RESPEITO
302
Portanto, tudo o que vós
quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os
profetas. (Mt 7:12)
Aprendi desde pequeno que
devemos respeitar as outras pessoas, independentemente de sua idade, cor,
patamar social ou religião. E acreditei piamente que quando respeitamos, nos
tornamos também dignos de respeito. Não tenho me decepcionado quanto a isto, ao
longo dos anos, exceto quando o relacionamento é com algum ímpio. Então entra em
cena um outro princípio: "E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós
perdoamos aos nossos devedores;" (Mt 6:12)
Tenho procurado pautar minha
vida nesse pilar. Afinal, quem não gosta de ser respeitado? Que não gosta de ser
compreendido, percebido, acolhido, levado em consideração?
Na evangelização também devo
respeitar o meu próximo. Aliás, devo respeitar a fé do meu próximo. Respeitar
não é concordar ou celebrar junto. Os católicos romanos, por serem em maior
número, antiguidade nacional e presença social, são nossos mais próximos a quem
evangelizamos. Gostamos de receber da parte deles o respeito à nossa fé, às
nossas comemorações, eventos, e apreciamos que participem de nossos cultos e
conferências. Ficamos tristes quando algum deles zomba de nós, nos ridiculariza,
nos expõe à humilhação pública. Contudo, deveríamos fazer também um”mea-culpa”,
e avaliar o nosso grau de respeito à fé que eles têm.
Digo isso porque recebo
toneladas de mensagens zombeteiras, não deles contra nós, mas nossas contra a fé
que postulam.
Evangelizar não é zombar das
práticas e crendices alheias. Podemos não concordar com elas, mas não temos a
autoridade ou liberdade para debochar da religião e religiosidade dos outros.
Crer em Deus, em Cristo, na bíblia e no modo evangélico de ser, não é rir das
rezas, desfazer das promessas, amaldiçoar as práticas ou humilhar a religião do
outro. Não raras vezes, as reações são de igual ou maior monta, e acabamos por
sairmos feridos do embate, com convicção de mártir, mas sendo, na realidade, mal
educados. Não precisávamos agir como agimos!
Quem não ouve não faz jus a ser
ouvido. Quem não respeita, não faz jus a ser respeitado. Quem não consegue
separar a fé do outro e a pessoa do outro, é tão mau quanto um racista, um
preconceituoso, um totalitário ou um ímpio. Não fomos chamados a ferir o coração
de ninguém, mas a persuadir pelo amor. Aliás, é o amor que constrói pontes, e
essas pontes servirão de comunicação entre ambos.
Quem tem convicção do que crê
não corre riscos de perverter a sua fé por ser educado. Afinal, ou cremos ou não
cremos. E, se nossa fé não estiver decentemente alicerçada no respeito mútuo,
não é fé cristã. Jesus Cristo nunca humilhou quem com ele não concordava. Pelo
contrário, perdoou-os. E, por força desse perdão, conquistou muitos soldados que
nele não criam. Não foi à toa que o cristianismo, em um século de existência,
ameaçou o Império Romano, e em três dominou-o, mesmo que nominalmente. Assim
também, quando somos educados, respeitadores, compreensivos, somos também
respeitados, compreendidos e aceitos, e nossa mensagem pode ser ouvida e
relevada. Os canais de comunicação ficam abertos. E, se cremos realmente na
relevância de nossa mensagem e da nossa interpretação evangélica, não tenhamos
dúvida: ela fará eco nos corações que interagirem conosco.
Foi isso o que Jesus quis dizer
quando falou: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam
as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus.” (Mt
5:16)
Não precisamos rezar na mesma
cartilha, mas podemos respeitosamente deixar que os outros rezem. Porque, quando
formos cantar, pregar, anunciar a salvação e a soteriologia reformada, também
teremos ouvidos respeitosos, atentos e que darão relevância às argumentações. E
criaremos um clima de cavalheirismo e respeito. Afinal, em nome de Jesus Cristo
não somos autorizados a cuspir, a perseguir, a mentir, a zombar, a matar, a
erguer muralhas ou confinar em guetos. Quem zomba da fé alheia é tão mau quanto
um inquisidor da Idade Média; apenas não possui as mesmas armas.
Vivamos o autêntico evangelho,
demonstremos o porquê cremos, agimos e pensamos assim. Abracemos as verdades
inquestionáveis das Escrituras. Tenhamos absoluta fidelidade às tradições
apostólicas do Novo Testamento. Não abramos nossos portais à mistura e ao
sincretismo religioso, ao ecumenismo desprovido de princípios. Mas não façamos
que posições de convicção, religião e filosofia nos tornem malcriados,
zombadores e cruéis. Não tornemos nossa “verdade que liberta” em “desculpa
esfarrapada” na crueldade e no desrespeito ao próximo. Lembremo-nos que, para
termos ouvidos atentos, precisaremos também saber ouvir. E
respeitar.
Que assim
seja.
2004
Wagner Antonio de
Araújo
Wagner Antonio de
Araújo
Igreja Batista Boas
Novas de Osasco SP
Nenhum comentário:
Postar um comentário