quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

memórias literárias - 130 - REFLEXÕES SOBRE A ÉTICA NO MINISTÉRIO PASTORAL



130 - REFLEXÕES SOBRE
A ÉTICA NO
MINISTÉRIO
PASTORAL

INTRODUÇÃO

Faz-se necessário definir o que é ética.
Segundo a WIKIPÉDIA (enciclopédia virtual da internet), “A palavra Ética é originada do grego ethos, que significa ‘modo de ser, caráter”. Através do latim mos (ou no plural mores), que significa costumes, derivou-se a palavra moral. Em Filosofia, Ética significa o que é bom para o indivíduo e para a sociedade, e seu estudo contribui para estabelecer a natureza de deveres no relacionamento indivíduo - sociedade.”
Há inúmeros livros sobre o assunto, um farto material consultivo. Restringir-nos-emos, contudo, a 4 áreas importantes, tema de nossas 4 preleções:
1)      O PASTOR E O PÚLPITO
2)      O PASTOR E O GABINETE PASTORAL
3)      O PASTOR E A COMUNHÃO COM OS COLEGAS
4)      O PASTOR E A FAMÍLIA
Minhas preleções neste acampamento limitar-se-ão à citação de 40 conselhos bíblicos para a vida pastoral, na busca de uma ética confiável, viável e fundamentada na Palavra de Deus. Do diálogo sobre esses itens surgirão boas reflexões, onde os irmãos e eu aprenderemos muito juntos.
Que o Espírito Santo, nosso Mestre e Consolador Fiel, Parácleto sempre presente, nos ilumine na Palavra que Ele já revelou, a Bíblia Sagrada.
Grande abraço e muito obrigado pela honra do convite para falar a vocês.
Wagner Antonio de Araújo
Pastor Batista,
Membro da
OPBCB - ORDEM DOS PASTORES BATISTAS CLÁSSICOS DO BRASIL - atual presidente
Membro 1036 da Ordem dos Pastores Batistas do Brasil e 1402 da mesma ordem em São Paulo
Pastor da Igreja Batista Boas Novas do Rodoanel em Carapicuíba, SP, Brasil(Convenção Batista Brasileira)
Diretor da RÁDIO NAFTALINA WEB: http://www.radionaftalinaweb.com
MSN/Windows Live: pastorwagner@hotmail.com

O PASTOR E O PÚLPITO


1)      O Pastor deve aprender a ouvir a voz de Deus, como Samuel: Por isso Eli disse a Samuel: Vai deitar-te e há de ser que, se te chamar, dirás: Fala, SENHOR, porque o teu servo ouve. Então Samuel foi e se deitou no seu lugar. (1Sm 3:9)
2)      O Pastor precisa discernir a voz de Deus no meio de outras vozes: E Deus lhe disse: Sai para fora, e põe-te neste monte perante o SENHOR. E eis que passava o SENHOR, como também um grande e forte vento que fendia os montes e quebrava as penhas diante do SENHOR; porém o SENHOR não estava no vento; e depois do vento um terremoto; também o SENHOR não estava no terremoto; (1Rs 19:11); E depois do terremoto um fogo; porém também o SENHOR não estava no fogo; e depois do fogo uma voz mansa e delicada. (1Rs 19:12)
3)      O Pastor deve vigiar seu coração para não privar-se da doce comunhão, através da qual ouvirá a voz de Deus: Se eu atender à iniqüidade no meu coração, o Senhor não me ouvirá; (Sl 66:18); A ti, pois, ó filho do homem, te constituí por atalaia sobre a casa de Israel; tu, pois, ouvirás a palavra da minha boca, e lha anunciarás da minha parte. (Ez 33:7)
4)      O Pastor precisa meditar com grande devoção e aplicação na Palavra de Deus: Persiste em ler, exortar e ensinar, até que eu vá. (1Tm 4:13); Se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino; (Rm 12:7)
5)      O Pastor deve pregar sobre toda a Bíblia e não apenas aquilo que lhe agrada ou que julga necessário: Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; (2Tm 3:16);
6)      O Pastor deve meditar sobre seus sermões durante toda a semana:  Não se aparte da tua boca o livro desta lei; antes medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme a tudo quanto nele está escrito; porque então farás prosperar o teu caminho, e serás bem sucedido. (Js 1:8)
7)      O Pastor deve ser elegante, correto e dignificador do ofício do púlpito, buscando a excelência de linguagem, prédica e comunicação: Linguagem sã e irrepreensível, para que o adversário se envergonhe, não tendo nenhum mal que dizer de nós. (Tt 2:8)
8)      O Pastor não deve gabar-se de ser um pregador do Evangelho, mas confiar e ser fiel Àquele que o vocacionou: “Porque, quem te faz diferente? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias, como se não o houveras recebido? (1Co 4:7)
9)      O Pastor deve persistir na exposição da Palavra, quer ouçam ou quer rejeitem, com longanimidade e fidelidade: Mas tu lhes dirás as minhas palavras, quer ouçam quer deixem de ouvir, pois são rebeldes. (Ez 2:7); Que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina. (2Tm 4:2)
10)  O Púlpito do pastor deve ser respeitado e profundamente alicerçado em valores e princípios, para não acontecer de mudar a prédica conforme o tempo, os métodos, a fama ou o humor: Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente. (Ef 4:14); Porque, se a trombeta der sonido incerto, quem se preparará para a batalha? (1Co 14:8)

