quinta-feira, 2 de abril de 2020

memórias literárias - 865 - PALÁCIOS OU CASEBRES

PALÁCIOS
OU
CASEBRES
 
865

Alguns homens são palácios; outros, casebres.
 
Casebres existem aos montes; palácios não.
 
Palácios são construídos para durar, para governar, para enaltecer, para dignificar. Sua robustez, sua estrutura, sua beleza, sua segurança encantam e valorizam um reino.
 
Casebres são feitos ao deus-dará, com as sobras do que se achou e para durar apenas por uma temporada, por um instante. São descartáveis e sem posteridade; não passam de poeira que vagueia pelos séculos.
 
Palácios são moradas dos nobres, dos reis, dos soberanos, dos que têm genealogia e tradição. Seus salões, suas salas, suas cozinhas e dormitórios são dignas das mais altas e dignas sociedades.
 
Já os casebres quando muito acumulam gente, ratos, goteiras, sujeira e temporaneidade. Seus habitantes dariam tudo para sairem de seus alojamentos rumo a algo mais digno. Basta uma tempestade mais forte e suas tábuas e telhados se vão ao sabor dos vendavais.
 
Os palácios não. Eles foram feitos para suportar as intempéries e desastres, as investidas da chuva, dos ventos, das saraivas e dos raios. Além disso, possuem fortalezas de proteção, muralhas construídas ao seu redor, protegendo-os dos inimigos. E em seus cantos superiores há as torres de vigia, que constantemente verificam o que se passa.
 
Na verdade palácios e casebres são apenas analogia ao tema do que falo. Não falo de construções de pedra, cimento, madeira ou palha. Falo de homens, mulheres, seres humanos, pais, mães, trabalhadores, políticos, gente de toda espécie e de toda classe social. Há palácios na pobreza, bem como casebres entre os poderosos.
 
Um homem-palácio é uma pessoa nobre, de bom coração, de alma elevada e de valores imortais. Para ele a palavra vale tanto quanto o próprio nome. Dizer a verdade, ter lealdade, jamais contradizer-se e manter os compromissos são tesouros de sua alma.
 
Já o homem- casebre não tem nada disso, ainda que more no mais alto palácio de pedra, que ocupe a cadeira mais poderosa de um povo ou que tenha mais poderes na mão do que todos os súditos de seu império. A sua alma é um casebre. Quando abre a boca não fala como os nobres, mas como um plebeu. Quando assume um compromisso não tarda a quebrá-lo, de acordo com as vantagens que tiver. Para ele pessoas são como as peças de seu casebre: trocam-se quando se quebram, vende-se quando se vê bom negócio.
 
Os filhos dos homens-palácio têm tradição, têm educação, têm respeito para com o próximo e procuram acrescentar valores na construção das memórias de sua linhagem. Para eles um bom caráter vale mais do que um bom negócio. Assim, na educação de seus filhos procuram dar o exemplo, mostrar como se faz a coisa certa, investir naquilo que não esfarela com o tempo. Os homens-palácio deixam memórias. Os homens-casebre deixam alívio aos que ficam.
 
Que tipo de homem tenho sido? Um homem-palácio, que possui a beleza, a imponência e a importância de um palácio secular, cujo exemplo, a luta, o amor, a abnegação, a sabedoria serão tesouros para os que me sucederem ou serei um homem-casebre, que só pensa no pão de hoje, no benefício do agora, independente dos valores que viverei? O que deixarei na memória dos que me conhecem?
 
Palácios têm história. Homens-palácio têm biografia. Assim como um palácio levou décadas para ser construído e séculos para montar a sua história, um homem-palácio vive a vida com a dignidade de um rei, buscando o trabalho digno, a educação e o esmero, o falar educado e construtivo, o comportamento honesto e corajoso. O homem casebre não se importa com a herança que deixa, com o mau exemplo que constrói ou com o dissabor que provoca. Seu deus é o próprio ventre e seu destino é a terra por baixo de seus pés. Homens-palácio duram para sempre. Homens-casebre não passam de uma geração.
 
Por fim homens-palácio possuem o princípio da sabedoria: o temor do Senhor. Para eles temer a Deus, amá-lo e amar ao próximo sintetiza os valores de suas vidas. Para eles Jesus Cristo é mestre, senhor, autoridade, modelo e meta. Já para os homens-casebre a sabedoria está em juntar bens, ter vantagem em tudo, passar a perna no próximo e tornar-se notório como próspero. Pobre casebre, se não queimar o próprio dinheiro com suas doenças ou a idade deixará tudo para que o filho ou o neto dê fim. E acabou-se a história de um casebre.
 
Caro leitor, somos palácios ou somos casebre?
 
Que respondamos com sinceridade enquanto nos miramos no espelho de nosso coração.
 
Que Deus me ajude a ser palácio.
 

Wagner Antonio de Araújo

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