quinta-feira, 21 de novembro de 2019

páginas soltas - 823 - O TESTE DE ALAOR

O TESTE DE
ALAOR
 
823
 
Era um bom emprego. O salário era bem valorizado e os ganhos por comissão de venda eram muito promissores. Alaor estava feliz. Nos primeiros quatro meses triplicara os ganhos e recebera elogios da gerência.
 
Foi numa segunda-feira que as coisas mudaram. Um e-mail institucional chegara à sua caixa postal. "Convocado para a noite especial". "Noite especial? O que seria isso?" Alaor foi até o gerente e perguntou-lhe.
 
- Chefe, que noite especial é essa?
 
- Ninguém lhe falou nada ainda?
 
- Não. De que se trata?
 
- Alaor, hoje teremos uma noite daquelas. Avise em casa que só irá chegar pela madrugada. Diga que vai trabalhar até mais tarde. Nós teremos um encontro com uma dúzia de clientes ricos. Já preparamos um hotel, uma pista de dança e muitas mulheres.
 
- O senhor está dizendo que a empresa vai financiar uma orgia?
 
- Não veja por esse lado. Nós, vendedores, temos que ter bom relacionamento com os nossos clientes. Ali teremos uma noite bem à vontade e poderemos estabelecer amizades sólidas. Todo ano temos uns quatro ou cinco encontros assim. Mas fique tranquilo. Tudo "privê" e com segurança. Não tem erro!
 
Alaor estava perplexo. O que fazer? Dois anos desempregado foram duros demais para que se repetissem. Mas participar daquilo era contra os seus valores familiares e cristãos. De sua mesa ligou ao gerente:
 
- Chefe, tenho a opção de não ir?
 
- Claro que tem! Você pode não ir e também não precisará voltar aqui no departamento, ok? Pare de bobagem, homem! Aproveite a vida! Teremos champagne e muita canabis!
 
Alaor foi ao banheiro, dobrou os joelhos e orou. Pediu a Deus sabedoria e graça. Avisou em casa que não chegaria no horário. E saiu com a turma para o hotel privê do outro lado da cidade. Lá encontrou outros colegas, todos animados e já de posse de outras mulheres, as mais lindas que já vira. Uma moça veio ao seu encontro e ele desculpou-se e não correspondeu. Entraram na boate defronte da pista de danças. Sentou-se e pediu uma água tônica. O gerente veio até ele e disse:
 
- Ânimo, rapaz! Um serviço destes não sairia por menos de mil reais e você vai ter isso de graça! Aproveite!
 
Alaor contemplava perplexo a baixeza e a perversidade moral de seus colegas. Alguns eram pais de família e estavam repugnantemente indecentes. Moças lindas, com idade similar as de suas irmãs depravavam-se diante de desconhecidos, conduzindo-os às suites luxuosas. Do outro lado futuros clientes fumando maconha e bebendo champagne. Era horrível.
 
Ele levantou-se, procurou o gerente, que estava a beijar uma das mulheres e disse:
 
- Chefe, estou saindo. Amanhã passo no departamento para pegar as minhas coisas.
 
- Seu idiota! Vá embora mesmo! Você não sabe viver! Você nunca será um bom vendedor! Seu fracassado!
 
Alaor chegou às 22 horas em casa. Tomou o seu banho, fez o seu culto doméstico com a esposa e deitou-se. No dia seguinte foi ao departamento. Em sua mesa estavam os seus pertences, já fora das gavetas. Tomou uma caixa de papelão e foi colocando ítem por ítem, condicionando-os direitinho. Os poucos colegas que ali estavam olhavam com desdém para ele. "Bobão"; "Crente fanático"; "Trouxa, não soube valorizar a oportunidade". Alaor escutava calado.
 
Quando já estava prestes a sair o seu telefone tocou. Ao atender escutou:
 
- Vendedor Alaor?
 
- Ex-vendedor, infelizmente. Pois não?
 
- Eu lhe vi ontem naquele hotel. Estou certo?
 
- Sim, viu-me, lamentavelmente.
 
- E saiu antes de todo mundo. Por que?
 
- Porque sou um cristão e não comungo com essa depravação moral. Tenho família e tenho caráter, não vou fazer um papel que não me corresponde para poder ganhar a vida.
 
- Você não sabia que era preciso fazer de tudo para conquistar os clientes?
 
- Se fazer de tudo significa romper o meu relacionamento com Deus e enganar a minha família eu não sirvo para vender nada nesta empresa. Por isso estou indo embora. Posso transferi-lo para outro vendedor, se desejar.
 
- Olhe para a porta, Alaor.
 
Alaor olhou. Ali estava o figurão da indústria, cobiçado pela gerência e bajulado por todo mundo.  Alaor, perplexo, não estava entendendo. O homem chegou-se à sua mesa, puxou uma cadeira e sentou-se. O gerente correu a saudá-lo, mas o homem sequer olhou para ele. Os colegas estavam pasmos. "O que significa isso?", pensavam.
 
- Alaor, eu estava lá no hotel também.
 
- Eu percebi, senão não saberia que eu saíra antes dos demais.
 
- Eu saí depois de você. Eu também sou cristão e aquilo não me seduziu em nada.
 
O gerente então interrompeu:
 
- Seu Evaristo, se nós soubéssemos teríamos contratado um coral de igreja!
 
- Cale a boca, rapaz. Deixe-me continuar a falar com o seu vendedor.
 
E olhou para o Alaor. Sorriu e lhe disse:
 
- Eu estou disposto a assinar o contrato com esta empresa. Mas só o farei se lhe derem a exclusividade da minha conta, se lhe derem uma comissão extra e se lhe respeitarem como cristão.
 
Olhou para o gerente e perguntou:
 
- Uma conta de três milhões lhe interessa, gerente?
 
O gerente, vermelho como um pimentão, envergonhado pela situação, disse:
 
- Mas é claro que sim! Daremos a exclusividade ao Alaor e ele terá a liberdade de ser quem é.
 
O contrato correspondia a um crescimento de 50% no faturamento da empresa. Alaor foi promovido a gerente. E daquele dia em diante não houve mais noitadas sedutoras para seduzir clientes. A empresa não precisava disto. Em três anos Alaor tornou-se sócio e transformou a empresa na líder do seu setor.
 
Caro leitor, como está o seu testemunho diante do mundo onde vive? Você rebaixa a sua moral e a sua dignidade para ganhar o seu pão? Você engana a família e vive uma farsa para sobreviver? Pois saiba que de nada adianta ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma. Alaor foi firme e deu testemunho de sua fé e foi vencedor. Você também pode vencer, se tão somente buscar primeiro o Reino de Deus, sem temer o que lhe possa fazer o homem.
 
Não se rebaixe para o mundo e não se renda a Satanás. Seja um cristão verdadeiro e testifique da verdade. O Senhor tem bênçãos àqueles que forem fiéis. Não se prostitua, não minta, não faça as coisas que vão contra os valores bíblicos só para ganhar dinheiro. Sirva a Deus. Ele sabe recompensar os Seus.
 
Wagner Antonio de Araújo

 

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