmo assim está doendo, Pai! E eu sou impotente diante de tudo isso! Essas máquinas, esse cheiro de éter e de carnes inflamadas, esse barulho infernal, meu Pai, o que posso dizer? Que deixe a minha garota morrer em paz? Sim, Senhor, leve-a para a tua glória! Eu a amo! Mas sei que tu a amas mais do que eu! Abençoa a Natasha. Em nome de Jes...

Subitamente Luciano pensou em completar a oração com o seguinte pedido:

"Mas, Senhor, se ainda houver um espaço para ela viver para ti, recuperar parte do tempo perdido, se na tua infinita misericórdia não for demais, por favor, Senhor, cura a tua serva. Ela já sofreu bastante, ela aprendeu, Senhor. Até eu, que fui o mais ofendido, já a perdoei! Por favor, Senhor, se der, devolve-lhe a vida! Mesmo que não seja pra viver comigo. E agora sim, em nome de Jesus. Amém".

Por favor, me avisem - disse Luciano aos familiares - , me avisem quando tudo terminar. Quero estar presente.

E foi embora. Tirou a tarde para viajar, seu hobby preferido: foi pra uma cidadezinha próxima, ver o por-do-sol.

PARTE FINAL

No caminho, ao longo da rodovia, seus pensamentos corriam mais que o vento: por que tudo isso estaria acontecendo? As coisas não poderiam ter sido mais fáceis? E agora? Ele, no carro, ela no hospital, a lembrança daquelas máquinas monstruosas de prolongar a vida não lhe saíam da memória... As lágrimas corriam, misturadas à poeira do vento seco do caminho.

Revoltado com tudo isso, parou o carro no acostamento. Encontrou uma estradinha de terra. Devagar, como a seguir um féretro, entrou pela rota dos sitiantes. Subiu devagar a montanha, encontrou um mirante. Parou, abriu a porta, e, num grito de dor e lamento, chorou. Ah, como chorou! Seu pranto escorria pela porta do carro. Os pássaros, assustados, aquietaram-se nas árvores, contemplando aquele misto de dor e revolta. Parecia que todo o mundo fazia silêncio em respeito a tanta dor.

Deus, por que? Por que? Por que? Por que tive que amá-la? Por que tive que vê-la? E agora, Senhor, o que fazer? E se tu a levares? O que será de mim? Eu já estava quase esquecendo, Senhor! Agora tudo volta a doer! Senhor, Senhor...

Cansado de tanto chorar, entrou no carro e deitou-se, estendendo o banco para o fundo. Travou a porta, colocou uma fita de música clássica e desfaleceu. Ali estava um moço de valor, que amava e que lutava entre sua vontade e a vontade de Deus.

Sonhou durante o sono, no delírio da febre. Sonhou estar na igreja. Viu o pastor a pregar, e, ao seu lado estava Natasha, bonita e sorridente. Lá do púlpito o pastor dizia: "Aquele que amar mais à sua mulher, mais do que a mim, não é digno de mim - palavras de Jesus!" E, aos poucos, o sorriso de Natasha foi sendo coberto por uma neblina e desaparecia. Assim acordou.

Assustado e cônscio de que Deus falara com ele, pôs-se a orar, dizendo:

Senhor, sei que é difícil, mas tenho que fazer isso. Confesso que estou revoltado, ó, Pai. Quero fazer a minha vontade, não a tua. Eu não estou conseguindo aceitar a tua vontade, caso seja a de levá-la embora! Sei que estou errado, Senhor, e sei que é isso que quisestes me falar. Senhor, sou teu servo e quero te obedecer. Se irás tirar a Natasha mais uma vez, tira-a, apesar de mim. Por mais que isso doa, Senhor, prefiro assim: não quero perder-te Senhor. Só me ajude e console o meu coração... Tu sabes o que será melhor para ela, e também melhor para mim. Em nome de Jesus, amém.

Voltou a dormir.

Toca o celular.

Alô?

Luciano?

Sim, sou eu.

Aqui é o pastor, filho. Como você está?

Bem mal, pastor. Mas sobrevivendo...

Eu orei por você, garoto. Pedi a Deus para lhe fazer suficientemente forte para renunciar, se preciso for. Você quer conversar sobre isso?

Pastor - disse, sorrindo o rapaz, - já o ouvi pregar agorinha mesmo no sonho, já renunciei a Natasha. Está doendo, mas estou em paz. Obrigado.

Ótimo. Então volte pro hospital, Luciano. A Natasha acordou e saiu do estado crítico. Ela quer ver você...

