O RESTO
DE MINHA
VIDA
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O que vou fazer com o resto 
de minha vida?
E a vida tem resto? 
Certamente que não. Porém é fato que um dia ela irá acabar. Pelo menos da forma 
como existimos agora, com o corpo, a mente e as circunstâncias que nos rodeiam. 
Reconhecemos que ela não é o fim da existência, uma vez que não fomos criados 
para a temporaneidade, mas para a vida eterna. Todos têm a vida sem fim, o que 
muda é como a desfrutarão na eternidade: se RELIGADOS com Deus, através do único 
mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, então desfrutarão da vida em toda 
a sua plenitude: sem lágrimas de dor, sem envelhecimento, sem despedidas, sem 
sofrimento, sem memórias daninhas. Se indiferentes ao único caminho para a vida 
plena com o Criador, também viverão eternamente, mas em uma condição tão 
dramática e tão terrível, que sequer pode ser chamada de vida, mas de morte 
eterna: onde há choro e ranger de dentes, onde o seu bicho não morre e onde o 
fogo nunca se apaga.
Mas enquanto a eternidade 
não chega eu vou caminhando rumo ao ocaso, ao entardecer da existência. Não sou 
mais um garoto que brinca na rua, um adolescente que descobre as novas emoções 
da puberdade ou o jovem que enxerga o futuro com carreiras promissoras. Já 
caminhei mais da metade do trajeto e o que existe é o que sou de fato. 
Certamente que há o que melhorar e o que mudar, mas eu já tenho um ser 
sedimentado em mim e já possuo biografia suficiente para determinar quem tenho 
sido. Já cresci, já estudei, já trabalhei, já escolhi a minha carreira, já me 
enamorei, já me casei, agora desfruto das escolhas que fiz ao longo da vida, bem 
como da misericórdia do Senhor, consertando os estragos do que não acertei, e da 
dádiva da experiência que nos ajuda a errar menos.
Gostaria de mencionar 7 
áreas que precisam de completa atenção para o resto dos dias que me restam. 
Talvez ajude também os meus leitores a pensar e a refletir sobre suas próprias 
vidas. Não estão em hierarquia, exceto o primeiro. Os demais vêm na sequência, 
como "as demais coisas".
1 - PRIORIDADE: 
DEUS - Sim. É com Ele que irei me encontrar após morrer. É o único que 
seguirá comigo até o fim. Se Ele não for o primeiro para mim, certamente não 
será nada. Então qualquer esforço para manter-me em comunhão com Ele será 
válido. Ele começou esse relacionamento, quando me criou e posteriormente, 
quando mostrou-me Sua luz e Seu caminho através de Jesus Cristo, Seu Filho. Deus 
é a prioridade de minha vida para o resto dos meus dias. Nesse sentido algumas 
práticas tornam-se fundamentais: LEITURA BÍBLICA - Sem bíblia no coração 
não há palavra de Deus; logo, lê-la, decorá-la, compreendê-la, estudá-la, 
aplicá-la, torna-se fundamental. ORAÇÃO - Bíblia é monólogo se eu não 
corresponder ao Seu autor mediante a minha busca de Sua pessoa. Pela oração eu 
falo com Deus. Orar torna-se um respirar, algo indispensável. Falar com Deus 
todos os dias, em todo o tempo, o tempo todo. Agradecer, confessar, interceder 
pelo próximo, pedir por mim, dispor-me e suplicar bênçãos pelo Seu Reino, o 
hábito de orar em todos os sentidos. IGREJA - Não sou do time dos 
"desigrejados", até porque isso é um contrassenso, pois se sou "CRENTE" segundo 
as Escrituras Sagradas, tenho nelas a revelação de que Cristo fundou a igreja e 
que faço parte dela. Igreja é corpo visível de Cristo, comunidade dos chamados 
para fora do mundo. Assim, envolver-me com uma boa igreja, que seja bíblica em 
sua fé e cristã em sua prática, é indispensável. Seja ela grande ou pequena, 
pobre ou rica, jovem ou velha, tem que ser uma igreja de regenerados pelo mesmo 
Espírito que nos transforma em novas criaturas. SERVIÇO - Cristãos que 
não servem não são cristãos. E servir é muito mais do que uma esmola, uma 
oferta, um ato. Servir deve ser um estilo de vida. E quantas oportunidades há 
para servir! Servir com os bens, servir com orações, servir com visitas, servir 
com o voluntariado, servir com o apoio, servir com o acolhimento, servir com a 
doação de si próprio. Quem não vive para servir não serve para 
viver.
