ALMA
INSATISFEITA
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Nada agrada. Nada alegra.
Nada parece fazer sentido. Sons de riso, de festa, de celebração. Lá dentro,
entretanto, um grande vazio, um grande nada. Para o mundo o rosto mostra
harmonia, equilíbrio, otimismo. No coração, todavia, a tristeza de uma grande
farsa. A alma está insatisfeita.
Pensou em progredir. E até
conseguiu. Estudou. Formou-se. Trabalhou. Graduou-se. Acumulou recursos, comprou
imóveis e veículos. Conseguiu ajuntar dinheiro e possuiu prestígio. Mulheres o
desejaram; homens o invejaram; invejosos o criticaram; novatos queriam imitá-lo.
Mas dentro da alma encontrou um caos sobrevivente: nada disso satisfez. Não via
sentido em nada, não encontrava valor algum permanente. A força da conquista
terminava no instante em que conquistava. O desejo de comprar morria com a
compra.
Pensou em viajar. E viajou.
Conheceu cada canto e recanto que havia por conhecer. Viu as praias, viu os sete
mares. Viu montanhas e vales, picos e cataratas, aldeias e metrópoles. Sentiu o
calor das zonas equatoriais e o frio dos polos. Viu a aurora boreal e também a
noite sem fim do inverno nos países baixos. Bebeu os vinhos europeus, comeu os
chocolates suiços e o queijo dos Alpes. Conheceu cada rua de sua cidade e ainda
assim não conseguiu conhecer a própria alma, que teimava em não sentir qualquer
felicidade, qualquer alegria constante e verdadeira. Seu coração estava
solitário e vazio.
Tratou-se com amores.
Conquistou todas as mulheres que desejou. Perverteu os seus caminhos e não
limitou-se ao mundo feminino. Praticou toda sorte de prazeres físicos de que se
tinha notícia. Experimentou todas as drogas, todas as dores e todas as alegrias.
Explorou todo o universo da sensibilidade. E descobriu-se mais pobre do que
nunca, vazio de corpo (destruído) e de alma
(insatisfeito).
Refugiou-se na religião.
Converteu-se a vários credos. Vestiu-se como um devoto. Carregou uma cruz às
costas e pagou suas promessas. Decidiu fazer meditação e explorou as religiões
orientais. Cheirou incenso e foi para as comunidades. Saiu delas e entrou para
os evangélicos. Queimou rosas secas e fez desafios em fogueiras santas. Pagou
votos e peregrinou pelas montanhas de oração. Desiludido, entrou para o
espiritismo. Tentou psicografar, fez terapia, hipnose e descobriu que nada disso
tinha sentido. O que a alma queria era suicidar-se. Afinal, por mais que se
corresse atrás de algo, nunca encontrava a felicidade desejada. Morrer seria o
melhor.
A alma insatisfeita queria
terminar a jornada. Morando em SP, chegou ao Viaduto do Chá. Era noite e iria
atirar-se na avenida que passava por baixo (antes da reforma do Anhangabaú).
Seria rápido e eficaz, talvez demorasse uns minutos para morrer, mas seria
fatal. Subiu ao muro e deu um último olhar. Nisso aproximou-se dele um
transeunte, que lhe perguntou:
- Se for perder a vida, por
que não fazê-lo por Jesus? O senhor já tentou de tudo, mas ainda não tentou
Jesus.
- Como? Que invasão é essa?
Deixe-me em paz! E para o seu governo eu fui evangélico!
- Mas não perdeu a vida por
Jesus. E agora irá perdê-la sem Jesus. Que desperdício!
- Homem, perder por perder,
que diferença isso fará?
- Com relação a morrer,
nenhuma. Mas definirá o que virá depois disso, creia o senhor ou não creia.
Antes de pular poderia dar-me 5 minutos de atenção? Se o que eu lhe disser for
válido o senhor desce daí e não se suicida. Se não, eu irei embora e o senhor
fará o que quiser. Pode ser?
O homem da alma
insatisfeita aceitou. Sentou-se no muro e passou a ouvir aquele desconhecido.
Com palavras simples ele lembrou-se de que Cristo dissera: "aquele que amar a
sua vida mais do que a mim, não é digno de mim". Contou para ele que Cristo
viera para saciar a alma insatisfeita e que ele estava a um passo de destruir
essa chance. Falou sobre si próprio, cuja vida era tão vazia quanto a dele,
falou das mulheres, das drogas, do crime e do satanismo com o qual se
comprometera. E convidou-o para fazer uma última tentativa, agora com Cristo, de
verdade.
- Fale agora de coração a
Deus, dizendo que sua alma está insatisfeita. Diga para Ele que eu lhe apontei
Cristo como a solução. Pede para que Ele envie agora o Espírito Santo em seu
ser, recebendo Jesus como Salvador e Senhor. E eu lhe garanto que algo irá mudar
aí dentro. E sua alma insatisfeita será saciada. Que tal? Se não der certo, o
senhor pode me condenar e se matar à vontade. Mas se der certo, o senhor terá
oferecido a sua vida com um propósito e com uma recompensa. Que
tal?
Aquele homem da alma
insatisfeita fez isso. Ao iniciar a prece sentiu-se absolutamente solitário e
desiludido. Ao terminá-la sentiu-se diferente, um certo alívio tomou conta do
coração. Acompanhou o desconhecido ao bar da Rua São Bento e, enquanto tomaram
um café reforçado, o desconhecido lhe falou do amor de Deus. E despediram-se,
para nunca mais se verem (até hoje).
O homem da alma
insatisfeita tornou-se feliz. Tornou-se um crente, estabeleceu-se na vida,
formou família e ao longo de seus anos ajudou outros de almas insatisfeitas a
acharem na cruz de Cristo a razão de suas vidas. Ele ainda deseja rever o
evangelista que o livrou da morte, mas talvez só o reveja no Céu, quando estiver
com Cristo.
"Alma cansada, não
desespere, espera em Deus,
Que Ele vem, que Ele vem te
socorrer,
Espera em Deus, espera em
Deus e no seu amor!"
Pois que aproveita ao homem
ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou que dará o homem em recompensa
da sua alma? (Mt 16:26)
Mas Deus lhe disse: Louco!
esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? (Lc
12:20)
Porque aquele que quiser
salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim,
achá-la-á. (Mt 16:25)
Mas aquele que beber da
água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele
uma fonte de água que salte para a vida eterna. (Jo 4:14)
Este texto foi inspirado
numa história real.
Wagner Antonio de
Araújo
11/01/2016
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