segunda-feira, 23 de novembro de 2020

memórias literárias - 936 - MINISTÉRIO BEM SUPRIDO

 

MINISTÉRIO

BEM SUPRIDO

 

"fui moço e já, agora, sou velho; porém jamais vi o justo desamparado, nem a sua descendência a mendigar o pão". Salmo 37.25

 

INTRODUÇÃO

 

Falar neste JUBILEU DE CRIZO, nesta comemoração de 33 anos de ministério pastoral do Pr. Neilson Xavier de Brito à frente da Igreja Batista em Vila Pompéia, São Paulo, Brasil, é uma honra muito grande, e também uma responsabilidade.

 

É uma honra porque falo de quem conheço. O Pr. Neilson foi o pastor de minha família. O meu pai Antonio Paulino de Araújo e a minha mãe, Elzira Bonfante, foram suas ovelhas. Emiliana Pereira Cruz, minha irmã adotiva, é ovelha de seu pastoreio. Ele os assistiu nas horas alegres, participando de suas felicidades, e também esteve presente nas horas tristes, oficiando o sepultamento de ambos, inclusive acolhendo os ossos de meu pai na sepultura desta igreja. Ele esteve no meu concílio examinatório e no meu concílio de consagração em 1991, quando, após 4 anos de experiência na igreja onde servia e em estágios, inclusive aqui, impôs sobre mim a mão, junto do presbitério, concedendo-me o reconhecimento pastoral junto às igrejas do Senhor. Ele deu-me a graça de casar-me nesta igreja e também de festejar o primeiro aniversário de minha filha Rute Cristina nestas dependências. Ele orientou-me na construção do gabinete pastoral da igreja que pastoreei por 22 anos, Igreja Batista Boas Novas do Rodoanel em Carapicuíba, São Paulo, Brasil. Ele tem sido presente ao longo de todo o tempo. Por isso foi uma honra receber o convite para pregar nesta EFEMÉRIDE.

 

Mas também uma grande responsabilidade. Ocupar este púlpito é um privilégio, uma concessão por demais preciosa. Ser porta-voz do Senhor e trazer palavras que Ele nos ilumina é, de fato, algo a se fazer com tremor. O que dizer diante de tamanha bênção, de tamanha longevidade pastoral? O que dizer diante desta Casa de Oração tão confortável, ampla e bela, fruto do labor incansável do seu obreiro? O que fazer ante a obra social que, ao longo de tantos anos, vem coroando o ministério do Pr. Neilson, mostrando ao mundo que ele não é apenas um homem de palavras, mas de prática? De fato dependo da graça do Senhor, a quem pedi a mensagem e agora solicito de todos a atenção para o que tenho a dizer.

 

Escolhi um versículo que nada tem a ver com ministério pastoral. O texto foi escrito pelo Rei Davi, que viveu a mil anos antes de Cristo. Um "homem segundo o coração de Deus", conforme diz a Escritura Sagrada. Ele não nos serve de modelo em muitas coisas, pois não foi perfeito. Por ser a Bíblia a Palavra de Deus, um livro verdadeiro, não escondeu de nós os pecados desse rei, que foram grandes e hediondos. Contudo, também não nos escondeu o coração quebrantado e arrependido que teve diante de cada deslize e a maneira com que aceitou as consequências de suas más escolhas. Foi pastor de ovelhas, foi instrumentista, foi soldado, foi general, tornou-se rei por escolha divina, foi profeta, foi compositor, foi pai, foi construtor. Uma vida de duração mediana (não foi longevo), cujos efeitos, resultados, exemplos e legado permanecem para sempre, comprovando aquilo que a própria Escritura diz: E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre. (1Jo 2:17).