O PASTOR E O GABINETE

11)  O Pastor deve primar por ser um bom ouvinte dos que lhe procurarem para desabafar: Portanto, meus amados irmãos, todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar. (Tg 1:19)
12)  No trato com os idosos o Pastor deve tê-los em consideração e tratá-los com respeito: Não repreendas asperamente os anciãos, mas admoesta-os como a pais; aos moços como a irmãos; (1Tm 5:1); As mulheres idosas, como a mães, às moças, como a irmãs, em toda a pureza. (1Tm 5:2); Diante das cãs te levantarás, e honrarás a face do ancião; e temerás o teu Deus. Eu sou o SENHOR. (Lv 19:32);
13)  Aos jovens o Pastor deverá tratar como a filhos e irmãos, em consideração: Exorta semelhantemente os jovens a que sejam moderados. (Tt 2:6)
14)  O Pastor deverá ter especial cuidado com o relacionamento com mulheres: tratar as moças com o respeito de filhas e irmãs mais jovens e às jovens senhoras com toda a dignidade: Porquanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo, pelo conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, forem outra vez envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior do que o primeiro. (2Pe 2:20)
15)  O gabinete pastoral deve ser isento de suspeitas, público e direcionado ao atendimento das necessidades dos crentes e da igreja: Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar; (1Tm 3:2)
16)  Deve o Pastor dedicar-se à oração intensa em seu gabinete: Confessai as vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis. A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos. (Tg 5:16); Alegrai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, perseverai na oração; (Rm 12:12)
17)  O Pastor deve ser solidário com suas ovelhas: Alegrai-vos com os que se alegram; e chorai com os que choram; (Rm 12:15)
18)  O Pastor deve usar seu tempo para conduzir pecadores a Cristo, apresentando-lhes a salvação: Saiba que aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador, salvará da morte uma alma, e cobrirá uma multidão de pecados (Tg 5:20)
19)  O Pastor deve discipular os novos crentes e os crentes antigos qualificados, conduzindo-os à maturidade em Cristo: E o que de mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros. (2Tm 2:2)
20)  Se a igreja fosse perfeita não seriam necessários pastores; portanto, que os pastores saibam da importância de seus ministérios: Não desprezes o dom que há em ti, o qual te foi dado por profecia, com a imposição das mãos do presbitério. (1Tm 4:14)

