quarta-feira, 17 de junho de 2015

memórias literárias - 209 - O RESTO DE MINHA VIDA

O RESTO
DE MINHA
VIDA
209
 
 
O que vou fazer com o resto de minha vida?
 
E a vida tem resto? Certamente que não. Porém é fato que um dia ela irá acabar. Pelo menos da forma como existimos agora, com o corpo, a mente e as circunstâncias que nos rodeiam. Reconhecemos que ela não é o fim da existência, uma vez que não fomos criados para a temporaneidade, mas para a vida eterna. Todos têm a vida sem fim, o que muda é como a desfrutarão na eternidade: se RELIGADOS com Deus, através do único mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, então desfrutarão da vida em toda a sua plenitude: sem lágrimas de dor, sem envelhecimento, sem despedidas, sem sofrimento, sem memórias daninhas. Se indiferentes ao único caminho para a vida plena com o Criador, também viverão eternamente, mas em uma condição tão dramática e tão terrível, que sequer pode ser chamada de vida, mas de morte eterna: onde há choro e ranger de dentes, onde o seu bicho não morre e onde o fogo nunca se apaga.
 
Mas enquanto a eternidade não chega eu vou caminhando rumo ao ocaso, ao entardecer da existência. Não sou mais um garoto que brinca na rua, um adolescente que descobre as novas emoções da puberdade ou o jovem que enxerga o futuro com carreiras promissoras. Já caminhei mais da metade do trajeto e o que existe é o que sou de fato. Certamente que há o que melhorar e o que mudar, mas eu já tenho um ser sedimentado em mim e já possuo biografia suficiente para determinar quem tenho sido. Já cresci, já estudei, já trabalhei, já escolhi a minha carreira, já me enamorei, já me casei, agora desfruto das escolhas que fiz ao longo da vida, bem como da misericórdia do Senhor, consertando os estragos do que não acertei, e da dádiva da experiência que nos ajuda a errar menos.
 
Gostaria de mencionar 7 áreas que precisam de completa atenção para o resto dos dias que me restam. Talvez ajude também os meus leitores a pensar e a refletir sobre suas próprias vidas. Não estão em hierarquia, exceto o primeiro. Os demais vêm na sequência, como "as demais coisas".
 
1 - PRIORIDADE: DEUS - Sim. É com Ele que irei me encontrar após morrer. É o único que seguirá comigo até o fim. Se Ele não for o primeiro para mim, certamente não será nada. Então qualquer esforço para manter-me em comunhão com Ele será válido. Ele começou esse relacionamento, quando me criou e posteriormente, quando mostrou-me Sua luz e Seu caminho através de Jesus Cristo, Seu Filho. Deus é a prioridade de minha vida para o resto dos meus dias. Nesse sentido algumas práticas tornam-se fundamentais: LEITURA BÍBLICA - Sem bíblia no coração não há palavra de Deus; logo, lê-la, decorá-la, compreendê-la, estudá-la, aplicá-la, torna-se fundamental. ORAÇÃO - Bíblia é monólogo se eu não corresponder ao Seu autor mediante a minha busca de Sua pessoa. Pela oração eu falo com Deus. Orar torna-se um respirar, algo indispensável. Falar com Deus todos os dias, em todo o tempo, o tempo todo. Agradecer, confessar, interceder pelo próximo, pedir por mim, dispor-me e suplicar bênçãos pelo Seu Reino, o hábito de orar em todos os sentidos. IGREJA - Não sou do time dos "desigrejados", até porque isso é um contrassenso, pois se sou "CRENTE" segundo as Escrituras Sagradas, tenho nelas a revelação de que Cristo fundou a igreja e que faço parte dela. Igreja é corpo visível de Cristo, comunidade dos chamados para fora do mundo. Assim, envolver-me com uma boa igreja, que seja bíblica em sua fé e cristã em sua prática, é indispensável. Seja ela grande ou pequena, pobre ou rica, jovem ou velha, tem que ser uma igreja de regenerados pelo mesmo Espírito que nos transforma em novas criaturas. SERVIÇO - Cristãos que não servem não são cristãos. E servir é muito mais do que uma esmola, uma oferta, um ato. Servir deve ser um estilo de vida. E quantas oportunidades há para servir! Servir com os bens, servir com orações, servir com visitas, servir com o voluntariado, servir com o apoio, servir com o acolhimento, servir com a doação de si próprio. Quem não vive para servir não serve para viver.
 
