AS CINCO
VISITAS
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Levantei-me cedo, decidido a
fazer meia dúzia de visitas. A manhã estava fresca, convidativa a uma saída.
Rumei para o Clóvis
Bevilácqua, a escola do bairro Vila Anglo-Brasileira, aqui em São Paulo. Cheguei
no horário do recreio. Vi quando as classes gritaram e, pela escadaria desceram
crianças afoitas. Muitas foram para a fila da merenda, que hoje era de
brevidades, aqueles bolos doces que o estado manda. Mas havia uma cantina ao
lado da quadra e a multidão de pessoinhas era grande, cada um pedindo o lanche
de sua preferência: hambúrguer, cachorro quente, pizza, coxinha.
Encontrei-o a pagar pelo
lanche.
- O que você
pediu?
- Pedi bolonhesa com guaraná.
Bolonhesa era um pão de
cachorro quente com muito molho de tomate e dois ou três pedacinhos de salsicha.
- Quanto você
gastou?
- Vinte centavos. Mamãe me dá
uma moeda dessas todo dia. Dá pra comprar uma bolonhesa, um guaraná e uma
paçoquinha.
- Sentamo-nos no banco de
concreto em frente a quadra.
- E o que você está estudando
agora?
- Verbos. A professora me
ensinou todo o modo indicativo. Mas ela é muito brava.
- Sério? Como
assim?
- Ela manda a gente conjugar
de memória lá na frente. Se erramos ela dá um bofetão.
- E você,
errou?
- Errei. Ganhei um
tabefe!
- E ficou
aborrecido?
- Na hora sim. Mas estudei
muito e agora ela me chama todo mês pra tomar guaraná com rosquinhas na casa
dela!
Eu sorri, dei-lhe um abraço e
disse:
- Deus te abençoe,
menino!
Segui a minha jornada. Fui
para a Vila Souza, na zona norte. Eu estava na oeste. Cheguei na igreja batista
local. Um barracão de moradia na frente e um salão pequeno ao fundo. Ao lado uma
construção com tijolos à vista e uma porta aberta. Entrei. Achei o jovem pastor
com meia dúzia de livros abertos sobre a mesa.
- Olá, pastor. O que faz aqui
a esta hora?
- Eu dou plantão. Se
precisarem de mim é só chegar. E enquanto aguardo preparo os estudos da escola
dominical e os sermões que pregarei. Quer ver o título do que estou
preparando?
-
Claro!
"A IGREJA
INDIGESTA"
- Este sermão é sobre o
que?
- Sobre a igreja de
Laodicéia. Encontrei informações muito boas sobre as expresões de Apocalipse 3.
Estou aqui preparando o acabamento.
Dei-lhe um abraço afetuoso e
disse:
- Deuus te abençoe, jovem
pastor!
Saí dali e decidi ir até o
aeroporto de Guarulhos. O trânsito não estava ruim e cheguei no horário do
almoço. Encontrei-o na fila do check-in.
- Olá, pastor! Para onde está
indo?
- Acredita que vou para
Portugal?
- Sério? Como foi
isso?
- Eu nem sei explicar
direito. Eu só sei que coloquei os meus textos nessa tal internet e um deles,
"ENCONTREI O MEU NOME" foi parar no computador do pastor da igreja batista de
Coimbra. Ele gostou tanto que publicou no boletim da igreja e agora quer que eu
pregue no aniversário de sua congregação!
- Rapaz, que legal! Está
feliz?
- Ah, nem me fale! Eu imagino
os meus ancestrais, que há 120 anos deixaram Portugal para virem ao Brasil. Acho
que quando eu chegar a Lisboa vou beijar o chão!
Eu ri muito, chamei-o de papa
e lhe disse, num afetuoso abraço:
- Deus te abençoe, jovem
conferencista!
Almocei no aeroporto e rumei
para Carapicuíba. Essa é uma cidade colada em Osasco e em São Paulo. Cheguei até
uma construção imensa, no fim de uma praça sem saída. Quando entrei assustei-me:
cinco caminhões e um grande trator, recolhendo rochas imensas e colocando-as nas
caçambas.
- Pastor, que obra
gigantesca! Por que tudo isso?
- Sabe, era pra ser apenas a
construção de uma plataforma sobre a qual os americanos ergueriam uma capela,
aquelas que eles costumam doar. Mas quando fomos mexer no terreno achamos uma
rocha gigantesca. Dois tratores quebraram enquanto tentavam romper a rocha! Já
saíram 31 caminhões de pedra e eles dizem que há outros dez para
encher!
- E tem gente suficiente para
congregar aqui, pastor?
- Não tem agora, mas com uma
capela linda como ela há de ser, havemos de ter muita gente a servir a Deus
conosco! Já posso imaginar o estacionamento, o gabinete pastoral,
tudo!
Eu sorri ao ver as esperanças
deste pastor de meia idade. Sonhar é bom. Dei-lhe um abraço e
disse:
- Deus te abençoe, meu caro
pastor sonhador!
E saí. Estava entardecendo.
Eu tinha uma última visita a fazer. Desta vez seria no Tucuruvi, na zona norte
de São Paulo, na casa de um pastor que há décadas estava servindo a
Deus.
Ao me deparar com a casa,
assustei-me!
Era a minha própria
casa...
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Wagner Antonio de
Araújo
04/06/2024
Amen
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