segunda-feira, 12 de agosto de 2019

memórias literárias - 794 - PAPAI, ESTOU AQUI ...

PAPAI,
ESTOU AQUI...
 
794
 
Enquanto eu trabalhava no computador a editar programas de rádio, concentrado nas mídias, nos tratamentos com softwares de delay e nos cortes necessários das partes dos programas, o meu filho Josué Elias de 2 anos de idade saiu da sala onde dormia o soninho da tarde e veio para o meu escritório. Sentou-se na poltrona e disse, em sua língua infantil: "Papai, aqui...". Eu olhei para ele, sorri, dei-lhe um beijo de ternura e continuei o meu trabalho. Uns cinco minutos depois lembrei-me dele e, quando o contemplei, vi a cena mais linda do dia: ele, no afã de ficar bem próximo de mim, que estava tão ocupado, decidiu esperar na poltrona e ficar quietinho. O sono o dominou e ele adormeceu tranquilo e feliz, porque estava junto do papai.
 
Eu confesso que não consigo escrever isso sem derramar algumas lágrimas. Essa ternura infantil, esse amor não fingido, essa dependência emocional e completamente pessoal do papai (e da mamãe, certamente), é algo que encanta. Ele estaria mais confortável na sala, mas não gozaria da minha companhia, ainda que atarefado. Ele preferiu dormir aos meus pés do que descansar longe do papai. Ele necessita sentir-se acolhido, amado, acarinhado, percebido. E para ele o seu pai é o seu herói.
 
Ah, como isso me inspira! Lembro-me do Senhor Jesus a dizer aos Seus discípulos: Em verdade vos digo que, qualquer que não receber o reino de Deus como menino, não entrará nele. (Lc 18:17).  Leio de forma clara a mensagem do Senhor: "Sejam como esses meninos pequenos, que amam estar com os seus pais; amem estar com o Pai Celestial!". Sim, um desejo interior puro, sereno, direto e real: estar aos pés do Pai! Há uma canção tão bonita que diz: "Eu só quero estar onde estás, habitar em Tua presença" (Don Mohen, na Cantata Deus Conosco). Trata-se de QUERER IR, DESEJAR IR, TER PRAZER EM IR até Deus. É um desejo que nasce de um amor precioso, do afeto, da ternura, uma atração pura da alma que ama ao Pai celestial. Foi o que levou Jesus a gastar madrugadas tão preciosas, necessárias para o seu sono, em oração ao Seu Pai celestial. Ele, que O conhecia pessoalmente antes de nascer (o único ser pré-existente), que havia visto o Seu rosto Santíssimo, que convivera com Ele desde a eternidade, sentia falta desse encontro puro, perfeito e privado com o Pai. Ele se tornara Deus-Homem e saíra do Céu enquanto peregrinava por aqui. Por isso sentia falta e queria estar com Ele em oração.
 
"Oh, meu Deus, como eu queria ser assim também! Como eu queria ser um Josué Elias que corresse aos Teus pés maravilhosos e santos, e dizer-Te com ternura: "Aba, Pai, estou aqui, só para ficar conTigo..." Mesmo que eu nada tivesse a dizer-Te! Mesmo que nada fizesse. Mesmo que fosse só para adormecer aos Teus pés! Eu não tenho dúvidas de que Tu, que me fizeste à Tua semelhança, sentiria a mesma ternura, o mesmo amor e o mesmo carinho que eu senti pelo meu filho que escolheu ficar comigo!"
 
Sei que ainda é tempo. Eu oro, eu O busco, mas não com a singeleza do Josué Elias a me buscar. Eu tenho tanto que crescer! E, como um paradoxo ontológico, quanto mais eu crescer no Senhor menor ficarei; e quanto mais maduro eu for mais criança eu me tornarei. E terei a singeleza do meu filho e poderei também dizer: PAPAI, ESTOU AQUI. ISTO É O BASTANTE. OBRIGADO POR ME ACOLHER. E, calado na paz do Senhor, descansarei.
 
Obrigado, Josué Elias, pela lição que me concedeu.
 
Wagner Antonio de Araújo
 

 

Um comentário:

  1. Já li alguns autores pelos quais fiquei encantado. Mas graças a Deus eu posso ler o senhor e ser sua ovelha. Que benção !

    ResponderExcluir

memórias literárias - 1477 - CHORA, Ó RAQUEL...

  CHORA, Ó RAQUEL...   1477   Quando o Senhor Jesus Cristo fez-Se homem, nascendo do ventre de Maria, Herodes o Grande desejou matá-Lo...