terça-feira, 16 de janeiro de 2018

memórias literárias - 595 - APARENTE COMUNHÃO

APARENTE
COMUNHÃO
 

 
595
 
Sou muito grato por cada leitor que me dá a honra de sua preciosa e caríssima atenção. Só Deus poderá recompensar à altura. Espero contar sempre com a sua atenção tão valiosa. Sei, contudo, que, no universo de contatos, muitos não são realmente pessoais.
 
Antigamente não havia tanta facilidade de comunicação. Uma carta, por exemplo, levava dias para chegar, senão semanas! Depois, com o telefone, os contatos tornaram-se mais próximos. Nem todos tinham automóveis; assim, os deslocamentos ou eram feitos à pé, ou no lombo do animal, ou através de trens, ônibus, barcos e aviões. Ter carro era luxo. Com a indústria de automóveis e a popularização do transporte, as distâncias encurtaram-se. Apareceu então o telex, o e-mail, as redes sociais. No Brasil o whatsapp é o mais popular de todos os softwares de comunicação rápida. Nele as pessoas estão teoricamente conectadas 24 horas por dia. Basta um chamado e a outra pessoa atende. Não é maravilhoso manter-se em comunhão e em companhia por todo o tempo?
 
Infelizmente o que parece não o é, de fato. Os contatos on-line por internet não são, nem de longe, o que se propõem ser! A maior parte deles são apenas endereços, nada mais. Mesmo os grupos familiares, os grupos de amigos e de classes, não são mais do que comunicações de massa com distribuição de toneladas de materiais de mídia. Há muitos contatos e poucas pessoas; muitas curtidas e poucos sentimentos verdadeiros. As saudações diárias, as imagens e compartilhamentos diuturnos que circulam não são capazes de criar amizades ou de operar a autêntica comunhão. Quem entra e espera comunhão acaba por frustrar-se e manter-se na amizade de mão única! As pessoas nem se telefonam mais!
 
A Bíblia já ordenava há anos atrás: Não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais, quanto vedes que se vai aproximando aquele dia. (Hb 10:25) . Há pessoas que se utilizam de cultos transmitidos pela internet por falta de locomoção ou distância intransponível de igrejas. Não é destes que falo. Falo daqueles que substituiram a comunhão pessoal pela virtual. De que forma as pessoas assistem em privado a uma pregação ou ouvem hinos pela mídia? Comendo pipocas, lavando louças, fazendo as unhas, escovando os dentes ou fazendo outras coisas. E como deveria ser feito, se o ambiente fosse eclesiástico?  (à moda antiga, porque o que chamam de igreja hoje está muito distante do que de fato deveria ser) Se fosse no culto, ao vivo, ouviríamos a pregação ou a canção com reverência, sentados, prestando atenção, em atitude de oração, em comunhão com os irmãos. Um é o culto pessoal, na igreja ou num lar; outro é o culto midiático, feito como um programa de TV: um show para entretenimento com alguma coisa que se aproveita; nada mais.
 
As amizades estão também por aí. Milhares de "amigos" no facebook, centenas de nomes no whatsapp, mas a maioria é apenas virtual. Poucos realmente se importam uns com os outros. Há tantos pedidos de oração e tão pouca oração feita de fato! Quem sente falta dos demais e mostra isso? Às vezes amigos estão a quinhentos metros de distância, passam pela nossa frente, sabem que estamos próximos, mas não têm interesse algum em visitar-nos, em serem encontrados pessoalmente, preferindo viver na fantasia virtual. E somos assim com os demais também. Se peneirarmos as amizades, pouca coisa sobra. E se alguém nos peneirar será que sobraremos na lista de alguém? 
 
Amor tem que ser pessoal. Amor custa caro, exige sacrifício, presença, doação, preocupação. Amor e comunhão reais devem ser expressos de forma pessoal, não apenas por ruídos de máquina ou sinais escritos de caixinhas eletrônicas. Igrejas devem comer "um saco de sal juntas", aprender a conviver, a suportar, a superar. Famílias devem cearem juntas, passearem juntas, e, não raras vezes, brigarem juntas. Somos humanos e o convívio é como um par de sapatos a lacear: às vezes machuca, mas depois tudo se ajeita. Amigos precisam olharem-se nos olhos, partilharem um passeio, uma visita, um pedaço de pão. A distância que nos protege dos atritos comuns da convivência também mata as relações e o afeto. Falo dos que podem, não dos que estão, de fato, privados pela distância ou condições.
 
Se Jesus aqui estivesse em pessoa a conviver conosco, Ele não substituiria o lava-pés por um lava-visor de celulares.  Para Ele gente junta em Seu Nome é a única receita de autêntica comunhão verdadeira.
 
Tenho muito carinho pelos meus contatos, que me dão a alegria de sua leitura a cada dia. Agradeço a Deus pela vida de todos. Mas sei que muitos se limitam a ler uma ou outra linha, sem aprofundamento pessoal.
 
A quem deseja mais que isso, aconselho a fazer o que faço: escolher uma dúzia de pessoas, da família ou de seu convívio, transformando-as em amigos de verdade. Eles valerão muito e não serão apenas uma lista de nomes piscantes no aparelho de celular. Eles não serão descartáveis como agendas velhas.
 
Wagner Antonio de Araújo

12/01/2018

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