PALÁCIOS
OU
CASEBRES
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Alguns homens
são palácios; outros, casebres.
Casebres
existem aos montes; palácios não.
Palácios são
construídos para durar, para governar, para enaltecer, para dignificar. Sua
robustez, sua estrutura, sua beleza, sua segurança encantam e valorizam um
reino.
Casebres são
feitos ao deus-dará, com as sobras do que se achou e para durar apenas por uma
temporada, por um instante. São descartáveis e sem posteridade; não passam de
poeira que vagueia pelos séculos.
Palácios são
moradas dos nobres, dos reis, dos soberanos, dos que têm genealogia e tradição.
Seus salões, suas salas, suas cozinhas e dormitórios são dignas das mais altas e
dignas sociedades.
Já os
casebres quando muito acumulam gente, ratos, goteiras, sujeira e temporaneidade.
Seus habitantes dariam tudo para sairem de seus alojamentos rumo a algo mais
digno. Basta uma tempestade mais forte e suas tábuas e telhados se vão ao sabor
dos vendavais.
Os palácios
não. Eles foram feitos para suportar as intempéries e desastres, as investidas
da chuva, dos ventos, das saraivas e dos raios. Além disso, possuem fortalezas
de proteção, muralhas construídas ao seu redor, protegendo-os dos inimigos. E em
seus cantos superiores há as torres de vigia, que constantemente verificam o que
se passa.
Na verdade
palácios e casebres são apenas analogia ao tema do que falo. Não falo de
construções de pedra, cimento, madeira ou palha. Falo de homens, mulheres, seres
humanos, pais, mães, trabalhadores, políticos, gente de toda espécie e de toda
classe social. Há palácios na pobreza, bem como casebres entre os
poderosos.
Um
homem-palácio é uma pessoa nobre, de bom coração, de alma elevada e de valores
imortais. Para ele a palavra vale tanto quanto o próprio nome. Dizer a verdade,
ter lealdade, jamais contradizer-se e manter os compromissos são tesouros de sua
alma.
Já o homem-
casebre não tem nada disso, ainda que more no mais alto palácio de pedra, que
ocupe a cadeira mais poderosa de um povo ou que tenha mais poderes na mão do que
todos os súditos de seu império. A sua alma é um casebre. Quando abre a boca não
fala como os nobres, mas como um plebeu. Quando assume um compromisso não tarda
a quebrá-lo, de acordo com as vantagens que tiver. Para ele pessoas são como as
peças de seu casebre: trocam-se quando se quebram, vende-se quando se vê bom
negócio.
Os filhos dos
homens-palácio têm tradição, têm educação, têm respeito para com o próximo e
procuram acrescentar valores na construção das memórias de sua linhagem. Para
eles um bom caráter vale mais do que um bom negócio. Assim, na educação de seus
filhos procuram dar o exemplo, mostrar como se faz a coisa certa, investir
naquilo que não esfarela com o tempo. Os homens-palácio deixam memórias. Os
homens-casebre deixam alívio aos que ficam.
Que tipo de
homem tenho sido? Um homem-palácio, que possui a beleza, a imponência e a
importância de um palácio secular, cujo exemplo, a luta, o amor, a abnegação, a
sabedoria serão tesouros para os que me sucederem ou serei um homem-casebre, que
só pensa no pão de hoje, no benefício do agora, independente dos valores que
viverei? O que deixarei na memória dos que me conhecem?
Palácios têm
história. Homens-palácio têm biografia. Assim como um palácio levou décadas para
ser construído e séculos para montar a sua história, um homem-palácio vive a
vida com a dignidade de um rei, buscando o trabalho digno, a educação e o
esmero, o falar educado e construtivo, o comportamento honesto e corajoso. O
homem casebre não se importa com a herança que deixa, com o mau exemplo que
constrói ou com o dissabor que provoca. Seu deus é o próprio ventre e seu
destino é a terra por baixo de seus pés. Homens-palácio duram para sempre.
Homens-casebre não passam de uma geração.
Por fim
homens-palácio possuem o princípio da sabedoria: o temor do Senhor. Para eles
temer a Deus, amá-lo e amar ao próximo sintetiza os valores de suas vidas. Para
eles Jesus Cristo é mestre, senhor, autoridade, modelo e meta. Já para os
homens-casebre a sabedoria está em juntar bens, ter vantagem em tudo, passar a
perna no próximo e tornar-se notório como próspero. Pobre casebre, se não
queimar o próprio dinheiro com suas doenças ou a idade deixará tudo para que o
filho ou o neto dê fim. E acabou-se a história de um
casebre.
Caro leitor,
somos palácios ou somos casebre?
Que
respondamos com sinceridade enquanto nos miramos no espelho de nosso
coração.
Que Deus me
ajude a ser palácio.
Wagner
Antonio de Araújo
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