REI
MORTO
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Ele era
querido por todos. Há 25 anos presidia a empresa. Contratara inúmeras pessoas
necessitadas e dera-lhes um rumo na vida. Muitas tornaram-se prósperas e muito
bem sucedidas em suas carreiras. Estendera a ação empresarial por vasta área
geográfica, transformando a antes empresa local numa potência nacional. Foram
muitos anos de trabalho, de luta, de esforços, de dedicação. Ele estava prestes
a aposentar-se.
Pelos
corredores da empresa começou a verificar um burburinho. As pessoas conversavam
e, ao vê-lo chegar, afastavam-se com um sorriso invasivo. Ele não fazia idéia do
que se tratava. Verificara também que os filhos do dono, homem que sempre lhe
foi leal e que agora falecera, provocando grande comoção nos antigos
funcionários, olhavam-no diferente. Nas reuniões operacionais ou com os
acionistas eles praticamente eram monossilábicos diante das propostas e das
diretrizes apresentadas ou explicadas.
No final do
mês, enquanto preparava-se para mais uma viagem de campo, recebeu em seu
escritório o diretor da área de vendas em domicílio. Este, bastante abatido,
disse que dois dos filhos do falecido proprietário estavam no departamento
refazendo a agenda de reuniões e reestabelecendo as prioridades da área.
Perplexo, sem saber como explicar, ligou para um deles.
- Dr. Carlos,
pode explicar-me o que ocorreu? É verdade a informação que recebi? Os senhores
estavam no departamento refazendo agendas e diretrizes?
- Sim, é
verdade.
- Mas, meu
caro, o nosso conselho determinou que as diretrizes e as agendas daquela área
fossem organizadas pelo seu atual titular. Por que a
mudança?
- Caro
Boanerges (esse era o nome do nosso velho presidente), aqui nesta empresa nós
cuidamos de tudo. Fique na sua!
Desligou o
telefone. Sentiu o chão sumir diante de seus pés. A empresa consolidada e
desenvolvida por ele agora contava com o desejo de aposentá-lo e tirá-lo de
cena.
Foi só uma
questão de tempo. Os filhos do dono deram-lhe a demissão. Indenizaram-no segundo
a lei mandava, mas nem um centavo a mais, nem um cartão de "muito
obrigado".
Não houve
festa. Não houve despedida. Aliás, no dia em que juntava os seus pertences para
sair, ouviu a música que os donos cantavam com os funcionários: "hoje é um novo
dia de um novo tempo". Ele entendeu que era página virada.
Encontramo-lo
há alguns dias andando pela rua do centro. A dignidade não o abandonou. Seu nome
foi apagado das placas, dos relatórios, da vaga do estacionamento e do site da
empresa. Cinco pessoas foram contratadas em seu lugar. Outro dia desejou visitar
o pátio da firma, mas o guarda que fazia a vigilância e dava acesso à empresa
não lhe permitiu entrar. "São as regras, Boanerges. Se cuide,
hein?"
Rei morto,
rei posto.
Wagner
Antonio de Araújo
obs: alguém
perguntou: e acabou? Não tem nenhuma aplicação, nenhuma lição a tirar, nenhum
conselho a dar?
Bem, o texto
retrata a vida como ela é. Infelizmente o que escrevi é a realidade de inúmeras
pessoas que já contribuíram imensamente em suas áreas de atuação e que foram
completamente esquecidas e arrancadas dos anais de memória da própria sociedade
construída.
Infelizmente
isso acontece também nas igrejas cristãs, nos ministérios pastorais, nas
congregações que crescem.
Dura
realidade.
Que Deus nos
dê forças para encará-la.
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