O QUE??? SÉRIO, PASTOR?

Séríssimo. Vem com calma, mas acelera, filho...

Não levou hora e meia e Luciano estava entregando a chave do carro pro manobrista do hospital.

E a Natasha? , perguntou à mãe dela.

Filho, corre, ela está chamando por você! Vai, filho! Deus está agindo! Eu já a vi, mas ela teima que quer ver-lhe!

Agora o corredor do hospital era longo demais para ele. Se pudesse, daria três passos em um, para chegar mais rápido e contemplar o rosto de sua amada. Seu coração estava disparado, pensava no que ouviria e no que diria. O suor lhe escorria pela face e as vistas estavam enfumaçadas. Correu a vestir o jaleco, o sapato de pano, as luvas e a máscara. Box 06. Lá estava ela, e três médicos palestrando. Ao olharem o rapaz, perguntaram:

Você é o Luciano?

Sim, doutor, sou eu. Por que?

Converse um pouco com ela. Ela gritou o seu nome por mais de meia hora e nos deixou quase loucos! Isso é que é amor! Mas seja breve, ainda não entendemos essa súbita melhora. Temos que medicá-la novamente.

Aproximou-se do leito. Os lábios de Natasha estavam sangrados, a boca ferida, canos haviam saído da garganta, o pescoço estava com fios, braços e pernas com soro, sondas, enfim, uma cena dramática, mas não tanto quanto na última vez. Pelo menos o respirador artificial estava desligado, e em silêncio...

Lu..cia..no.. me.u...a..mor....

Fala, querida, eu estou aqui!

Je..sus....veio..a..qui! Eu..vi!

Luciano deixou as lágrimas verterem de seus olhos, lágrimas quentes e profundas.

Você estava sonhando, querida.

Nã..ão, meu ..a..mor, Je..sus veio...me di..zer.. uma..coi..sa!

Um tanto alegre, mas também incrédulo, Luciano pergunta:

E o que Jesus lhe disse, amor?

Dis.se...que.. vo..cê..me ama..va e..que..es.ta...va... (cof! cof!) es..ta..va. orando lá..num sí..tio.. por..mim...e ..lu..tan..do ...para me renun..ciar..

Luciano gelou. Natasha completou:

E..le.. me..dis..se..que..a.ceitou..a.sua..or.a..ção!

Agora ele estava arrepiado. Não só isso, ele estava com as pernas totalmente moles e adormecidas, num misto de medo e perplexidade.

E sobre você, amor, ele disse alguma coisa?

Dis.se..pa..ra....que..eu não ...pe..casse.. de nno..vo... - Natasha adormeceu.

Natasha!!! Natasha!! Não morra!!!

Calma, garoto - disse o médico - ela só adormeceu. Fique tranqüilo, mas saia agora, temos que seguir os procedimentos necessários.

E assim foi.

Natasha saiu do hospital em 20 dias. Sem explicação convincente, os médicos quiseram impetrar a si mesmos um erro de avaliação e diagnóstico,dizendo que pensaram que havia câncer onde nada existia, mas não sabiam explicar as dúzias de exames, de biópsias, de ressonâncias e de quimioterapias feitas. Claro, grande parte da medicina desconhece o poder de Deus, a misericórdia do Altíssimo. E um câncer desaparecido tem que parecer um mero "erro médico". Mas o milagre acontecera de fato...

Outra tarde, fim de expediente no escritório de Luciano, Natasha de pé em frente à escrivaninha de trabalho dele.

Luciano, de agora em diante eu viverei cada dia como um milagre do Senhor, e viverei apenas e tão-somente para a glória dele.

Que bom, Natasha! Espero que você seja feliz! Orarei sempre por você!

Luciano...

Fale, querida.

Quero pedir só mais uma coisa.

Se eu puder atender...

Eu quero me casar com você e ser a sua mulher, a sua companheira, e servir ao Senhor ao seu lado. Eu te amo! Me perdoe por tudo que fiz!

Era tudo o que o rapaz queria ouvir. Sorridente, abriu a gaveta da escrivaninha e tirou uma linda boneca de porcelana, numa casinha de papelão, idêntica à primeira, presenteada quando começaram a namorar. Levantou-se, entregou-lhe a boneca, abraçou sua amada pela  cintura, trazendo-a para junto de seu rosto, e lhe disse, com um brilho jamais visto em seu olhar:

Eu perdôo você e quero recebê-la como minha esposa, amor. Eu te amo!

Também te amo, querido!