2 - ZELAR PELO 
CORPO - A mentalidade de que o médico, o dentista, o seguro, o convênio é 
que cuidam de nossa saúde é um fracasso. Eles podem orientar, tratar, medicar, 
ajudar, socorrer. Mas se nós mesmos não zelarmos do corpo que temos ninguém fará 
isso por nós. E são esses cuidados que podem garantir uma qualidade melhor para 
viver o resto de nossas vidas. Zelar do corpo é uma prioridade. Quem não zela do 
corpo agora terá que zelar mais tarde ou será um peso para que os outros cuidem. 
Nem todos somos saudáveis, e muitos de nós não adoecem por falta de cuidados, 
mas por fragilidade física mesmo. Independentemente do grau de saúde podemos e 
devemos zelar para que o corpo alcance um cuidado ideal, mesmo que com 
deficiências. Alimentação equilibrada, sono regrado, caminhadas para movimento, 
exercícios com a mente, higiene e limpeza constantes, são coisas que em muito 
auxiliam a manutenção física de nosso lar de carne, que se desfaz. Cuidar dele 
faz com que ele só venha a se desfazer plenamente quando já estivermos bem longe 
daqui. Enquanto o temos, zelemos por ele. Ele é uma dádiva e nós somos os 
cuidadores. Podemos não estar plenamente saudáveis, mas estaremos bem 
cuidados. Há carros novos parados na estrada, enquanto carros velhos e com 
avarias, mas bem cuidados,  conseguem trafegar sem 
problemas.
3 - CULTIVAR OS 
CUIDADOS PARA COM A FAMÍLIA - Ela é a primeira instituição divina e deve ser 
priorizada pela nossa atenção, investimento, amor, cuidado, carinho, trabalho. A 
esposa, os filhos, os pais devem receber atenção concentrada, amor e estima 
contínuas. Deus deu-me uma esposa maravilhosa, uma irmã adotiva inigualável, um 
irmão e família (cunhada e sobrinhos) fabulosos. Eles são minha família. Cuidar 
de cada um deles, manter sólida amizade com eles, dar-lhes amor e atenção são 
obrigações próprias de quem partilha dessa mesma ligação sanguínea e posicional. 
Precisamos nos sentir acolhidos, amados e importantes. Uma família alicerçada no 
amor mútuo, nos valores da Palavra de Deus e na atenção recíproca é um 
verdadeiro oásis diante do deserto da existência humana. A minha esposa, nessa 
escala de valores, deve ocupar a prioridade máxima, como ocupa. Ainda que 
trabalhador, pastor, irmão, cunhado, tio ou estudante, sou antes de tudo, como 
crente e como membro de uma família, marido. Como agradeço a Deus pela esposa 
que Ele me deu! E como louvo ao Senhor pela boa família que tenho! Se há algo 
que precisará receber atenção é a família. Sempre.
