TÃO GRANDE,
TÃO
VAZIA...
1480
Era uma igreja de bairro.
Tinha um bom pastor que pregava a Bíblia, fazia visitas, atendia em gabinete e
administrava bem. O povo era unido, possuiam grande amor uns pelos outros.
Atendiam aos carentes, festejavam as alegrias, choravam as dores e eram queridos
no bairro. O templo tinha cara de igreja: órgão de um lado, piano do outro,
púlpito no meio, batistério ao alto, quatro cadeiras para os dirigentes, bancos
do coral e um berçário ao fundo, onde as mamães podiam cuidar dos filhos e ainda
escutarem a mensagem.
Eles não tinham muito, mas
nada faltava. Eram generosos e amavam ao Senhor. Os seus cultos eram encontros
com Deus. Choravam na hora da oração, alegravam-se na hora dos cânticos, eram
unidos nas campanhas missionárias e abriam congregações em bairros que ainda não
estavam alcançados pela mensagem do evangelho ou com igrejas
cristãs.
Deus os abençoou. A fama de
ser uma igreja cheia do Espírito Santo correu e várias pessoas pediam ingresso
na membresia. O estacionamento tornou-se pequeno e alugaram um terreno vazio ao
lado. O pastor, sentindo a necessidade de repartir tarefas apresentou à igreja
uma proposta para um ministro auxiliar. Os membros novos, com direito a voto
forçaram a vinda de um pastor com espírito diferente. Era moderno, cheio de
cursos, mas vazio do Espírito Santo. Vestia-se secularmente, mas atraía muita
gente, inclusive gente de dinheiro. O pastor submeteu-se à decisão da assembléia
da igreja e repartiu funções com o tal ministro. Em pouco tempo o auxiliar levou
a igreja a demitir o veterano ministro e a convidar um colega, invertendo as
posições.
A primeira coisa que fizeram
foi jogar fora o hinário tradicional da igreja, implantando música contemporânea
de péssima teologia, de origem duvidosa e que atendia em cheio ao desejo de
transformar o culto num misto de emocionalismo e celebração mundana. Os bancos
do coral foram arrancados e o regente, que há vinte anos cuidava com amor
paternal do coral, foi desconvidado. O coral morreu.
Então tiraram o púlpito e
montaram uma plataforma, colocando luzes coloridas, fumaça e câmeras com gente
secular contratada. O auditório lotou de pessoas de todas as procedências, que
eram aceitas como membros sem profissão de fé, sem batismo e sem compromisso de
discipulado. Os crentes antigos, estranhando aquilo tudo tentaram propor nas
assembléias o retorno ao primeiro amor, à posição de igreja de bairro, pautada
nos evangelhos. Mas agora foram votos vencidos e não eram mais os donos da casa.
As uniões de treinamento acabaram e a escola bíblica dominical foi transformada
em um misto de encontros de empresários, pequenos grupos por interesse e eventos
sociais.
Os obreiros, empodeirados,
decidiram demolir o templo e comprar os 3 terrenos do lado. Dinheiro não
faltava, pois a gente que atraíram tornou-se financiadora daquilo tudo. Montaram
um salão de eventos para mil e quinhentas pessoas. Coloraram 2 telas gigantescas
à frente e um púlpito com parede de vidro. Um contrassenso, pois depois tiveram
que tapar com panos pretos, senão ninguém enxergava quem estivesse à frente
dirigindo as atividades. O teto tornou-se preto, juntamente com as paredes.
Assim como nos cinemas a parte de cima estava cheia de quadrados, luzes apagadas
que acendiam ao ritmo das músicas. Fumaças saíam das colunas e quem se sentava
ao fundo enxergava tudo distante, quase sem nitidez.
Em lugar dos introdutores
piedosos à porta colocaram leões de chácara , gente de segurança mal encarada
para cuidar da entrada e da saída. Ninguém mais se conhecia. Cada um chegava,
fazia a sua algazarra religiosa, ouvia uma série de mensagens de auto-ajuda,
empoderamento, política e de mobilização financeira para aumentar o patrimônio
da instituição. Quem ali chegava podia comparar o lugar como uma grande casa de
shows, em nada devendo para as mesmas. Talvez até melhor.
E lá está a igreja. Grande,
preta, cheia de carros ricos, gente endinheirada, mas sem Cristo e sem a sua
essência. Deixou de ser igreja; tornou-se um centro de espetáculo. Era um lugar
de esperança; hoje uma casa de ostentação.
Um irmão, antigo crente, que
já não via mais nem Deus e nem o Espírito Santo no meio do povo orou em
lágrimas, dizendo: "Senhor, como as coisas mudaram! Eu queria tanto que o Senhor
voltasse para aquela igreja!" Enquanto orava ele escutou em seu ouvido uma voz
que dizia: "Eu também..."
Pr. Wagner Antonio de
Araújo
MINISTÉRIO ESSÊNCIA
CRISTÃ
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