Não se podia descrever o que era mais bonito e brilhante; se o brilho do sol da tarde, clareando toda a sala pelas vidraças, ou se o brilho do beijo de Natasha e Luciano, ao som da mais linda música que o mundo pode ouvir: o palpitar de dois corações apaixonados. Aliás, apaixonados por Deus primeiramente, e, por causa do Senhor, apaixonados um pelo outro...

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O resto?

Bem, essa já será uma outra "PÁGINA SOLTA"...




Pr. Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas de Osasco, SP
bnovas@uol.com.br
08/07/2003

quarta-feira, 10 de abril de 2013

memórias literárias - 60 - BÊNÇÃOS DURADOURAS


60 - BÊNÇÃOS DURADOURAS


Esta, porém, é a bênção com que Moisés, homem de Deus, abençoou os filhos de Israel antes da sua morte.  (Dt 33:1);
 A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos.  (Tg 5:16)

Quando Abraão abençoou a seu filho Isaque, ele não estava brincando de falar palavras bonitas ou dizer palavras positivas. Ele cria no que dizia e contava com um poder que ultrapassava o campo normal da vida. Deus concedera ao pai, chamado, justificado, abençoado e crente, o privilégio de desejar coisas para seus filhos.

Isaque também abençoou seu filho Jacó, ainda que pensasse tratar-se de Esaú. Sem levar em consideração a questão predestinadora do Senhor, a bênção foi tão poderosa, que derramou-se sobre Jacó e sua linhagem. Jacó, por sua vez, à sua grande e extensa prole, abençoou cada um dos filhos, dizendo palavras específicas, palavras de seu coração, e, em determinado sentido, proféticas. Moisés, centenas de anos depois, estendeu a bênção sobre algo mais que seus filhos, ele abençoou a nação inteira. E a bênção “pegou”. Israel, conquanto um país tão justo e tão ímpio como qualquer outro, ainda é beneficiado pelas bênçãos irrevogáveis do passado.

Jesus Cristo também valorizou em extremo a questão das bênçãos. Ele disse que os discípulos, nas casas onde fossem hospedados, deveriam desejar bênçãos de paz. Se as casas não fossem dignas, tais bênçãos não se perderiam, mas retornariam a eles, pois, na economia de Deus, bênçãos não se perdem nunca; elas deveriam continuar armazenadas para casas mais dignas. Que poder têm as bênçãos!

Tenho um exemplo pessoal para compartilhar. Fui abençoado com uma mãe magnifica, maravilhosa e profundamente temente a Deus. Jesus a levou. Mas me lembro com muita clareza, das manhãs e das noites dessa mulher idosa. Junto de seu andador ou de sua bengala, com o rádio ligado na REDE MELODIA, que ela tanto apreciava, mamãe balbuciava, com olhos lacrimejantes e cansaço nos braços, orações por nós, seus filhos, e pelas nossas igrejas. Não vi isso por alguns dias; vi isso por longos e longos anos. Quando mamãe se foi, uma enxurrada de bênçãos começou a cair sobre a minha vida e a vida de meu irmão. Tivemos a impressão de que um cuidado mais que especial estava a nos acompanhar, em nossas lides diárias, em nossas profissões, em nosso sustento. Que presença seria essa?

É a presença duradoura da bênção paternal e maternal, sobre os filhos tão amados! A bênção dos pais funciona mesmo! Deus ouve, aceita e armazena cada oração, cada clamor, cada súplica. Eu e meu irmão temos a impressão que não há apenas um cálice de orações de nossa mãe, mas um balde, um tacho, um barril!

Por isso devemos abençoar nossos filhos. Abençoar nossos irmãos em Cristo. Abençoar nossos governantes. Abençoar nossos pastores. Abençoar nossos vizinhos. Abençoar nossos cônjuges. Abençoar nossos governantes. Abençoar nossos familiares. Abençoar nossos patrões. Abençoar nossos empregados. Abençoar nossas criações, abençoar nossas lavouras. Abençoar nossas igrejas. Abençoar nosso país. Até os nossos inimigos nós devemos abençoar!

Que tal deixar-se flagrar em oração, não apenas por  seu filho, esposa ou marido, mas pelo próprio Deus, e também por você mesmo? E, quando flagrado, estar abençoando através da oração?

Que tal fazer isso agora?

Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas de Osasco SP
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memórias literárias - 1477 - CHORA, Ó RAQUEL...

  CHORA, Ó RAQUEL...   1477   Quando o Senhor Jesus Cristo fez-Se homem, nascendo do ventre de Maria, Herodes o Grande desejou matá-Lo...