terça-feira, 9 de julho de 2024

memórias literárias - 1485 - A MINHA CASA

 A MINHA CASA

1485
 
A minha primeira casa foi o ventre de minha mãe. Não tenho lembranças disso, mas o fato de ter nascido e ser um homem hoje comprova que um dia eu vivi ali.
 
Depois fui morar na Vila Anglo Brasileira, zona oeste de São Paulo. Vivi até os meus seis anos de idade. Tenho preciosas memórias daquele lugar. Lembro-me de papai, ao chegar de festividades bancárias, trazendo uma caixa de pizza recheada de salgadinhos, espetinhos de picles e doces, que afetuosamente trazia para que mamãe e eu comêssemos. Nessa época nasceu o meu irmão e papai resolveu buscar outra casa.
 
Fui morar em Vila Pompéia, na mesma região paulistana, mas num bairro mais ao alto. Nessa casa eu vivi por cinquenta anos. Toda a minha vida eu passei ali. Fui criança, adolescente, jovem e adulto naqueles cômodos, no jardim, no quintal e na rua tão conhecida. As minhas memórias de vida são quase todas centralizadas ali.
 
Ali eu também vivi os meus primeiros anos de casado. No começo apenas minha esposa e eu. A Milú, minha irmã de criação, que vivia em nosso lar desde 1983 aceitou morar em nosso lar e éramos três. Com o passar dos anos o Senhor nos concedeu três filhos maravilhosos, e os vimos crescerem naqueles cômodos reformados. Vimo-los brincarem no quintal, na varanda, no jardim, na sala. Ali vivemos momentos de ternura e também horas de dor, como qualquer família no mundo. As alegrias vieram do Senhor e do bom convívio. As dores das enfermidades e tristezas que ao longo do caminho encontramos. Mas dali iríamos sair e seguir a nossa viagem.
 
Fomos morar em Barbosa, interior de São Paulo. Uma chácara maravilhosa, com muito espaço verde, com um clima quente e ensolarado, numa cidade linda e com a proximidade dos meus ancestrais maternos. Mamãe nascera e fora criada ali por perto.
 
Adaptamos a nossa chácara até que ficasse de nosso gosto, dando a ela benefícios adicionais. Mas, por força das dificuldades da vizinhança comercial não conseguimos viver por muito tempo naquele local, sendo obrigados a buscar um local menos problemático e que nos trouxesse noites tranquilas para o sono. E encontramos num condomínio à beira do Rio Tietê.
 
Ah, que lindo lugar! Que amanhecer belíssimo e que entardecer inesquecível! Um rancho bem grande com vários cômodos. Ali vimos os nossos filhos felizes e cheios de alegria. Vivemos bons momentos, aprendendo a lidar com a natureza e a floresta, o rio, o calor e a umidade. Nossa permanência naquela casa não foi longa. Em pouco tempo descobrimos que o regresso para a cidade de São Paulo era iminente. E aconteceu, ao final daquele ano.
 
Viemos morar na zona norte da capital, no bairro do Tucuruvi. Uma casa ampla, situada em frente a uma escola pública, num bairro populoso e de boas condições comerciais. Aos poucos fomos aprendendo a lidar com as diferenças e as peculiaridades do local. Aprendemos quanto aos horários de estacionar o carro, de sair, de chegar etc. Nossas crianças, agora maiores, foram estudar numa boa escola e, aos poucos tudo vai se ajustando.
 
E então? Seria agora, de fato a NOSSA CASA? No meu íntimo a casa era outra. Mas qualquer uma das mencionadas era também a minha casa: o ventre de mamãe, a casa até os seis anos, a casa da Pompéia nos seus 50 anos de convívio, a chácara e o rancho em Barbosa e agora esta. Será que é, de fato a MINHA CASA?
 
Papai dizia que a casa da Pompéia era totalmente sua. Onde está papai? Está sepultado e a sua alma está com Jesus Cristo. A casa não era dele. Hoje ela está no meu nome. E amanhã? Eu também estarei fora daqui e, se não for vendida será de meus filhos. Eles também a deixarão para os meus netos e bisnetos. Enfim, qual é a nossa casa?
 
Aqui não temos nenhuma. Tudo o que temos é provisório. Tudo o que dizemos ser nosso é parcialmente nosso, por um tempo, como aqueles apartamentos de hotel em veraneio, onde compramos uma semana de uso ao ano. Somente naqueles dias eles são nossos, não nos demais. Aqui também: tudo está confiado em nossas mãos, mas deixaremos tudo para trás. Se tivermos uma sepultura estaremos ali até que nos coloquem numa caixinha. E, no futuro poderemos ser jogados numa vala comum, se os nossos parentes não fizerem caso de nossos restos.
 
Não. Mil vezes não! Há uma casa para que chamemos de nossa!
 
Eu leio o seguinte:
 
Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar. (Jo 14:2)
 
Porque sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus. (2Co 5:1)
 
E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também. (Jo 14:3)
 
Ah, temos uma morada para chamar de nossa! Ela não está aqui na Terra. Ela não tem escritura. Ela não é fruto da construção humana. Ela está no Céu, feita pelas mãos de Deus. Uma casa que poderemos chamar de nossa para sempre! Um lugar onde nunca fomos, porque somos da Terra; mas um lugar de onde nunca sairemos, pois estaremos para sempre com o Senhor.
 
Bendito seja Deus pela morada segura e maravilhosa, a nossa verdadeira casa!
 
Como dizia o velho hino (estou em busca do autor e de onde foi publicado):
 
"Eu tenho uma casa naquela cidade
Que é tão brilhante, com celeste fulgor
Da minha pátria, como eu tenho saudade
Estarei sempre com Jesus meu Senhor.

Aqui na Terra, minhas lutas não cessam
As tentações me atacam sem fim
Porém em breve de tudo isso me esqueço
Com as delícias que tem para mim

Eu tenho uma casa naquela cidade
Que é tão brilhante, com celeste fulgor
Da minha pátria, como eu tenho saudade
Estarei sempre com Jesus meu Senhor."
 
Wagner Antonio de Araújo
09/07/2024
 
 
 
 
 

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