SÓ
JOSÉ
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Era idoso. Mas sempre alinhado. Aposentara-se há anos. Há quinze
era viúvo. Suas duas filhas moravam próximas, casaram-se e eram mães também. Ele
vivia sozinho. "Sozinho não; com Deus", gostava de
dizer.
Era muito crente. Costumava ler a bíblia na escrivaninha da sala.
Tinha um abajur que ganhara nas bodas de prata e com ele iluminava as páginas
sagradas. Lia 20, 30, 50 minutos à noite e outros tantos pela manhã. Depois, ao
pé da escrivaninha, colocava um travesseiro e, com cuidado, ajoelhava-se. Orava
ao Senhor. Às vezes chorava, outras sonhava. Em todas, porém, Deus estava
presente.
Certo dia ele não saiu até a padaria para comprar o pãozinho
diário. Sua filha, que também ali passava, ouviu do balconista a
preocupação pela ausência. Ela, preocupada, saiu da padaria e passou na casa do
papai. A porta estava trancada. Como tinha uma chave consigo, abriu a porta. Foi
ao quarto. Papai dormia.
- Papai, o que há?
Ele, acordando, deu um sorriso.
- Olá, filha amada. Vou partir!
- Como, papai? Que história é
essa?
- O Senhor vai levar-me, querida. Vou aos braços de
Deus!
A filha saiu correndo para o quintal, ligou para a irmã e chamou a
ambulância. Seu pai, lá de dentro, pediu:
- Filha, eu lhe peço: não me tire daqui. Apenas chame a sua
irmã.
Ela, agora desesperada, aguarda a irmã, que chega
afoita.
- O que foi, mana?
- Ai, meu Deus, papai não está falando coisa com coisa! Ele disse
que vai partir hoje! Venha ver!
Quando chegaram no quarto, seu pai olhava para cima e sorria. Logo
viu as filhas aos pés da cama e disse:
- Venham cá, meninas! Eu já disse que amo
vocês?
- Sim, papai! Mas vamos ao hospital, por
favor.
- Não, minhas filhas. Eu estou bem. Aliás, estou muito bem. Peguem
em minhas mãos.
Elas assim o fizeram, em lágrimas. As mãos de papai estavam frias,
mas sem desespero ou tremores. Ele, olhando para ambas com um brilho diferente
nos olhos, pediu um beijo de cada uma delas. Elas o deram e o abraçaram em
prantos.
- Calma,
minhas queridas. Calma! Papai vai para casa! Eu não disse a vocês que o céu é o
nosso lar? Pois então, não há porque ficarem tristes!
Em seguida
apertou as mãos das meninas e disse, olhando para o céu:
- Senhor
Deus, Pai celestial, tenho ao meu lado as filhas que me deste. Obrigado por
tanta riqueza! Obrigado pela vida, pelo amor e pela família! Agora estou pronto
para partir. Obrigado pelo perdão dos meus pecados por Cristo, o meu Salvador!
Senhor, cuida de minhas meninas. Cuida de seus maridos e filhos. Cuida da nossa
igreja. Aleluia! Maranata!...
Fechou os
olhos e partiu.
Sim. Agora
eram as filhas que oravam em pranto copioso e dolorido, mas gratas pelo pai
magnífico que ali descansava. Um homem que viveu com Deus e morreu com Deus. Um
homem de quem tinham orgulho. Um homem de valor.
O seu nome?
José. Só José.
Wagner Antonio de Araújo
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