quinta-feira, 9 de abril de 2015

memórias literárias - 164 - ELA JÁ IRÁ ATENDER-LHE...


 
 
ELA JÁ IRÁ
ATENDER-LHE...
164

 
Era um anúncio bem grande, na segunda página do jornal. Dizia que a multinacional abrira 1 vaga para executivo e que o teste para o cargo seria na sexta-feira às 6 horas da manhã. Centenas de inscrições foram feitas, mas somente dez foram selecionadas.
 
Às seis horas abriram-se as portas do luxuoso andar da diretoria. Os candidatos foram acolhidos pela secretária que os recebia com um sorridente bom dia e calorosos votos de sucesso. Alguns sorriram para ela, outros sentavam-se sem fazer conta da gentileza.
 
Durante uma hora a sala da diretora não se abriu. Os candidatos conversavam entre si, contando sobre suas carreiras, suas experiências, suas peripécias. Havia rapazes e moças, alguns eram mais maduros, mas todos sabiam que somente um ganharia.
 
Às sete horas um telefonema notificou a secretária e esta encaminhou o primeiro para a entrevista. Os  demais, quando viram a diretora saudaram-na efusivamente, com galanteios e sorrisos. Ela havia saído da sala para cumprimentar a todos. Entrou com o candidato e fechou a porta. Um dos homens dirigiu-se à secretária, dizendo:
 
- Minha filha, vai demorar muito? Sou um homem ocupado e preciso ser atendido com urgência.
 
- Senhor, eu vou chamar de acordo com as senhas que distribuí.
 
- Escute aqui, moça, disso eu sei. Não sou burro. Você está me chamando de burro? Será que eu não sei o que é uma senha?
 
- De forma alguma, senhor, estou apenas explicando que ...
 
- Não quero prosa com subalternas. Pensei que poderíamos entrar num entendimento.
 
Sentou-se bravo, enquanto outra moça aproximou-se:
 
- Você pode trazer um lanche para nós?
 
- Senhora, tenho que aguardar a copeira chegar, não posso antecipar, ela virá aqui às sete e meia.
 
- Escute, menina, na empresa onde eu trabalhava a secretária limitava-se a atender bem os visitantes. Eu quero que me traga AGORA alguma coisa para comer ou beber! Será que você não presta nem para isso? Não discuta, obedeça!
 
Vermelha, a secretária ficou em silêncio. Uma outra mulher tirou da bolsa um pacote de pães de queijo e uma garrafa com café, dizendo:
 
- Mulher precavida vale por dez! Tem café e pão de queijo pra nós aqui!
 
Todos sorriram, levantaram-se e foram pegar o seu quinhão. Um jovem disse:
 
- Tem mais um copinho aí? Vamos servir a secretária.
 
- Pare com isso - disse um senhor -, ela é da casa e vai esperar a copeira, isso aqui não é pra alimentar o proletariado!
 
Risos gerais.
 
E assim a manhã passou. O primeiro candidato entrevistado saiu da sala da diretora e todos sorriam. Chamou o próximo, entrou e logo em seguida fechou-se com ele. Por ter passado mais de uma hora foram à mesa da secretária:
 
- Funcionária, vai demorar muito?
 
- Senhor, eu não sei, depende da diretora e do tempo que irá gastar com o próximo candidato!
 
- Escute aqui, secretária - disse outra -  trate de ligar para ela e dizer que nós temos mais o que fazer! Que ela nos atenda logo!
 
- Eu não posso fazer isso, perdoe-me!
 
- Ah, se eu trabalhar aqui, você estará com os dias contados, secretária ineficiente!
 
Após meia hora, o outro candidato saiu. E então a diretora foi até a mesa da secretária, sorrindo. Sentou-se na cadeira da funcionária. A secretária foi até a porta do gabinete da diretora e falou:
 
- Senhores, podem se retirar. O processo terminou.
 
- Como? Por que? Não fomos entrevistados ainda!
 
- Nem precisarão - disse a secretária, sorrindo.
 
- Como não? O jornal dizia que todos seríamos avaliados pela diretora! - protestaram quase em uníssono.
 
- E vocês foram! EU SOU A DIRETORA-PRESIDENTE DA EMPRESA, além de proprietária - disse, calmamente. Todos ficaram perplexos.
 
