quinta-feira, 12 de abril de 2018

memórias literárias - .647 - UM BOM COMEÇO

UM BOM
COMEÇO


foto do dia de meu batismo, 27/04/1980
 
647
 
E que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus. (2Tm 3:15)
 
Timóteo, a quem Paulo se dirige no texto acima, teve uma base maravilhosa para a sua vida espiritual: uma valorosa mãe e uma avó consagrada. Trazendo à memória a fé não fingida que em ti há, a qual habitou primeiro em tua avó Lóide, e em tua mãe Eunice, e estou certo de que também habita em ti. (2Tm 1:5)
 
Muitos de nós, assim como eu, não tiveram o privilégio de ter pais cristãos. Eu, com alegria, pude levar o evangelho aos meus pais e vê-los convertidos ao Senhor. Compensando a formação cristã infantil, fui privilegiado em servir a Deus em uma boa igreja, assim que me converti a Cristo aos quatorze anos: Igreja Batista em Sumarezinho, São Paulo. Falo com saudades daquela igreja onde passei os meus primeiros cinco anos de vida cristã.
 
Ali eu aprendi a orar. Mulheres como Conceição, Glair, Carmem e Damares ensinaram-me o valor da oração e da consagração. Homens como Sebastião Emerich, Israel Teixeira de Freitas, Gamaliel Pinto Pires e Idelino Lopes de Oliveira trouxeram-me a convicção de que a vida cristã deveria ser encarada com reverência e com seriedade. Tive mestres do calibre de Joaquim Aguiar e Geo Arruda, meus primeiros professores (e parte dos melhores!)
 
Ali eu fui pastoreado. Timofei Diacov foi, é e será sempre o meu pai na fé. Evangelizou-me, doutrinou-me, batizou-me e acompanhou a minha vida cristã e pessoal até o seu recolhimento, em 2017. Mas também tive Manoel Waldemur Pereira Corrêa, Karl Lachler e Antonio Mendes Gonçales, cada um com uma dádiva para a minha formação espiritual.
 
Ali eu aprendi a cantar. José Carlos Vida foi o meu maestro, o meu professor de canto. Ali eu aprendi os hinos do Cantor Cristão. A nossa igreja cantava, acompanhada ao piano por Cida Diacov e Mercedes Vida. Ouvíamos cânticos avulsos com a beleza e a sublimidade dos acordes que Glair Alonso Arruda tirava do órgão eletrônico. Gilian Arruda era o máximo ao violão. Ao converter-me tive emprestados 2 LPs dos Vencedores por Cristo, fruto da ação da querida Clotilde Emerich. Israel Teixeira de Freitas gravou-me Edgar Martins e Waldemiro Lemke numa fita cassete. Tive a alegria de presenciar a orquestra de bandolins, ressuscitada por orientação do Pr. Manoel Waldemur Pereira Corrêa. Como cantei! Conjunto Luz da Vida (dos jovens), Vozes do Caminho (dos homens), Coral (da igreja), solos, quanta música cristã de qualidade entrou na minha mente e no meu coração!
 
Ali eu aprendi a pregar. Com dois meses de convertido o irmão Sebastião Emerich passou-me o microfone à mão, no trabalho de evangelização dominical no CETREM (local destinado a mendigos e andarilhos em São Paulo, recolhidos para fazer documentos, usar albergue e ganhar passagens de volta para a terra natal). Preguei o meu primeiro sermão ali, com 3 minutos e meio, nos Salmos 37.5. Um mês depois o mesmo irmão convidou-me para pregar no culto da mocidade. Peguei uma gravata e um paletó com o meu pai e um sermonário com o irmão Israel, e preguei "A Pedra Era Cristo". Tenho um trechinho gravado até hoje!
 
