quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

memórias literáritas - 597 - PÚLPITO IRRELEVANTE

PÚLPITO
IRRELEVANTE
 

 
 
597
 
Muitos pregadores torcem para que haja algum convite em algum púlpito famoso: pregar na primeira igreja da cidade, num congresso da denominação, num encontro de gente famosa ou rica, num local de alta visibilidade. Buscam a fama, buscam agradar aos grandes e influentes, seja a nível religioso, empresarial ou político.
 
Tais pregadores são também solicitados para anunciar a Palavra em pequeninos púlpitos, de igrejas de bairro, com poucos membros. Às vezes aceitam, até para sentirem-se bem consigo próprios (não se acharem orgulhosos). Outras, para não deixar algum colega ou conhecido desiludido. Porém, sabem que a repercussão será mínima.
 
Às vezes as coisas não andam como deveriam e o pregador é obrigado a declinar de um compromisso. Se o convite foi de um púlpito modesto, não há constrangimento em buscar o anfitrião, explicar a situação e pedir desculpas. Afinal, por ser um púlpito tão modesto, facilmente encontrará um substituto: um pregador qualquer, um irmão que se disponha a ensinar alguma coisa ou o próprio pastor local.
 
Mas se o convite foi para um grande evento, para uma igreja de renome, para uma atividade de repercussão, o pregador fará de tudo para resolver a sua pendência e não desagradar a quem o convidou. Afinal, não foi fácil conseguir aquela oportunidade; pode ser única na vida! Então ele faz "das tripas coração", busca resolver todas as dificuldades e procura atender o convite. Os problemas pessoais para o pregador vêm em segundo plano; o púlpito é mais importante do que as suas momentâneas dificuldades.
 
Já no púlpito da igreja modesta a situação se inverte: as prioridades do pregador vêm primeiro; depois, se outro convite houver e se ele puder atender, o fará, desde que não perturbe a sua agenda tão lotada.
 
Infelizmente o que digo não é ficção. Isso acontece com frequência para pastores que cuidam de púlpitos modestos. Às vezes convidam alguns pregadores que lhes são caros e preciosos, de agendas cheias e lotadas. Conseguem estabelecer uma data apropriada. No decorrer do caminho (e, algumas vezes, no próprio dia!) o pregador convidado dá uma explicação e escusa-se, dizendo que não poderá participar.
 
Um púlpito modesto é tão relevante quanto um púlpito famoso. Aliás, muitos púlpitos famosos dos dias de hoje não passam de tribunas de Satanás, com ministros do Diabo travestidos de pastores "antenados", "sarados", "modernos". Um destes ousou dizer recentemente num jornal secular que fez o seguinte lema para a sua comunidade: "Igreja para quem não gosta de igreja; gente de quem a igreja não gosta". Esse indivíduo aglutina dez milhares de pessoas em sua congregação todos os domingos. Pobres pecadores que pagam para ouvir esse tipo de coisa! Muitas igrejas de púlpitos modestos vão se esvaziando, perdendo gente para essas congregações infestadas de portas largas e falsificação da Palavra!
 
Mas um convite para um púlpito assim, com milhares de assistentes, com direito ao nome cravado num site, num programa de TV ou na mídia local acaba sendo uma tentação, parecendo ser mais relevante, no entendimento de muitos pregadores. Pensam que agradar milhares de homens é o caminho ideal do sucesso na pregação. Leio coisa muito diferente na Bíblia: Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade. (2Tm 2:15); Não temais, ó pequeno rebanho, porque a vosso Pai agradou dar-vos o reino. (Lc 12:32); E porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem. (Mt 7:14). Porta estreita nunca foi demérito. Pelo contrário, continua a ser a única pela qual entram os que vão para o Céu. Conheço as tuas obras; eis que diante de ti pus uma porta aberta, e ninguém a pode fechar; tendo pouca força, guardaste a minha palavra, e não negaste o meu nome. (Ap 3:8); Porfiai por entrar pela porta estreita; porque eu vos digo que muitos procurarão entrar, e não poderão. (Lc 13:24)
 
Sou responsável pelo púlpito de uma igreja modesta. Já preguei, à convite, em púlpitos de renome, com milhares de assistentes. E já preguei para duas pessoas, depois de ter viajado um oceano. Para mim ambos são igualmente relevantes. E se algo acontecer para que eu cancele o meu compromisso, terá que ser, de fato, algo sumamente sério, que me impeça de ir a qualquer lugar, seja para um grande evento, seja para um evento de uma pessoa só. Não classifico os púlpitos pela sua popularidade ou aglutinação de gente. Um púlpito é relevante porque nele se proclama o "Assim diz o Senhor". A importância de um púlpito não está no prédio onde foi colocado e nem pelo número de pessoas que reúne; a sua importância está na Palavra de Deus que ali é pregada e na ordem divina para a sua execução: Que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina. (2Tm 4:2)
 
Amo o meu púlpito modesto. Se um púlpito mais expressivo tivesse (considerando aglomeração e repercussão) seria tão valioso quanto o que tenho. E convido os meus amigos, pregadores, e os que não são meus amigos, mas que pregam a Palavra, que pensem da mesma forma. Não julguemos pela aparência; valorizemos a vontade do Senhor.
 
Tu, pois, cinge os teus lombos, e levanta-te, e dize-lhes tudo quanto eu te mandar; não te espantes diante deles, para que eu não te envergonhe diante deles. (Jr 1:17)
 
Wagner Antonio de Araújo

18/01/2018

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