29/04/2013
72 - TUDO É
ESPETÁCULO
Tudo é
espetáculo.
Um assalto é show: as câmeras
filmam, mostram as agressões, o sangue, gravam os tiros, o horror, a fuga e nós,
consumidores de mídia, assistimos a tudo não mais com ares de indignação, mas de
expectadores.
Um culto é filmado. O primeiro
propósito era registrar a prédica e a música. Porém hoje tudo mudou. Um grande
auditório torna-se multifacetado: câmeras de diversas posições flagram as
lágrimas do povo, as mudanças de posição nos instrumentos de corda, as caras e
bocas dos que oram, cantam, tocam ou dirigem, os flagrantes de espiritualidade,
os discursos, as propagandas. O culto tornou-se um show.Alguns assistem para
adquirir conhecimento; outros, pela crítica; ainda outros para satisfazer a
consciência pelo culto perdido em sua própria igreja.
O carro na estrada filma a viagem. É
um vídeo contínuo, com direito aos sons de dentro, do rádio, da voz, do celular,
do painel, dos buracos por onde passa. Filma as infrações, filma as discussões,
filma as colisões. Editados, tornam-se campeões de audiência para um público
ávido por acidentes, de preferência fatais, um mais violento que o outro.
Tornam-se astros de "vídeos incríveis" ou cenas cômicas de
"videocassetadas".
O amor virou mídia. Câmeras
indiscretas filmam a privacidade do leito conjugal, gravando filmes impróprios
para quaisquer terceiras pessoas. Contudo, para que filmar isto? Certamente para
que algum flagrante possa escapar da vigilância do "prudente casal" e tornar-se
alvo de desejos incontidos ou elementos para detetives e processos judiciais de
divórcio. Não há limites para o público e o privado; aliás, nada mais é privado,
pois até os banheiros possuem câmeras e algumas no próprio
sanitário...
As pessoas viraram perfis nas redes
sociais. Quem não tem facebook não existe; quem não tem twitter não diz nada.
Quem não se cadastra com e-mail e celular não faz parte do mundo. Ainda depois
de morto alguém continua sendo alguém se existir alguma página, blog, identidade
em rede social ou twitter em seu nome. Os consulentes estão pouco ligando se são
as pessoas verdadeiras a falar; tudo o que vale é o "avatar", o ícone, o
símbolo, o sucesso gerado pela audiência.
Que mundo é este? Um mundo ridículo,
de uma geração má e perversa, que vive um estado de imbecilidade de hiena e de
maldade ontológica, buscando o horror a qualquer preço. Os grandes formadores de
opinião (Hollywood) ensinam e propõem cenários de violência, onde o sofrimento e
a morte geram sites de audiência que ganham fortunas com as vítimas, e então,
depois da pedagogia da desgraça aparecem em vídeos de campanhas contra a tortura
e os maus tratos. Que mundo é este, que filma tudo e a tudo transforma em
espetáculo?
É um mundo de horror, sem beleza nem
ternura, sem o subentendido ou o imaginário. É um mundo explícito de
manifestação de todo o mal residente no coração e na mente humana, de um ser
corrompido pelo pecado. A mídia imediata de comunicação (telefone, celular,
internet, satélite, TV etc) tornaram imediatas as manifestações e os
compartilhamentos. Como nós damos o que temos, então o resultado é esse: um
mundo de terror visual, auditivo, sentimental.
Acabou o tempo da poesia, do
descrever em versos o que o coração sentia. Ah, belos tempos, onde olhares
trocados diziam coisas e os rostos em rubor denunciavam a compreensão! Atos de
amor, pronunciamentos elegantes, desejo de conhecer o longínquo, a sensação da
descoberta de novas terras, culturas, pessoas, países, tudo isso ficou no
passado. Antes havia conhecimento limitado para inteligências aguçadas. Hoje há
excesso de conhecimento para mentes raquíticas, preguiçosas e adestradas para o
mal.
Onde tudo isso acabará? Falta ainda
algum limite de privacidade a ser rompido? Terá algo que ainda cause vergonha a
alguém? Se os homens não acordarem para o mal propagado estarão condenados a se
destruírem. Mas, o que digo eu? Isto é tudo o que o homem conseguirá:
destruir-se a si próprio, queimando dentistas trabalhadoras, degolando o pescoço
de moças, explodindo panelas de pressão nas maratonas ou espirrando gás venenoso
sobre populações inteiras.
Talvez seja a chegada do tempo do
fim. O juízo divino virá e pode ser que a montagem do cenário esteja quase
completa: um mundo jazendo no maligno.
Contudo, ainda há um lugar sem
câmera, sem microfone, sem filmagem, sem acesso às redes sociais: é o coração
contrito a buscar a Deus no recôndito do seu quarto (que pode ser na montanha,
na praia, no mato, na cidade, na multidão ou no deserto). É o "entra no teu
quarto e fica à sós com o teu Deus". É o lugar da oração. Sim, neste ainda há
privacidade. Deus e eu, e mais ninguém. Mas tem sido um local tão pouco
frequentado! E, conquanto impopular, ainda é o melhor lugar do mundo!
Com licença, que estou indo pra lá.
Wagner Antonio de
Araújo
Igreja Batista Boas Novas do
Rodoanel em Carapicuíba, São Paulo, Brasil
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