4 - OS AMIGOS 
CHEGADOS - Podemos ter muitos relacionamentos e, no caráter de homem 
público, temos muitos a quem chamamos AMIGOS. Porém a grande verdade é que 
amigos não são muitos, e para ninguém. Alguns são amigos das funções que 
ocupamos, não de nós mesmos. Quando fui presidente de organizações encontrei um 
monte de amigos que queriam desfrutar de minha conversa, minha companhia, minha 
opinião e, não raras vezes, de meu apoio. Quando deixei de presidir esses amigos 
migraram para o novo presidente. Logo, não eram meus amigos, eram bajuladores da 
função que exercia. Amigos não saem quando todos vão embora; eles permanecem, 
eles ficam. E não dependem de benefícios conseguidos, de dinheiro emprestado, de 
favores; eles são amigos sempre, em quaisquer circunstâncias. Acredito que no 
que resta da minha vida devo não apenas preservar boas amizades, mas investir 
cada vez mais nesses relacionamentos. Não com aqueles que preciso buscar o tempo 
todo. Quando se tem que mendigar um contato ou buscar constantemente a outra 
pessoa não se trata de uma amizade autêntica. A amizade é uma estrada de duas 
mãos, tem a ida e tem a volta. Insistir em algo que não é espontâneo ou não 
possui iniciativa própria é perder tempo. Às vezes nos dedicamos a quem não nos 
dá valor, quando aqueles que realmente nos valorizam ficam privados de nossa 
atenção. Sabedoria, discernimento e decisão são necessárias para nomearmos os 
nossos verdadeiros amigos e desfrutarmos de relacionamentos que tragam paz, 
harmonia, alegria e crescimento para ambos. Os demais poderemos servir na medida 
em que nos procurarem, pois no coração de quem é amigo sempre há espaço para 
mais alguém. Mas não pode haver dependência de amizades que simplesmente não 
decolam sem que as empurremos o tempo todo. O amor é uma porta aberta: aberta 
para se entrar, aberta para se sair, e aberta para se ficar, se 
quiser.
5 - PRUDÊNCIA NA 
ADMINISTRAÇÃO DOS BENS - Não somos ricos. Alguns de nós são pobres, outros 
são remediados. A maneira com que administramos o que temos pode definir o 
futuro que teremos quando as forças nos faltarem. A formiga trabalha na 
primavera para desfrutar do alimento no inverno. E nós precisamos aprender a 
lidar com os bens com prudência. Não é o quanto ganhamos que conta, mas como 
gastamos. Infelizmente os nossos salários são mais do que deficientes e 
defazados; porém, quando primamos por entregar a Deus com amor as suas ofertas e 
dízimos, e cuidamos do que resta com responsabilidade, Ele abençoa. Da pobreza 
Ele nos dá a riqueza de ter o suprimento de cada uma de nossas necessidades. 
Nunca no incentivo de uma vida nababesca, que é mera ostentação; mas sempre na 
modéstia e humildade, tendo o pão de cada dia sobre a mesa, o teto e a coberta 
para o acolhimento, a condução e os bens necessários para o dia a dia. E ainda o 
suficiente para socorrermos aos que nada têm e que cruzam os nossos caminhos. 
Pensar na velhice é indispensável: um INSS, por mais humilde que seja, uma 
previdência privada quando o recurso nos permite, uma poupança bem administrada 
ou transformada em bem que traz retorno, como um aluguel. E se não temos nada 
além do pão quotidiano, que seja um pão honrado, repleto de amor e de alegria, 
sem extravagâncias. Na casa do prudente não há espaço para bugigangas sem 
utilidade ou consumismo exacerbado. O bom nome e a prudência valem mais do que 
um alto salário e grandes fortunas.
