A
PRODUÇÃO
DA
PACIÊNCIA
E não
somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que a tribulação
produz a paciência, e a paciência a experiência, e a experiência a esperança.
(Rm 5:3-4)
Richard Wurmbrand, um
pastor-mártir, fundador da VOZ DOS MÁRTIRES, esteve enjaulado por anos sem luz,
sem espaço e com um horrível ruído de água a pingar. Segundo ele, houve um tempo
em que ou enlouquecia ou fazia amizade com aquele ruído, transformando-o em algo
imperceptível. Assim, ele aprendeu a conviver com o incômodo.
A paciência é suportar algo
sem reclamar, aguentar o sofrimento, a dor, a saudade, o desconforto, e ainda
ser senhor de sua racionalidade e de suas próprias emoções. Os anglo-saxões
lidam melhor com a questão do autocontrole emocional do que os latinos.
Independente de nossa origem, a paciência segundo Deus está acima de nossa
tendência étnica. Há pessoas que expressam pouca emoção por fora, mas explodem
em úlceras por dentro.
A paciência segundo Deus é
um aprendizado. E um aprendizado longo e difícil. O caminho da paciência é
pedregoso, cheio de crateras, difícil de seguir e repleto de surpresas. Mas o
seu destino é a maturidade espiritual. O texto bíblico citado diz que quem
atravessa tribulações debaixo da graça de Deus aprende a ter paciência. E quem
adquire a paciência enche-se de experiência.
Como é bom falar com quem
já experimentou sofrimentos! Como é bom estar ao lado de quem já enfrentou
dificuldades! Quando fiz a cirurgia para a retirada de um tumor (hidrocistoma)
foi bom ouvir quem já havia passado pela faca e atingira a superação da
dificuldade! Quando fiz meus exames escolares foi bom conversar com quem já era
formado e que já conhecia o caminho das provas. Quando iniciei o meu pastorado
foi bom ouvir pastores veteranos, cuja paciência produziu vasta experiência e
poderia trazer-me esperança. Sim, a experiência gera a
esperança.
Esperança de quê? Esperança
de dias melhores. Esperança de vitória e brilho do sol. Esperança de superação.
Alguém, em alto mar, com um navio à deriva, varrido por ondas avassaladoras, sem
comunicação e sem rumo, pode perder a razão e deixar que o infortúnio ceife a
sua vida. Mas alguém no mesmo barco, experiente, que já enfrentou todas as marés
e já viu inúmeras tempestadas, pode tranquilizar os companheiros e dizer: "isso
vai passar; logo nos acharão!". Alguém assim nutre a esperança e a esperança
nutrida não traz confusão.
Estamos todos confinados.
Avós só vêem netos pelo celular. Pais não podem ganhar o pão e precisam confiar
que haverá mundo após a pandemia. Agentes de saúde enfrentam o inimigo e se
questionam se vale a pena. Policiais, bombeiros, eletricistas, motoristas e
tantos outros não podem deixar o trabalho e precisam confiar na proteção divina
e nos cuidados da higiene. Como conseguir aguentar?
É preciso pedir a Deus
paciência. É preciso estimular e regar as mudas da gratidão em nossos corações.
"Trarei à memória o que me pode dar esperança"
(Lamentações 3.21). Buscarei ser grato, mesmo num ambiente esgotado
de convívio forçado e espaço diminuto. Há muitos que sofrem muito mais do que
nós. Há muitos que estão na rua! Serei grato pela comida repetitiva e pela
sobremesa rotineira, agradecerei mesmo não podendo gastar em churrascos ou
comidas caras. Serei grato!
E farei do desconforto que
tenho (dores no corpo, falta de privacidade, isolamento social, medo da
enfermidade, falta de atividade profissional) uma oportunidade para investir no
eterno e transcendente, sabendo que o temporal e momentâneo são tão pequenos e
mutantes. Até ontem ia aos shopings, aos parques, ao turismo e à igreja, e hoje
nada disso está disponível. Se a minha vida for construída sobre valores eternos
então o que é temporário encontrará o seu lugar. Foi o que Paulo afirmou quando
passou necessidades e depois teve o suprimento: porque
já aprendi a contentar-me com o que tenho. (Fp
4:11)
Encerro esta reflexão com a
letra escrita pelo oficial sueco do Exército da Salvação, AUGUST LUDVIG STORM,
que, conquanto tenha sofrido uma paralisia na coluna aos 37 anos, invadido
diuturnamente pela dor física, ainda tinha paciência e graça para compor, cantar
e pregar! Eis suas palavras, belamente traduzidas por Alice Östergreen
Deniszczuk, imortalizada em áudio pelo Pr. Feliciano
Amaral:
1. Graças dou
por esta vida, pelo bem que revelou.
Graças dou pelo futuro e por tudo que passou.
Pelas bênçãos derramadas, pela dor, pela aflição,
pelas graças reveladas, graças dou pelo perdão.
Graças dou pelo futuro e por tudo que passou.
Pelas bênçãos derramadas, pela dor, pela aflição,
pelas graças reveladas, graças dou pelo perdão.
2. Graças pelo azul celeste e por nuvens que há também,
pelas rosas no caminho e os espinhos que elas têm;
pela escuridão da noite, pela estrela que brilhou,
pela prece respondida e a esperança que falhou.
3. Pela cruz e sofrimento e pela ressurreição,
pelo amor que é sem medida, pela paz no coração;
pela lágrima vertida e o consolo que é sem par,
pelo dom da eterna vida sempre graças hei de dar.
Wagner Antonio de Araújo
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