quarta-feira, 1 de julho de 2015

memórias literárias - 222 - TÃO PERTO E TÃO LONGE ...

 
11 - 11 / 08 / 2012

TÃO PERTO E
TÃO LONGE...
222
 
Eu iria usar um nome fictício, mas pensei bem: pra quê? Os meus leitores são gente como eu: pecadoras, imperfeitas, carentes da graça de Deus. Então uso o meu próprio exemplo.
 
Hoje eu sou um homem casado, e muito bem casado! Louvo a Deus por não ter me casado com outra pessoa; Deus me preservou para ser feliz! Mas houve tempo em que eu gostava de quem não gostava de mim. E lamentava muito o fato junto de minha mãe. Um dia minha mãe morreu. O vazio que ficou foi tão profundo, tão denso! Foi então que compreendi um grande erro: eu era feliz por ter mamãe junto comigo e não sabia! Eu tinha uma mãe maravilhosa, amável, compreensiva, temente a Deus, mas estava o tempo todo buscando algo distante, um amor longínquo, quase que inaccessível... Eu tinha a felicidade tão perto e a buscava tão longe! Claro que era uma felicidade diferente, a de um filho grato por sua mãe. Claro que eu era feliz e expressava para a minha mãe todo o amor e o cuidado que com ela deveria ter. Mas eu poderia ter uma consciência muito mais apurada do fato de que, ao invés de lamentar o que não tinha, agradecer pelo que tinha!
 
E sei que muitos que me lêem vivem a mesma situação, talvez com papéis invertidos ou em áreas diferentes. Percebo muitos comentadores de teologia ou assistidores de pregações, por exemplo. Somos tão admiradores de grandes ícones, de nomes estrangeiros, de pessoas projetadas pela mídia internacional e que muitas vezes fazem jus aos nossos elogios; porém, não raras vezes, temos um pastor, um escritor pobrezinho, brasileiro, um irmão de nossa igreja que não tem a escolaridade de tantos outros, a quem Deus tanto usa e nunca, nunca tecemos para ele um único comentário, um único elogio, nunca valorizamos o nosso próprio pastor por alguma mensagem ou por algum escrito seu! É que o nosso olhar está projetado para ver só o que está bem longe, bem distante, e às vezes temos um tesouro tão perto e não sabemos...
 
Maridos admiram esposas de outros amigos, colegas ou mulheres da mídia. E muitas vezes se esquecem da mulher que está ao seu lado. Mulher de fibra, que o acompanha, que o conhece, que compartilha de sua intimidade, que vive as suas alegrias e chora as suas tristezas. Mulher que é a mãe de seus filhos, que prepara a sua comida, que lava a sua roupa, que o ajuda na hora da crise e da dificuldade. Mulher que muitas vezes tem jornada dobrada, dentro e fora de casa, tem uma vida profissional tão importante quanto a sua. E, ao invés de dar valor a essa pérola, tem a sua imaginação aguçada e atraída para as jóias douradas das vitrines do mundo, as inatingíveis estrangeiras ou as esposas alheias. É hora de olhar para perto e não para longe! "Portanto guardai-vos em vosso espírito, e ninguém seja infiel para com a mulher da sua mocidade." (Ml 2:15)
 
Muitas vezes deixamos de viver uma vida profissional frutífera por pensar em outras profissões melhores, mais rentáveis. Lembro-me de um dentista que me atendia,  que queria de toda forma ter sido um fazendeiro, um criador de gado e um plantador de soja. Não perdia um programa rural da tv. E lamentava o fato de ter que cimentar dentes e fazer dentaduras. Claro, o seu serviço deixava marcas de quem fazia o que fazia sem vontade. Quantas vezes fazemos o nosso trabalho com tamanha má vontade que a qualidade deixa a desejar? Tornamo-nos maus funcionários, maus profissionais, o nosso produto sai de qualquer jeito e ainda nos lamentamos da vida! Talvez não tenhamos sido o que gostaríamos no início, mas precisamos crer que Deus está no controle de nossa história, que Ele permitiu que fôssemos o que somos e que devemos fazer o melhor, fazer com zelo, com ardor e, principalmente, fazer como se fosse para o Senhor! Lembremo-nos de José, filho de Jacó, escravo no Egito: ele não queria ser escravo, mas foi o melhor que pôde; ele não queria ser funcionário da penitenciária, mas foi obrigado a sê-lo. E em ambas as funções que não queria foi o melhor! Claro, no final Deus lhe deu uma função com a qual sonhara desde pequeno, e ele foi também o melhor. Mas poderia não ter recebido a chance e continuaria a ser o melhor no que fazia. Que ele nos sirva de exemplo. "Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, " (Ec 9:10);
"E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens," (Cl 3:23)
 
Dias atrás a nossa igreja ganhou algumas mesas. Mas nem todas cabiam e eu as reparti com o Pr. Aparecido Fernandes. Posteriormente o visitei em seu gabinete e admirei-me de sua bela mesa. Perguntei onde a conseguira. Ele disse: "foi a que o irmão Roberto havia lhe doado". Pensei: "nossa, eu não sabia que era tão bonita!" De fato, estava suja quando a recebi. Mas o valor que o Pr. Aparecido deu naquela mesa fez dela uma jóia, uma beleza. Muitas vezes somos assim no resto da vida. Achamos a sala feia, a cozinha feia, o quarto feio, a casa feia, o carro feio, e, quando nas mãos de quem é grato e de quem realmente dá o devido valor, as coisas ganham brilho, beleza, virtude, valor e grande importância. Eu pergunto: o que está ao meu lado e eu não estou vendo? O que tem gerado lamentos e não gratidão? O que tem trazido ansiedade e não tranquilidade? Está na hora de dar valor ao que tenho e não lamentar a falta do que não tenho! Preciso fazer um inventário das coisas pelas quais devo agradecer e não lamentar. "E a paz de Deus, para a qual também fostes chamados em um corpo, domine em vossos corações; e sede agradecidos." (Cl 3:15); "Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco." (1Ts 5:18)
 
"Senhor, ajuda-me a dar valor ao que está perto, ao que está disponível, a quem é vivo e comigo convive, a quem eu possa valorizar e elogiar. Em nome de Jesus. Amém."
 
Wagner Antonio de Araújo
 

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