 

Gostaria de abordar três afirmações deste versículo, relacionando-as com a vida ministerial do Pr. Neilson Xavier de Brito, quiçá com a vida de cada ministro fiel do evangelho de Cristo. São elas:

 

I - FUI MOÇO E AGORA SOU VELHO

 

Davi afirma que um dia foi moço. Ele não diz que outra pessoa o foi, mas que ele mesmo teve mocidade. Ele diz que agora, quando compõe o salmo, é um homem velho. Ele experimentou a vida, experimentou o desabrochar de toda a sua potencialidade, vivenciou a cada dia os desafios que se lhe apresentavam. Os seus cabelos eram claros e ruivos quando iniciou, mas agora já não eram como antes. Era forte e corajoso, cheio de vigor e ideais. Agora estava vivido, o corpo cansado, já não saía mais às batalhas de antes e sabia que não havia muito a descobrir. Ele envelhecera. Ou melhor, ele fizera-se semente.

 

Lembro-me, no início de minha vida cristã, quando perguntei ao Pr. Waldemur o porquê eu não sentia mais aquele entusiasmo dos primeiros dias de convertido, aquela alegria tão presente e tão espontânea em cada coisa. Eu lhe contava que a igreja, os irmãos e a vida não eram exatamente como eu enxergava; as pessoas não eram tão santas quanto eu as julgava e agora a igreja tinha problemas que antes eu não via. O pastor, com santa experiência, afirmou-me: "Wagner, antes você era uma flor que desabrochava para o evangelho. Tudo era festa, era a chamada "alegria da salvação". Agora a flor caiu e a beleza se foi. Contudo você hoje é semente, é vigor, é realidade e tem consigo o poder da vida constante com Deus". Como me fez bem ouvir aquilo! Eu agora tinha experiência, não era um neófito!

 

O Pr. Neilson chegou aqui em Vila Pompéia bem jovem e moço. Seu casamento era recente e gerou a seus filhos, criando-os aqui. Conquanto tivesse aprendido grandes lições no seio do seminário, descobriu pela prática que não era suficiente para enfrentar os desafios ministeriais do dia a dia. Foi com o tempo que aprendeu a lidar com o seu orçamento de forma que pudesse sobreviver condignamente. Foi com o tempo que conseguiu harmonizar vida familiar e ministerial, não privando a nenhum dos dois de seus cuidados e presença. Foi com o tempo que aprendeu a sorrir com os que sorriem e a chorar com os que choram.  E então, a cada dia, enriqueceu o seu interior, enriqueceu a sua prédica, enriqueceu o seu ministério. A igreja enriqueceu-se juntamente com ele.

 

Foram muitos dias. 12.045 dias mais precisamente. Também atravessou 1.720 semanas. Foram muitos meses, 396, na realidade. Foram 33 natais, 33 anos novos, 33 páscoas e só Deus sabe quantos outros dias especiais.

 

Ao longo deste tempo o Pr. Neilson viu centenas de crianças nascerem. Apresentou-as diante do Senhor. Levou centenas aos pés de Cristo, batizando-os no Senhor. Celebrou inúmeros aniversários. Participou de muitas festas de 15 anos. Esteve na formatura de muitos irmãos. Celebrou o casamento de outras tantas pessoas. Viu os seus filhos virem ao mundo. E, ao lado disto, também sepultou muitos outros que dormiram no Senhor. Chorou junto ao leito de dor e intercedeu noites inteiras. Socorreu a tantos que não sabiam o que fazer na hora amarga. Eu fui um deles. Participou do festejo e da realização de vitória de quantos outros! Isto não se consegue com um tempo curto, um ministério de tempo limitado. Isto é o fruto de anos e anos, de uma vida inteira dedicada a um rebanho!

 

Sim, Pr. Neilson. O senhor foi moço. Agora já não é mais. É um homem experiente, vivido, calejado. Muitos de seus cabelos brancos são troféus de experiências que teve, umas felizes; outras, nem tanto. O senhor assumiu o ônus da responsabilidade em dar a esta igreja o tão sonhado templo que desejava. Saíram de uma casa de oração pequenina, de bairro, configurada para os anos 30 do século passado, para um suntuoso edifício, completo, confortável, digno do bairro que cresceu e se sofisticou. O senhor manteve a boa música que a igreja já tinha e tornou-a ainda mais relevante, assessorando-se de outros ministros extremamente capazes. O senhor deu a todos o seu vigor, o seu sangue e a sua vitalidade. O senhor foi moço e deu-se pela igreja.

