sexta-feira, 10 de abril de 2015

memórias literárias - 165 - CANTAREI, AINDA QUE...


 
Cantarei, ainda que ...
165

 
Meia- noite. ambos estavam acorrentados na cadeia. As costas e o corpo ardiam com os vergões e cortes produzidos pelos chicotes e armas utilizados à tarde contra eles. Cela fétida, fria, cheia de ratos. Escura, insalubre. Rodeada de outras, cheias de presos. E por que ali estavam? Porque foram fiéis ao Senhor, pregando o evangelho. Falo de Paulo e Silas em Filipos, presos após o espancamento.

E, perto da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam hinos a Deus e os outros presos os escutavam. (At 16:25)

Não havia o que fazer! Aliás, havia opções: desespero, pavor, revolta, taquicardia, crise de asma, gritaria, choro incontrolável, remorso, tantas coisas! No entanto, eles sabiam que lá estavam por vontade do Senhor e para a glória do Senhor. Assim, impossibilitados de tratar as feridas ou de tomar um analgésico que lhes tirasse o ardume e o latejamento das dores, fizeram a grande opção: orar e cantar a Deus. Não um orar de desespero, de abandono, de clamor incontrolável. Era um orar de comunhão mesmo naquela situação. Tamanha fora a paz no meio da luta que foram capazes de entoar hinos previamente conhecidos e que costumavam cantar nas horas boas que já haviam desfrutado. Não era cantar por prazer ou orar por triunfalismo; cantavam porque o Senhor não deixara de ser o fundamento de suas vidas e oravam para agradecer pelo sofrimento.

Não estamos na prisão. Não temos vergões às costas, nem correntes às pernas, nem ratazanas guinchando ao redor. Não estamos no escuro e nem num frio calabouço. Contudo, por dentro, vivemos situação parecida. Alguns enfrentam duras enfermidades, dores agudas e tratamentos de grande sofrimento. Outros carregam no peito mágoas e rancores intensos, injustiças e abandonos múltiplos. Ainda outros convivem com uma guerra sem trégua, onde nem se vence e nem se acaba de uma vez a batalha. São situações onde não há o que cantar e nem condições psicológicas para se orar; desejamos morrer ou desmaiar, buscando aliviar o sofrimento. Ouso dizer que, com suas configurações especiais, Paulo e Silas sentiam o mesmo. Mas fizeram a melhor opção.

Optaram por louvar a Deus mesmo no meio do sofrimento. Entenderam que a situação era real, era difícil e que, humanamente falando, não havia nada que pudessem fazer. Era injusta, absolutamente injusta, mas a simples revolta não resolveria a crise nem traria paz no coração. Eles criam piamente num Deus Soberano sobre todas as coisas e então decidiram louvá-lo.

Louvar a Deus na enfermidade. Quão difícil, mas quão possível é! Cantar baixinho ou mesmo na mente, ninguém poderá proibi-lo! Os louvores trazem à mente e à alma tempos melhores que vivemos ou momentos gloriosos que virão após o sofrimento. O choro pode durar toda uma noite,  mas a alegria virá pela manhã, ainda que seja no porvir, no além da vida. Então, por que não escolher cantar? Não qualquer cantoria, bobagens de paixões, de alegrias efêmeras, de banalidades. Cantar a graça de Deus, a vida dentre os mortos, as grandezas do Senhor, o porvir, a vida eterna! Cantar a libertação do pecado, a salvação, a presença de Cristo mesmo no cárcere!

Paulo e Silas se sentiram fortes e então juntaram o cântico à oração. Cantavam para o Senhor e completaram os cânticos com as palavras que saíam de almas gratas, almas pacificadas, almas supridas. Podiam estar em trevas, mas tinham luz! Presos, mas estavam livres! Enfermos, mas estavam sadios no seu homem interior! Sem esperanças, mas com um porvir garantido! Injustiçados, mas repletos da justiça divina e do bom testemunho! Eles não tinham as respostas para o infortúnio que os acometera, mas tinham a resposta do que fariam com tudo aquilo: lançariam sobre Deus e bendiriam ao Senhor por tudo o que se sucedia!

O resultado todos conhecemos: um forte terremoto aconteceu, as celas foram abertas e o carcereiro iria se matar, pois naquele tempo respondia com a vida pela fuga de um prisioneiro. Paulo e Silas lhe ministraram o evangelho, ele  se converteu e com isso veio a grande libertação: foram tratados, limparam-lhes as feridas, foram alimentados e seguiram avante na missão que não havia terminado, estava apenas começando! Eles descobriram que a decisão tomada foi a melhor, a mais acertada: CANTAR AO SENHOR E ORAR NO MEIO DA PRISÃO!

Pode bem ser que o meu leitor também esteja preso. A empresa deve e não tem como pagar. As contas de casa não fecham e o prejuízo é notório. O filho está drogado e a filha grávida sem ter se casado. O médico detectou uma grave enfermidade em você ou em alguém a quem tanto ama. A igreja atravessa por um vale escuro, com falta de comunhão, conflito pastoral ou falta de dinheiro. O patrão irá demiti-lo. O teste para o emprego não foi feliz e você foi reprovado no exame da faculdade. Sua mulher diz que não lhe ama mais ou perdeu a amizade de alguém muito estimado. Está literalmente numa cadeia ou confinado a uma cadeira de rodas, a um leito de hospital ou à escuridão da cegueira. São tantas as dores humanas! São tantas as possíveis prisões! Poderá  se revoltar, poderá pensar no que perdeu, no que não tem, na idade que avança, na sua infelicidade. Quase todos seguem esse caminho e colhem absoluto vazio. Ou, se preferir, poderá fazer o que Paulo e Silas fizeram: cantar ao Senhor e orar!

Eu não sei se a sua cadeia irá se abrir, se a sua crise irá se modificar. Eu não sei se os resultados rápidos serão idênticos. Podem até ser. Porém, se não forem, eu tenho absoluta certeza de que algo de miraculoso acontecerá de dentro para fora, do coração e mente para o resto do organismo: uma paz bendita, celestial, de uma alma tranquila e confortada, invadirá a sua história e o seu mundo se tornará menos insosso e muito mais apetecível. Enfermo, porém, curado na alma. Em trevas, porém com a luz interior. Sem nada, porém possuindo tudo! A alma se lubrificará de esperança e o coração deixará de sofrer desesperadamente, pois se confiarmos no Senhor apenas nas boas horas ou para esta vida, seremos as mais infelizes de todas as pessoas. Porém, SE CRERMOS NO PORVIR, creremos na vitória, creremos na vida eterna, creremos no Céu! Ainda que esta nossa vida esteja por um fio, teremos da parte de Deus uma história maravilhosa, chamada SALVAÇÃO e GLORIFICAÇÃO. E poderemos, à semelhança de Paulo e Silas, vivenciar essa realidade agora, neste momento.

Que tal orar e cantar? Ore ao Senhor e cante a Sua presença no meio da aflição!

Wagner Antonio de Araújo

dedicado, em especial, ao meu irmão Daniel.
10/04/2015

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