6 - TRABALHAR ATÉ 
NÃO MAIS PODER - O trabalho feito com dedicação e com honradez serve como 
remédio e como motivação vivencial. Ainda mais quando fruto de chamado e 
vocação. Se eu adoecer gravemente e for obrigado a parar de trabalhar, 
compreenderei. Porém, se a saúde me permitir trabalhar, quero dar sempre o meu 
melhor e jamais deixar de servir. Trabalhar para servir é prazeiroso. Deus 
chamou-me para pastorear e nesse afã tenho dedicado a minha existência. Se 
puder, quero morrer servindo ao Senhor nos cuidados com Sua igreja. E nesse 
sentido, diversas outras atuações se me apresentam como bênçãos: ESCREVER 
- A literatura tornou-se indispensável em minha comunicação há anos; às vezes 
paro um pouco, outras tantas releio o que escrevi. Publiquei um livro e ainda 
não tive tempo de trabalhá-lo, de divulgá-lo, de vendê-lo! Quero continuar a 
escrever. Minhas ficções cristãs, minhas crônicas, meus estudos bíblicos, meus 
sermões, minhas críticas apologéticas, meus protestos tradicionais, minhas 
linhas românticas e poéticas, minha prosa sem compromisso. PREGAR - Prego 
desde os 14 anos e nunca parei. Não sei pregar direito e não poderia deixar de 
pregar se vivesse na base de um perfeccionismo inalcançável. Uma coisa faço: 
quero melhorar a cada dia, para que eu mesmo possa dizer: o que preguei, vivi; o 
que preguei estudei; o que preguei foi fruto de dedicação; o que preguei foi a 
Palavra de Deus. VISITAR- Visitas tornaram-se banais em alguns casos, e 
em outros tornaram-se escassas. Entre a banalidade e a inexistência quero 
desfrutar de uma agenda própria de visitas, onde possa levar o amor de Deus aos 
perdidos, o alento aos doentes, a edificação aos crentes, o apoio aos enlutados, 
a alegria aos que celebram, a admoestação aos que se desviam. A visita bem feita 
pode mudar uma vida! Quero desenvolver o discernimento de saber a quem visitar, 
quando visitar e com que frequência fazê-lo. ENSINAR - Há muito não 
leciono em seminários, exceto os que eu mesmo promovo. Gostaria de lecionar 
novamente em seminários teológicos, mas se isso não acontecer, quero ter a graça 
do Senhor para planejar e administrar cursos que realmente ajudem no 
desenvolmento e no crescimento dos alunos. Não sou um bom professor. Mas posso 
aprender a aprender, e aprender a ensinar a cada dia um pouco 
mais.
7 - CELEBRAR, MEMORIZAR 
E ETERNIZAR - Deus se revelou no Velho Testamento como um Deus festeiro, 
isto é, que celebrava eventos da redenção, da libertação, da redenção. No Novo 
Testamento celebramos a morte e a ressurreição do Senhor com a festa memorial 
reflexiva da Ceia do Senhor, uma celebração de morte, de ressurreição e de 
retorno. E no livro de Atos vemos a igreja celebrando batismos, celebrando envio 
e retorno de missionários, celebrando vigílias e também as viagens missionárias 
descritas em detalhes. Lágrimas, alegria, tristezas, perseguições, tudo era 
registrado com muita vida e muito significado. Em Apocalipse vemos as festas 
celebradas pelos anjos, pelos quatro animais, pelos 24 anciâos, as Bodas do 
Cordeiro, os aplausos, os cânticos múltiplos, as entradas triunfais do Rei dos 
reis e Senhor dos Senhores. Acredito que devo celebrar mais e memorizar mais. E 
celebrar o que? Celebrar a salvação que recebi do Senhor. Celebrar a nova vida 
em Cristo. Celebrar o amor cristão na igreja. Celebrar as alegrias dos 
nascimentos e chorar a lágrima das partidas. Celebrar as vitórias em família, 
celebrar as conquistas e as realizações. Celebrar os anos de vida, celebrar as 
dádivas. Devo memorizar as coisas boas e delas jamais me esquecer. Quem celebra 
memoriza. Então um pôr-do-sol jamais será banal, nem tampouco um luar claro e 
límpido. O primeiro filho, o primeiro caminhar; a casa nova, o diploma do curso, 
a viagem dos sonhos, a cura de um câncer, a volta de um amigo, o fim de uma 
campanha, a reconciliação de uma família, a conversão de um inimigo. E para 
eternizar essas celebrações mister se faz contá-las, escrevê-las, fotografá-las, 
registrá-las. E mantê-las lindas, vivas, reais, no fundo do nosso coração. Quem 
celebra vive com mais empenho, faz de fatos corriqueiros grandes eventos e 
transforma a rotina em uma surpresa diária a cada manhã. Quero ser alguém que 
celebre, que memorize e que eternize. Este artigo já é uma tentativa tosca, 
porém real, de tentar memorizar alguns pensamentos.
Espero que estas reflexões 
do fundo da alma ajudem a pensar. A mim ajudaram. Se mais um refletir, terei 
atingido o meu objetivo.
Wagner Antonio de 
Araújo,
14/07/2014
Wagner Antonio de 
Araújo
Igreja Batista Boas Novas de Osasco, 
SP
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