 

II - NUNCA VI O JUSTO DESAMPARADO

 

Se o senhor tivesse que contar apenas com os recursos de sua inteligência, de seu intelecto, de seu físico, de seus diplomas acadêmicos ou de sua influência política, o ministério não teria chegado até aqui. O que temos que não tenhamos recebido? O que somos senão agraciados pelas mãos do Senhor? Há situações que um pastor de longa data passa, que não podem ser imaginadas pelo coração de quem não viveu esta experiência.

 

Quantas vezes sentiu-se só? Quantas vezes teve que lutar sozinho as lutas que Deus lhe dava? A esposa, fiel companheira, não podia sofrer com tudo o que o seu coração sofria. A igreja, que tantas vezes é o motivo de alegria, por algumas vezes é também razão para as lágrimas. Por mais que um pastor faça, por mais que um pastor lute, por mais que um pastor se dedique, há sempre aqueles que, com um dedo em riste, acusam-no de não ter feito tudo ou não fazer bem feito. Quantas vezes as condições eram poucas! Quantas vezes a coberta não cobria o corpo todo! Quantas vezes não se sabia se haveria jantar!

 

Mas a cada desafio permitido pelo Senhor havia também o socorro bem presente que Deus lhe dava, ora de algum milagre local, ora de alguma surpresa exterior, ora de uma transformação das situações! Deus esteve presente! Deus se fez ver! Deus estendeu a mão! Deus curou as feridas! Deus derramou o seu "bálsamo de Gileade"! Deus reverteu as coisas! A alegria de um problema resolvido é refeição cara, da qual só participa quem teve a experiência da dor, da aflição, do temor e da falta de recursos!

 

Quantas curas Deus efetuou, ora pelas mãos dos médicos, tão capacitados; ora pelas próprias mãos de Deus a usar as orações pastorais! Quantas pessoas reencontraram ânimo, quantas encontraram o refúgio e quantas descobriram a que vieram, depois de serem supridas pelo amparo pastoral, agraciado pelo amparo divino! Deus usou a sua vida para salvar casamentos, para evitar suicídios, para consertar vidas moralmente comprometidas e para dar ao desesperado a esperança necessária! Deus usou a sua vida para soerguer os caídos, para limpar as feridas dos aflitos e para construir na juventude a certeza de dias melhores!

 

III - A DESCENDÊNCIA NÃO MENDIGA O PÃO

 

Davi fala do suprimento de Deus nas horas de infortúnio e das bênçãos divinas para a posteridade dos justos. Eu a uso para falar de outro pão, o pão que o pastor precisa fornecer quente e apetitoso todos os dias no púlpito que lhe é confiado. Falo do suprimento do pão da vida. Infelizmente muitos púlpitos estão dando pão para o povo, mas pão de joio, quentinho e mortífero. Mas o Pr. Neilson, diferente daqueles, tem sido um padeiro de Deus na entrega dos pães do céu há 33 anos, na mesma igreja!

 

Através de suas pregações o pecador tem encontrado a salvação. Sim, porque hoje em dia não se prega mais conversão, mas adesão. As pessoas aderem a um projeto, aderem a uma causa, erguem uma bandeira e ficam até que se esgotem as pautas daquele ideal. Mas um pastor verdadeiro não faz nada disso. Um pastor verdadeiro apresenta ao inconverso a sua situação de miséria espiritual e de perdição. Coloca-o no seu devido lugar, como um condenado ao Inferno. Mas, ao mesmo tempo, apresenta-lhe a Jesus Cristo, o Filho do Deus Vivo, o Redentor da humanidade. Conta ao pecador a história da salvação, o plano de Deus para levar o homem ao Céu e lhe dá a chance de converter-se, de mudar de vida, de abraçar a fé, de tornar-se cristão. Num púlpito de um pastor autêntico a bíblia não precisa ser atualizada e nem é insuficiente. Sei que o Pr. Neilson tem dado pão de trigo e este pão dá vida e dá sustento! Quantos batismos bíblicos em nome de Jesus, pela Santíssima Trindade, não foram realizados por suas mãos!

