O PASTOR
SIQUEIRA
MORREU
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"Como? O Pr.
Siqueira morreu? Meu Deus! Tão jovem, tão ativo! Que
tragédia!"
"Não! O Pr.
Siqueira? Não é possível! Ele pregou domingo à noite e estava cheio de planos! O
que aconteceu? Ataque cardíaco? Jesus amado..."
Aos poucos os
irmãos ligavam uns para os outros. A notícia chegou à ordem de pastores e estes
também repercurtiam a notícia.
"Ah, Senhor,
que tristeza! Um homem tão experiente, tinha tanto para dar, agora recolhido às
mansões celestiais! Estamos empobrecidos!"
"Como eu
queria ter tido tempo para beber de sua sabedoria, enriquecer a minha alma,
infelizmente os afazeres do dia a dia me impediram de um contato mais
longo..."
Chegou a hora
do culto da saudade, culto fúnebre. Igreja cheia, lágrimas, dor, mas gratidão
pela vida do obreiro. Familiares se revezavam nos cuidados para com os
presentes, pastores teciam elogios, enfim, tudo muito bem feito e
participativo.
O cortejo
acompanhou o caixão até o cemitério. Mais um culto, hinos e, enfim, o
sepultamento propriamente dito. Aos poucos todos se despediram, cada um tomou o
seu lugar nos automóveis e ônibus e acabou a celebração. No cemitério apenas a
terra revolvida e o jovem caixão com o Pr. Siqueira.
Ele deixara a
vida para entrar na história, como diria Getúlio Vargas. Mas deixara a igreja
terreal, os amigos, os irmãos, os familiares, os vizinhos, os bancos, a receita
federal, tudo. Ele agora era um nome no obituário, não na lista
telefônica.
Com os dias e
meses as pessoas percebiam o quanto perderam tempo e oportunidade. "Ah, como eu
gostaria de ter conversado mais com o Pr. Siqueira!"; "Sinto falta dos seus
conselhos"; "Como me lembro de suas prédicas, sempre bem feitas e planejadas!";
"Que falta faz a sua administração!"; "Sinto falta de papai; eu poderia ter dito
que o amava, mas não o fiz!"; "Perdi tanto tempo na cozinha ou comigo mesmo, e
agora sinto que poderia ter vivido melhor o nosso
casamento!".
O mundo
evangélico também sentia. As revistas cristãs queriam ouvir a opinião daquele
querido pastor, tão bíblico e tão equilibrado; mas agora era tarde. Eles
lembravam-se de quantas vezes ele os procurara para publicar algum sermão ou
artigo, mas nunca lhe deram a oportunidade. A denominação à qual pertencia
ressentia-se de não ter oferecido oportunidades melhores para o obreiro, mesmo
percebendo que ele sempre estava presente, disposto a cooperar e possuia um
carisma profundo e grande temor do Senhor. A igreja que pastoreou sentia falta
de seus sermões; muitos que faltavam à Escola Bíblica Dominical, cultos noturnos
ou de oração, agora lamentavam-se, dizendo: "tivemos tantas chances de ouvi-lo e
agora lamentamos e sentimos falta de seus sermões..."
E assim
família, igreja, mundo cristão e a sociedade em geral descobrem-se pobres,
terrivelmente pobres, convictos de que eram ricos e não deram o devido valor ao
Pr. Siqueira. Se o tempo pudesse voltar, certamente ouviriam mais o querido
pastor, dariam a ele maior atenção, desfrutariam de sua preciosa companhia e
publicariam suas preciosas mensagens, tão caras e tão bíblicas. Mas o tempo não
para e no Rio do Tempo os que saem não regressam mais, senão no dia do grande
julgamento. Uma vida que se vai é uma página que se vira na agenda da
existência.
Enquanto
escrevo muitos estão a imaginar: quem era esse Pastor Siqueira? De onde era, que
igreja pastoreava, quando morreu?
E eu digo: o
Pastor Siqueira pode ser qualquer um dos pastores que estão nos púlpitos a
pregar, nos gabinetes a atender, nas casas a cuidar das famílias, nas
denominações a participar de suas atividades. Estes obreiros, talvez por
manterem pouco interesse político não brilham como outros. E o brilho dos demais
não significa que não possuam algo precioso, importante, "sui generis". Eles só
não são percebidos. Muitas vezes os membros de suas igrejas deixam de ouvi-lo
nos cultos, faltando nas atividades, porque sabem que domingo após domingo
poderão encontrá-lo lá, pronto a pregar, a ensinar e a aconselhar. Deixam essas
oportunidades para mais tarde. Muitos familiares, principalmente filhos e netos,
mantém como prioridade a sua própria geração, relegando a atenção ao velho
obreiro apenas aos dias especiais ou a momentos em que estejam com a agenda
vazia. Muitos estão tão seguros de que tal pessoa sempre estará presente, que o
confundem com um móvel, um patrimônio, uma árvore. Mas móveis se deterioram;
patrimônios se perdem; árvores morrem. E pastores não duram para sempre.
Lembrem-se
dos velhos obreiros que cuidaram de suas igrejas. Lembrem-se de suas esposas.
Por onde andam? Lembrem-se dos pastores idosos que frequentam a igreja; como
estão? Há um poço de conhecimentos e uma fonte de grande sabedoria numa boa
prosa e numa boa conversa com eles. As novas gerações poderiam beber de sua
longa experiência de vida. A família poderia valorizar-lhe mais, amar-lhe mais,
torná-lo mais especial e presente, não um estorvo ou algo secundário no dia a
dia da casa.
Vamos dar
maior valor aos nossos pastores veteranos. Eles morrem. Eles partem. Eles um dia
deixarão de pregar. Ouvi-los no púlpito ou nos cultos domésticos é algo que
podemos fazer agora, mas isso um dia terminará. Lê-los e poder discutir seus
textos com eles é um privilégio dos contemporâneos, não dos futuros leitores. E
dar oportunidade para que falem, publiquem, escrevam, deve ser algo atual para
as editoras e rádios, mesmo ceder o próprio púlpito para os pastores idosos;
deixar tudo isso para amanhã é perder para sempre. E essa perda jamais será
compensada.
Que tal dar
mais valor ao seu Pastor Siqueira enquanto ele está vivo?
Pr. Wagner
Antonio de Araújo
20/04/2016
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