segunda-feira, 20 de maio de 2013

memórias literárias - 79 - LEMBRANDO DE ELZIRA BONFANTE - no. 2


79 - QUATRO MESES - LEMBRANDO DE ELZIRA BONFANTE - No. 2


Após 4 meses do falecimento de mamãe escrevi este texto.
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Quatro meses.

06 de dezembro de 2005.

18 horas.

Na Avenida Paulista, voltando para casa, após visitarem sua mãe pela última das vezes, dois irmãos, cansados e apreensivos, Daniel e Wagner, recebem um fatídico telefonema: Dona Elzira Bonfante faleceu, na Unidade de Terapia de Choque do Hospital São Joaquim, Real e Benemérita Sociedade Portuguesa de Beneficência.

A garoa paulistana molhava o vidro do carro, e as lágrimas regavam nossos olhos, rolando rosto abaixo, para o chão.

No peito, uma gratidão: mamãe foi para o Lar. No coração, uma dor: não a veremos mais aqui na Terra. Ah, Senhor...

Ser forte para não deixar meu irmão sucumbir, receber e enviar telefonemas, e-mails, principalmente e-mails. Ah, como circularam e-mails emocionais naqueles dias!


Madrugada. Quatro da manhã. O corpo da saudosa Elzira Bonfante chega no templo da Pompéia, que ela ajudou, com suas ofertas, a construir. Templo que não conheceu em vida, agora serve-lhe de velório. Contradições da vida!

Coração sofrido, saúde frágil, doparam-me para não sofrer mais do que era capaz. Meu irmão era mais saudável. E aquele foi um dia histórico. Inúmeros amigos, parentes, irmãos em Cristo, pastores, missionários, todos irmanados com nossa dor, vieram dar o último adeus, ou ligaram, ou escreveram. Mas, de algum modo, quiseram que soubéssemos de sua solidariedade.

Um carro a mais, sim, foi necessário um carro a mais, tantas eram as coroas e flores, as homenagens póstumas àquela que nos dera à luz, e que fora, para a Igreja Batista de Vila Pompéia, a vovó Elzira, a confidente, a conselheira, a mulher de oração, a "miss simpatia".

Dia seguinte. Casa vazia. Alguns amigos a fazer companhia, para amenizar a transição. Mas, passados uns dias, tudo tem que voltar ao normal, pois cada um tem seus próprios fardos, e a vida não espera, ela continua.

Daniel voltou à empresa, Milu aos cuidados da casa, e eu ao rebanho de Cristo. Visitamos o cemitério, para celebrar o Natal, simbolicamente junto da mamãe, que sempre ganhava o presente de maior valor, mesmo que tivéssemos pouco para gastar; neste ano presenteamos-lhe duas coisas: nossas flores e nossas lágrimas de saudades. Quantas foram, só Deus o sabe.

Quatro meses. Meu Deus, como o tempo passa! Minha casa está vazia. Somente o Senhor e os ecos da saudade. Ecos que nos fazem relembrar o tempo em que o nosso jardim floria perfumadamente, tempo em que mamãe era tudo para nós, humanamente falando. Cômodos vazios, memória cheia, saudade profunda!

Nestes quatro meses os sulcos em nossas faces denotam dez anos de envelhecimento, tanto tem sido o nosso sofrimento, a dor da ausência, às vezes insuportável. Afinal, era ela a luz de nossos caminhos, o centro de nossa família, a ternura de nossa vida. Sentimo-nos como Israel cativo em Babilônia, junto aos rios estrangeiros, não conseguindo tanger suas harpas, ou como as almas debaixo do altar, a inquietar-se com o juizo tardio contra os inimigos de Cristo. A resposta é a mesma: "descansai um pouco mais". Descansar, aqui, para nós, é seguir em frente, para o alto, para cima, para Deus.

E temos feito isso. Daniel em seus negócios, Milu na casa, eu na igreja e em meus ministérios múltiplos. Alguns não consegui reencontrar; outros, aos poucos vão se normalizando. Mas nada mais foi como era. Nem na formação de uma futura família tenho pensado ultimamente. A dor maior acaba cobrindo a dor menor; e eu pensava que não havia nada mais doloroso! Ledo engano!

Saudades, mamãe querida! Muitas saudades!

Mas, mesmo assim, nós, Milu, Daniel e eu, jamais deixaremos Jesus Cristo, que é a razão principal de nossas vidas, começo, meio e fim. É por Ele que sobrevivemos a essa tsunami que soterrou quase tudo, e é por Ele que reconstruiremos um futuro lindo, edificado sobre o fundamento dos apóstolos, e o exemplo inesquecível de nossa genitora.

Te amamos, mamãe!

De seu filho Wagner, o primogênito, e de seu caçula Daniel, junto com a filha postiça Milu.


"Não se turbe o vosso coração. Credes em Deus; crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar. E quando eu for, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que, onde eu estiver, estejais vós também"; "consolai-vos uns aos outros com essas palavras".(João 14, I Tess 4))

Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas de Osasco, SP
bnovas@uol.com.br
www.uniaonet.com/bnovas.htm  

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