O PASTOR E OS DEMAIS PASTORES

21)  O Pastor deve amar, reverenciar e dignificar aqueles que serviram de evangelistas, pais na fé e mestres em sua vida: Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido, (2Tm 3:14); Lembrai-vos dos vossos pastores, que vos falaram a palavra de Deus, a fé dos quais imitai, atentando para a sua maneira de viver. (Hb 13:7)
22)  O Pastor deve manter-se em harmonia com os seus colegas de ministério: Aos presbíteros, que estão entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero com eles, e testemunha das aflições de Cristo, e participante da glória que se há de revelar: (1Pe 5:1)
23)  Não deve o pastor aceitar denúncias e acusações contra seus colegas sem que isso tenha sido comprovado; e mesmo depois disto, deve exercer a misericórdia, buscando a recuperação do colega: Não aceites acusação contra o presbítero, senão com duas ou três testemunhas. (1Tm 5:19); Olhai por vós mesmos. E, se teu irmão pecar contra ti, repreende-o e, se ele se arrepender, perdoa-lhe. (Lc 17:3)
24)  Por outro lado, não deve o Pastor manter comunhão com os obreiros do falso evangelho, que não pregam a verdade do Evangelho (neopentecostais e congêneres – não confundir com pentecostais: ...Contendas de homens corruptos de entendimento, e privados da verdade, cuidando que a piedade seja causa de ganho; aparta-te dos tais. (1Tm 6:5)
25)  O Pastor não deve misturar-se com os obreiros insolentes e mentirosos, barateando a Palavra de Cristo: Mas agora vos escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais. (1Co 5:11)
26)  Jamais o Pastor deverá misturar política com comunhão pastoral, uma vez que o ofício pastoral é a mais nobre causa e os objetos de atenção são de reinos diferentes: Ninguém que milita se embaraça com negócios desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra. (2Tm 2:4)
27)  Nunca deve o Pastor demonstrar superioridade ante seus colegas, mas manter-se humilde e cordato, fazendo de sua simpatia o testemunho de sua maturidade ministerial: Ninguém despreze a tua mocidade; mas sê o exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, no amor, no espírito, na fé, na pureza. (1Tm 4:12)
28)  Seu relacionamento com pastores de outras igrejas deve ser cuidadoso, jamais demonstrando interesses escusos pelo rebanho alheio ou menosprezando a labuta do colega. Deus não nos mede pela quantidade de gente ou riqueza de patrimônio, mas pela fidelidade ao Senhor Jesus Cristo: Não cobiçarás a mulher do teu próximo; e não desejarás a casa do teu próximo, nem o seu campo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo. (Dt 5:21); Assim que não nos julguemos mais uns aos outros; antes seja o vosso propósito não pôr tropeço ou escândalo ao irmão. (Rm 14:13); Disse-lhe Jesus: Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti? Segue-me tu. (Jo 21:22)
29)  O Pastor deve ser ativo em sua denominação, buscando a cooperação mútua, o encorajamento e o progresso da Obra de Cristo: E partiu Barnabé para Tarso, a buscar Saulo; e, achando-o, o conduziu para Antioquia. (At 11:25); Então Barnabé, tomando-o consigo, o trouxe aos apóstolos, e lhes contou como no caminho ele vira ao Senhor e lhe falara, e como em Damasco falara ousadamente no nome de Jesus. (At 9:27);  Porque nós somos cooperadores de Deus; vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus. (1Co 3:9)
30)  Deve o Pastor tornar-se a cada dia um referencial maior de credibilidade ao Evangelho, conquistando com seu testemunho o respeito de todos: Lembrai-vos dos vossos pastores, que vos falaram a palavra de Deus, a fé dos quais imitai, atentando para a sua maneira de viver. (Hb 13:7); Honrai sempre a homens como esse (tende-o em honra), Fp 2.29