2 - ZELAR PELO CORPO - A mentalidade de que o médico, o dentista, o seguro, o convênio é que cuidam de nossa saúde é um fracasso. Eles podem orientar, tratar, medicar, ajudar, socorrer. Mas se nós mesmos não zelarmos do corpo que temos ninguém fará isso por nós. E são esses cuidados que podem garantir uma qualidade melhor para viver o resto de nossas vidas. Zelar do corpo é uma prioridade. Quem não zela do corpo agora terá que zelar mais tarde ou será um peso para que os outros cuidem. Nem todos somos saudáveis, e muitos de nós não adoecem por falta de cuidados, mas por fragilidade física mesmo. Independentemente do grau de saúde podemos e devemos zelar para que o corpo alcance um cuidado ideal, mesmo que com deficiências. Alimentação equilibrada, sono regrado, caminhadas para movimento, exercícios com a mente, higiene e limpeza constantes, são coisas que em muito auxiliam a manutenção física de nosso lar de carne, que se desfaz. Cuidar dele faz com que ele só venha a se desfazer plenamente quando já estivermos bem longe daqui. Enquanto o temos, zelemos por ele. Ele é uma dádiva e nós somos os cuidadores. Podemos não estar plenamente saudáveis, mas estaremos bem cuidados. Há carros novos parados na estrada, enquanto carros velhos e com avarias, mas bem cuidados,  conseguem trafegar sem problemas.
 
3 - CULTIVAR OS CUIDADOS PARA COM A FAMÍLIA - Ela é a primeira instituição divina e deve ser priorizada pela nossa atenção, investimento, amor, cuidado, carinho, trabalho. A esposa, os filhos, os pais devem receber atenção concentrada, amor e estima contínuas. Deus deu-me uma esposa maravilhosa, uma irmã adotiva inigualável, um irmão e família (cunhada e sobrinhos) fabulosos. Eles são minha família. Cuidar de cada um deles, manter sólida amizade com eles, dar-lhes amor e atenção são obrigações próprias de quem partilha dessa mesma ligação sanguínea e posicional. Precisamos nos sentir acolhidos, amados e importantes. Uma família alicerçada no amor mútuo, nos valores da Palavra de Deus e na atenção recíproca é um verdadeiro oásis diante do deserto da existência humana. A minha esposa, nessa escala de valores, deve ocupar a prioridade máxima, como ocupa. Ainda que trabalhador, pastor, irmão, cunhado, tio ou estudante, sou antes de tudo, como crente e como membro de uma família, marido. Como agradeço a Deus pela esposa que Ele me deu! E como louvo ao Senhor pela boa família que tenho! Se há algo que precisará receber atenção é a família. Sempre.
 
