SAUDADES DE
MEU
PAI...
na
foto:
Wagner
(7anos),
Antonio, o
pai (41 anos),
Daniel ao
colo, 2 anos
906
Eu queria sentar-me ao lado de papai e conversar longamente
com ele, admirando o pôr do sol. Ele teria 88 anos, enquanto eu estou prestes a
fazer 55. Eu o ouviria falar sobre a roça, sobre sua mãe, sobre o cavalo com o
qual cavalgava, sobre o fardo de lenha que trazia toda tarde para o fogâo da sua
mãe. O ouviria falar de sua fuga para São Paulo a pé, rota que a maioria dos
irmãos também fizeram, vindos de Cambuí, Minas Gerais. Ele me falaria da rede de
esgotos que ajudou a fazer na Vila Brasilândia e do prédio onde se empregou nos
serviços gerais. Falaria do professor que lhe pagou escola e da indicação que
fez para que trabalhasse de contínuo no Banco do Brasil. Ele me contaria que
iniciou a faculdade de engenharia, tolhido, infelizmente por uma enfermidade
impeditiva. Me contaria sobre o terreno que comprou ao lado da propriedade de
seu pai na Rua Bica de Pedra, em Vila Anglo Brasileira, onde morou com sua irmã
iria. Falaria da moça bonita, irmã da noiva de seu irmão Roque, que pedira em
casamento. Falaria do casório em 1960 e do meu nascimento em 1965. Ele me
falaria das latas de concreto que ele e mamãe carregavam no barranco e que, aos
poucos, transformou-se numa casa de 4 andares, num escadão bem grande. Foi onde
nasci. E da grande realização de ter sido pai de dois rapazes, eu, em 1965, e
Daniel, em 1971.
Ele tomaria um
copo de café com leite e comeria um bauru. E me falaria da longa enfermidade que
sofrera, diabetes da mais severa e gangrena no dedo do pé. Falaria sobre as
aplicações de laser nos olhos e da triste cegueira que o afetou. Ele também me
contaria o quanto Jesus mudou a sua vida desde que o aceitara como Salvador.
Falaria com prazer da Igreja Batista em Sumarezinho, onde ia toda terça-feira
ajudar a evangelizar com a equipe de voluntários. Depois da ajuda que dera à
Igreja Batista de Vila Mirante, adquirindo a velha bancada da igreja da Vila
Pompéia e doando-a para a sua congregação. E me falaria da felicidade de ter
comprado a nossa casa atual em Vila Pompéia, onde moramos desde
1972.
Ele então me
pediria para ler um pouco a bíblia, principalmente naqueles textos apocalípticos
dos quais tanto gostava. E depois iria deitar-se para
descansar.
Ah, meu velho
pai! Quantas saudades, Antonio Paulino de Araújo!
Eu percebo uma
coisa. Há tanta gente que tem fotografias com o mundo todo, que detém vídeos de
toda espécie com toda sorte de gente, mas dificilmente se vê fotografado com o
próprio pai ou a conversar com ele. Gente que entrevista todo mundo, que está
com todo mundo, mas que não tem interesse algum em ser registrado ao lado
daquele que lhe propiciou a existência. Alguns têm motivos: pais ausentes, pais
perigosos, pais que nunca mostraram interesse. Outros, contudo, o fazem porque é
moda dar valor às pessoas de fora e ignorar os pais que possuem. Todo mundo é
inteligente, todo mundo é importante, todo mundo é interessante, mas os pais não
entram nesta lista. Então vem a morte, ceifa os pais e estes jovens crescem.
Eles se tornam pais e, em determinado momento descobrem a bogagem gigantesca que
fizeram. Eles dariam tudo para ter o pai de volta, para agirem diferente em
determinadas situações críticas; fariam as coisas com maior paciência e com mais
tolerância. Mas o tempo é um rio cujas águas não param e os seus pais já
saltaram na margem anos atrás. Hoje é muito tarde. E a fatura, os seus próprios
filhos, chega, com posições invertidas: agora são eles que são desprezados pelos
seus...
Eu sinto falta
de meu pai. Sinto tanto por não ter câmeras à época onde pudesse registrar estes
momentos com ele! Mas as poucas fotos que colecionei, aliás as únicas que
tínhamos, guardam para mim um significado profundo. Eu tenho saudades! Eu hoje o
compreenderia tão bem!
Filhos que me
lêem, que têm os pais vivos: os seus pais não são menos importantes do que
aqueles para quem vocês dão toda a atenção. Eles não merecem menos de vocês.
Fotografem-se com eles; filmem-se com eles; guardem as suas vozes, celebrem os
momentos preciosos, mesmo que eles sejam ranzinzas ou encrenqueiros. Amanhã
sentirão falta até das brigas bobas que tinham! Se eles são idosos não os deixem
morrer no asilo! Quantos filhos que perderam pais pelo COVID 19 e não puderam
estar ao lado deles, sofrem horrores por não terem se despedido! Amem os seus
pais! Amem-nos apesar de tudo o que justifique a
distância!
Escrevo estas
linhas com o rosto banhado por lágrimas. Escrevo-as com imensa saudade. Papai se
foi em 1991, quando eu tinha 26 anos de idade. Daqui a 4 anos eu terei a idade
que papai tinha ao morrer. Será que chegarei lá? Eu não sei. Só sei de duas
coisas.
A primeira: um
dia eu o reencontrarei no céu. Sei que ele estará diferente, pois estará não
será nem doente, nem velho e nem terá o corpo marcado pelas tempestades da
vida. Ele terá um corpo glorificado. Ele não merece isso, como eu também não
mereço. Mas ambos entregamos o nosso coração para Jesus Cristo e por causa disso
nós estaremos lá.
A segunda: hoje
eu também sou pai. Eu quero que os meus filhos tenham boas memórias sobre mim.
Por isso eu me filmo com eles, fotografo-me ao lado deles e tento com todas as
forças ser o melhor pai que posso. Eu os amo mais do que tudo, exceto Jesus
Cristo. Eu os amo como amo a minha esposa. E por causa disso os ensino a amar a
Jesus. E poderei dizer com convicção: "EU SEI QUE O MEU REDENTOR VIVE'. Eles
também o dirão. E espero que eles lembrem-se do grande amor que o seu pai teve
por eles.
Feliz Dia dos
Pais 2020!
Pr. Wagner
Antonio de Araújo,
filho de
ANTONIO PAULINO
DE ARAÚJO
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