O PASTOR E A FAMÍLIA

31)  O Pastor deve amar à sua esposa e só a ela: Aquele que for irrepreensível, marido de uma mulher, que tenha filhos fiéis, que não possam ser acusados de dissolução nem são desobedientes. (Tt 1:6)
32)  O Pastor não deve privar sua esposa dos direitos conjugais em nome de uma dedicação eclesiástica. Do contrário, fará da igreja sua amante e colocará em risco o seu casamento: O marido pague à mulher a devida benevolência, e da mesma sorte a mulher ao marido. (1Co 7:3); Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, (Ef 5:25)
33)  O Pastor deve amar e valorizar os seus filhos, pois, do contrário, valorizando mais os filhos dos outros, estará criando um indivíduo triste, carente e propenso a abandonar o evangelho: E vós, pais, não provoqueis à ira a vossos filhos, mas criai-os na doutrina e admoestação do Senhor. (Ef 6:4); Vós, pais, não irriteis a vossos filhos, para que não percam o ânimo. (Cl 3:21)
34)  O Pastor deve prover o seu lar, não apenas de víveres, mas de amor, de respeito, de testemunho, de espiritualidade, de devoção, de compaixão: Que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia (1Tm 3:4); A coroa dos velhos são os filhos dos filhos; e a glória dos filhos são seus pais. (Pv 17:6)
35)  O Pastor não deve ter dívidas, exceto as que são naturais durante uma vida (prestação da casa própria, prestação do carro, impostos). O Pastor não deve jamais fazer uso de cheques especiais, cartões de crédito, agiotas e congêneres. Se por necessidade entrou em dívidas, deve buscar imediatamente sair das mesmas, pois isto é laço maligno, tira o testemunho cristão e abre um poço sem fundos:  A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor com que vos ameis uns aos outros; porque quem ama aos outros cumpriu a lei. (Rm 13:8);
36)  O Pastor não deve gastar dinheiro à toa, mas investir naquilo que é essencial, em comum acordo com sua esposa e, quando crescem, com seus filhos também (casa, carro, bens necessários, escola, saúde, lazer).  Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão? E o produto do vosso trabalho naquilo que não pode satisfazer? Ouvi-me atentamente, e comei o que é bom, e a vossa alma se deleite com a gordura. (Is 55:2);
37)  Ainda sobre finanças, o Pastor não deve jogar dinheiro fora em sorteios, nem tampouco agir sem planejamento ou prudência, esperando o ovo de uma galinha que ainda não botou: Prepara de fora a tua obra, e aparelha-a no campo, e então edifica a tua casa. (Pv 24:27);
38)  O Pastor deve fugir da aparência do mal: caronas para mulheres (de sua idade ou mais novas) quando sozinho, atendimentos solitários em gabinete, situações constrangedoras diversas. Ainda que seja inocente causará desconforto e prejuízo ao evangelho: Abstende-vos de toda a aparência do mal. (1Ts 5:22)
39)  O Pastor deve amar e demonstrar amor particularmente e em público para com sua família e parentes diretos. Seu lar é o seu primeiro campo missionário: Mas, se alguém não tem cuidado dos seus, e principalmente dos da sua família, negou a fé, e é pior do que o infiel. (1Tm 5:8); E, finalmente, sede todos de um mesmo sentimento, compassivos, amando os irmãos, entranhavelmente misericordiosos e afáveis. (1Pe 3:8)
40)  O Pastor não pode garantir que sua família seja fiel ou cumpra os valores ensinados e incentivados, mas se for fiel, poderá dizer: Portanto, no dia de hoje, vos protesto que estou limpo do sangue de todos. (At 20:26); Porque nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus. (At 20:27); e os seus familiares poderão dizer, quando ele partir: E ouvi uma voz do céu, que me dizia: Escreve: Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem dos seus trabalhos, e as suas obras os seguem. (Ap 14:13)

REFLEXÃO DE ENCERRAMENTO
SER PASTOR

Qual o sentido dessa palavra? Ser pastor! Uma afirmação tão pequena, mas repleta de tanto significado!
Ser pastor é muito mais que ser um pregador. Está além de ser um administrador de igreja. Muito além de professor ou conferencista. Ser pastor é algo da alma, não apenas do intelecto.

