sábado, 4 de abril de 2020

memórias literárias - 866 - A PRODUÇÃO DA PACIÊNCIA

A PRODUÇÃO
DA PACIÊNCIA

 
E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a paciência, e a paciência a experiência, e a experiência a esperança. (Rm 5:3-4)
 
Richard Wurmbrand, um pastor-mártir, fundador da VOZ DOS MÁRTIRES, esteve enjaulado por anos sem luz, sem espaço e com um horrível ruído de água a pingar. Segundo ele, houve um tempo em que ou enlouquecia ou fazia amizade com aquele ruído, transformando-o em algo imperceptível. Assim, ele aprendeu a conviver com o incômodo.
 
A paciência é suportar algo sem reclamar, aguentar o sofrimento, a dor, a saudade, o desconforto, e ainda ser senhor de sua racionalidade e de suas próprias emoções. Os anglo-saxões lidam melhor com a questão do autocontrole emocional do que os latinos. Independente de nossa origem, a paciência segundo Deus está acima de nossa tendência étnica. Há pessoas que expressam pouca emoção por fora, mas explodem em úlceras por dentro.
 
A paciência segundo Deus é um aprendizado. E um aprendizado longo e difícil. O caminho da paciência é pedregoso, cheio de crateras, difícil de seguir e repleto de surpresas. Mas o seu destino é a maturidade espiritual. O texto bíblico citado diz que quem atravessa tribulações debaixo da graça de Deus aprende a ter paciência. E quem adquire a paciência enche-se de experiência.
 
Como é bom falar com quem já experimentou sofrimentos! Como é bom estar ao lado de quem já enfrentou dificuldades! Quando fiz a cirurgia para a retirada de um tumor (hidrocistoma) foi bom ouvir quem já havia passado pela faca e atingira a superação da dificuldade! Quando fiz meus exames escolares foi bom conversar com quem já era formado e que já conhecia o caminho das provas. Quando iniciei o meu pastorado foi bom ouvir pastores veteranos, cuja paciência produziu vasta experiência e poderia trazer-me esperança. Sim, a experiência gera a esperança.
 
Esperança de quê? Esperança de dias melhores. Esperança de vitória e brilho do sol. Esperança de superação. Alguém, em alto mar, com um navio à deriva, varrido por ondas avassaladoras, sem comunicação e sem rumo, pode perder a razão e deixar que o infortúnio ceife a sua vida. Mas alguém no mesmo barco, experiente, que já enfrentou todas as marés e já viu inúmeras tempestadas, pode tranquilizar os companheiros e dizer: "isso vai passar; logo nos acharão!". Alguém assim nutre a esperança e a esperança nutrida não traz confusão.
 
Estamos todos confinados. Avós só vêem netos pelo celular. Pais não podem ganhar o pão e precisam confiar que haverá mundo após a pandemia. Agentes de saúde enfrentam o inimigo e se questionam se vale a pena. Policiais, bombeiros, eletricistas, motoristas e tantos outros não podem deixar o trabalho e precisam confiar na proteção divina e nos cuidados da higiene. Como conseguir aguentar?
 
É preciso pedir a Deus paciência. É preciso estimular e regar as mudas da gratidão em nossos corações. "Trarei à memória o que me pode dar esperança" (Lamentações 3.21). Buscarei ser grato, mesmo num ambiente esgotado de convívio forçado e espaço diminuto. Há muitos que sofrem muito mais do que nós. Há muitos que estão na rua! Serei grato pela comida repetitiva e pela sobremesa rotineira, agradecerei mesmo não podendo gastar em churrascos ou comidas caras. Serei grato!
 
E farei do desconforto que tenho (dores no corpo, falta de privacidade, isolamento social, medo da enfermidade, falta de atividade profissional) uma oportunidade para investir no eterno e transcendente, sabendo que o temporal e momentâneo são tão pequenos e mutantes. Até ontem ia aos shopings, aos parques, ao turismo e à igreja, e hoje nada disso está disponível. Se a minha vida for construída sobre valores eternos então o que é temporário encontrará o seu lugar. Foi o que Paulo afirmou quando passou necessidades e depois teve o suprimento:  porque já aprendi a contentar-me com o que tenho. (Fp 4:11)
 
Encerro esta reflexão com a letra escrita pelo oficial sueco do Exército da Salvação, AUGUST LUDVIG STORM, que, conquanto tenha sofrido uma paralisia na coluna aos 37 anos, invadido diuturnamente pela dor física, ainda tinha paciência e graça para compor, cantar e pregar! Eis suas palavras, belamente traduzidas por Alice Östergreen Deniszczuk, imortalizada em áudio pelo Pr. Feliciano Amaral:
 
1. Graças dou por esta vida, pelo bem que revelou.
Graças dou pelo futuro e por tudo que passou.
Pelas bênçãos derramadas, pela dor, pela aflição,
pelas graças reveladas, graças dou pelo perdão.

2. Graças pelo azul celeste e por nuvens que há também,
pelas rosas no caminho e os espinhos que elas têm;
pela escuridão da noite, pela estrela que brilhou,
pela prece respondida e a esperança que falhou.

3. Pela cruz e sofrimento e pela ressurreição,
pelo amor que é sem medida, pela paz no coração;
pela lágrima vertida e o consolo que é sem par,
pelo dom da eterna vida sempre graças hei de dar.
 

Wagner Antonio de Araújo

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