- Troquei de lugar com a minha recepcionista, pois queria saber como eram os senhores fora das minhas vistas. Eu queria conhecer como tratariam os subalternos, como enfrentariam os atrasos, como reagiriam às necessidades dos colegas, como encarariam o relacionamento humano. Os que entraram e conversaram com a falsa diretora já eram meus funcionários. A maneira com que me trataram enquanto fingia ser a secretária definiu quem vocês seriam em minha empresa e eu estou convicta de que nenhum de vocês serve para trabalhar comigo.  Podem retirar-se e passar bem!
 
- Se eu soubesse que a senhora era a presidente...
 
- Se eu desconfiasse que era alguém tão importante ...
 
- Ninguém nos avisou dessa brincadeira, dê-nos nova chance!
 
- Quer um pão de queijo? Ainda tem um...
 
Que retrato vívido da vida cristã! O Senhor Jesus Cristo nos anunciou que faria a mesma coisa, simbólica e espiritualmente. Colocar-se-ia no lugar de outros para avaliar o nosso comportamento. Estaria no lugar daquele que tivesse fome, que tivesse sede, que estivesse nu, que se encontrasse enfermo, que estivesse aprisionado, e avaliaria o nosso comportamento para com as necessidades dos outros. Chegou mesmo a contar a parábola do bom samaritano (título não original numa história que retratava Ele mesmo), onde enaltecia a atitude de amar ao próximo, fosse ele quem fosse, até mesmo um rejeitado!
 
Em sã consciência nenhum de nós teria essa qualificação. Somos todos egoístas, pecadores, buscando o proveito próprio e trabalhando para que nos vejam e celebrem a nossa bondade. As nossas motivações são e sempre serão egoístas, pecaminosas, de fundo interesseiro e sem a autêntica piedade que Deus gostaria que tivéssemos.  Um doente, um pobre, um prisioneiro, um solitário, os pais, os filhos, os amigos, uma pequenina igreja, não receberão de nós uma atenção despretensiosa, pois, no máximo, o faremos para trocar boas obras por bênçãos divinas ou suprir o outro para que no futuro nos supra de alguma forma. Isso vale para todos, pois somos, indistintamente, pecadores. Se fôssemos os candidatos daquela sala, estaríamos desqualificados. Acontece que a sala é a vida e a secretária são os que estão ao nosso redor.
 
É necessário passarmos por uma transformação em Cristo. Trocar o coração de pedra e receber dEle um coração de carne. É preciso mudar o império do coração, tirando o EU que domina segundo as suas necessidades e colocando CRISTO, que nos conduzirá a servi-Lo fielmente, servindo ao próximo, que, como Ele mesmo disse, ocuparia o Seu lugar em sua visão de nossa prática. Assim, ao servir o outro, imbuídos de um novo coração, uma nova mente e um espírito renascido em Cristo, estaremos fazendo para o próprio Deus, sem esperar recompensas, apenas porque fomos capacitados a amar como Jesus nos amou, a doar como Jesus doou, a viver como Jesus viveu. Não serviremos para obter a salvação; serviremos por já termos sido salvos pela graça de Deus. Faremos tudo por intenso amor e gratidão.
 
"Pois, pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, às quais Deus preparou para que andássemos nelas" (Efésios 2.8-10)
 
Não podemos nos qualificar por conta própria; já estamos reprovados. Mas se pedirmos ao Senhor para mudar o nosso coração, entrar em nossa vida e nos transformar em novas criaturas, então conheceremos uma transformação e viveremos como quem serve ao Senhor, fazendo de tudo para agradá-Lo. "Assim que, se alguém está em Cristo, é nova criatura" (2 Co 5.17).
 
AME AO SEU PRÓXIMO
DE TODO O SEU CORAÇÃO
COM TODA FORÇA E RAZÃO
COM TODO O SEU DESEJAR
 
AME AO SEU PRÓXIMO COMO SE FOSSE VOCÊ
COMO SE A DOR QUE ELE SENTE
FOSSE A QUE SENTE VOCÊ
 
AME AO SEU PRÓXIMO COMO SE FOSSE VOCÊ
COMO SE A DOR QUE ELE SENTE
DOESSE MAIS EM VOCÊ
Guilherme Kerr
À propósito, Deus já irá atendê-lo. Pode aguardar um pouco?
 
Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas do Rodoanel em Carapicuíba, São Paulo, Brasil

09/04/2015

Nenhum comentário:

Postar um comentário

memórias literárias - 1477 - CHORA, Ó RAQUEL...

  CHORA, Ó RAQUEL...   1477   Quando o Senhor Jesus Cristo fez-Se homem, nascendo do ventre de Maria, Herodes o Grande desejou matá-Lo...