sábado, 11 de junho de 2016

memórias literárias - 343 - CORRENDO ATRÁS DO VENTO


 
CORRENDO ATRÁS
DO VENTO
ou
ME INDICA, POR FAVOR?
 
343
1o. ATO
 
- Alô?
 
- Sim?
 
- Pastor Arantes?
 
- Pois não?
 
- Aqui é o Pr. Amâncio. Tudo em ordem?
 
- Tudo, pastor. Em que posso ajudá-lo?
 
- Pastor, deixei a igreja que pastoreava e gostaria que me indicasse para uma das suas igrejas. Sei que o irmão tem muita influência, poderia ajudar-me?
 
- Mas, Pr. Amâncio, o que houve que saiu tão cedo?
 
- Sabe, pastor, a igreja não era o que eu achava que era. No início era uma festa só. Todo mundo me convidava para visitá-los, eu era querido, respeitado, a igreja ficava repleta. Mas com o tempo detectei que era uma igreja doente, cheia de donos, havia pecados enterrados, eu passei a pregar com ardor. E fui perseguido. Ah, pastor, como foi difícil. O clímax foi há dois meses, quando, numa assembléia, tentaram xingar-me. Então eu me exonerei. Deus vai tratar daquela congregação. Por isso estou precisando de sua ajuda.
 
Pr. Arantes ajudou o colega a encontrar outra congregação. Havia 3 igrejas sem pastor em sua região e recomendou-o para que pregasse e fosse conhecido dos membros. Uma delas convidou-o. Em três meses foi a posse.
 

2o. ATO
 
O culto de posse foi uma festa. Veio gente de longe. Inúmeras caravanas. Familiares do pastor encheram o salão. A festa foi gorda: tinha bolo, carne desfiada, refrigerantes, doces e lembrancinhas.
 
O domingo foi inesquecível. A igreja rejubilava-se. Finalmente tinham um pastor. Parece que era bom pregador, tinha presença, muitos amigos importantes. Quem sabe até a congregação não cresceria à partir daqui?
 
Durante o mês os crentes disputavam o pastor. Queriam-no a comer em suas casas. Muitas visitas.
 
Não havia um domingo em que ele não ganhasse algum mimo: uma verdura, alguns ovos do sítio de um irmão, um chale para a esposa, um brinquedo para o filho, um livro novo para a sua biblioteca.
 
O povo até pensava em cotizar-se para dar-lhe um carro novo, uma vez que o seu já estava bem usado e ele o usaria para o serviço do Senhor.
 
3o. ATO
 
Foi no terceiro mês que as coisas azedaram. O pastor arrancou um quadro, colocado há dez anos por um membro falecido. Alguns irmãos pediram para que não fizesse isso. O pastor não só o tirou como arrebentou-o em vários pedaços. Em seguida foi à mesa de som e recolheu todas as gravações do ex-pastor e mandou colocar no lixo. Se não fosse um velho diácono que passara na frente do templo antes do lixeiro, as pregações do pastor anterior teriam se perdido para sempre. Em seguida resolveu fechar o seu gabinete para o público, passando a atender somente os que tinham recursos maiores, e em casa.
 
Aos poucos os diáconos e a diretoria foram sentindo grande arrependimento pelo convite. No púlpito o pastor fumegava o fogo da carapuça, isto é, pregações com endereço certo. Eram duras, pouca piedade, um verdadeiro embate.
 
Sem condições de continuar, a diretoria pediu uma reunião com o pastor. Uma tragédia: xingos, gritos, o pastor tentou agredir um senhor, sendo seguro pela própria esposa. Surgiu o grupo dos favoráveis e dos desfavoráveis, com agressões verbais e ameaças de tapas e socos. Ao final o pastor saiu fumegando da reunião. Pedira exoneração.
 
4o. ATO
 
- Pastor Juvenal?
 
- Sim, quem é?
 
- É o Pr. Amâncio. O senhor teria como me indicar para alguma igreja? Deixei a anterior. Ela não prestava...
 
 
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Qualquer semelhança é mera coincidência????
 
Wagner Antonio de Araújo
 

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