VOCÊ GOSTA DE
MIM?
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"Mamãe, a senhora gosta de
mim?" Uma pergunta bem comum na época da infância, quando queremos ter ciência e
confirmação do amor de nossos genitores por nós. O tempo passa e as relações
aumentam. A primeira namorada, a primeira paixão, e fazemos a mesma pergunta:
"Você me ama? Você gosta de mim?" Nos casamos, temos os filhos, amadurecemos e
deixamos de pronunciar a questão. Contudo, lá dentro do íntimo continuamos a
perguntar: "Será que o meu chefe gosta de mim? Será que minha sogra gosta de
mim? Será que a minha esposa me ama? Será que o pastor gosta de mim? Será que o
mundo gosta de mim?"
Longe de ser infantilidade
ou fraqueza psicológica, a questão nos remete à necessidade que temos da
apreciação de alguém, do bem-querer do próximo e das pessoas que nos são mais
caras. É precioso lembrarmo-nos do diálogo entre Jesus e Pedro, em João capítulo
21: "Pedro, tu me amas? Tu me amas? Tu gostas de mim?" (nossas versões são
capengas na tradução, uma vez que o diálogo mostra duas questões de mesma ênfase
e palavra para "amar" e a última com uma palavra para "gostar"). Jesus quis
ouvir de Pedro a verdade sobre os seus sentimentos e sobre a sua consideração
por si. Como amar não era possível para Pedro, Jesus lhe pergunta se ao menos
gostava dele.
Buscamos a mesma coisa. E
sem palavras esperamos dos outros alguma pista, algum sintoma de que gostam de
nós. Talvez uma felicitação, um telefonema, uma carta, um e-mail, um SMS, uma
visita, algum destaque específico para nós. Quando não temos essa manifestação a
dúvida em nós reaparece e nos perguntamos no íntimo: "será que gosta de mim?"
Essa necessidade de ser amado é profunda, é real, e, não raras vezes, a falta do
suprimento torna-se impeditivo de nossa felicidade. Há pessoas que dizem: "Não
ligo para quem não liga para mim"; "tenho que gostar de quem gosta de mim". E há
aqueles que chegam à triste conclusão: "ninguém gosta de
mim!"
Pois a Palavra de Deus
desmente tudo isso!
Primeiro: Deus nos ama e
nos amou primeiro do que nós o amamos! Assim diz a Bíblia: "Nós o amamos a ele
porque ele nos amou primeiro." (1Jo 4:19). Se a condição que o nosso coração
impõe para podermos amar alguém é que alguém nos tenha amado primeiro, então
essa condição já foi preenchida! Deus nos ama! "Porque Deus amou o mundo de tal
maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não
pereça, mas tenha a vida eterna." (Jo 3:16). Fomos alvos do amor divino, quando
Deus mandou o Seu Filho para nascer, viver, sofrer, morrer e ressuscitar por
nós! Alguém nos amou, então somos capazes de amar também!
Segundo: Por termos sido
amados por Deus, podemos amar a todos, até aqueles que não nos amam e que nada
expressam por nós! "E se amardes aos que vos amam, que recompensa tereis? Também
os pecadores amam aos que os amam." (Lc 6:32). Não precisamos restringir o nosso
amor apenas a quem o merece (às vezes bem poucos fazem jus a ele!). Como
cristãos, somos responsáveis em amar até os inimigos! "Eu, porém, vos digo: Amai
a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e
orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso
Pai que está nos céus;" (Mt 5:44). Isto é impossível aos incrédulos e falsos
cristãos; e, mesmo difícil, é possível aos verdadeiramente crentes.
E como amar? Em nosso mundo
ocidental e contemporâneo o amor passou a conotar sensualidade, sexualidade,
sentimentos carnais e atitudes promíscuas. Nada mais distante da realidade! O
amor aqui expresso não trata de expressões físicas ou atração carnal, mas de
atitude interior de quem quer o bem do próximo, de quem deseja a felicidade do
outro, de quem tenciona expressar reconhecimento e cooperação com alguém. Assim,
amor é atitude, é gesto de gratidão, é busca da felicidade, inclusive, se
necessário, dar a vida em favor do próximo. Neste ato estão incluídos
sacrifícios pessoais (auxílio, acolhimento, ajuda etc). Cristo mostra em um
trecho de sua prédica algumas expressões deste amor: "Porque tive fome, e
destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e
hospedastes-me; estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na
prisão, e fostes ver-me." (Mt 25:35-36).
Isto significa: estar
acessível, disponível, atento às necessidades, primeiramente dos domésticos da
fé (irmãos em Cristo), dos familiares (quem não cuida dos seus tem negado a
própria fé); e então, de todos os demais (do próximo, que cruza o nosso
caminho).
"Você gosta de mim?" é a
questão que fazemos. Vamos mudá-la?
"Eu realmente gosto de
você?"
Essa pergunta causa
desconforto? Algumas vezes sim, pois muitas vezes o nosso isolamento e
marginalização é fruto de nosso próprio comportamento de ostras, fechados que
somos em nós mesmos ou em nosso mundo. Jogamos a responsabilidade em quem
conosco não se importa, quando, na verdade, nós construímos um muro imenso entre
nós e os outros, intransponível para ambos! Não há pontes de contato, não há
meios de comunicação! Será que eu gosto dos outros? Será que eu tenho interesse
real no que se passa com os outros? Avaliemos!
Meu pai sente-se amado por
mim? Se não, o que posso fazer para mudar isso? E minha mãe? E meu irmão, irmã?
E minha esposa e filhos? E minha sogra? E meus vizinhos, colegas de trabalho,
escola, faculdade? E meus irmãos da igreja? Se eu morrer hoje, farei falta?
Ajudo a carregar o fardo alheio ou sou um peso para os que convivem comigo? O
verdadeiro amor " Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não
se irrita, não suspeita mal; "(1Co 13:5)
Você gosta de mim? Não? Não
faz mal. Cristo gosta! E se Ele gosta, eu também posso gostar de você. Mesmo que
nada receba em troca. Porque, como já sou amado, posso amar, desejando o bem,
dispondo-me a acolher se precisar, orando por sua feliciade e realização.
Que Deus nos ajude a
gostarmos dos outros. Porque quem ama ao próximo tem cumprido a Lei de Deus. "O
amor não faz mal ao próximo. De sorte que o cumprimento da lei é o amor." (Rm
13:10)
Wagner Antonio de
Araújo
11/03/2015
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