Ser pastor é sentir paixão pelas almas. É desejar a salvação de alguém de forma tão intensa, que nos leve à atitude solidária de repartir as boas-novas com ele. É chorar pelos que se mantém rebeldes. É pensar no marido desta irmã, no filho daquela outra, na esposa do obreiro, nos vizinhos da igreja, nos garotos da rua. Ser pastor é tudo fazer para conseguir ganhar alguns para Cristo.
Ser pastor é festejar a festa da igreja. É alegrar-se com a alegria daquele que conquista um novo emprego, daquele que gradua-se na faculdade, daquele que recebe a escritura da casa própria ou do outro que recebeu alta no hospital. Ser pastor é ter o brilho de alegria ao ver a felicidade de um casal apaixonado, ao ver o sucesso na vida cristã de um jovem consagrado, é festejar a conversão de um familiar de
alguém da igreja por quem há tempos se vinha orando. Ser pastor é desejar o bem sem cobiçar para si absolutamente nada, a não ser a felicidade de participar dessa hora feliz.

Mas ser pastor também é chorar. Chorar pela ingratidão dos homens. Chorar porque muitas vezes aqueles a quem tanto se ajudou são os primeiros a perseguirem-nos, a esfaquearem-nos pelas costas, a criticarem-nos, a levantarem falso testemunho contra a igreja e contra nós. É chorar com os que choram, unindo-nos ao enlutado que perdeu um ente querido, é dar o ombro para o entristecido pela perda de um amor, é ser a companhia do solitário, é ouvir a mesma história uma porção de vezes por parte do carente. Chorar com a família necessitada, com o pai de um drogado, com a mãe da prostituta, com a família do traficante, com o irmão desprezado.
Ser pastor é não ter outro interesse senão o pregar a Cristo. É não se envolver nos negócios deste mundo, buscando riquezas, fama e posição. É saber dizer não quando o coração disser sim. É não ir à casa dos ricos em detrimento dos pobres. É não dar atenção demasiada para uns, esquecendo-se dos outros. É não ficar do lado dos jovens, em detrimento dos adultos e vice-versa. Ser pastor é não envolver-se em demasia com as pessoas, ao ponto de se perder a linha divisória do amor e do respeito, do carinho e da disciplina. Ser pastor é não aceitar subornos nem tampouco desprezar os não expressivos.

Ser pastor é ser pai. É disciplinar com carinho e amor, conquanto com a firmeza da vara, da correção e, não raras vezes, da exclusão de pessoas queridas. É obedecer a Bíblia, não aos homens. É seguir a Deus, não ao coração. Ser pastor é ser justo. Ser pastor é saber dizer não, quando a emoção manda dizer sim. Ser pastor é ter a consciência de não ser sempre popular, principalmente quando tiver que tomar decisões pesadas e difíceis, e saber também ser humilde quando a bênção de Deus o enaltecer diante do rebanho e diante do mundo. Os erros são nossos, mas a glória é de Deus.

Ser pastor é levantar-se quando todos estão dormindo e dormir quando todos estão acordados, socorrendo ao necessitado no horário da necessidade. Ser pastor é não medir esforços pela paz. É pacificar pais e filhos, maridos e esposas, sogros e genros, irmãos e irmãs. Ser pastor é sofrer o dano, o dolo, a injustiça, confiando nAquele que é o galardoador dos que o buscam. Ser pastor é dar a camisa quando lhe pedem a blusa, andar duas milhas quando o obrigam a uma, dar a outra face quando esbofeteado.

Ser pastor é estar pronto para a solidão. É manter-se no Santo dos Santos de joelhos prostrados, obtendo a solução para os problemas insolúveis. Ser pastor é não fazer da esposa um saco de pancadas, onde descontar sua fragilidade e cansaço. Ser pastor é ser sacerdote, mantendo sigilo no coração, mantendo em segredo o que precisa continuar sendo segredo, e repartindo com as pessoas certas aquilo que é "repartível".  Ser pastor é muitas vezes não ser convidado para uma festa, não ser informado de uma notícia ou ser deixado de fora de um evento, e ainda assim manter a postura, a educação, o polimento e a compaixão. Ser pastor é ser profeta, tornar o seu púlpito um "assim diz o Senhor", uma tocha flamejante, um facho de luz, uma espada de dois gumes, afiada e afogueada, proclamando aos quatro ventos a salvação e a santificação do povo de Deus.

