terça-feira, 19 de maio de 2020

memórias literárias - 883 - COBERTINHA DE CRIANÇA

COBERTINHA
DE
CRIANÇA
883

Quando o meu sobrinho João Pedro nasceu, há doze anos, uma cobertinha entrou para a família. Uma manta de bebê, um cobertorzinho para aquecê-lo nas noites frias e acompanhá-lo pelas andanças. Não era uma peça cara ou requintada; era uma cobertinha simples, mas muito prática.

João Pedro ganhou uma irmãzinha, a Mariana. E então a cobertinha também foi aquecê-la. Certamente ela tinha a dela, mas durante muitas noites a coberta foi compartilhada. Foram cinco anos de família.

Deus resolveu dar-nos filhos também. Nasceu Rute Cristina, a minha primeira princesa. Uma joia de menina. Ela cresceu e se desenvolveu. Em uma de suas visitas aos priminhos João e Mariana, apossou-se da cobertinha e não teve quem conseguisse tirar-lhe. Rute passou a ter na cobertinha uma extensão de si mesma. Onde está Rute? Procure a coberta. Onde está a coberta? Procure pela Rute.

Nasceu o meu segundo, Josué Elias. Também ele teve a sua cobertinha, mas assim que cresceu queria a todo custo tomar a mantinha da Rute. E essa briga se manteve por muitos meses. Foi então que Deus nos deu a terceira filha, a Maria Isabele, uma jóia de menina.

Para espanto nosso a Rutinha decidiu presentear a irmã com a cobertinha. "Por que, minha filha?" "Porque eu amo a minha irmãzinha". Que lindo! A nossa Maria passou a ser coberta pela velha mantinha dos pequenos. Uma cobertinha que acompanha a família.

Pensei na semelhança desse cobertinha com outras coisas preciosas que nos acompanham pelos anos afora, riquezas que são passadas de pai para filho.

Mamãe sabia fazer um bauru (lanche), que ninguém mais sabia fazer igual. Ela aprendera com a minha avó Silvia, que aprendera com a sua mãe também. Esse conhecimento passou para a minha esposa e para a Milú, minha irmã adotiva. Pode-se dizer que o bauru está há cem anos em nossa casa. Meu avô João usava polvilho Granado após a higiene; o meu pai também o usava. Eu o uso desde sempre e os meu filho provavelmente usará. São mantinhas de família.

Mas há uma coberta que entrou em nossas vidas por ocasião de minha conversão a Cristo. Foi o evangelho de nosso Senhor. Através da Bíblia eu fui apresentado ao Deus verdadeiro, Senhor do Céu e da Terra, que havia criado o homem para o louvor da Sua glória. O homem abandonou a glória de Deus e trouxe sobre si a condenação eterna, da qual sozinho jamais poderia se livrar. Na Bíblia eu encontrei a solução deste problema: Deus enviou o Seu Filho Jesus Cristo para nos ensinar a Sua Palavra, para sofrer, morrer e ressuscitar por causa de nossos pecados. E hoje nos oferece perdão completo e vida eterna se nEle confiarmos de todo o nosso coração. Eu cri em Seu Nome; confessei os meus pecados e Ele me deu a vida eterna. Eu não serei mais condenado; o Inferno já não será o meu destino. Devo isso ao amor de Deus. E por causa desta salvação eu trouxe aos meus familiares esta mensagem. A maioria deles (tios e parentes) não quis ouvir. Mas - e bendito seja Deus por isso! - os meus pais e o meu irmão também abriram o coração e receberam o perdão de Deus.

Quando me casei esta manta, esta cobertinha que agora era de nossa família veio comigo. A minha esposa também havia entregado o coração a Jesus. Estávamos debaixo do calor da mesma coberta, a salvação em Cristo. Agora, quando nossos filhinhos chegaram, fruto da graça do Senhor para conosco, temos colocado cada um debaixo da mesma manta, ensinando-os a amar a Deus sobre todas as coisas, ao próximo como a si mesmos e a colocar a sua fé em Jesus Cristo e não em fábulas e ficção infantil. Quando assistem a um desenho que não é bíblico, eles dizem: "Isso é só estorinha, né, papai?". Quando vêem um bíblico dizem: "È a Palavra de Deus, né, papai?" A minha esperança é que eles não só se abriguem debaixo dessa cobertinha ao longo de sua infância, adolescência e mocidade, como também a levem para os lares que venham a formar, cobrindo com ela os filhos que Deus porventura lhes der.

Vejo nesta quarentena muitas cobertas familiares que são diferentes da nossa. O facebook traz coisas inimagináveis aos nossos olhos: filhos ficando nus e sensuais diante de seus pais, brigas terríveis entre os membros da casa, o uso de tóxicos e de bebidas alcoólicas, a linguagem chula e imunda dos pais e dos filhos, a promiscuidade reinante e a mentira perpetuante. Os valores destas vidas, impressos no coração e que os cobre como uma manta, os escraviza a tudo o que não presta, a tudo o que não edifica e que não satisfaz. Mesmo os religiosos, quando não guiados pela Bíblia e pela sensatez, não passam de reprodutores de uma religiosidade que não transforma o âmago dos corações. Quando a coberta é divina, quando vem de Deus, ela traz paz, harmonia, respeito, hierarquia familiar, responsabilidade, limpeza, linguagem sadia, o cultivo da verdade. E isso somente Deus pode dar, mediante Jesus Cristo e a luz de Sua Palavra, a Bíblia Sagrada.

Ah, coberta preciosa,
Que aquece os pequeninos,
Uma peça graciosa
Do vestuário dos meninos.

Mas coberta permanente
Que aquece o coração
É aquela que na mente
Edifica e traz lição.

Os exemplos de valor,
As virtudes do exemplo,
São mensagens de amor
Que na memória contemplo.

O trabalho de meu pai,
A dedicação da mãe amada,
A saudade que não sai
A lembrança tão guardada!

O perdão que foi cedido,
A chance nova que foi dada
O amor do qual preciso
E o ânimo na jornada

Tudo isso eu  recebi
Como jóias num baú dourado
As palavras que eu ouvi
O exemplo que me foi dado

São cobertas valiosas
Que permeiam o meu viver
As virtudes preciosas
Que formam o meu ser

Recebidas de meus pais,
Que souberam me educar,
Construindo vida e paz
E meu futuro transformar

Mas uma manta mais preciosa
Que recebi quando adolescente
Foi a mensagem tão amorosa
Do meu Deus, que é tão presente!

Ele, que tanto me amou,
Enviando Seu Filho ao mundo
O meu ser transformou
Tornando limpo o coração imundo

E salvação me concedeu
Por Jesus Cristo, o Salvador
Vida eterna prometeu
Bênção graciosa de Seu amor.

Eu desejo com grande esperança
Para cada leitor de meu texto
Uma coberta de criança
Na sua história e no seu contexto

Exemplos vívidos deixados,
Memórias de ensinos corretos,
Que serão, por fim doados
Aos que nos seguirem, por certo

Mas a principal herança
E a manta que nos aquece
É em Cristo ter esperança
Fé, estima, amor em prece!

Bendita cobertinha de criança!


Wagner Antonio de Araújo

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