Ali aprendi a lecionar e a dirigir organizações. Fui eleito presidente da mocidade. Tínhamos reuniões aos domingos às 18 horas e, após os cultos, que terminavam às 21:30, íamos à casa de alguém para estourar pipocas, cantar corinhos e fazer sociabilidade (e na segunda-feira cada um tinha o seu  trabalho secular, pois no meu tempo adolescentes de 13 anos já trabalhavam!). Aprendi a dirigir assembléias. Fui trabalhar na associação de igrejas batistas da zona oeste da capital paulista e ajudei a fundar o departamento de jovens (JUBOESC). Lembro-me com saudades das INTEGRAÇÕES: lotávamos ônibus e vagões de trem e passávamos o dia em uma igreja da periferia, evangelizando, celebrando cultos e evangelizando! Fui eleito professor de adolescentes na igreja e dei aulas até para o meu irmão recém-convertido! Ali também fui aluno, participando do discipulado dinâmico que o nosso pastor realizava.
 
Aprendi a fazer missões. Dominicalmente a igreja mantinha duas kombis em pontos diferentes e a mocidade ia em peso, ora no CETREM, ora em Vila Madalena, numa congregação, ora no Rio Pequeno, num trabalho da favela. Na escola onde eu estudava criamos o GRUPO SHALOM, que realizava cultos na hora do recreio, com mais de quarenta assistentes, inclusive a diretora do colégio! Quantos converteram-se na escola com o nosso grupo de adolescentes!
 
Como foi bom ter uma boa igreja  a fazer o papel da mãe Eunice e avó Lóide de Timóteo, ensinando as Sagradas Escrituras para este neófito!
 
As igrejas evangélicas desaprenderam a fé original. Os pastores, com raras exceções, deixaram de pregar as Sagradas Letras. A sua postura tem sido a de animadores de auditório, vestidos sem reverência e com um linguajar mundano, muito distante do que se ensinava no passado. A Escola Bíblica Dominical tem desaparecido; quando não, passou a ocupar um tempo pequeno e com discussões de política, ideologia, contemporaneidade ou ecologia, em nada parecido com a boa doutrina.  A música é a do mundo, com danças, coreografias, rock and roll e funk; ou então o cansativo "worship" repetitivo dos astros do mundo gospel americano. Há luais, bailes à fantasia e escolas de samba. Só não há evangelho de Cristo. Sim, está crescendo por todo o país o número de evangélicos. Crescem muito, não como um corpo sadio, mas como um grande tumor maligno, destroçando o Corpo de Cristo ainda presente nesta era de apostasia. Temos todo o tipo de pecado nas fileiras das igrejas, fartamente divulgados nas mídias sociais.  E assim acontece porque não temos mais as autênticas CONVERSÕES espirituais, mas sim ADESÕES POR INTERESSE (ou enquanto durar o interesse: lazer, estudos, estágios, turmas, futebol, bazares, carreiras musicais, namoro, palestras etc). Claro que há exceções ainda (quero crer que muitos leitores ainda congregam em igrejas que não são assim). Mas, infelizmente, são tão poucas!
 
Prezado leitor, lute por dar à sua igreja um pouquinho de sua contribuição para que ela seja ainda uma boa escola para quem, de verdade, se converter ao Senhor. Para os poucos convertidos que ainda subsistem há a necessidade de encontrarem bons e autênticos mestres. Seja um deles. Mostre com o seu exemplo uma postura sincera e consagrada: no falar, no vestir-se, no orar, no cantar, na reverência, na participação, na evangelização, no testemunho, na paciência, no fruto do Espírito. Mesmo que seja criticado pelos mundanos locais. E poderá ajudar muito os que se converterem, formando uma nova geração cristã (se mais alguma ainda restar antes do arrebatamento). Não deixe que "a medida dos amorreus", isto é, o limite máximo em que a paciência de Deus suporta os pecados locais de uma igreja, se esgotem. Porque, se Ele decretar o seu fim, então não haverá mais esperança. E que fique claro: o fim não é o seu fechamento público, mas a saída do Senhor do coração daquela comunidade, deixando-a consigo própria e com os seus pecados, ainda que continue cheia de gente, rica e gigantesca. 
 
Louvo a Deus pelo Sumarezinho de 1980. Que eu contribuia para ser um aos que hoje se converterem ao Senhor.
 
Wagner Antonio de Araújo

11/04/2018

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