4 - OS AMIGOS CHEGADOS - Podemos ter muitos relacionamentos e, no caráter de homem público, temos muitos a quem chamamos AMIGOS. Porém a grande verdade é que amigos não são muitos, e para ninguém. Alguns são amigos das funções que ocupamos, não de nós mesmos. Quando fui presidente de organizações encontrei um monte de amigos que queriam desfrutar de minha conversa, minha companhia, minha opinião e, não raras vezes, de meu apoio. Quando deixei de presidir esses amigos migraram para o novo presidente. Logo, não eram meus amigos, eram bajuladores da função que exercia. Amigos não saem quando todos vão embora; eles permanecem, eles ficam. E não dependem de benefícios conseguidos, de dinheiro emprestado, de favores; eles são amigos sempre, em quaisquer circunstâncias. Acredito que no que resta da minha vida devo não apenas preservar boas amizades, mas investir cada vez mais nesses relacionamentos. Não com aqueles que preciso buscar o tempo todo. Quando se tem que mendigar um contato ou buscar constantemente a outra pessoa não se trata de uma amizade autêntica. A amizade é uma estrada de duas mãos, tem a ida e tem a volta. Insistir em algo que não é espontâneo ou não possui iniciativa própria é perder tempo. Às vezes nos dedicamos a quem não nos dá valor, quando aqueles que realmente nos valorizam ficam privados de nossa atenção. Sabedoria, discernimento e decisão são necessárias para nomearmos os nossos verdadeiros amigos e desfrutarmos de relacionamentos que tragam paz, harmonia, alegria e crescimento para ambos. Os demais poderemos servir na medida em que nos procurarem, pois no coração de quem é amigo sempre há espaço para mais alguém. Mas não pode haver dependência de amizades que simplesmente não decolam sem que as empurremos o tempo todo. O amor é uma porta aberta: aberta para se entrar, aberta para se sair, e aberta para se ficar, se quiser.
 
5 - PRUDÊNCIA NA ADMINISTRAÇÃO DOS BENS - Não somos ricos. Alguns de nós são pobres, outros são remediados. A maneira com que administramos o que temos pode definir o futuro que teremos quando as forças nos faltarem. A formiga trabalha na primavera para desfrutar do alimento no inverno. E nós precisamos aprender a lidar com os bens com prudência. Não é o quanto ganhamos que conta, mas como gastamos. Infelizmente os nossos salários são mais do que deficientes e defazados; porém, quando primamos por entregar a Deus com amor as suas ofertas e dízimos, e cuidamos do que resta com responsabilidade, Ele abençoa. Da pobreza Ele nos dá a riqueza de ter o suprimento de cada uma de nossas necessidades. Nunca no incentivo de uma vida nababesca, que é mera ostentação; mas sempre na modéstia e humildade, tendo o pão de cada dia sobre a mesa, o teto e a coberta para o acolhimento, a condução e os bens necessários para o dia a dia. E ainda o suficiente para socorrermos aos que nada têm e que cruzam os nossos caminhos. Pensar na velhice é indispensável: um INSS, por mais humilde que seja, uma previdência privada quando o recurso nos permite, uma poupança bem administrada ou transformada em bem que traz retorno, como um aluguel. E se não temos nada além do pão quotidiano, que seja um pão honrado, repleto de amor e de alegria, sem extravagâncias. Na casa do prudente não há espaço para bugigangas sem utilidade ou consumismo exacerbado. O bom nome e a prudência valem mais do que um alto salário e grandes fortunas.
 