Ser pastor é ser marido e ser pai. É fazer de seu ministério motivo de louvor dentro e fora de casa. É não causar à esposa a sensação de que a igreja é uma amante, uma concorrente, que lhe tira todo o tempo de vida conjugal. Ser pastor é amar aos seus filhos da mesma forma que ensina aos pais cristãos amarem aos seus. É olhar para os olhos de seus filhos e ver o brilho de seus próprios olhos. É preocupar-se menos com o que os outros vão pensar e mais no que os filhos vão aprender, sentir e receber. É ver cada filho crescer, dando a cada um a atenção e o amor necessários. É orgulhar-se de ser pai, alegrar-se por ser esposo, servir de modelo para o povo. E, quando solteiro, tornar a sua castidade e dignidade modelo dos fiéis, enaltecendo ao Senhor, razão de sua vida.

Ser pastor é pedir perdão. Se os pastores fossem super-homens, Deus daria a tarefa pastoral aos anjos, mas preferiu fazer de pecadores convertidos os líderes de rebanho, pois, sendo humanos, poderiam mostrar aos demais que é possível ser uma bênção. Mas, quando pecarem, saberem pedir perdão. A humildade é uma chave que abre todas as portas, até as portas emperradas dos corações decepcionados. A humildade pode levar o pastor à exoneração, como prova de nobresa e integridade, como pode fazê-lo retomar seus trabalhos com maior pujança e vigor. Há pecados que põem fim a um ministério e ser pastor é saber quando o tempo acabou. Recomeçar é possível, mas nem sempre. Ser pastor é saber discernir entre ficar ou sair, entre continuar pastor e recolher-se respeitosamente.
Ser pastor é crer quando todos descrêem. Saber esperar com confiança, saber transmitir otimismo e força de vontade. É fazer de seu púlpito um farol gigantesco, sob cuja luz o povo caminha sempre em frente, para cima e em direção a Deus. Ser pastor é ver o lado bom da questão, é vislumbrar uma saída quando todos imaginarem que é o fim do túnel. Ser pastor é contagiar, e não contaminar. Ser pastor é inovar, é renovar, é oferecer-se como sacrifício em prol da vontade de Deus. Ser pastor é fazer o povo caminhar mais feliz, mais contente, é fazer a comunidade acreditar que o impossível é possível, é fazer o triste ser feliz, o cansado tornar-se revigorado, o desesperado ficar confiante e o perdido salvar-se. As guerras não são ganhas com armas, mas com palavras, e as do pastor são as palavras de Deus, portanto, invencíveis.

Ser pastor é saber envelhecer com dignidade, sem perder a jovialidade. É ser amigo dos jovens e companheiro dos adultos. Ser pastor é saber contar cada dia do ministério como uma pérola na coroa de sua história. Ser pastor é ser companhia desejada, querida, esperada. É saber calar-se quando o silêncio for a frase mais contundente, e falar quando todos estiverem quietos. Ser pastor é saber viver. Ser pastor é saber morrer.

E quando morrer, deixar em sua lápide dizeres indeléveis, que expressem na mente de suas ovelhas o que Paulo quis dizer, quando estava para partir: "combati o bom combate, terminei a carreira, guardei a fé". Ser pastor é falar mesmo depois de morto, como o justo Abel e o seu sangue, através de sua história, de seu exemplo, de seus escritos, de suas gravações. Ser pastor é deixar uma picada na floresta, para que outros venham habitar nas planícies conquistadas para o Reino do Senhor. Ser pastor é fazer com que os filhos e os filhos dos filhos tenham um legado, talvez não de propriedades, dinheiro ou poder político, mas o legado do grande patriarca da família, daquele que viveu e ensinou o que é ser um pastor.
Eu sou pastor.
Obrigado, Senhor!


Pr. Wagner Antonio de Araújo

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