A FÁBULA
DO
APAGÃO
1488
O mundo evoluira e todo o
conhecimento encontrava-se nas mídias eletrônicas, nas nuvens de dados, na inteligência artificial, nos hds
de computadores potentes, nos celulares e telemóveis esparramados pelas mãos dos
homens. Nenhuma informação era difícil. A eletrônica traduzia textos, preparava
estudos, desenvolvia teses, encontrava o conhecimento e o disseminava na medida
das necessidades humanas. Os livros? Eram todos eletrônicos. As bíblias? Só em
aplicativos das mais variadas versões. As impressões? Praticamente só existiam
para colocar selos, estampas, caixas de papelão de supermercados e etiquetas de
marcas e preços.
Um dia, desses dias que
separam as épocas, houve uma forte explosão solar. BUM! Ninguém ouviu, ninguém
viu e nem percebeu. Mas, cinco minutos depois uma hecatombe elétrica assolou o
planeta: os satélites se desligaram, os computadores apagaram e as mídias, os
tais conhecimentos acumulados eletronicamente não podiam mais ser acessados.
Aliás, nem se sabia se estavam preservados, pois algo acontecera com a
eletricidade: ela não funcionava mais.
As comunicações instantâneas
acabaram. As consultas do conhecimento pela inteligência artificial
desapareceram. Os professores ficaram sem materiais para as aulas. Os alunos não
possuíam mais as matérias para o aprendizado. Os rádios, os sites, os celulares,
tudo emudeceu.
O mundo regrediu na sua
tecnologia. Conquanto motores mecânicos funcionassem, não havia meios de fazer a
eletricidade ser produzida ou conduzida. A humanidade precisou reinventar-se.
E agora? Onde buscar o
conhecimento? Será que há ainda livros para consulta e para o aprendizado?
Foram atrás dos sebos, das
poucas livrarias que existiam, dos colecionadores que tinham bibliotecas
particulares.
Ah, aqueles livros velhos,
amarelados, empoeirados, gastos e relegados aos porões das casas e das
instituições, tornaram-se da noite para o dia os grandes chafarizes de
conhecimento para a humanidade órfã. Os livros foram redescobertos!
Como não conseguiam fazer a
eletricidade funcionar, as poucas gráficas mecânicas que existiam imprimiam às
correrias os livros mais básicos para as necessidades: cartilhas de
alfabetização, livros de história, matemática e, pasmem,
bíblias!
Sim, estas estavam
desaparecidas das igrejas, das faculdades teológicas. A demanda era tanta que
passaram a escrever cópias à mão. Um livro teológico tornou-se tesouro e era
emprestado com muita rapidez e grande cuidado. Aos poucos o mundo foi se
readaptando à nova realidade mecânica e manual, não mais eletrônica.
Uma geração inteira passou,
com formação em velhos e empoeirados livros. As músicas eram tocadas por músicos
que se especializaram sem o auxílio de máquinas. Produziram-se novamente lindas
melodias. As poesias tornaram-se humanas, reminiscentes ou futuristas. E os
cultos a Deus transformaram-se em adoração única e absolutamente celebrada, pois
não podiam ser gravados ou replicados. Alguns, que tinham boa redação, escutavam
a mensagem e escreviam o que podiam guardar, com lápis, caneta e papel. E depois
copiavam e distribuíam.
Ah, que geração lutadora e
feliz! A qualidade do mundo tornou-se fantástica! Até que, num dia inesperado a
eletricidade simplesmente voltou. BUM! As velhas máquinas, do apagão vintenal ligaram e a eletricidade retornou. Que festa! Que dia feliz! O mundo novamente
comunicou-se entre si e as máquinas, obsoletas em vinte anos, tornaram-se
preciosas!
Mas a lição do apagão
eletroeletrônico cravou profundamente na humanidade. JAMAIS deixaram que uma
energia não confiável ceifasse o esforço humano e o acúmulo mecânico e físico do
conhecimento. Ao lado da eletrônica a versão física do conhecimento sempre
estaria presente. Os livros impressos, ah, estes monumentos de informação e conhecimento retornaram ao centro da educação e da informação.
Fim.
Wagner Antonio de
Araújo
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