6 - TRABALHAR ATÉ NÃO MAIS PODER - O trabalho feito com dedicação e com honradez serve como remédio e como motivação vivencial. Ainda mais quando fruto de chamado e vocação. Se eu adoecer gravemente e for obrigado a parar de trabalhar, compreenderei. Porém, se a saúde me permitir trabalhar, quero dar sempre o meu melhor e jamais deixar de servir. Trabalhar para servir é prazeiroso. Deus chamou-me para pastorear e nesse afã tenho dedicado a minha existência. Se puder, quero morrer servindo ao Senhor nos cuidados com Sua igreja. E nesse sentido, diversas outras atuações se me apresentam como bênçãos: ESCREVER - A literatura tornou-se indispensável em minha comunicação há anos; às vezes paro um pouco, outras tantas releio o que escrevi. Publiquei um livro e ainda não tive tempo de trabalhá-lo, de divulgá-lo, de vendê-lo! Quero continuar a escrever. Minhas ficções cristãs, minhas crônicas, meus estudos bíblicos, meus sermões, minhas críticas apologéticas, meus protestos tradicionais, minhas linhas românticas e poéticas, minha prosa sem compromisso. PREGAR - Prego desde os 14 anos e nunca parei. Não sei pregar direito e não poderia deixar de pregar se vivesse na base de um perfeccionismo inalcançável. Uma coisa faço: quero melhorar a cada dia, para que eu mesmo possa dizer: o que preguei, vivi; o que preguei estudei; o que preguei foi fruto de dedicação; o que preguei foi a Palavra de Deus. VISITAR- Visitas tornaram-se banais em alguns casos, e em outros tornaram-se escassas. Entre a banalidade e a inexistência quero desfrutar de uma agenda própria de visitas, onde possa levar o amor de Deus aos perdidos, o alento aos doentes, a edificação aos crentes, o apoio aos enlutados, a alegria aos que celebram, a admoestação aos que se desviam. A visita bem feita pode mudar uma vida! Quero desenvolver o discernimento de saber a quem visitar, quando visitar e com que frequência fazê-lo. ENSINAR - Há muito não leciono em seminários, exceto os que eu mesmo promovo. Gostaria de lecionar novamente em seminários teológicos, mas se isso não acontecer, quero ter a graça do Senhor para planejar e administrar cursos que realmente ajudem no desenvolmento e no crescimento dos alunos. Não sou um bom professor. Mas posso aprender a aprender, e aprender a ensinar a cada dia um pouco mais.
 
7 - CELEBRAR, MEMORIZAR E ETERNIZAR - Deus se revelou no Velho Testamento como um Deus festeiro, isto é, que celebrava eventos da redenção, da libertação, da redenção. No Novo Testamento celebramos a morte e a ressurreição do Senhor com a festa memorial reflexiva da Ceia do Senhor, uma celebração de morte, de ressurreição e de retorno. E no livro de Atos vemos a igreja celebrando batismos, celebrando envio e retorno de missionários, celebrando vigílias e também as viagens missionárias descritas em detalhes. Lágrimas, alegria, tristezas, perseguições, tudo era registrado com muita vida e muito significado. Em Apocalipse vemos as festas celebradas pelos anjos, pelos quatro animais, pelos 24 anciâos, as Bodas do Cordeiro, os aplausos, os cânticos múltiplos, as entradas triunfais do Rei dos reis e Senhor dos Senhores. Acredito que devo celebrar mais e memorizar mais. E celebrar o que? Celebrar a salvação que recebi do Senhor. Celebrar a nova vida em Cristo. Celebrar o amor cristão na igreja. Celebrar as alegrias dos nascimentos e chorar a lágrima das partidas. Celebrar as vitórias em família, celebrar as conquistas e as realizações. Celebrar os anos de vida, celebrar as dádivas. Devo memorizar as coisas boas e delas jamais me esquecer. Quem celebra memoriza. Então um pôr-do-sol jamais será banal, nem tampouco um luar claro e límpido. O primeiro filho, o primeiro caminhar; a casa nova, o diploma do curso, a viagem dos sonhos, a cura de um câncer, a volta de um amigo, o fim de uma campanha, a reconciliação de uma família, a conversão de um inimigo. E para eternizar essas celebrações mister se faz contá-las, escrevê-las, fotografá-las, registrá-las. E mantê-las lindas, vivas, reais, no fundo do nosso coração. Quem celebra vive com mais empenho, faz de fatos corriqueiros grandes eventos e transforma a rotina em uma surpresa diária a cada manhã. Quero ser alguém que celebre, que memorize e que eternize. Este artigo já é uma tentativa tosca, porém real, de tentar memorizar alguns pensamentos.
 
Espero que estas reflexões do fundo da alma ajudem a pensar. A mim ajudaram. Se mais um refletir, terei atingido o meu objetivo.
 
Wagner Antonio de Araújo,
14/07/2014
 

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