 

Quem aprendeu a ouvir-lhe não mendiga o pão, Pr. Neilson. Muitas pessoas trocam o púlpito do pastor de sua igreja pelos famosos ganhadores de dinheiro com a boa fé evangélica, ouvindo os famosos hereges de sempre. Eles estão nos celulares, no facebook, no youtube e, não raras vezes, recebem o dízimo de quem deveria primar em sustentar o trabalho de sua igreja local. Mas eles são um blefe, uma ilusão. Eles estão só na mídia, não na vida das ovelhas reais do Senhor. Na hora da doença, na hora da morte, na hora do conflito familiar, na hora do aconselhamento não são esses atores hipócritas que estarão ao lado dessas pessoas (eles são caros e inacessíveis!), mas o pastor de sua igreja local, cujos ensinos foram, muitas vezes, desprezados, relegados a coisa de pouco valor.

 

Não, Pr. Neilson. Não teria esta igreja dado ao senhor 33 anos de seu púlpito se não experimentasse ao longo dos anos a bênção de receber de seus lábios, de sua prédica, de seus conselhos, de suas orientações, de seus ensinos, de sua firmeza, da solidez de seu caráter uma alimentação sadia, um suprimento saudável, um antídoto contra o falso evangelho que grassa por toda parte em nossa denominação e no mundo cristão. Não, Pr. Neilson. Não se trata de falar sibolete ou chibolete, dialetos no mesmo idioma, opiniões sobre assuntos secundários. Trata-se de considerar que o seu ministério tem sido um "assim diz o Senhor". Um púlpito assim alimenta! Isto é o pão real, único alimento que um pastor tem a responsabilidade de dar ao seu rebanho.

 

 

CONCLUSÃO

 

Caríssimo Pr. Neilson. Quero aqui lembrar-me das palavras do Anjo Gabriel para Daniel, o profeta: "Tu, porém, segue o teu caminho até ao fim; pois descansarás e, ao fim dos dias, te levantarás para receber a tua herança". Daniel 12.13

 

Hoje o pastor está em pleno vigor físico, no exercício de seu ministério. Cumpra-o com o mesmo temor e a mesma responsabilidade dos últimos 33 anos. Não desista. Não pare. Não cesse. Deus mostrará até quando deverá continuar. Mas saiba: a memória das igrejas é bastante deficiente e, aos poucos, tudo o que fez irá ficar para trás, no esquecimento. Se outro obreiro condigno, no futuro, honrar a quem precisa ser honrado, fará com que os principais fatos sejam lembrados. Caso contrário o irmão será um retrato em cima da mesa de alguém por alguns anos. E depois nem isso. Talvez um artigo de Wikipedia ou nome de rua.

 

Mas esteja certo de algo: DEUS NÃO LHE ESQUECERÁ! Há um Deus que vê! Há um Deus que jamais se esquece e que não deixará de recompensar nem um simples copo de água fria. Ele não precisa de registros históricos, de fotografias, de facebooks, de youtubes, de instagrans, de whatsapps, de notas fiscais, de registros ou quaisquer outras coisas. Tudo o que o irmão fez e faz estará nas mãos dele e há recompensa para os que são fiéis. Porque Deus não é injusto para se esquecer da vossa obra, e do trabalho do amor que para com o seu nome mostrastes, enquanto servistes aos santos; e ainda servis. (Hb 6:10). Cada mensagem, cada sermão, cada estudo, cada culto, cada oração, cada vigília, cada reunião, cada visita, cada oferta, cada lágrima vertida, cada sorriso difícil, cada levantar de manhã, cada noite mal dormida, cada esperança de dias melhores. Deus a tudo viu, de tudo esteve ciente e o recompensará com bênçãos eternas! Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda. (2Tm 4:8)

 

Que, pela graça de Deus o senhor tenha outros jubileus, muitos, a celebrar como pastor desta igreja.

 

Parabéns, Pr. Neilson Xavier de Brito!

 

 

Wagner Antonio de Araújo,

22 de novembro de 2020

 

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