Uma das mais difíceis tentações ao
ministro do evangelho é entrar em discussões político-partidárias. Ele pode
debater como cidadão que é, como contemporâneo que é. Porém, a questão não é se
pode, mas se deve fazê-lo no seio de sua
comunidade. É algo absolutamente comum subir o tom das discussões
diante de plataformas de candidatos em evidência, principalmente quando estes se
identificam como cristãos e se comprometem com pautas não-cristãs, como o
aborto, o casamento homossexual ou a liberação dos tóxicos. A língua do ministro
coça e ele é severamente tentado a apontar o dedo e a criticar os candidatos
cristãos hipócritas, como acontece hoje na mais recente notícia de um dos
candidatos à presidência da República. Mas após as eleições - e alguém sempre vence, é óbvio -,
tudo fica como dantes no quartel de Abrantes; cada um volta para o seu mundo
particular, para as suas funções pessoais. Mas uma página lamentável ficou
escrita, maculando o ministro de Deus, cujo tema deveria ser o ideal, não o
pessoal. Aquele velho dito bíblico, esquecido que foi, agora é razão de grande
lamento no coração do pastor: Portanto, meus amados irmãos, todo o homem seja
pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar. (Tg 1:19); Se alguém
entre vós cuida ser religioso, e não refreia a sua língua, antes engana o seu
coração, a religião desse é vã. (Tg 1:26) Como lidar com essa luta interior? Deve ou não deve
opinar? Deve ou não deve politizar a sua prédica? Deve ou não influenciar nos
votos e nas manifestações ideológicas? Pode ou não fazer campanha explícita a
favor de alguém ou contra outrem? Acredito que a vida do ministro de Deus deve apontar para
um comportamento claro e direcionado para aquilo que é justo e correto, não
apenas em épocas de eleição, mas em todas as épocas. Deve ser ele um defensor da
verdade, da honestidade, da honradez, do compromisso, da coragem, da condenação
do pecado e dos vícios em todas as esferas, doa a quem doer. Deve ser inimigo
dos conchavos, inimigo dos acordos por vantagens, inimigo da mistura entre
púlpito e palanque político. Acredito que deve denunciar o pecado em todas as suas
formas e denunciar projetos pecaminosos à sua congregação. Condenar um projeto
ou um sistema que visa amaldiçoar mais ainda a sociedade não é envolver-se em
política partidária, mas ensinar o povo a discernir entre o certo e o errado,
entre o pagão e o cristão. É obrigação do ministro ser a voz de um profeta, ser
o "assim diz o Senhor" para a sua congregação. Os seus escritos devem ter
coragem de denunciar. Não havendo sábios conselhos, o povo cai, mas na multidão
de conselhos há segurança. (Pv 11:14) Mas condicionar um povo a votar num determinado partido
ou num determinado candidato não é o seu papel. Os batistas clássicos, em
particular, mantendo a sadia tradição que receberam dos batistas
norte-americanos do passado, não transformam os seus púlpitos em plataformas
políticas; antes, doutrinam as suas congregações para um comportamento civil
responsável, sadio e fundamentado na justiça, na Lei e na ordem, nos valores
bíblicos cristãos e na separação entre a Igreja e o Estado. Além do mais não
loteiam suas igrejas em troca de forros, de cimento, areia, pedras, lotes,
cargos ou posições sociais. Aqui no Brasil vivemos um tempo difícil, onde os três
candidatos majoritários são à favor do casamento homossexual. Como votar diante
de indivíduos que certamente serão perniciosos para uma sociedade sadia à luz do
evangelho? Votar neles seria assinar um atestado de autorização para que o
Brasil chafurde na lama da depravação. Não votar neles também não resolveria os
outros problemas, como a falta de condução econômica e de perspectiva nacional.
Trata-se de dura escolha: votar ou anular o voto? Há alguém digno de ser eleito?
Talvez os dignos sejam inexperientes ou nem estejam entre os concorrentes.
Deixar o país no vácuo não será o caminho. Como escolher? Penso que é hora dos ministros de Deus dobrarem os
joelhos diante do Rei dos reis e orarem com insistência para que o Senhor tenha
misericórdia do Brasil. Que Ele nos dê um líder que tenha firmeza e pulso para
conduzir esta grande nação, mas que não venha a trazer a sodomia e a depravação
institucionalizada para o seio das famílias brasileiras, nem sob o pretexto de
tornar o Brasil um país de todos, laico para uma sociedade laica. Laico ou não,
o país tem uma família definida em constituição e esta precisa ser
defendida. Creio que também não se devem iludir com as aparências
cristãs que uns e outros possuem. Não sei se há algum cristão entre estes
"santos de pau oco". Se forem são réprobos e deveriam ser disciplinados por suas
igrejas, pois vendem seus valores pelo engrossamento do seu eleitorado. Também
deveriam aprender que a traição não é um valor dos seguidores do Senhor, mas de
Judas Iscariotes; fazer-se alguém sob um selo e romper com os valores que os
tornaram conhecidos no meio do caminho é um mal gigantesco que não dignifica a
ninguém. Quem trai um, trai outro, e certamente trairá o eleitor também. Não precisamos necessariamente de crentes no poder;
alguns deles acabam sendo mais danosos para a causa cristã do que se não fossem
cristãos. Há não crentes corretos e que entendem bem de administrar com eficácia
e com justiça. E, infelizmente, a maioria dos que se dizem crentes não passa de
joio disfarçado de trigo; aliás, nem disfarçam mais, são capazes até de sair em
revistas pornográficas! Por fim, é bom que saibamos que não deteremos o mal.
Quando muito seremos como Josias, a protelar o grande juízo sobre Judá; o mal já
semeado no Brasil é grande demais para deter o juízo divino. Se ainda houver
esperanças para um governo menos ruim, menos injusto, menos invasivo, menos
ladino, menos intervencionista, menos anti-cristão, que seja assim e que Deus
nos dê o discernimento para descobrir qual é. Certamente não será um dos que
militam contra valores da família e do evangelho. Se ainda pudermos ter um país
menos pior para os nossos filhos e netos, que Ele nos ajude a escolher com
sabedoria. O meu voto eu ainda não sei a quem darei, e se darei. Mas
certamente já sei a quem não darei nem que fosse a única alternativa
viável. E tenho dito. Wagner Antonio de Araújo
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